AS IMAGENS EM MOVIMENTO DE GLAUBER ROCHA
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Imagens em movimento
por Mário PaZcheco
A Idade da Terra
Ficção, longa-metragem, 35mm, colorido (Eastmancolor/ Cinemascope). Rio de Janeiro, 1980. 4.350 metros, 160 minutos; Companhias produtoras : Embrafilme, CPC (Centro de Produção e Comunicação), Glauber Rocha Comunicações Artísticas, Filmes 3; Distribuição: Embrafilme; Lançamento: 17/nov/.1980, Brasília; Produtor: Glauber Rocha; Diretores de produção: Tizuka Yamasaki, Walter Schilke; Gerente financeiro: Haroldo Born de Silva; Produtores executivos: Carlos Alberto Diniz, Wilson Mendes Andrade Jr. (Quim); Assistentes de produção: Yurika Yamasaki, Alice Ozawa, Urbano de Castro Pires, Antônio Alves Cury, Nivalda Silva Costa, Francisco Luis Drumond Neto, João da Rocha Freitas Neiva, João Melo, Maria de Fátima Barreto, Sheila Maria Lopes Torres, Telma Melo Duarte Guimarães; Diretor: Glauber Rocha; Assistentes de direção: Carlos Alberto Caetano, Tizuka Yamasaki; Argumentista e roteirista: Glauber Rocha; Diretores de fotografia: Roberto Pires, Pedro de Moraes; Câmera: John Howard; Assistentes de câmera: Roque Araújo, Alonso Rodrigues dos Santos, Jaime Schwartz, Antônio Carlos Seabra; Fotógrafos de cena: Sônia Nercessian, Paula Gaetan, Tizuka Yamasaki, Pedro de Moraes, Carlos Cox; Chefe eletricista: Roque Araújo; Eletricista: José Pereira dos Santos; Assistentes de eletricista: Sebastião de Luna, Sandoval Santos Silva, José Caetano de Lima; Técnico de som: Sylvia Maria Amorim de Alencar; Mixagem: Roberto Leite e Onelio Mota; Assistentes de som: Rony Castro Pires, Antônio Raimundo dos Santos, Raul Manuel Quinteros Riquelme, Rodolfo Brandão, Sérgio Santos Cravo, Luis Antônio Prado, Paloma Rocha; Montadores: Carlos Cox, Raul Soares, Ricardo Miranda; Montagem de som: Jorge Saldanha; Cenógrafos: Paula Gaetan, Raul Willian Amaral Barbosa; Assistente de cenografia: Nilde Maria Goebel; Contra-regra: Antônio Raimundo dos Santos; Figurinistas: Paula Gaetan, Raul Willian Amaral Barbosa; Assistente de figurinos: Nilde Maria Goebel Costureira Nalva Djanira da Silva; Música: Villa-Lobos, Jorge Ben, Jamelão, Naná Vasconcelos, Mozart, folclore brasileiro; Diretor Musical: Rogério Duarte; Arranjador musical: Vivaldo Santa Pereira; Músicos: Pascoal Trindade Reis, Antônio Apolinário Andrade, Lidio Marques de Sousa, Álvaro dos Santos Cerqueira, Antônio Ferreira da Anunciação, Manoel Natividade Passos; Orquestra: Orquestra Mística da Bahia; Continuístas. Suely Seixas Nunes Neiva, Laura Teresa Fernandes Carneiro, Paloma Rocha; Locações: Rio de Janeiro, Salvador, Brasília; Laboratório de imagem: Líder Cine Laboratórios ; Estúdio de som: Nel-som; Prêmios: Menção Honrosa a Norma Bengell - XXXVII Mostra Internacional de Cinema, Veneza/1980, Prêmio do Museu de Arte Moderna de Cartagena - XXII Festival de Cinema de Cartagena; Elenco: Maurício do Valle - John Brahms; Jece Valadão - Cristo índio; Antônio Pitanga - Cristo negro; Tarcísio Meira - Cristo militar, Geraldo DeI Rey - Cristo guerrilheiro; Ana Maria Magalhães - Aurora Madalena; Carlos Petrovicho - diabo; Norma Benguell - Rainha das Amazonas; Mário Gusmão - Babalaô; Danuza Leão - mulher de Brahms; Glória X - prostituta; Laura Y - mulher morena; Paloma Rocha - jovem mulher; Participação de: Carlos Castello Branco, João Ubaldo Ribeiro, Raul de Xangô, TT Catalão, Paula Gaetan, Ary Pará-raios, Clyde Morgan, Gerard Leclery, Rogério Duarte, Sandoval, Telma Duarte, Adelmo Rodrigues da Silva, Ari José de Oliveira, Albertino dos Santos, Amaro Santos da Silva, Alexandre Ribondi, Davi Antônio Neto, Dimer Camargo Monteiro, Fernando Lemos, João José Miguel; Jorge Henrique Tosta da Silva, João Antônio de Lima Esteves, Janduir de Lima Soeiro, José Justino da Silva, João José Prazeres (Cego), Maria Conceição Bispo dos Anjos, Maria da Glória de Meneses Gelto, Marly Viana de Sousa, Romário Schettino, Vanderley dos Santos Catalão, Wanilda Silva Machado.
Originalmente deveria ser filmado na África, Ásia, América e Europa. Depois apenas na América do Norte, em Nova Orleans, Califórnia, Chicago e New York. Longo filme barroco não comercial, proposto com a Estética da Fome. Desdobra-se entre negros, camponeses, operários, políticos, revolucionários - os filhos do Terceiro Mundo. Uma novidade Barroca-épica, novo em enquadramento, som, interpretação e montagem - o épico de Brecht, no brabo barroco de Jorge Amado. Segue o romance da bíblia - mas não Cristo mortis.
Disseram que o filme era louco, incompreensível que eu tinha deixado de ser marxista para virar cristão. E que a minha visão do mundo já não estava mais comprometida: disseram que eu tinha traído os princípios revolucionários. Quer dizer, me atacaram ideologicamente querendo me imputar responsabilidades políticas, e foram incapazes de entender o sentido e a novidade formal do filme porque são ignorantes. (...)
"Eu mostro no filme que o mito cristão que é um mito solar, vem da Ásia, vem da África, vem do Oriente Médio e que a Europa seqüestrou a verdadeira identidade de Cristo, entende, importando um deus. Então eu disse que como o filme mostra um Cristo negro interpretado pelo Antônio Pitanga, um Cristo pescador e místico interpretado pelo Jece Valadão, mostro o Cristo que é o conquistador português, o São/Dom Sebastião, interpretado pelo Tarcísio Meira, mostro o Cristo guerreiro Ogum de Lampião, interpretado por Geraldo Del Rey. Quer dizer, são os quatro cavaleiros do Apocalipse que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo, para recontar o mito através dos quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João e os 4 cavaleiros do apocalipse cuja identidade eu revelo no filme quase como se fosse um Terceiro Testamento, o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso". (Glauber Rocha a Fernando Silva Pinto).
Jorjamado no cinema
Não-ficção, média-metragem, 16mm, colorido, 50 minutos. 1977. Companhia produtora: Embrafilme/Secteur Radio et Telévision; Diretor e montagem: Glauber Rocha; Diretor de produção: Albertino Fonseca; Assistente de direção: Tizuka Yamazaki e Almir Muniz; Fotógrafo: Walter Carvalho. Tomadas: Walter Carvalho, Nonato Estrela e Glauber Rocha. Som: Lael Rodrigues. Montagem: Carlos Cox, com assistência de Luis Fernando Sarmento.
