Kenneth Anger: Lúcifer é meu padroeiro

Kenneth Anger: Lúcifer é meu padroeiro


Jeff Burton, "Untitled #206 (Kenneth Anger Eyes)", 2006.
Courtesy Jeff Burton und Casey Kaplan, New York. © Jeff Burton.

participação como artista 16º Videobrasil mostra de filmes e/ou vídeos: Kenneth Anger - Estados Unidos

 

Entrevista Kenneth Anger - por Rodrigo Novaes data: 2007

Rodrigo Novaes — Neste ano se comemora o 60-º aniversário da produção de Fireworks. Em sua opinião, qual a importância desse filme na sua carreira?
Kenneth Anger — Fireworks é importante porque iluminou meu caminho. Não defino como carreira o trabalho que desenvolvi durante toda a minha vida fazendo filmes de arte porque sou um outsider, estou fora do cinema comercial.

Como a sua experiência na Europa no pós-guerra influenciou e/ou ajudou o seu trabalho?
– Por intermédio de Henri Langlois e Mary Meerson, da Cinémathèque Française – me abrigou durante doze anos, a partir da primavera de 1950. Eles foram extremamente importantes para a execução de Rabbit’s Moon. Langlois me convidou para montar as seqüências inacabadas de Que Viva Mexico, de Eisenstein, para o Antibes Film Festival.

Aleister Crowley tem um papel muito importante no seu trabalho. que influência tiveram as idéias dele sobre as suas?
Aleister Crowley entrou na minha vida na minha adolescência, quando seus seguidores me emprestaram seus livros. Desde então, Crowley tem sido meu guru. A estrutura dos seus filmes mostra uma preocupação diferente, se comparada aos filmes tradicionais do cinema dominante. No lugar de se concentrar em um enredo e seguir uma linha narrativa, os personagens de seus filmes transcendem essa dimensão e penetram o terreno dos sonhos, mitos e rituais.

Que papel desempenham os sonhos, os mitos e os rituais na sua vida, e, na verdade, nas idéias por trás do seu trabalho?
Desde a infância, os sonhos têm sido meu norte na trajetória da minha vida. Tomo nota dos meus sonhos, e me lembro deles. Meus filmes registram alguns dos meus sonhos. Os mitos e os rituais reforçam minha arte.

Por que você sempre preferiu trabalhar sozinho na produção, na filmagem e na edição dos seus filmes?

Tenho orgulho de ser solitário. Trabalho sozinho por opção. Que fique claro que Hollywood nunca veio bater à minha porta; por isso, tive que me virar com o que tinha em mãos, liberdade e independência, guiado pelo meu espírito e pelo meu cérebro. A idéia de ter uma equipe trabalhando em conjunto para criar um produto comercial pode ser criativamente divertida, mas nunca me foi oferecida.

Os símbolos que seus filmes contêm, a maneira como você constrói as imagens, sua estrutura, as cores, suas técnicas de edição – todos estes elementos tiveram influência duradoura na cultura visual do cinema dominante. E, ainda assim, você só fez curtas.
Vamos cair na real. Nunca tive apoio financeiro para fazer longas-metragens. A necessidade gerou a virtude. A indústria cinematográfica foi em geral exultante ao elogiar meu trabalho. Nunca me ofereceram um emprego.

Você também escreveu a série de livros Hollywood Babylon, mostrando um bocado da roupa suja de Hollywood. Os livros expressam um desejo pessoal de trazer a “cidade artificial” para o mundo real, descrevendo cada detalhe por trás das fachadas do show business. Qual sua relação pessoal com Hollywood?
Cresci em Hollywood. Nasci em Santa Monica e terminei o colegial em Beverly Hills. Sou afilhado de Edmund Goulding, diretor de O beco das ilusões perdidas [Nightmare Alley]. Desde minha adolescência, fui amigo de Robert Florey e James Whale, diretores de natureza maverick [independentes]. Mais tarde, fui amigo de Nicolas Ray. Eu sabia muitas histórias de Hollywood – diretamente da fonte, a começar pela minha avó – sobre a época que hoje é qualificada como “de ouro”. A única razão de ter escrito os livros Hollywood Babylon foi para ganhar dinheiro e poder continuar na Europa. Para mim, Hollywood sempre foi uma relação de amor e ódio – em partes iguais de ambos.

