As luzes estão se apagando no planeta Terra



As luzes estão se apagando no planeta Terra

A minha geração teve fé na cooperação internacional mas
como mostra a falência na Síria, o sonho está morto.

Escrito por Mattew Parris para o jornal The Times (04/08/2012)
Traduzido por Antonio Celso Barbieri

Introdução

Caro leitor, hoje quando li esta matéria, fiquei surpreendido porque o autor discute e relembra o esforço do nosso planeta para tentar criar um governo mundial. Como, desde adolescente, fui um ardoroso fã da série de TV chamada Jornada nas Estrelas (Star Trek) onde, num futuro distante, a Terra unificou-se e resolveu todos os seus problemas e picuinhas internas, naturalmente fiquei interessado em entender a ótica do criador da matéria e saber como foi que ele viu o esforço do nosso planeta para tentar chegar nesta aparente utopia.

Cabe lembrar que, o Sr. Mattew Parris é um branco nascido na África do Sul, país que ficou renomado pela sua brutalidade no tratamento aos negros locais. O escritor mudou residência para o Reino Unido onde tornou-se um político conservador. Hoje em dia ele exerce a profissão de jornalista.

Considerando-se o acima exposto, solicito que leiam este texto com uma "pitada de sal", mantendo atenção especial à inteligência como ele foi construído. Por favor não deixem de ler a minha análise no final. Vamos ver se o caro leitor concorda com o meu ponto de vista. Boa leitura!

Antonio Celso Barbieri

Quarenta anos atrás, como estudante de pós graduação de um curso de Relações Internacionais na Universidade de Yale, junto com a minha classe, começamos um projeto para estabelecer, de forma científica,  através de uma nova pesquisa de análise quantitativa , a melhor rota para a paz mundial. Com uma régua, nós medimos sucessivas colunas do jornal The New York Times buscando saber quantos centímetros foram devotados à uma cooperação internacional positiva e quantos foram devotados à desenvolvimentos negativos. Então, depois de identificarmos as iniciativas internacionais que talvez tenham sido influenciais, nós checamos as correspondências destas iniciativas com o aumento de atos mundiais de amizade ou atos mundiais de violência.

Como isto parece inocente hoje em dia. Na quinta-feira passada (02/08/2012), Kofi Annan, o enviado especial da ONU e Liga Árabe, renunciou sua missão de paz na Síria.  Uma coisa ficou faltando na sua triste e eloquente explicação do porque, mesmo sob os auspícios da ONU, ele perdeu a autoridade para unir as cabeças, direta ou indiretamente envolvidas no conflito.  A Rússia e a China não conseguiram ser envergonhadas o suficiente para chegarem num consenso. O fato de a Assembleia Geral da ONU estar agora considerando censurar, pela sua paralisia, seu próprio Conselho de Segurança é um gesto bravo e honesto que, na verdade, mais parece um suspiro de desespero.

Minha geração foi a primeira geração depois da Segunda Guerra Mundial. Hoje, fica até difícil quantizar o quanto, na época, estava em voga a ideia e as altas esperanças investidas no sonho de que o mundo estava unificando-se e uma nova era da razão estava nascendo.

“Internacionalismo” era palavra de ordem.  Nós especulávamos que estamos entrando numa época onde o nascimento da ONU era o símbolo mais potente onde um governo mundial seria o destino final. Nós víamos como um nobre prospecto a possibilidade do desaparecimento da Nação Estado. Aconteceriam ações globais encabeçadas por organizações multilaterais  que assumiriam responsabilidades por todos os problemas quem mostrassem serem melhor enfrentados globalmente do que individualmente pelas nações. Problemas que, certamente envolveriam tudo!

Confiança na ciência era a chave. A ciência significava razão, não só racionalismo mas também “know-how”, conhecimento. A ciência iria banir o preconceito assim como as doenças e necessidades. A política (no sentido nacional em termos de partidos políticos) ficaria fora de  moda porque, pelo planeta todo, homens e mulheres de boa vontade, especializados no bom senso comum estabeleceriam os hábitos e instituições de cooperação mútua. Nós pensamos que, de alguma forma, seria óbvio o que deveria ser feito e, cada vez mais, o povo ultrapassaria as suas fronteiras para juntarem forças para fazer a coisa acontecer e, talvez, como resultado, nós nunca mais teríamos uma guerra.