Entrevista com Jorge Amado em sua casa no Rio de Janeiro. O escritor fala sobre sua obra e sua carreira literária, seus livros adaptados para o cinema, particularmente Tenda dos milagres, Os pastores da noite e Dona Flor e seus dois maridos. Amigos e parentes opinam sobre os três últimos filmes baseados em suas obras. Cineastas e atores falam sobre Tenda dos milagres. Jorge Amado, na intimidade, apresenta sua família. 50 minutos de verdades.
"Jorge é a verdade psicossocial das massas num clamoroso espetáculo de Poesya e Miséria, Cozinha do Payz. Jorge Amado faz no romance o que Brecht fez no teatro. Convertendo o povo em personagem principal dos dramas, virou de cabeça para baixo a mise-en-scêne de um Romance, no caso brazyleiro, que falava do Ocupante na linguagem do Ocupado". (Glauber Rocha).
Di-Glauber
Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera: somente a ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável. (Augusto dos Anjos).
Não-ficção, curta-metragem, 35mm, colorido, 480 metros, 18 minutos. Rio de Janeiro, 1977. Companhia produtora: Embrafilme; Distribuição: Embrafilme; 1ª exibição: 11/mar./1977, Cinemateca do MAM, Rio de Janeiro; Lançamento: 11/jun./1979, Rio de Janeiro (Roma - Bruni, Rio Sul, Bruni - Copacabana, Bruni - Tijuca); Diretor de produção: Ricardo Moreira; Diretor: Glauber Rocha; Assistente de direção: Ricardo (Pudim) Moreira; Fotógrafos: Mário Carneiro, Nonato Estrela; Montador: Roberto Pires; Música: Pixinguinha, Lamento: Villa-Lobos trecho de Floresta do Amazonas, Paulinho da Viola, Lamartine Babo, O teu cabelo não nega e Jorge Bem. Locações: Museu de Arte Moderna, Cemitério São João Baptista (Rio de Janeiro); Prêmio: Prêmio Especial do Júri - Festival de Cannes/1977;
Locutor: Glauber Rocha; Textos: Vinícius de Morais, Balada do Di Cavalcanti; Augusto dos Anjos, trecho de Versos íntimos; Frederico de Moraes (trecho de artigo sobre Di Cavalcanti) e Edison Brenner (anúncio da morte de Di);
Elenco: Joel Barcellos, Marina Montini, Antônio Pitanga.
É a geração de uma nova linguagem para documentários. O curta Di-Glauber antecipa a geração dos anos 80 e exerce uma influência deflagradora abrindo um novo campo de prospecção para o curta-metragem através da estética de videoclipe caótico que não esconde as pontas de negativo utilizados e a câmera emprestada.
"Não a reprodução das últimas imagens de Di Cavalcanti, mas um ensaio do próprio fenômeno da morte (...) Uma celebração que liberta o morto de sua hipócrita e trágica condição. (...) Quando filmei o velório, vi que Cavalcanti não estava morto, mas rindo. Eu queria tirá-lo do caixão e quase telefonei para os jornais denunciando que após revelar o filme eu tinha visto que ele estava vivo. Di é o próprio cinema brasileiro, e acreditem, ele não morreu. (Glauber Rocha).
"Elizabeth, filha adotiva de Di Cavalcanti processou a Embrafilme e recebeu uma indenização, além de conseguir proibir a exibição do filme.
Trata-se de um xilindró ideológico, um crime de lesa-cultura absolutamente incompreensível, afinal é, provavelmente, o melhor filme do cineasta. (...) Num país cujo presidente da República se diz intelectual não existe um filho da p... de prestígio capaz de perceber que uma obra como esta não pode ficar proibida para sempre". (Evandro Oliveira Bastos).
"Em O Globo há uma história de sua filha que proíbe a exibição do curta de Glauber sobre Di. Glauber amava Di. Mas não há cura para o filistinismo. Nelsinho Motta me diz que é o melhor de Glauber, cujo talento nunca foi desenrustido. Os momentos criadores de seus filmes se perderam quase sempre em confusão e longuers". (Paulo Francis).
Claro
Ficção, longa-metragem, colorido (Eastmancolor), 3.000 metros, 110 minutos. Roma, Itália, 1975. Companhia produtora: Dpt-Spa; Produtor: Alberto Marucchi; Coprodutor: Marco Tamburella; Diretor de produção: Ugo Persichetti Auteri; Produtores executivos: Giacomo Lova e Loya Telli; Direção: Glauber Rocha; Assistente de direção: Anna Carini; Diretor de fotografia: Mário Gianni; Técnicos de som: Manlio e Davide Magara; Música: Samba de Roda, Maculelê, Bella Ciao, Casta Diva, Internazionale Bandiera Rossa, Villa-Lobos, Vivaldi ("As 4 Estações"), João de Barro (Primavera no Rio), J. Flores e M. O. Guerreiro (Índia, versão de José Fortuna, cantada por Gal Costa).
Elenco: Juliet Berto, Mackay, Luis Maria Olmedo (“El Cachorro”), Tony Scott, Jirges Ristum, Luis Waldor, Betina Best, Yvone Taylor, Francesco Serrao, Anna Carini, Jarine Janet, Luciana Liquori, Peter Adarire, Glauber Rocha, Carmelo Bene e o povo de Roma.
Resumo dos principais acontecimentos históricos que se desenrolam à época das filmagens - final da guerra do Vietnã, reivindicações trabalhistas das classes operárias da Europa, decadência do capitalismo nos países desenvolvidos e a incipiente expansão das idéias socialistas. Um filme ainda com problemas de produção.
"Porque queria ver claro nas contradições da sociedade capitalista do nosso tempo. O filme é ‘claro’ por isto: eu quis clarear a mim mesmo e à minha visão do mundo. Liberto-me de toda uma metáfora que é abstrata, mas que também é dialeticamente concreta". (Glauber Rocha).
As armas e o povo (1974)
Documentário de 86 minutos, fruto de direção coletiva de 28 diretores da produção portuguesa que, entusiasmados com a Revolução dos Cravos , 25 de abril e o primeiro de maio de 1974, dia do trabalhador comemorado em liberdade, por mais de 500 mil pessoas que saíram pelas ruas de Lisboa. Glauber Rocha, um dos muitos diretores do filme, atua também como entrevistador. O germe do trabalho dele no programa Abertura da TV Tupi;
"Há um interesse histórico nas imagens. É engraçado o confronto entre a linguagem convencional do documentário e as intervenções do Glauber, típicas do cinema que ele fazia". (Ismail Xavier).
Super-Paloma (Super 8, no exterior)
Viagem com Juliet Berto (Super 8, no Egito e na Grécia)
Letícia e Mossa no Marrocos
(Super 8)
Durante trinta dias Letícia Maria Moreira de Sousa, poeta e Mossa, Flora Bildner acompanham Glauber Rocha - e vice-versa - durante um mergulho em Marrakech com “muito fumo, muito amor, muita alegria, e um filme super-8 enorme”.
Uruguai/Chile (1973)
Documentário que Glauber Rocha e Walter Lima Jr., fizeram sobre o encontro dele com a família e os filhos em Montevídeo, Uruguai e Viña Del Mar, Chile, tudo registrado e inédito;
História do Brasil
Produção ítalo-cubana, documentário de 158 minutos. Em colaboração com Marcos Medeiros, que se responsabiliza pela versão definitiva.
Martha Alencar e Marcos Medeiros deveriam finalizar o filme feito no exílio - eram tempos paranóicos e, claro, não conseguiram levantar a produção através do Estado.
