Investigando Crimes de Guerra em Gaza: Documentário Expõe as Atrocidades das Forças de Defesa de Israel (2024)
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Conforme o texto, qual seri ao título: Da REVISTA PIAUI: "“Nunca, em nenhuma imagem de guerra, se viu os algozes celebrando seus crimes.” A frase é de Rodney Dixon, especialista em direito internacional e um dos entrevistados de Investigating War Crimes in Gaza (Investigando Crimes de Guerra em Gaza), documentário recente do jornalista Richard Sanders. Lançado em outubro e produzido em conjunto com o canal Al Jazeera, a rede de notícias do Catar, é um dos mais brutais relatos visuais de atrocidades de guerra a que o mundo já teve acesso. À diferença das imagens captadas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, ou de milhares de judeus enfileirados e despachados em vagões de trens ou vivendo em campos de concentração durante a Segunda Guerra, as imagens aterrorizantes veiculadas por Sanders foram feitas pelos próprios algozes: soldados das Forças de Defesa de Israel, a IDF.
Durante meses, a unidade de jornalismo investigativo da Al Jazeera coletou, na internet, 2500 imagens postadas pelos soldados, que colocaram o nome e a divisão do exército a que pertenciam nos registros. Os partícipes da barbárie fizeram questão de filmar, fotografar, comemorar, e postar todos os seus atos: explosões de cidades e vilas transformadas em escombros; prisioneiros torturados, arrastados, e humilhados; filas de crianças, adultos, velhos e jovens, feridos ou com dificuldade de locomoção, todos (inclusive os pequeninos) com as mãos para o alto, sob as ordens e armas do IDF, seguindo em procissão para campos de refugiados apontados como seguros, mas que depois seriam bombardeados pelas Forças Israelenses. Os soldados se expõem gargalhando enquanto assistem seus escudos humanos nus e ensanguentados entrando nos prédios que eles tentam invadir; se cumprimentam depois de explodirem escolas, hospitais, universidades e mesquitas. Em outras cenas, praticam tiro ao alvo em jornalistas, médicos, paramédicos, crianças, mulheres, funcionários de agências humanitárias. Uma cena particularmente perturbadora mostra o estupro coletivo de um preso.
As cenas são acompanhadas dos comentários de especialistas militares, de direitos humanos e de juristas internacionais que explicam por que, por trás de cada cena, há um crime de guerra. Trata-se de uma contribuição inédita do Exército de Israel para estudos históricos, além de também, segundo Dixon, servir como prova de crime de guerra no Tribunal Penal Internacional.
Sanders intercala essas cenas a declarações de líderes mundiais, como o presidente americano, Joe Biden, e o ex-primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, que, mesmo após esses horrores, afirmam que “não deixarão Israel sozinho”, como se os massacrados fossem os israelenses e não a população de Gaza. Há também declarações de Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, que chama os palestinos de animais, afirmando que seriam tolhidos de água, luz e comida, bem como as afirmações de Benjamin Netanyahu de que acabaria com a Faixa de Gaza, depois dos ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro do ano passado.
Mas o maior choque do documentário, talvez, seja ver o apoio de boa parte da população israelense ao genocídio. Embora Israel tenha proibido a imprensa local e internacional de entrar em Gaza para registrar a guerra, o público é informado, em tempo real, sobre o que está acontecendo no território vizinho, através das postagens dos soldados em suas redes sociais. Para parte da população, a dor dos palestinos não é motivo de revolta e, sim, de contentamento. Nas boates da capital israelense, a música mais tocada pelos DJs é May your village burn (“Que sua vila queime”)”, acompanhada pelo público que canta e dança animadamente.
O filme de Sanders provavelmente não ganhará o Oscar de melhor documentário, como o ucraniano 20 dias em Mariupol, laureado em 2023, sobre o cerco russo àquela cidade (Hollywood não é simpático à causa palestina). Mas é um dos maiores registros sobre a maldade humana. Há um aforismo atribuído a Hannah Arendt, uma das mais celebradas intelectuais judias, que, depois dos massacres da Segunda Guerra, teria dito: “A morte da empatia humana é um dos primeiros e mais reveladores sinais de uma cultura a ponto de cair na barbárie.” O documentário está disponível no YouTube, com legendas em português.