De uma forma curiosa, os dois superpoderosos rivais do pós guerra, sempre, um olhando o outro de cima para baixo, nos brindaram, mesmo que de forma diferente,  cada um com sua ideia de emancipação humana. O fim da Guerra levou os Estados Unidos e a União Soviética para  a mesa  e a Guerra Fria os manteve lá, só que , os ideias de cada um, abraçaram versões rivais  de um mundo unido. A União das Repúblicas Comunistas Soviéticas tinha como missão ideológica unir toda a Terra debaixo da bandeira socialista mas, a o ideal Norte Americano, como John F. Kennedy parecia exemplificar, não estava interessada em controlar o mundo mas, lidera-lo, ensinando, indicando o caminho à seguir, fazendo o mundo parecer com a América do Norte, ficando, como sentíamos, mais moderno o que, significaria mais democrático, tolerante e científico na sua visão. Os Estados Unidos da América, sentíamos, era um tipo de teste piloto para os Estados Unidos Mundial. Não foi muito tempo depois deste período que, foi fundado a OAU (Organização da União Africana) cuja bandeira do seu objetivo era estabelecer um governo para todo o continente africano.

Na Europa nós fizemos o mesmo. A Comunidade Europeia do Carvão e Aço (European Coal and Steel Community) foi o piloto para o Mercado Comum (Common Market ), depois EC, depois Eu, tudo apontando para um Estados Unidos da Europa.  

É claro que as antigas colônias britânicas, agora conhecidas como a Comunidade Britânica (Commonwealth) nunca tiveram o significado de ser um modelo para nada governamental mas refletiam a moda intelectual da época para criação gigantescas cooperativas mundiais.

“Multilateralismo” estava no seu auge. Você poderia dizer que enquanto os impérios europeus estavam caídos, morrendo , USA e União Soviética  (geralmente através da ONU) estavam, de um lado, ajudando à liquida-los de uma vez por todas mas, do outro buscando por um outro tipo de império, Império do Planeta Terra, o multilateralismo final. Os filmes e a ficção científica deste período suportam esta tese.

A era do multilateralismo tinha chego mesmo porque,  geralmente debaixo do suporte da ONU mas, às vezes fora dele, nós estabelecemos a FAO, Organização da Alimentação e Agricultura (Food and Agriculture Organization), o Banco Mundial (World Bank), o WTO, Organização Mundial do Comércio (World Trade Organization), o IMF, Fundo Monetário Internacional  (International Monetary Fund) e a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization). Existem as agencias das Nações Unidas para ajudas e suporte às crianças (Unicef) e para cultura e educação (Unesco). Mais recentemente a ansiedade gerada pelo aquecimento global gerou uma série de encontros patrocinados pela ONU como foi o caso das conferências de Kyoto e a conferência este ano que aconteceu no Rio de Janeiro.

Até agora, tratava-se de eventos bem planetários mas, com a União Soviética se abrindo e, mais tarde, também a China crescendo, alguma coisa começou dar errado. O “momento” foi perdido e, eu diria, que está revertendo-se.  Os primeiros sinais começaram à aparecer quando os Estados Unidos desenvolveram o habito de não ratificarem os tratados (confirmarem autenticamente ou validarem o que foi aceito) e não aceitarem nenhuma negociação. É o caso do Tratado da Proibição de Testes Nucleares, da Corte Para Crimes Internacionais (International Criminal Court ICC) e,  várias resoluções sobre o Oriente Médio. A América do Norte começou pular fora destes acordos.

Então, diferenças apareceram entre países ricos e países pobres. Diferenças estas que paralisaram o progresso  da Organização Mundial do Comércio (WTO) e sucessivos encontros mundiais (A negociação do Doha ainda está paralisado).

Nota do Barbieri: O Doha Development Agenda (DDA) é uma negociação de comércio envolvendo a Organização Mundial do Comércio (WTO) que começou em novembro de 2001, cujo objetivo é baixar as barreiras comerciais mundiais para, assim, ajudar e facilitar o aumento do comércio global.

A NATO (North Atlantic Treaty Organization) também parece que perdeu seu foco. As operações debaixo da bandeira da NATO, acontecidas no Afeganistão e Líbia, aparentemente, foram inspiradas e dirigidas em função de negócios bilaterais. E, falando do Oriente Médio, Tom Phillips, nosso ex-embaixador de Israel, escreveu na revista Prospect  que ele tem medo de que as tentativas internacionais para acharem uma solução para o problema no Oriente Médio não estão chegando à lugar nenhum e nunca chegarão.

Com relação à todas estas organizações multilaterais, poderíamos, honestamente, dizer seus dias de grande influência ficaram para trás. Uma forma de medir o interesse geral numa organização é checar o seu nível de tráfico na Internet. Na maioria das organizações que chequei seu tráfico está em constante e substancial declínio.

A ideia de um governo mundial, obviamente, hoje é visto como pura fantasia. A pergunta que fica é: Porque este caminho na direção de uma ação mundial coordenada parece não obter resultados quando a lógica do argumento pela cooperação dos povos é tão forte? Eu suspeito que, paradoxalmente, o estado de permanente tensão entre as duas superpotências encorajou as duas a cederem para grupos de países menores. Eu suspeito também que o crescimento da China e Rússia como nações que não se importam com o que o mundo pensa contribuiu para a bagunça.