Você teria feito alguma coisa diferentemente do que fez? Poderia ter tido atitudes um pouco mais diplomáticas.
É divertido brigar com as pessoas, mas em geral a briga acaba. E, aí, lamento que aquelas pessoas tenham sido riscadas da minha vida. Mas sigo em frente.
Como você vê a cultura visual hoje? O que você acha dessa cultura?
Caos visual é a expressão que uso para o excesso de imagens e de ruído que leva ao colapso mental. Eu me isolo disso tudo. Para início de conversa, não tenho televisão nem assisto à televisão.

Você gostaria de dar algum conselho aos que estão começando no campo das artes visuais hoje?
Não façam isso, a menos que sejam ricos ou malucos.

Você teria dito certa vez: “Lúcifer é o padroeiro das artes visuais. Cor, forma – tudo isso é obra de Lúcifer”. Você poderia falar um pouco sobre Lúcifer e as artes?
Lúcifer é meu padroeiro. O rebelde original. Todo artista deve encontrar seu próprio Lúcifer.

Fonte: (catálogo do 16º Videobrasil). ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil": de 30 de setembro a 25 de outubro de 2007, p.74-77, Edições SESC SP, São Paulo-SP, 2007.



Kenneth Anger (Fonte: bromidrose.wordpress.com/2007/10/)


Integrou o cinema underground norter-americano ao lado de nomes como Paul Morrissey, Derek Jarman, Andy Warhol e William Burroughs, sendo um de seus representantes mais indigestos. Seus filmes abordam a temática sexual, em especial a homoerótica além de fazerem diversas alusões à Thelema (filosofia de Aleister Crowley). Quando fez seu primeiro filme “Escape Episode” tinha 17 anos, porém o seu trabalho mais representativo foi “Fireworks” (1947). Sua produção cinematográfica contém ainda forte influência da beat generation. Alguns filmes Scorpio Rising trata da temática homossexual, através de imagens de jovens motoqueiros nazistas em suas orgias. Em meio à essas imagens aparecem referências a Jesus Cristo, James Dean e Marlon Brando, o fetiche por couro e canções doo-wop (pop americano vocal dos anos 40). A cena final mostra um estupro, seguido de um acidente automobilístico. “Foi um final perfeito para “Scorpio Rising”, porque o signo de escorpião refere-se a sexo e morte, e também rege as máquinas – porque os órgãos sexuais são as máquinas do corpo” (Kenneth Anger)

Invocation of my Demon Brother Do cineasta underground Kenneth Anger, um filme sobre Charles Manson cuja trilha sonora é assinada por Mick Jagger.

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Leia!

Kenneth Anger, o Fetichista Pop 

Textos para download Ensaio
"O tempo deve ter um fim", de Kenneth Anger.
Fonte: ANGER, Kenneth. In: Caderno SESC_Videobrasil 03, Associação Cultural Videobrasil, nº3, p.104-107, São Paulo, 2007. (download PDF)

