Livro de Bukowski e Crumb só reafirma marcas de velhos safados (2016)

 

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CRÍTICA

Livro de Bukowski e Crumb só reafirma marcas de velhos safados
ARTHUR TERTULIANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


16 jan. / 2016 - Discretamente, chegou às livrarias uma obra que reúne duas figuras desacostumadas a tanta discrição: Robert Crumb e Charles Bukowski.

O primeiro é um quadrinista apaixonado por jazz que, desde os anos 1960, retratou a revolução sexual e a contracultura. O outro, um expoente da literatura marginal, escrevia sobre ambientes sórdidos e seres tão ébrios e deprimidos quanto ele mesmo.

No Brasil, são comumente associados: muitas das capas de Bukowski –entre elas, "Notas de um Velho Safado" e "A Mulher Mais Linda da Cidade", ambos os livros publicados pela L&PM, são de Crumb.

 

crum buko
Ilustração de Crumb para o livro Traz teu Amor pra Mim e Outros Contos

Os dois autores dividem o público: enquanto muitos os consideram geniais, não são poucos os que não chamam Bukowski de literatura e que classificam os quadrinhos de Crumb como "pornografia misógina e degradante" –as aspas estão na orelha do livro.

Traz teu Amor pra Mim e Outros Contos contém três relatos de Bukowski ilustrados entre 1975 e 1984 por Crumb.

O conto homônimo narra as discussões entre Harry, o protagonista, e Glória, com suas reiterações do quanto se sente ofendida e traída por ele. Já "Não Tem Negócio" apresenta-nos Manny, comediante fracassado que trabalha no ramo há quatro décadas e que relata a confusão de quando ele resolve brigar com espectadores insatisfeitos.

O último conto, "Bop Bop Contra Aquela Cortina", descreve as parcas distrações dos marginalizados na primeira metade do século 20: "A gente conversava sobre mulheres, espiando as pernas delas quando desciam dos carros, e olhávamos dentro das janelas de noite na esperança de ver alguém trepando, mas nunca víamos ninguém."

Há, aqui e ali, momentos em que Bukowski busca a poesia nos tristes relatos, algo semelhante ao que se vê nos poemas de "Essa Loucura Roubada que Não Desejo a Ninguém a Não Ser a Mim Mesmo Amém" (7Letras) –como, no segundo conto, ao aproximar o nascimento de uma estrela a uma bolha de sabão de aspecto fálico. No último texto, tenta iluminar uma época: "Aqueles domingos eram bons, pelo menos, a maioria daqueles domingos, uma luz fraca em tempos escuros de depressão".

Talvez os três contos e as 14 ilustrações peçam para serem lidos com um olhar do momento histórico que representam, levando em consideração os parcos avanços do feminismo à época. A preocupação com os que estão à margem não vai muito além do olhar masculino; a presença feminina claramente não importa na mesma medida.

Nos três contos, as mulheres são: histéricas ("Gloria, foi essa sua maldita paranoia aguda que pôs você onde está"); cenários para a ação principal, uma briga ("As coristas apareceram com suas bundonas e peitos caídos. Agitavam as pernas e a música estava altíssima"); meros objetos para o desejo masculino ("Eu queria meter em você. Queria comer você, gatinha!").

"Traz teu Amor pra Mim e Outros Contos" não veio para mudar opiniões ou reacender o debate sobre a obra dos artistas em questão. Seus fãs têm tudo para apreciarem a caprichada edição brasileira de mais um livro deles. E quem já os despreza não vai encontrar nada além de notas de dois velhos safados.

TRAZ TEU AMOR PRA MIM E OUTROS CONTOS
AUTORES Charles Bukowski e Robert Crumb
TRADUÇÃO Joca Reiners Terron
EDITORA Livros da Raposa Vermelha
QUANTO R$ 29,90 (64 págs.)

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