O olhar renovador do cineasta começa magnificamente e apaixonante: narrar por um interlocutor a nossa história com textos de grandes estudiosos (Darcy Ribeiro, Celso Furtado) sobre imagens colhidas em Roma, Cuba e cenas de outros filmes de Glauber Rocha, somado aos de Tomás Gutierrez Alea (principalmente "Uma pelea cubana contra los demonios"), de "Sinha moça" (Tom Payne), quando fala da escravidão, de "Maioria absoluta" (Leon Hirszman). E muitos outros títulos, seja de ficção ou documentais.
Só que os atropelos de produção foram avolumando-se. Glauber Rocha e Marcos Medeiros viviam uma convivência “às vezes amistosa, às vezes muito perturbada” (palavras de Mário Carneiro). Os empecilhos jurídicos - autorizações e direitos autorais de dezenas de filmes de arquivo acabou impondo dificuldades intransponíveis e decretando a morte comercial desta desastrosa experiência de manipular fragmentos alheios;
Não é bem um filme, é uma montagem. É um trabalho que uso para estudar e que só ficará pronto quando acabar os estudos. Fiz uma infra-estrutura que não posso completar sozinho: preciso de uma equipe, de especialistas. Pode interessar mais à Universidade, porque é mais uma teoria do que propriamente uma prática. É complicado dizer como é o filme: não é ficção, e sim um documentário sobre os cinco séculos de História do Brasil, mas outro tipo de visão e interpretação histórica. (Glauber Rocha).
Definição/Estrela do sol (1971)
16mm, colorido com fotografia de Serginho Sanz.
Em junho de 1970, com 10.000 dólares de adiantamento, Glauber Rocha viaja para Santiago no Chile, onde encontra-se com Norma Benguell. Numa co-produção da TV Nacional do Chile com Renzo Rosselini, Glauber Rocha começa o filme sobre os exilados brasileiros. Com 20 minutos rodados a produção é suspensa e o negativo retido em laboratório italiano devido a problemas econômicos dos produtores é extraviado.
O foco da câmera aproxima-se e em off, Glauber Rocha assobia o Hino Nacional.
Norma Benguell nua junto às folhas de outono, seria filmada correndo ao lado de exilados nus; mas os guerrilheiros brasileiros não quiseram fazer a cena na Cordilheira dos Andes. — Caretas! Isso é liberdade total, esbraveja o diretor.
Em Santiago, no quarto 736 do Hotel Sheraton, centro do contrabando de dólares e de agentes da CIA, Glauber descobre um microfone plantado na parede e não perde tempo: — Aqui é Glauber Rocha, eu sei que a CIA está gravando, e a KGB também!
Glauber Rocha chama a imprensa e anuncia que vai para Cuba, onde:
— Há liberdade para filmar;
Cabeças cortadas
Título Original: Cabezas cortadas.
Inicialmente intitulado: Macbeth 70
Ficção, longa-metragem, 35mm, colorido (Eastmancolor). Barcelona, Espanha, 25/fev./ a 12/jun./1970. 2.600 metros, 95 minutos. Companhias produtoras: Barcelona Profilmes S.A. (Espanha), Barcelona Films Contacto (Espanha), Mapa Filmes (Brasil); Distribuição: Embrafilme; Lançamento: 11/jun./1979, Rio de Janeiro (Roma-Bruni, Rio Sul Bruni-Copacabana, Bruni-Tijuca); Diretores de produção: José Antônio Perez Giner, Modesto Perez Redondo; Produtores executivos: Ricardo Muñoz Suay, Pedro Fages, Juan Palomeras; Assistente de produção: Manuel Rubio; Diretor: Glauber Rocha; Assistente de direção: Ricardo Muñoz Suay; Assistentes de realização: Manuel Esteban, Manuel Perez Sestremeras Argumentista: Glauber Rocha; Roteiristas: Augusto Martinez Torres, Josefa Pruna; Diálogos em espanhol: Ricardo Munoz Suay; Diretor de fotografia: Jaime Deu Casas; Câmera: Carlos Frigola; 2° operador de câmera: Ricardo Gonzales; 1° assistente de câmera: Jose Cobos; 2° assistente de câmera: Ramon Jaques; Som: Roger Sangenis; Operador de microfone: Jorge Sauret; Montador: Eduardo Escorel; Assistentes de montagem: Angeles Sanchez, Susana Lemoine; Cenógrafo: Fabian Puigserver; Decorador: Andres Vallve; Assistentes de decoração: Manuel Rubio Jr., Jose Rovira; Maquiador: Cristobal Criado; Assistente de maquiagem: Ana Criado; Cabeleireira: Vicenta Salvador; Letreiros: Ana Luísa Escorel; Música: Cuesta Abajo, Gardel, Le Pera, Alla en el Rancho Grande, Castello, Del Moral, Uranga, Manresana, Manen, Chamaco Gran Torero, Gomila, Fallaste Corazon, Sanchez, Sabor a Mi, Carillo, Buenos Aires, Joves, Romero, Misa Flamenca, La Torre, Torre Grosa; Locações: Biblioteca Nacional de La Diputación, Barcelona; Rosas, San Pedro de Poda, Castelló de Ampurias, Cadaqués, Cabo de Creus, Port-Ligat; Laboratório de imagem: Fotofilm S.A.E.; Estúdio de som: La Voz de España S.A.; Estúdio de montagem: Estúdio Kine S.A.; Prêmio: Prêmio São Saruê, da Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/ 1979.
Elenco: Pierre Clementi - Pastor; Francisco Rabal - Diaz II; Marta May - D. Soledad, Rosa Maria Penna - Dulcinea, Ema Cohen - cigana/prostituta, Luis Ciges - mendigo, Telesforo Sanchez - padre, Victor Israel - médico, Carlos Frigola, Carmen Sansa, Emer Cardona, Enrique Majo, Jack Rocha, Jose Jacomet, Jose Ruiz, Jose Torrens, Julian Navarro, Juan Valles, Maria Jesus Andany, Sebastian Camps e Vega Dingo.
Filmado na Espanha, marca a ruptura definitiva de Glauber Rocha com os roteiros. Não chega a ser apresentado em nenhum festival de primeira linha. É um filme contra as loucuras ditatoriais, o funeral das ditaduras. O encontro apocalíptico de Perón com Franco nas ruínas da civilização latino-americana.
Para mim é muito angustiante saber que tão poucas pessoasvão compreender e amar Cabeças cortadas e é um filme que eu acho muito original... mas... (Glauber Rocha).
Não acredito, em cinema planificado porque não é possível fazer planos concretos para uma obra de arte. (Glauber Rocha).
O Cabeças cortadas ficou mais atual com a queda de Franco do que em 1970 quando o fiz porque ninguém entendeu que eu pudesse estar ali prevendo a queda do Franco. Essa vontade de entrar por territórios ignorados levou-me a entrar no Cabeças cortadas. Porque se O leão das 7 cabeças era um filme feito sobre a exterioridade, numa tentativa de explicar a história de um ponto de vista materialista, as cabeças cortadas, como o próprio título o diz, corta essa tese materialista. É um filme feito no terreno do delírio, da interioridade, no território da minha própria loucura: o filme não teve roteiro e foi filmado em 14 dias. É como se fosse a filmagem de um sonho. Porque, Deus e o diabo na terra do sol, Terra em transe e todos esses filmes são materializações de sonhos culturais: já no Cabeças cortadas a matéria é a do inconsciente puro, a fantasmagoria cultural vem num segundo plano, complementando o fluxo de interiorização. (Glauber Rocha a João Lopes, in O século do cinema).
O leão das 7 cabeças
Título Original: Der leone have sept cabeças.
