Não encontro paradoxo... (2022)
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Dá vontade de dizer que o texto do Washington Olivetto n'O Globo, exaltando as maravilhas do Rio de Janeiro dos ricos e famosos, é antológico por fornecer um vislumbre da mente da elite brasileira.
Mas nem é. Se tem algo que a elite brasileira não cessa de produzir é a manifestação de seu desprezo, de sua indiferença ou de sua repulsa pelo povo deste país.
Além disso, o texto de Olivetto é chato, plano, sem graça. Um desfile de grifes, nada mais. É tipo um funk ostentação, só que do topo da pirâmide.
Se é para ter esse vislumbre, melhor ir atrás de Pondé ou da falecida Danuza Leão.
Mas tem um momento do texto que, devo reconhecer, merece ser recordado. É a frase final.
Para quem não leu (e nem vale a pena), é uma crônica sobre os dias esplendorosos que seu filho e os amigos estrangeiros passaram no Rio, frequentando restaurantes de luxo e festas da Paula Lavigne.
Ao final, indagado sobre o que achara da experiência, o filho teria respondido:
"— Pai, é simples: ainda nem começamos a faculdade e já fizemos uma pós-graduação de vida."
Espanta, em primeiro lugar, a gritante artificialidade cafona da frase. Este é realmente o estilo do "criativo" tão celebrado?
Mas o conteúdo também interessa. A "vida", para a elite e seus filhotes, é isso. Turismo chique na sua redoma, num ambiente cuidadosamente controlado para deixar os outros - isto é, todos nós - de fora.
Nem é só no Brasil. É fenômeno global, de um capitalismo cada vez mais segregador.
Luis Felipe Miguel