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Pense nisso: há cem anos, o público que vai ao cinema tem sido enganado. Seja vendo uma multidão de trabalhadores deixando a fábrica Lumière em 1895, ou ondas quebrando contra rochas, ou um trem chegando a uma estação, a audiência tem sido enganada por uma ilusão de vida, quando tudo o que vê é uma série de fotografias projetadas, com um intervalo de escuridão entre cada uma. A vontade de acreditar e a persistência da visão nos deram o cinema. Como cineasta, ao montar meus próprios filmes, eu sempre estive consciente e me deixei cativar pela sedução das imagens em miniatura, os quadros, fluindo como uma cascata, enquanto a iluminação, a cor e a ação mudavam. No visor de minha mesa de edição eu podia parar o tempo e isolar um quadro representando a essência do evento em movimento. Assim nasceu a idéia dos icons, de Kenneth Anger. [Esses] quadros individuais [foram selecionados] de muitos filmes meus, que achei que poderiam se sustentar por si próprios como imagens cativantes e instigantes. Em alguns casos, ampliei o copião de filme para mostrar vários quadros e capturar a nebulosidade e o fluxo do próprio movimento. Em outros casos, tais como os close-ups de Anaïs Nin ou de Samson De Brier no filme inauguration of the pleasure dome, parei o quadro num sorriso que se esvaía, ou no brilho sardônico do olho. Ah, capturar, desacelerar e deter o tempo – a Ilusão do Mundo. Claro que ele vai escapar de novo – e é necessário que ele escape. A Marcha do Tempo é inexorável. Ele está sempre lá Incitando você, Mais rápido, mais rápido. Você o detesta. o amaldiçoa. O respeita. o adora. É o tempo. E a única maneira De se tornar um mestre mágico É derrotá-lo O tempo deve ter um fim. O que é o Presente? Nada mais é que um ponto sobre a linha do Tempo, onde o infinito Futuro é separado do infinito Passado. Metaforicamente: o quadro de um filme. Indo além, é no instante invisível, no átomo teórico do Tempo, trilhões de vezes mais breve do que os 24 quadros por segundo, onde o inexistente Futuro encontra o inexistente Passado. Podemos dizer que tal ponto – o super-super-super-super quadro de filme – exista? Para o Presente existir é preciso que haja algum tipo de duração, por mais breve que seja. Ele tem de existir por algum momento mensurável de Tempo, um metaquadro, por menor que seja. Pois, se ele não existe por um só momento, por um abrir e fechar de um obturador molecular, não se pode dizer que ele exista. Além disso, esse momento, esse Quadro Cósmico, deve ter uma duração própria, por mais breve que seja. Mas, se um momento tem duração, ele deve ter um Passado e um Futuro, como uma sequência de filme, um começo e um fim. Em nossa Ilha de Edição Cósmica, devemos então subdividir esse momento e eliminar seu Passado e seu Futuro, de modo que isole seu Presente – o congelamento máximo de um quadro –, se é que existe um Presente. Em nossa Ilha de Edição Cósmica, temos de dividi-lo em instantes, e temos de continuar dividindo até chegarmos a um instante tão breve que nenhuma parte fracional de um Passado ou Futuro nele permaneça. Quando conseguirmos isso, teremos chegado ao verdadeiro átomo de Tempo – o quadro máximo –, mas teremos eliminado a duração. Um verdadeiro átomo de Tempo não pode ter duração alguma. Não pode ter em si Passado ou Futuro, pois de outra forma não será um agora puro; estará contaminado pela Então-dade [Then-ness] e pela Ainda-dade [Yet-ness]. Um verdadeiro átomo de Tempo – uma célula do corpo do Deus Cronos – não pode ter nenhuma dimensão de Tempo. Portanto, não pode existir no Tempo, pois, sem duração, a existência é impossível. Agora, o que aconteceu com o Presente? Nosso quadro único, isolado? Ele não pode existir por mais de um instante indivisível, um átomo de Tempo, e esse átomo de Tempo não pode existir de forma alguma. Conseqüentemente, o Presente não pode existir de forma alguma, nem mesmo como um ponto teórico onde o Passado inexistente encontra o Futuro inexistente. O Presente é o tempo mais obviamente irreal e improvável de todos os três; ele certamente não existiu no Passado, ele certamente não existirá no Futuro; e a ele não é permitida duração alguma, por uma fração de um instante, agora. Então está claro que o Presente não existe! Se, como foi “provado” no desenrolar do rolo do Tempo, nem o Passado, nem o Presente ou o Futuro existem agora; e se é impossível provar que qualquer um deles tenha existido ou existirá, então não se pode provar que o próprio Tempo tenha qualquer tipo de existência. Pare o projetor. Corte a corrente. Extinga-se a lâmpada de projeção. O mago proclama: O tempo deve ter um fim.

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Kenneth Anger (1927) é um diretor e ator norte-americano. Ainda muito jovem, aos dezessete anos, dirigiu seu primeiro filme: Escape Episode (1944). Aos vinte anos, realizou uma de suas obras mais emblemáticas: Fireworks (1947), em torno dos papéis e simbologias sexuais. Em 1959 lançou o célebre e polêmico livro Hollywood Babylon, sobre os bastidores da indústria cinematográfica. Seus mais recentes filmes são Anger Sees Red e Mouse Heaven, ambos de 2004. Kenneth Anger é um dos convidados do 16º Videobrasil, onde apresenta antologia com nove de suas mais importantes obras, com curadoria de Rodrigo Novaes. fonte: (catálogo do 16º Videobrasil). ASSOCIAÇÃO CULTURAL VIDEOBRASIL. "16º Festival Internacional de Arte Eletrônica SESC_Videobrasil": de 30 de setembro a 25 de outubro de 2007, p.77, Edições SESC SP, São Paulo-SP, 2007.