Ficção, Longa-metragem, 35mm, colorido (Eastmancolor), 2.600 metros, 95 minutos. Roma, Itália, 1970. Companhia produtora: Polifilm; Produtores: Gianni Barcelloni, Claude Antoine; Diretor de produção: Giancarlo Santi; Gerente de produção: Marco Ferreri; Diretor: Glauber Rocha; Assistente de direção: André Gouveia; Argumentistas e roteiristas: Gianni Amico, Glauber Rocha; Diretor de fotografia: Guido Cosulich; Som direto: José Antônio Ventura; Montadores: Eduardo Escorel, Glauber Rocha; Letreiros: Francesco Altan; Música: Folclore africano, Baden Powell e uma versão do hino nacional francês cantada por Clementina de Jesus; Locações: Congo Brazzaville.
Elenco: Rada Rassimov - Marlene, Jean-Pierre Léaud - pregador, Giulio Brogi - Pablo, Hugo Carvana - português, Gabrielle Tinti - agente americano, René Koldhoffer - governador, Baiack - Zumbi, Miguel Samba-Samba, André Segolo - Xobu, Aldo Bixio - mercenário; povo e dançarinos do Congo. Dedicado: a Paulo Emílio Sales Gomes.
Filmado no Congo Brazaville, para produtores italianos, com a participação da TV alemã. Fabre Le Bret da Comissão de Seleção do Festival de Cannes, não gostou e não o aceitou. É proibido na Itália.
O leão das 7 cabeças surgiu num momento decisivo do cinema dos anos 60. Foi num momento 1969/70, quando o Godard tinha criado o Grupo Dziga Vertov e declarado guerra radical ao cinema de representação (isso foi, aliás, o motivo do meu encontro com ele durante as filmagens do Vent d’Est), em que raciocinei que a minha posição de cineasta do Terceiro Mundo era impulsionada por outros motivos que não os do Godard. A ruptura do Godard tinha um sentido niilista (je ne crois plus, en quoi je dois croire), era uma dérmache de caráter muito mais existencial do que político. Para mim, era um problema existencial, mas o problema da oportunidade política e da responsabilidade política era muito mais vasto. (...)
Também eu, depois de ter feito O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro, senti-me esvaziado em relação ao chamado cinema clássico. Com O leão das 7 cabeças, fui para a África e fiz um filme que já não tem ligação com a cultura cinematográfica, mas é um filme que se refere a ele mesmo enquanto ato, é um documento sobre um happening político dentro da África, documenta a representação, quer dizer, o teatro é aberto a montagem. Há uma recusa da sedução da linguagem e uma vontade de maior expressividade didática e informativa. (Glauber Rocha a João Lopes, in O século do cinema).
O dragão da maldade contra o Santo Guerreiro
Ficção, longa-metragem, 35mm, colorido (Eastmancolor). Rio de Janeiro, 1969. 2.600 metros, 95 minutos. Companhia produtora: Mapa Filmes; Distribuição: Mapa Filmes; Lançamento: 9 de junho de 1969, Rio de Janeiro (Bruni - Flamengo, Bruni Copacabana, Bruni - Ipanema, e outros cinemas do circuito Lívio Bruni); Produtores: Glauber Rocha, Zelito Viana, Luiz Carlos Barreto, Claude Antoine; Diretores de produção: Demerval Novais de Carvalho, Agnaldo Azevedo; Produtor executivo: Zelito Viana; Administrador: Tácito Val Quintas; Diretor: Glauber Rocha; Assistentes de direção: Antônio Calmon, Ronaldo Duarte; Argumentista e roteirista: Glauber Rocha; Diretor de fotografia: Affonso Beato; Câmera: Ricardo Stein; Assistente de câmera: André Faria; Maquinistas: Pintinho, Eutímio, Daniel; Eletricistas: Roque Araújo, Chiquinho, Messias; Som direto: Walter Goulart; Operador de microfone: Diego Arruda; Mixagem: Carlos della Riva; Efeitos sonoros: Paulo Lima; Montador: Eduardo Escorel; Assistente de montagem: Amauri Alves; Cenógrafo: Glauber Rocha; Assistentes de cenografia: Paulo Lima, Paulo Gil Soares; Figurinistas: Glauber Rocha, Paulo Lima, Paulo Gil Soares; Trajes de Odette Lara: Hélio Eichbauer; Letreiros: Roberto Lunari; Cartaz: Jânio de Freitas; Música: Unkrimakrimkrim, Ritmetrom (Marlos Nobre); Coirana (Walter Queirós); Antônio das Mortes (Sérgio Ricardo); Macumba de Milagres (Anônimo); Chegada de Lampião no Inferno (Cego de Feira); Locação: Milagres (BA); Laboratório de imagem: Rex Filmes; Estúdio de som: Rivaton; Prêmios: Melhor Direção, Prêmio da Fipresci; Prêmio Luis Buñuel; Prêmio da Confederação Internacional de Cinema de Arte e Ensaio - XXI Festival de Cannes/1969; Primeiro Prêmio - Festival de Cinema de Plovaine, Bélgica; Troféu Coruja de Ouro - Prêmio Adicional de Qualidade - INC/1969, Brasil; Prêmio do Público - Semana Internacional de Cinema de Autor em Banalmadena, Espanha/1969;
Elenco: Maurício do Valle - Antônio das Mortes; Odette Lara - Laura; Othon Bastos - Professor; Hugo Carvana - delegado Matos; Jofre Soares - coronel Horácio; Lorival Pariz - Coirana; Rosa Maria Penna - Santa Bárbara; Emanuel Cavalcanti - padre; Mário Gusmão - Antão; Vinícius Salvatori - Mata Vaca; Sante Scaldaferri - Batista.
1969 - Melhor direção no Festival de Cannes.
Prêmio Luiz Buñuel, conferido pela crítica espanhola.
Prêmio Cinema de Arte, conferido pelos exibidores internacionais no Festival de Cannes.
Prêmio Melhor Diretor, conferido pelo Instituto Nacional de Cinema do Brasil.
O primeiro filme a ilustrar uma capa da revista Cahiers du Cinemá em cores. Escolha unanime do corpo editorial;
Câncer
Filmado em quatro dias de agosto de 1968. Ficção, longa-metragem, 16 mm, preto e branco. Rio de Janeiro/Roma, 1972, 950 metros, 86 minutos. Companhia Produtora: Mapa Filmes (Brasil); Distribuição: Embrafilme; Lançamento: 2/set./1982, São Paulo, Centro Cultural São Paulo; Coprodutores: Gianni Barcelloni, RAI-Radiotelevisione Italiana; Diretor: Glauber Rocha; Diretor de fotografia e câmera: Luis Carlos Saldanha; Som direto: José Antônio Ventura; Sincronização: Paulo Garcia; Montadores: Tineca e Mireta; Laboratório de imagem: Líder Cine Laboratórios;
Elenco: Odette Lara - a mulher; Hugo Carvana - marginal branco; Antônio Pitanga -marginal negro; Eduardo Coutinho - o ativista; Rogério Duarte, Hélio Oiticica, José Medeiros, Luis Carlos Saldanha, Zelito Viana e o pessoal do morro da Mangueira (Rio de Janeiro).
O filme cujo título original era, "Naquele dia deslumbrante a paisagem era um câncer fascinante", foi lançado na TV italiana em 1975. Um filme curioso quase inédito com Rogério Duarte e Hélio Oiticica. Na troca de papéis Antônio Pitanga estrangula Hugo Carvana.
