Edie Sedwick volta à moda


Musa americana dos anos 60 volta à moda em NY (Marcelo Bernardes*)
Edie Sedgwick, morta aos 28 anos em 1971, teve seu principal filme relançado nos EUA

Nova York. – Especula-se que Bob Dylan escreveu para ela a canção Just like a woman. Diana Vreeland, a mais famosa editora que uma revista de moda já conheceu, fisgou-a de Cambridge para as páginas da Vogue, criando um famoso estilo para a época: o youthquaker (o terremoto jovem). O amigo Tenessee Williams a apresentou a Andy Warhol, que rapidamente a co-optou e a transformou em musa de seus filmes underground. Na segunda metade dos anos 60, a jovem e bela herdeira Edie Sedgwick sintetizava, sozinha, uma convulsiva época para as artes americanas.

Combalida pelas drogas e pelo álcool, Edie morreu em 1971, aos 28 anos. Mas, três décadas depois, ela ainda continua a inspirar novas gerações. Personalidades como a ‘top model’ inglesa Kate Moss e o músico-dândi Rufus Wainwright são fãs de carteirinha. Angelina Jolie, dizem, não só se contentou em ter Edie como figura-modelo, como também passou a imitar a musa. Mike Nichols pretende filmar a vida dela também. Editoriais recentes de revistas de moda e videoclipes (em especial o novo do inglês Will Young) se inspiram na imagem de Edie. Na rede, um incrível site – girlonfire.com -, sem estar vinculado a nenhum mecanismo de pesquisa, vem apresentando grande procura dos internautas. E o túmulo de Edie, no cemitério de Oak Hill, nas proximidades de Santa Bárbara, se tornou ponto de peregrinação de fãs, como o jazigo de Jim Morrison, no Pere Lachaise, de Paris.

Nada, porém, apresenta Edie de forma mais completa e convulsiva do que o filme "Ciao Manhattan", de David Weisman e John Palmer, finalizado pela atriz apenas seis meses depois de sua morte, em 16 de novembro de 1971. Com raras exibições nos últimos 15 anos, o que só aumentou sua aura de ‘cult movie’, "Ciao Manhattan" foi relançado este mês em um cinema de Nova York e, no mês que vem, será a vez de Los Angeles. Trata-se de uma estratégia para sua distribuição em Dvd, prevista para outubro, e vai trazer vários out takes e cenas extras de Edie.

“Para mim, o fenômeno do culto a Edie é inexplicável”, diz o diretor e produtor David Weisman, de 60 anos, em entrevista ao Estado. “Mas, ao ter de analisá-lo, diria que Edie representa aos jovens de hoje o paraíso perdido”, continua. “Alguém que tenha 25 anos e um pouco de cérebro sabe que tudo no mundo pop hoje é hypado. Videoclipes, revistas de moda tentam vender um estilo cool pré-fabricado. O cinema atual, como Bob Evans (o famoso produtor de "Chinatown") bem exemplificou, é marketing, marketing, marketing”, continua. “Com Edie tudo era natural: uma camiseta com uma gravura de um leopardo, que usava num dia, virava sensação no outro. Cada passo que ela dava era copiado”. E acrescenta: “Os jovens de hoje se sentem ludibriados e privados de uma explosiva época. Eles sonham, nostálgicos, com a década de 60. Certamente, minha geração, quando jovem, nunca almejou voltar 25 anos no tempo”.

Weisman, que foi um dos melhores amigos de Edie, revela que cada pessoa que cruzou a vida da atriz, seja em Cambridge, nos salões nobres de Boston, nas discotecas exclusivas de Nova York, na Factory de Andy Warhol ou até por entre os Hell’s Angels, turma que ela freqüentava nos últimos anos de sua vida, tinham uma visão completamente diferente de Edie. “O único ponto em que havia concordância, não importando o desastre do momento na vida de Edie, era o fato de que todos queriam salva-la”, explica Weisman. “Mas mesmo drogada ou bêbada, Edie nunca perdia a pose: ela era uma verdadeira lady”.

Infância conturbada
Filha de uma das mais tradicionais famílias de Boston, um clã de sangues azuis com presença na política americana e que achavam os Kennedys um bando de noveau riches cafonas, Edie teve uma infância conturbada num rancho em Santa Bárbara, o maior da Califórnia. Tranqüilizantes, drogas e formação escolar em dois asilos (Silver Hill e Bloomingdale’s) para pessoas riquíssimas com distúrbios emocionais. Em Cambridge, ela foi estudar escultura. Dois de seus irmãos, também Harvard boys, se suicidaram na época: um se enforcou e o outro jogou sua moto contra um ônibus na Lexington Avenue, de Nova York, Mesmo marcada pela tragédia familiar e por problemas emocionais, Edie era a alegria dos salões exclusivos de Boston. As pessoas gravitavam ao seu redor.