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Time must have a stop (Kenneth Anger)
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Think about it: for 100 years, the film-watching public has been fooled. Whether watching a crowd of workers leaving the Lumière factory in 1895, or waves crashing onto rocks, or a train arriving in a station, the audience has been taken in by the illusion of life, when all it is seeing is a series of projected still photographs, with an interval of darkness between each one. The willingness to believe – and the persistence of vision – have given us the Cinema. As a filmmaker, cutting my own films, I was always aware and captivated by the seduction of the miniature images, the frames, flowing like a cascade as the lighting, the colour and the action changed. In the viewer on my cutting table I could stop time, and isolate one picture as the essence of the moving event. Thus was born the idea of Kenneth Anger’s icons. [These] individual frames [were selected] from several of my films that I thought could stand on their own as arresting and compelling image[s]. In some cases, I have enlarged the filmstrip to show several frames, to capture the blur and flow of actual movement. In other cases, such as the close-up of Anais Nin or of Samson De Brier from inauguration of the pleasure dome, I have stopped the frame on a fleeting smile, or the sardonic glint of the eye. Ah, to capture, to slow, to arrest time - the World’s Illusion. Of course it will escape again - as escape it must. The March of Time is inexorable. it’s always there taunting you faster, faster. you hate it. curse it. respect it. worship it. it’s time. and the only way to be a master magician is to beat it time must have a stop What is the Present? It is nothing more than a point upon the line of Time, where the infinite Future is separated from the infinite Past. Metaphorically: a frame of film. Going still further, it is the invisible instant, the theoretical atom of Time, trillions of times more than 24-frames-per-second, where the non-existent Future meets the non-existent Past. Can such a point – the supersuper-super-super film frame – be said to exist? For the Present to exist it must have some sort of duration, however short. It must exist for some measurable moment of Time, a meta-frame, however small. For if it doesn’t exist for a single moment, a molecular shutter-flash, it cannot be said to exist. Furthermore, this moment, this Cosmic Frame, must have some duration of its own, however small. But if a moment has duration, it must have a Past and a Future, like a piece of film, a beginning and an end. In our Cosmic Cutting Room, we must sub-divide this moment, then, and eliminate its Past and its Future in order to isolate its Present – the ultimate freeze-frame – if it has any Present at all. In our Cosmic Cutting Room we must cut it up into instants, and must keep on cutting it up until we get an instant so small that it has no fractional part of a Past or Future remaining in it. When we have accomplished this, we will have come to the true atom of Time – the ultimate frame – but we will have eliminated duration. A true atom of Time must have no duration whatever. It must have no Past or Future in it or it will not be a pure now; it will be contaminated with Then-ness and Yet-ness. A true atom of Time – one cell of the body of God Chronos – must have no Time-dimension at all. Therefore it cannot exist at all, in Time, for without duration existence is impossible. Now what has become of the Present? Our isolated, single film frame? It cannot exist for more than one indivisible instant, one atom of Time, and this atom of Time cannot exist at all. Consequently, the Present cannot exist at all, even as a theoretical point where the non-existent Past meets the non-existent Future. The Present is the most obviously unreal and unprovable tense of all three; it surely did not exist in the Past, it surely will not exist in the Future; and it cannot be allowed any duration, for a fraction of an instant, now. So it is clear that the Present does not exist! If, as has been “proved”, on the unspooling reel of Time, neither the Past, the Present nor the Future exist now; and if it is impossible to prove that any one of them did exist or will exist, then it cannot be proved that Time itself has any existence whatsoever. stop the projector. cut the current. extinguish the projection lamp the magus proclaims: time must have a stop. Kenneth Anger is a film director. He started his career making short underground films in the United States with Escape Episode (1944). His Fireworks (1947) was noted for asserting a critical, non-conformist style and pursuing supernatural, erotic and homosexual themes. His book Hollywood Babylon (1958) attacked the establishment and reported scandals among Hollywood’s rich and famous. Born in Santa Monica, resident in Los Angeles.
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