"Câncer" é uma metáfora sobre a doença da burguesia que corrói o homem que teme atravessar a ponte e que perdeu o contato com a fonte original. Sobre esse abutre que destrói o fígado do homem cego pela luz do fogo do vulcão.
É um filme underground, subterrâneo, filmado em 16 milímetros em julho de 1968, antes de O dragão da maldade. Para treinar os atores e o pessoal da técnica no som e na interpretação, fiz o filme em quatro dias, na Zona Sul do Rio de Janeiro. É um filme maldito: levou quatro dias para ser filmado e oito anos para ser montado. Perdeu o som, perdeu as cópias, fui para o exterior. Em 1972, por acaso, um dos diretores do departamento de filmes experimentais da TV italiana viu o material do filme na moviola e praticamente me forçou a concluí-lo. Foi lançado na TV italiana em fevereiro de 1975, e teve uma crítica muito boa. (Glauber Rocha).
Uma espécie de filme de gângsters, um filme sobre a violência em todos os níveis, no aspecto verbal, físico... (...) É um filme muito secreto, muito underground, muito subterrâneo mesmo, que nem ficou no Brasil: está no exterior, os negativos se perderam. (Glauber Rocha).
1968
Inicialmente intitulado: Brasil, 1968.
Também conhecido como "Passeatas de 68".
Não-ficção, 35mm, preto e branco, 600 metros, 22 minutos. Manifestações populares no Rio de Janeiro em 1968. Diretores: Glauber Rocha e Affonso Beato; Fotógrafo: Affonso Beato; Locação: Centro da cidade do Rio de Janeiro.
Queria fazer um filme sobre aquele momento, a repressão política, as passeatas contra a ditadura. Queria principalmente fazer um registro documental para integrar depois um filme. (Glauber Rocha).
Eu não posso precisar nem o mês nem qual das passeatas foi filmada, não me lembro. Glauber queria fazer um filme sobre aquele momento, mas ainda não tinha um projeto ficcional, fizemos apenas um registro documental. A repressão política e a falta de liberdade de expressão impediram a continuidade do projeto. Em fins de 1969, Glauber e eu saímos do país. (Affonso Beato à Embrafilme, em 24/jan./1985).
Festa/Caminhos
Filmes undergrounds definitivamente perdidos na alfândega francesa.
Domingo
Filme underground.
Glauber Rocha, Dib Lufti e Moisés Kendler, filmagem de Terra em transe
Terra em transe
Portaria Nº16/67-SCDF
Brasília, 19 de abril de 1967
Considerando a seqüência de libertinagem e práticas lésbicas inseridas no filme (mulher com busto desnudo beijando uma companheira).
Resolve:
I - Proibir a exibição, em todo o território nacional, do filme de Glauber Rocha, "Terra em Transe";
II - Determinar ao produtor mencionado no item anterior o recolhimento das restantes 9 (nove) cópias do filme em questão na Censura Federal, ocasião em que será lavrado o completo auto de apreensão.
A. Romero Lago
Chefe do SCDF
Serviço de Censrua de Diversões Públicas
Ficção, longa-metragem, 35mm, preto e branco, Rio de Janeiro, 1967. 3.100 metros, 115 minutos. Companhias produtoras: Mapa Filmes e Difilm; Distribuição: Difilm; Lançamento: 8 de maio de 1967, Rio de Janeiro (Bruni - Flamengo, Coral, Caruso, Festival e outros cinemas do circuito Lívio Bruni); Produtor executivo: Zelito Viana; Produtores associados: Luiz Carlos Barreto, Carlos Diegues, Raymundo Wanderley, Glauber Rocha; Gerente administrativo: Tácito Al Quintas; Diretor: Glauber Rocha; Assistentes de direção: Antônio Calmon, Moisés Kendler; Argumentista e roteirista: Glauber Rocha; Diretor de fotografia: Luiz Carlos Barreto;
Câmera: Dib Lufti; Assistente de câmera: José Ventura; Fotógrafos de cena: Luiz Carlos Barreto, Lauro Escorel Filho; Trabalhos fotográficos: José Medeiros; Eletricistas: Sandoval Dória, Vitaliano Muratori; Engenheiro de som: Aluizio Viana; Montador: Eduardo Escorel; Assistente de montagem: Mair Tavares; Montadora de negativo: Paula Cracel; Cenógrafo e Figurinista: Paulo Gil Soares; Trajes de Danuza Leão: Guilherme Guimarães; Letreiros: Mair Tavares; Carta: Luiz Carlos Ripper; Música original: Sérgio Ricardo; Regente: Carlos Monteiro de Sousa; Quarteto: Edson Machado; Vozes: Maria da Graça (Gal Costa) e Sérgio Ricardo; Música: Carlos Gomes (O Guarani), Villa-Lobos (Bachianas n.2 e 6), Verdi (abertura de Othelo); canto negro Aluê do candomblé da Bahia, samba de favela do Rio; Locações: Rio de Janeiro e Duque de Caxias (RJ); Laboratório de imagem: Líder Cine Laboratórios; Estúdio de som: Herbert Richers; Prêmios: Prêmio da FIPRESCI (Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica) e Prêmio Luis Buñuel no XX Festival Internacional do Filme, em Cannes/1967; Golfinho de Ouro para Melhor Filme - Rio de Janeiro/1967; Coruja de Ouro para melhor ator coadjuvante (José Lewgoy) Rio de Janeiro/1967; Prêmio Air France de Cinema para melhor filme e melhor diretor - Rio de Janeiro, 1967; Prêmio da Crítica, Grande Prêmio Cinema e Juventude - Locarno, Itália; Prêmio da Crítica (Melhor Filme) - Havana, Cuba; Melhor Filme, Menção Honrosa (Melhor Roteiro), Melhor Ator Coadjuvante (Modesto de Sousa), Prêmio Especial a Luiz Carlos Barreto (pela fotografia e produção) - Juiz de Fora (MG).
Elenco: Jardel Filho - Paulo Martins; Paulo Autran - D. Porfírio Diaz; José Lewgoy - D. Filipe Vieira; Glauce Rocha - Sara; Paulo Gracindo - D. Júlio Fuentes; Hugo Carvana - Álvaro; Danuza Leão - Sílvia; Jofre Soares - Padre Gil; Modesto de Sousa - senador; Mário Lago - secretário de segurança; Flávio Migliaccio - homem do povo; Telma Reston - mulher do povo; José Marinho - Jerônimo; Francisco Milani - Aldo; Paulo César Pereio - estudante; Emanuel Cavalcanti - Felício; Zózimo Bulbul - Repórter; Antônio Câmera - índio; Echio Reis, Maurício do Valle, Rafael de Carvalho, Ivan de Souza;
Participações especiais: Darlene Glória, Elizabeth Gasper, Irma Álvares, Sônia Clara, Guide Vasconcelos; Figuração de época: Clóvis Bornay.
"Se o tropicalismo se deveu em alguma medida a meus atos e minhas idéias, temos então de considerar como deflagrador do movimento o impacto que teve sobre mim o filme Terra em transe. Meu coração disparou na cena de abertura, quando, ao som de um cântico de candomblé, se vê, numa tomada aérea do mar, aproximar-se a costa brasileira. E, a medida que o filme seguia em frente, as imagens de grande força que se sucediam confirmavam a impressão de que aspectos inconscientes de nossa realidade estavam à beira de se revelar". (Caetano Veloso em peça publicitária do seu livro "Verdade Tropical").