Ao se mudar para Nova York, em 1964, aos 21 anos, Edie se tornou a conversa da cidade. Lançava moda ao freqüentar a boate Ondine e o espaço Max’s Kansas City (um oásis para artistas) usando apenas meia-calça e blusa. O mundo fashion tomou nota, assim como Andy Warhol, que sucumbiu a seus encantos, principalmente depois de ela pintar seu cabelo cor de prata, como o artista. O ninho cativo de Edie passou a ser um loft com as paredes pintadas de prata, na Rua 47 com a Segunda Avenida, mundialmente conhecido como a Factory. “O lance entre Andy e Edie era muito mais que uma paixão platônica”, explica Weisman. “Na verdade, Andy queria ser Edie”. Na Factory de Warhol, Edie participou de várias produções underground como "Poor little rich girl", "Beauty 2" e "Chelsea Girls", ao lado da cativa fauna do artista, como Paul America, Viva, Brigid Berlin, entre outros.

Na época, ela também conheceria Bob Dylan, com quem, acredita-se, teria ido para a cama. Ao desmistificar o mundo de Warhol e convencer Edie de que a turma da Factory não passava de um “bando de bichas”, o bardo da música americana levou Edie para seu sítio, na cidade nova-iorquina de Woodstock. Em seu disco seminal de 1966, "Blonde on Blonde", Dylan compôs Leopard-skin pill box hat para Edie. Acredita-se que outra faixa do álbum – Just like a woman – e também Like a Rolling Stone tenham sido também feitas para sua musa.

Andy Warhol, naturalmente, não aceitou bem a deserção de Edie e se vingou em grande estilo. No famoso restaurante ‘Gingerman’, na região do complexo cultural do Lincoln Center, Edie comunicou a Warhol que sairia da Factory. Warhol, então, abriu-lhe uma cópia do dia do tablóide New York Post, deixando à mostra uma reportagem sobre o casamento de Dylan duas semanas antes. “Aquilo teve um efeito devastador em Edie”, explica Weisman. “E realmente foi o fim da amizade deles”.

Como a maioria dos artistas da época, Edie vivia uma existência turbinada. De anfetaminas a nebutal, passando por heroína e LSD, e até o tratamento de eletrochoque, não houve droga que ela não tenha experimentado. Suas tentativas de suicídio também são lendárias. Ela ateou fogo num quarto do famoso Chelsea Hotel, de Nova York (provocando incêndio em toda uma ala), e vivia ingerindo lenitivos. “Um dia, fui busca-la na rodoviária de Los Angeles”, reconta Weisman. “Ao descer do ônibus, Edie se esborrachou nos meus braços: na viagem de Santa Bárbara para L.A., ela havia consumido, em uma só dose, todas as cartelas de nebutal previstas para uma semana”.

Quando esse incidente aconteceu em 1970, Edie já estava de volta a Califórnia, depois de passar por várias instituições psiquiátricas. Numa delas, se apaixonou por outro paciente, o hippie Michael Post, que se tornou seu marido. Nessa época, Edie concluía as filmagens de "Ciao Manhattan". Foi Post quem ligou para Weisman em Nova York par avisá-lo da morte da esposa (por sufocamento agravado pelo uso de drogas e álcool). “Eram nove e meia da manhã, estava numa sala de montagem da Quinta Avenida editando Ciao”, quando recebi a notícia”, lembra Weisman. “Custei a acreditar, achei que era mais uma peça que Edie pregava”.

Ao relatar a morte de Edie a Warhol, Brigid Berlin resolveu gravar o telefonema. “Andy começou perguntando se Edie tinha deixado grana para o marido”, explica Weisman. “Pouco a pouco, ele foi se desvencilhando da figura de Edie e chegou a dizer na ligação que pouco a conhecia. Ele lavou as mãos por completo”. Após executar a fita para o demi monde nova-iorquino, a transcrição da conversa foi parar nas páginas do New York Post. Algumas cenas de Edie em "Ciao Manhattan" precisaram ser dubladas mais tarde. A titular do trabalho foi Brigid Berlin. “Ela foi tão perfeita, que saiu telefonando para muita gente e se fazendo passar por Edie”, conta Weisman.

*ORIGINALMENTE PUBLICADO NO JORNAL ‘O ESTADO DE SÃO PAULO’ em 25 jul. / 2002.

Originalmente publicado em O Estado de S. Paulo - 25 jul. / 2002.

 

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