Golbery, um gênio

 

Golbery, um gênio
(Oliveira Bastos depoimento a Mário Pacheco)


Um dos monólogos encenados pelo saudoso Manduka, imitando a voz e os trejeitos de Glauber, repetia o bordão: — Quando for à Brasília, procure o Oliveira Bastos. — Oliveira Bastos é o poder!

Assim Glauber fazia a propaganda do jornalista Evandro Oliveira Bastos que nas páginas de "Riverão Sussuarana" empresta-lhe os braços como companheiros de frente de batalha.

Conheci o Glauber em 1954, no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, na Avenida Rio Branco. Ele vinha da Bahia naqueles aviões teco-teco e descia no Santos Dumont.

Em janeiro de 1966, Glauber recentemente havia saído da prisão, e durante as filmagens do curta-metragem Maranhão, conversávamos sobre os bastidores da política nacional, da extinção da Udn e a posse de Sarney, já membro da Arena, como governador.

Dez anos depois, voltei a encontrá-lo numa circunstância trágica e de piração quando ele já era o Glauber Rocha. E hospedei-lhe numa suite presidencial do Hotel Eron, onde à tarde recebia as admiradoras. Glauber era fascinado pelo poder e só queria falar com o Golbery. 

Glauber tinha idéia fixa: a polícia carioca não estava investigando direito o assassinato da irmã, que, segundo ele, teria sido morta pelo marido, o cineasta Walter Lima Júnior, a mando da esquerda. Através do Golbery foi marcada uma audiência com o ministro

Armando Falcão, o homem mais ligado a Roberto Marinho no Planalto, que ficou enrolando Glauber...

Nesse meio-tempo, Glauber pediu-me uma análise, uma chave, o sistema só poderia ser desmontado de dentro para fora, qualquer ação externa reforçaria o bloco. A distensão somente seria conduzida com o consenso interno. Num confronto, a esquerda seria massacrada, e esse amadorismo pioraria as coisas. 

Houve uma coisa muito boa quando de seu retorno de Cuba. Glauber voltou entrosado com uma visão mística e realista do processo político brasileiro. Glauber era de família de protestantes luteranos, assim como Geisel, que achavam a mentira a fonte de todos os outros pecados.

Politicamente os militares tinham uma visão de grandeza nacional. O status de potência mundial do Brasil foi boicotado pelo mundo, e a economia nacional não resistiu aos colapsos de 1972 e de 1979, chegando à moratória.

Jango foi expulso porque não tinha poder, vivíamos uma crise de desabastecimento, filas para comprar açúcar, fatos revividos pelo historiador Hércules Corrêa.

— Ponha uma coisa na cabeça, meu filho, o Golbery era um gênio.

 

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