Amazonas, Amazonas
Durante anos, ouvi dizer que Glauber não gostava de um de seus outros documentários (Amazonas, Amazonas). Este “não gostar” virou lenda. Nas minhas pesquisas sobre a trajetória do cineasta, concluí que isto não constituía uma verdade. Amazonas, Amazonas já traz procedimentos que ele usaria em filmes posteriores. É uma das matrizes de Terra em transe. (Aurélio Michiles).
Maranhão 66
Curta-metragem, primeiro filme colorido.
Em 1966, José Sarney recém eleito governador do Maranhão, encomenda a Glauber Rocha um documentário, que provoca protestos por causa de sua agressividade. Enquanto Sarney fala, a câmera mostra as misérias do Maranhão: crianças famintas, um tuberculoso que vomita sangue diante da câmera, uma família de cegos. Sarney, o futuro presidente da República prefere não usar em seu proveito e nem podia, já que era mais um filme sobre a miséria que outra coisa;
Lina Bo Bardi, Glauber Rocha (abaixado) e equipe técnica do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, em Canudos, BA, 1963
Deus e o diabo na terra do sol
Ficção, longa-metragem, 35mm, preto e branco. Rio de Janeiro, 1964, 3.400 metros, 125 minutos; Companhia produtora: Copacabana Filmes; Distribuição: Copacabana Filmes; Lançamento: 10 de julho de 1964, Rio de Janeiro (Caruso, Bruni - Flamengo e Ópera); Produtor: Luiz Augusto Mendes; Produtores associados: Jarbas Barbosa, Glauber Rocha; Diretor de produção: Agnaldo Azevedo; Diretor: Glauber Rocha; Assistentes de direção: Paulo Gil Soares, Walter Lima Jr.; Argumentista: Glauber Rocha; Roteiristas: Glauber Rocha, Walter Lima Jr.; Diálogos: Glauber Rocha, Paulo Gil Soares; Direção de fotografia e câmera: Waldemar Lima; Cenógrafo e Figurinista: Paulo Gil Soares; Letreiros: Lygia Pape; Gravuras: Calazans Neto; Cartaz: Rogério Duarte; Música: Villa-Lobos; Canções: Sérgio Ricardo (melodia), Glauber Rocha (letra); Violão e voz: Sérgio Ricardo; Continuidade: Walter Lima Jr.; Locações: Monte Santo, Feira de Santana, Salvador, Canché (Cocorobó), Canudos (BA); Prêmios: Prêmio da Crítica Mexicana - Festival Internacional de Acapulco, México, 1964; Grande Prêmio Festival de Cinema Livre, Itália, 1964; Náiade de Ouro - Festival Internacional de Porreta Terme, Itália, 1964; Troféu Saci/ Melhor Ator Coadjuvante: Maurício do Valle, 1965; Grande Prêmio Latino Americano.
I Festival Internacional de Mar del Plata, Argentina, 1966.
Elenco: Geraldo Del Rey - Manuel; Yoná Magalhães - Rosa; Maurício do Valle - Antônio das Mortes; Othon Bastos - Corisco, Lídio Silva - Sebastião; Sônia dos Humildes - Dadá; Marrom - Cego Júlio; Antônio Pinto - Coronel; João Gama - Padre; Milton Roda - Coronel Moraes; Roque; Moradores de Monte Santo. Grande Prêmio no 1º Festival Internacional de Cinema Livre, Porretta Terme, Itália.
Prêmio da Crítica Mexicana no Festival Internacional de Acapulco.
Prêmio da Crítica em Cannes.
O filme confronta a alienação da Igreja com a realidade social; o fervor dos (des) crentes e a indignação contra as injustiças sociais; a religiosidade e o autoritarismo condensando todas as contradições do Brasil e ainda abre caminho para o surgimento da Teologia da Libertação. Segundo o Padre Roberto Francisco Daniel, é a descoberta da religiosidade no cinema. A corrida final de Manuel para o mar como uma libertação - sua vitória sobre o desafio e a configuração da idéia de que o personagem está atendendo ao chamado do Deus verdadeiro.
O famoso final com o casal de camponeses correndo em direção ao mar, foi idéia de Luiz Carlos Maciel.
O filme, obra prima e épica, mais representativo da cinematografia do autor e elogiado pelo italiano Alberto Moravia, teve o pedido de queima dos seus negativos por mostrar a penúria do povo nordestino e a possíveis mensagens subliminares nas entrelinhas. Cinco oficiais graduados da Agência Nacional assinalaram restrição para menores de dezoito anos no certificado de exibição e posteriormente no processo de liberação do filme, verificou-se que três dos censores afirmaram que o diretor da película era Agnaldo “Siri” Azevedo, na realidade o diretor de produção, desconhecendo por completo a figura de Glauber Rocha, uma das duas anotações da ficha de liberação: Entrecho: o filme em questão mostra o desencanto dos pobres, pela falta de caridade dos abastados. (Maria Ribeiro).
Baseado essa película em costumes do Norte, onde o mesmo desenrola-se, ou fazem crer que seja no Norte do país. Historia do gênero Lampião, incluindo macumbeiros, e não deixando fugir a pobreza do povo nordestino, onde há um personagem tipo de mocinhos propriamente dito em filmes americanos, digo mais, essa película mostra em demasia a pobreza brasileira onde não há razão de deixarem rodar em outras cabines estrangeiras, para não ridicularizar nosso país.(...)
Não é de toda mal filmada é que o cenário não ajuda dado a pobreza de paisagem. (...)
Um filme ridículo, pois o bom senso não deixaria, sair fora do país, assim dessa forma nós brasileiros nos livraríamos, de ser criticados no estrangeiro. Falando em pornografia é que se chama de bárbara. (Carlos Guterres, censor).
É dado relevante o grau de subserviência dos militares verde-olivas ao cinema colonizado. "Deus e o diabo na terra do sol" jamais ridicularizará o país, chamará a atenção de outro comandante que o definirá como o “Dom Quixote do audiovisual brasileiro”.
Trilha sonora
No livro "Chega de saudade", o jornalista Ruy Castro acusa injustamente o compositor, violonista e intérprete Sérgio Ricardo de ter plagiado cantadores nordestinos ao compor a trilha: “bobagem recolher folclore” (...) “Apropriação de cantadores nordestinos”.
Eu estava montando O menino da calça branca, meu primeiro curta, quando conheci Glauber Rocha. Ele trabalhava com Nelson Pereira dos Santos, o montador de Barravento, seu primeiro longa. Nos tornamos amigos e ele me convidou, algum tempo depois, para compor a trilha sonora de Deus e o diabo na terra do sol. Foi um trabalho incrível. Glauber mergulhou profundamente nos cantos agrestes, no aboio dos vaqueiros, nas pelejas dos cantadores. De posse daquele material, eu criei uma cadencia harmônica nunca usada por um violeiro, resultando em toques de bordões do violão em intervalos de 4ª e 5ª conjugados, que serviam para sublinhar e narrar a entrada dramática de Antônio das Mortes. A melodia parava sempre em notas longas dissonantes em relação aos acordes, transpunham a elementaridade do cantar primitivo, sem perder as características próprias. Mais tarde fiz a trilha de Terra em transe e O dragão da maldade contra o santo guerreiro. (Sérgio Ricardo).
Curiosidades
Aluno do escritor Nestor Duarte, em Salvador na Faculdade de Direito, Glauber tirou de seu romance Tempos temerários muitas das idéias de Deus e o diabo na terra do sol. Nestor Duarte também foi o delegado federal com a missão de acabar com o cangaço na Bahia que ordenou a volante dos macacos que praticamente matou Lampião.
