É IMPORTANTE QUE O CANGAÇO NÃO SEJA MOSTRADO SIMPLESMENTE COMO UMA MONSTRUOSIDADE (2022)

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No Correio Braziliense, de sábado (17/09/2022), li o artigo: "Lampião, herói ou bandido?" Imediatamente, me contorci de indignação. O artigo reduz o papel dos contadores de história, ao ponto de eu questionar, se o autor do artigo não teria colocado frases nas bocas deles. Senti como se o censor adulterasse a obra de Glauber Rocha, com um parecer espatafúrdio:

É IMPORTANTE QUE O CANGAÇO NÃO SEJA MOSTRADO SIMPLESMENTE COMO UMA MONSTRUOSIDADE

Lampião atendeu a um dramático chamado do Padre Cícero, porque o “revoltoso” (Prestes) seguia para o Ceará. Em Juazeiro do Norte. Lampião, recebeu a patente de capitão honorário das forças legais contra os revoltosos. Lampião, passa a ser um legalista por alguns momentos. Troca o chapéu de cangaceiro – símbolo máximo do irredentismo – pelo chapéu de feltro dos batalhões patrióticos, e se investe na condição de representante do governo federal, do então presidente Artur Bernardes.
Os 54 grupos de cangaceiros pretendiam manter a todo custo, até pelas armas, seus padrões de existência e não queriam trocá-los pelo do invasor ou pelos do colonizador. O cangaço é apenas uma das muitas rebeldias brasileiras, e é importante que não seja mostrado simplesmente como uma monstruosidade, uma teratologia, porque não foi. O cangaço é um fenômeno tão digno de estudo na História do Brasil quanto o levante indígena, o quilombo negro, a revolução social profana ou religiosa, como a Serra do Rodeador, da Pedra do Reino, do Caldeirão, de Pau-de-colher, Canudos e outras.”
O artigo, “Artigo: Lampião, herói ou bandido?" Omite o “martírio secular da terra”, a vingança, o misticismo messiânico do sebastianismo presente e outras rebeldias. Esconde a urbanidade, a inteligência e o grande senso de estratégia militar de Lampião. É reducionista como a clássica explicação pela ótica marxista, segundo a qual o cangaço seria apenas uma reação ao coronelismo vigente no sertão nordestino e à concentração de terras.

Cheguei no serviço e perguntei a um colega nordestino, – Fale-me sobre Lampião! Na hora, o cabra respondeu que Lampião se insurgiu contra as autoridades quando mataram o seu pai e a sua mãe morreu em virtude! Respirei aliviado. Marcos Bezerra, o motorista sabia história como ninguém. Tanto quanto aqueles guias do agreste, à beira da represa. De um lado, a venda de livro pró Lampião e na outra margem os detratores. Lampião gostava do frevo, do baile. Era notívago e narcisista. De longe, se destacava pela inteligência e liderança dos homens mais valentes e crueis do nordeste por duas décadas. Craque na vaquejada bruta e na corrida de mourão. Bandidos se escondem. Lampião se exibia em glorioso uniforme como quem manda aqui sou eu. Na ausência secular do Estado, ele era a lei ao invés do rei. E o homem lia e planejava seus assaltos. Já era um inimigo do capitalismo e temido pelos amigos do rei. Imagine a corrida do bando por dentro dos paus da caatinga cerrada e como era a vida rude dele antes do assassinato dos pais pelos coronéis que na base da bala conquistavam o que queriam. É triste ver um dos fundamentos da terra ser reduzido a um banditismo saguinolento.

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