Câncer no Camarim (2025)
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Reflexos de uma Banda que Não Existe
Um clique, uma encenação, um segredo cênico sob a lua do Setor Comercial Sul
Eles, Os Candangos, estavam experimentando. E me chamaram para a brincadeira.
O que era para ser apenas uma descontração de camarim virou cena.
O reflexo nos espelhos multiplicou os corpos e os risos – e de repente ali estávamos, num momento que lembrava a mise-en-scène de
A Dama de Xangai, de Orson Welles,
mas também evocava o caos controlado de Câncer, de Glauber Rocha.
No filme de Glauber, feito em 1968 e lançado em 1972, há uma cena antológica:
Othon Bastos (Paulo) tenta enforcar Antônio Pitanga (Antônio) – ou seria o contrário?
A história não é clara,
mas corre nos bastidores que Pitanga, com seu carisma impetuoso,
teria pedido para inverter a ação:
"Eu enforco melhor."
E assim ficou.
A cena – um embate físico e ideológico – expressava as tensões políticas do país.
Na nossa versão, registrada num camarim,
Magu Cartabranca segura meu colarinho como quem me sacode para a realidade.
Um gesto que se repete há anos entre nós – sempre rindo, sempre teatral.
A cena, refletida no espelho,
se perde em duplicações que jamais serão curtidas ou viralizadas.
E talvez esteja aí sua beleza:
permanecer como um segredo cênico,
um fragmento experimental do nosso próprio Câncer.
O ensaio experimental de uma foto só
A banda que não existe – ou talvez exista só por uma noite – posou sob a lua cheia, bem no fim do Setor Comercial Sul, no coração de Brasília.
Não houve show, nem ensaio anterior, nem nome oficial.
Apenas o clique espontâneo: quatro rostos iluminados pela luz urbana e pelo luar filtrado por nuvens dramáticas.
Era mais que uma selfie.
Era um instante congelado onde o concreto da cidade,
o vidro dos prédios e o céu aberto
se uniram à imaginação.
Uma banda invisível, mas presente,
registrada numa única imagem.
Como se bastasse isso:
estar juntos, olhar pra câmera, sorrir.
O resto fica por conta da música
que talvez só eles tenham escutado naquela noite.