O personagem, Antônio das Mortes; foi composto a partir do major Rufino de Jeremoado que perseguiu e matou Corisco, braço direito de Lampião, e de um jagunço de Vitória da Conquista, conhecido como Antônio Pernambucano;
A princípio o papel do cangaceiro Corisco não pertencia a Othon Bastos. No roteiro inicial, conta Othon Bastos, “tinha flashback. Por exemplo: o Corisco vinha andando e dizia assim: aí o Lampião... e cortava para a cena do Corisco com o Lampião”. Só quando Glauber incorporou a experiência brechtiana com literatura de cordel é que, os flashbacks foram eliminados”.
O diretor repetiu por duas semanas a câmera rodando em torno do beijo entre a Rosa de Yoná Magalhães e o Corisco de Othon Bastos, levando Yoná à histeria. Nessa cena, Glauber Rocha pretendia usar como fundo musical Brahms ou Beethoven, mas o lirismo da Bachiana nº 9 de Villa-Lobos, prevaleceu.
Quando filmavam no interior da Bahia, Glauber Rocha e Maurício do Valle subiam um morro íngreme discutindo sobre Deus. De repente um pé de vento derruba a câmera, que rola alguns metros morro abaixo. Mas o equipamento fica intato. Maurício, que era muito religioso, fala: — Deus existe! Glauber responde: — É possível...
Glauber Rocha fiolmou "Deus e o diabo" lendo "Os Sertões" de Euclides da Cunha.
Ao contemplar o cartaz Deus e o diabo na terra do sol, de autoria de Rogério Duarte, apontado como o maior da história do cinema brasileiro, uma francesa em extâse, resolveu abandonar a nossa dimensão.
Uma das inspirações para o cartunista Henfil ter criado e ambientado sua série famosa de personagens em plena caatinga nordestina: a Graúna, Orellana e Zeferino teria sido Deus e o diabo...
Dez latas históricas de metal pintadas de branco e usadas para guardar cópias de "Deus e o diabo na terra do sol" estavam empilhadas e enferrujadas num galpão da Cinemateca Nacional. Elas possuíam os carimbos de todos os festivais em que o filme tomou parte e a assinatura do próprio Glauber Rocha.
Barravento
Ficção, longa-metragem, 35mm, preto e branco, Salvador, 2.195 metros, 80 minutos. Bahia, 1961. Companhia produtora: Iglu Filmes; Distribuição: Horus Filmes; Produtores: Rex Schindler, Braga Neto; Produtor associado: David Singe; Diretor de produção: José Telles de Magalhães; Produtor executivo: Roberto Pires; Diretor: Glauber Rocha; Assistentes de direção: Álvaro Guimarães, Waldemar Lima; Argumentista: Glauber Rocha; Idéia Original: Luiz Paulino dos Santos; Roteiristas: Glauber Rocha, José Telles de Magalhães; Diálogos: Glauber Rocha, Luiz Paulino dos Santos; Diretor de fotografia: Tony Rabatony; Editor: Nelson Pereira dos Santos; Letreiros: Calazans Neto; Música: Washington Bruno (Canjiquinha): samba de roda e capoeira; Batatinha: samba; Locações: Praia do Buraquinho, Itapoã, Vila Flamengo (Salvador, BA); Prêmios: Opera Prima - XIII Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, Tchecoslovaquia, 1962.
Elenco: Antônio Sampaio (Pitanga) - Firmino; Luíza Maranhão - Cota, Lucy Carvalho -Naína, Aldo Teixeira - Aruã, Lídio Cirillo dos Santos (Lídio Silva) - Mestre; Rosalvo Plínio, Alair Liguori, Antônio Carlos dos Santos, D. Zezé, Flora Vasconcelos, Jota Luna, Hélio Moreno Lima, Francisco dos Santos Brito; participação especial em candomblés: D. Hilda; samba de roda e capoeira: D. Zezé, Adinora, Arnon, Sabá; orientação de candomblés: Hélio de Oliveira.
Prêmio Opera Prima, no Festival Internacional de Karlovy Vary, Tchecoslovaquia.
É proibido no governo Jango, como filme subversivo.
Quando abandonava as idéias da adolescência e compreendia que muitas teorias haviam criado em mim concepções esquemáticas das quais quis me libertar (...) Desde Barravento denunciei o candomblé como alienação do negro, que acabou se transformando em objeto de curiosidade folclórica. As preocupações deveriam se voltar para o desenvolvimento da cultura negra e não para sua exploração. Acho necessário preservar o pensamento mágico da cultura negra, mas não social. (Glauber Rocha).
Barravento é um poema, e um poema irritado. (Luiz Carlos Maciel no Diário de Notícias).
A cruz na praça
Para muitos, o lendário "A cruz na praça", nem saiu do copião, ou foi concluído. Sabe-se que esteticamente relaciona-se com "O Pátio".
Filme contratipardo e perdido na alfândega francesa, talvez recuperado na Sala de filmes do Tempo Glauber...
"A Cruz na Praça" é o "Limite", de Glauber Rocha, o antológico filme de Mário Peixoto que reapareceu décadas depois. Quando Glauber morreu, os jornais fizeram menção a um documentário inédito seu de 1960, intitulado "A cruz e a estrada".
"Um filme barroco-baiano sobre esquizofrenia, relação entre o povo e a religião, deus e o diabo, a castração e o homossexualismo, o erotismo, enfim uma experiência bastante delirante". Glauber Rocha.
"Helena Ignez não trabalhou neste curta-metragem, não porque estivesse grávida, mas porque não tinha papel pra mulher. O tema era o homossexualismo dentro da Igreja Barroca de São Francisco, Maciel é perseguido por Anatólio girando em torno do Cruzeiro de São Francisco enquanto dentro da igreja imagens de anjos, santos e monstros barrocos se precipitam até abstração. Maciel se liberta de Anatólio nas escadarias da Igreja de Nosso Senhor, onde Anselmo Duarte filmou O Pagador de Promessas e, subindo o Pelourinho com a mão nos culhões, continua girando em torno da cruz. Tanto "O Pátio" quanto "A Cruz na Praça" tiveram origens literárias". Glauber Rocha.
"Quando vi o material montado, compreendi que essas idEias não funcionavam mais, que minha concepção estética tinha sido transtornada". (Glauber Rocha).
Referências iniciais
(José Gatti - Dialogism and syncretism in the films of Glauber Rocha. Monografia, tese DR, University New York/Dep. Cinema Studies. 1995.)
O segundo experimento de Glauber Rocha em filme, o curta A cruz na praça, já anunciava que tiragens de religião penetrariam seus filmes*. Este (agora perdido) filme expôs a importância da religião na imagem do cinema de Rocha. De acordo com o crítico Clarival do Prado Valadares, que viu o filme em 1959, aquelas imagens com ornamento barroco de uma igreja colonial, proviam a chave em ordem hermenêutica apropriada para penetrar na narrativa. A tela foi mostrada com uma simbolização inconfundível. Glauber filmou o cruzeiro de São Francisco... os degraus da Igreja do Paço, as pilastras, as ruas e o máximo de cruzes**.
Deste modo o crítico viu esta “simbolização” nos detalhes arquiteturais da igreja, que serviu como um “contraponto” nas relações conflituosas de dois personagens masculinos. De uma “cariátide” (o cineasta) obteve o símbolo do bem, de um outro o símbolo do mal. Por acaso, Caim e Abel... dentro da nave as lentes voam tal como um morcego procurando por detalhes que se tornem símbolos; serafins à querubins, anjos da primeira hierarquia com suas meiga nudez, monstros nas colunas, faces de demônios vulgarmente esculpidas nas grades de madeira... As abundantes referências de erotismo nas descrições de Valadares, dos ornamentos da igreja e a trajetória dos personagens no filme: Abdomens se espichando, seios com mamilos esticados, braços, pernas, nádegas e volutas. E de novo as luzes na praça e a reunião de duas figuras nos degraus enormes da Igreja do Paço. Uma deflagração inesperada do mal, imenso, agressivo. Esforçado. Aéreo. Perseguição. Barreiras cercadas. Paralelepípedos de uma velha rua... Vôo, cariátides, anjos nus, abdomens, tórax, volutas. A figura de um jovem perturbado que corre, corre, até que ele encontra a cruz na praça e se envolve indefinidamente. E a situação é esta. Se um transpõe tais símbolos a um diagnóstico lingüístico, dois temas se misturam neste script: A inexorável existência do bem e do mal projetada em um episódio de homossexualismo. Revelação. Trauma. Mutilação. Vôo. A seqüência final mostrando o jovem mutilado que corre sem parar é a simbolização da complexa castração.
É isto, de tudo aquilo a quem o sexo foi revelado com sofrimento, dor, desapontamento, e que foi condenado para sempre. A figura gravitada, infinitamente rodeando a cruz. Então o filme acaba: com um dos personagens, o único que sobrevive, correndo em círculos, rodeando a cruz. É uma pena que Valadares não descreva o tipo de mutilação que o personagem sofre - tal detalhe poderia sugerir uma leitura interessante. Em outra mão, é significante que, Rocha apresente aqui muitas imagens de religiões dentro de uma conspiração que enfatiza sexualidade em um contexto de dor e punição. "A cruz na praça", foi para Valadares centrado em referências ao homossexualismo, um tema raramente presente nos filmes brasileiros da época, e único mérito transpondo apenas referências na filmografia de Rocha. Interessado nos filmes de Rocha, embora Michel Ciment tenha visto “relações homossexuais” entre o camponês Manoel e o místico Sebastião em Deus e o diabo na terra do sol não se tem uma impressão clara de qualquer tipo de relacionamento na narrativa. Ciment pode ter se enganado nos rituais “beijando pé” e outros gestos de adoração como sinais de homossexualismo, embora o contexto cultural retratado no filme não admita tal conceito. "Deus e o diabo na terra do sol" caracteriza um encontro potencialmente homoerótico de Rosa e Dadá, as duas protagonistas. Ciment define aquela cena como sapphic, mas suas trocas de carícias podem ser vista mais como um ato de solidariedade afetuosa, no contexto de extrema crueldade (e machismo) num ambiente que envolve as personagens.
Em O Pátio, que foi o primeiro experimento de Rocha em filme - Valadares viu a representação de um “bios” de erotismo, desde que os protagonistas fossem um homem e uma mulher. Em "A cruz na praça", em vez disso, o crítico sentiu a presença de “pathos”. Ele escreve que Rocha, neste filme estudou “a patologia de Eros em todo poder e desgraça.” Em condição de corroborar seus comentários, Valadares leu moldando fachadas que envolveu a praça, por exemplo, como representações antropomórficas de “naiveté”, interrogação, condenação e cinismo. “De acordo com a leitura de Valadares - a homossexualidade é moldada em "A cruz na praça", em um contexto de condenação que é concluído conectado com a hipocrisia de hegemonia religiosa. Estas sugestões apesar do lamentável tom de suas notas, a possibilidade de uma compassiva “defesa” de sexualidade alternativa. Desnecessário dizer, este posicionamento estava definitivamente rejeitado pelo geralmente homofóbico, estabelecido aquela altura. É interessante notar que, o que quer que tenha sido suas razões, Rocha estava renunciando Cruz na Praça. Ele estabeleceu que o filme nunca seria completado: “Quando eu vi o material editado de que eu havia realizado aquelas idéias, não trabalharia mais, minha concepção estética já não era a mesma.” A idéia de condenação religiosa de homossexualismo, pode ser vista da perspectiva do padrão moral de múltiplas origens, evidentemente incluindo ambas católica e protestante. Em outra mão, o foco do procedimento sexual condenado (com a exploração visual da imagem católica) que oferece a oportunidade de leitura de alegorias que não apenas se refere a sexualidade, mas também para diferentes histórias manifestadas pela religião. Embora nunca uma escolha gratuita, o tema de homossexualismo poderia, neste senso, ser rekeyed como um sinal de uma minoria oprimida pela hegemonia/imagem católica. Deste modo, se em "Barravento", Rocha encontrou sua outra religião (desde que ele não fosse, ao menos na hora da produção, reconhecido como sendo iniciado no camdoblé), em A Cruz na Praça que outrora já foi encapsulado lá, na representação do catolicismo. É particularmente interessante de qualquer maneira, que os filmes de Rocha nunca tenham incluído significados protestantes –- nem personagens, nem outras referências qualquer. Desta perspectiva, a presença dos significados religiosos em seu trabalho pode ser entendido em diferentes caminhos: Em uma mão, ele sugere um impulso próximo a exploração das vastas latitudes do ambiente social e cultural do brasileiro; em outra mão, considerando o conhecimento de Rocha, sugere uma constante pesquisa. Um se sente tentado, neste caso, interpretar esta descrição de A Cruz na Praça contra o conhecimento de contexto da própria religião de Rocha: ele muitas vezes lutou pelo seu status de minoria adequada as suas origens protestante, em uma sociedade dominada pelo catolicismo e religiões afro-brasileira. Poderia ficar estressado, embora, o que em contexto altamente sincrático da Bahia como outrora tem que ser entendido em termos altamentes relativos.
Tradução: Révero Frank
*Em português, o título "A cruz na praça" não é meramente um ponto geométrico e sim uma referência arquitetônica.
**Uma nota sobre A cruz na praça, in Glauber por Glauber (Embrafilme), p.54. Originalmente publicada no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22/ago./1957. Translatado pelo autor.
O Pátio
Curta-metragem, preto e branco, Salvador, 14 minutos.
Roberto Pires segura a máquina, a tal de corda que tem três lentes. E diz:
— Você olha por aqui, tá vendo que você tá vendo aqui? Esse quadrinho é o que vai sair na tela, né? Agora tem um detalhe, viu? Se você rodar aqui, muda de lente, olha aqui.
Glauber Rocha: — Ih! O quadro aumentou! Roberto Pires responde: — É. Aqui você muda. Essa lente é grande-angular. Muda essa, aí aperta mais e vai pegar, é a teleobjetiva.
Foi a única aula que Roberto deu para Glauber. Ele não ensinou cinema a Glauber Rocha não. Ele ensinou a máquina, como mudar de lente e como é que funcionava, que o filme andava de cabeça para baixo, uma série de detalhes assim. E Glauber Rocha fez "O pátio".
Um filme feito de metamorfoses, de símbolos, de montagem dialética com um espírito de vanguarda, muito anticlerical, cuja origem literária foi o conto "Olhos armados do ódio".
Preto contra branco. Tabuleiro de xadrez. Dois contrastes: Homem/Mulher. Diante do tempo. Indústrias. Selvas. Diante do Brasil/Bahia. Tropical. Ele está de calça preta sem camisa, um poeta toma sol no pátio. Ela de saia e blusa, a poetisa toma sol no pátio.
Libertam-se pulsões. Encontram-se. Trepam. (Glauber Rocha).
Quando pronto, "O Pátio" foi exibido, em Salvador, à meia-noite no Cine Guarani e a “sociedade baiana” pediu sua retirada de cartaz.
No Rio de Janeiro, "O Pátio" foi exibido na casa de Lygia Pape que fará o letreiro de "Deus e o diabo na terra do sol".