Uma a uma as nossa instituições globais estão sendo esvaziadas e descartadas. Até parece que a única coisa que sobreviverá são as Olimpíadas. Qualquer que seja o auto bronzeamento, trabalho em benefício próprio ou auto pompozidade  do Comitê Olímpico Internacional (International Olympic Committee - IOC), algum tipo de princípio, algum tipo de coisa elevada, ainda parece brilhar através deste jogos. Mas, lá fora, no nosso planeta Terra as luzes internacionais estão se apagando. O ideal de um mundo unido, o ideal que inspirou, quando éramos jovens, muitos da minha geração está agora morrendo...

Os Jogos Olímpicos poderão terminar como sendo a última instituição multilateral deixada em pé!

Matthew Parris

O escritor Matthew Francis Parris nasceu no dia 7 de agosto de 1949 in Johanesburgo na África do Sul . Ele vive no Reino Unido onde foi um político conservador que hoje atua como jornalista.



Barbieri Comenta

No começo deste texto o autor repete muitas vezes a palavra ciência, lógica, bom senso e para validar suas ideias cita seu curso de pós-graduação e refere-se a "pesquisa de análise quantitativa". Parece tudo muito sério mas, logo depois ficamos sabendo que a pesquisa foi feita em apenas um jornal, o The New York Times. Acho que fica evidente que uma pesquisa feita em apenas um jornal e Norte Americano, não pode ser uma pesquisa séria. Todos nós sabemos que infelizmente na imprensa cada publicação tem sua orientação política. No Brasil, basta dar uma olhadinha rápida nas revistas Veja, Isto É e Época para percebermos de que lado da cerca estão estas publicações. Quer dizer, o leitor tem que ser realmente muito inocente, para não usar uma palavra mais dura, para acreditar em tudo que lê ou vê na media em geral. Esta distorção cultural "Orwelliana" não é exclusiva do Brasil, trata-se de um fenômeno mundial e premeditado de controle e desinformação da opinião pública.

É muito interessante ver a ONU e vários outros órgãos mundiais, na sua grande maioria controlados com mão de ferro pelos Estados Unidos e mais um pequeno grupo bem limitado de nações com poder de veto, tentar ao longo dos anos não unificar mas, dominar economicamente o resto do mundo ou militarmente aqueles que tiverem a coragem para os desafiar.

Em dado momento, o autor diz que “Internacionalismo era palavra de ordem". Desculpem-me mas eu acredito que a palavra de ordem não era “Internacionalismo” e sim "imperialismo"

O autor do texto diz que a intenção foi criar um planeta espelhado nos Estados Unidos. Bom, para mim, o fenômeno da globalização criou um mundo literalmente espelhado nos chineses. Lembrei-me do conceito de "narcisismo". Os Estados Unidos olhou no espelho e apaixonou-se por si mesmo. Quem definiu que os Estados Unidos deve ser uma referência para o planeta Terra? O próprio Estados Unidos! Nosso planeta é tão desigual que seria como trazer um homem que viveu desde bebe no meio da floresta para comer no McDonald's. Caramba! Fala-se tanto de bom senso mas, antes de qualquer unificação global teríamos que resolver os problemas relativos à desigualdade social, sexual e em última estância, cultural. Sem alimentação e cultura não dá nem para começar a conversar! De qualquer forma, sinceramente acho que primeiramente, raça e religião deveriam que ser jogados pela janela!

Voltando ao texto, mais para frente, o escritor, reconhece a desmoralização e descrédito da ONU, NATO e outras organizações globais e de forma perversa aponta o dedo para China e Rússia. Será que não existe "espelho" na casa dele?

O papel da ONU na guerra do Iraque é vergonhoso e da NATO na Líbia não fica atrás. O que foi que a ONU fez no caso dos genocídios de Ruanda? Nada!!! A renúncia do Kofi Annan como enviado especial da ONU e Liga Árabe, na missão de paz na Síria, estava fadada ao fracasso desde o começo. A Rússia vetará qualquer iniciativa para autorizar um ataque à Líbia que envolva a deposição de seu governante. A Rússia foi enganada no caso da Líbia e, na verdade assinou uma autorização para invasão, deposição e assassinato de Muammar Gaddafi. Ela não cometerá este erro novamente. Vamos deixar claro aqui a questão não é se Gaddafi deveria ser deposto ou não. A questão que deve ser feita é "quem ganha com isto?". O nosso planeta infelizmente está cheio de governos e conflitos regionais terríveis. Porque a Líbia em particular e não álgum conflito africano? A Líbia tem pretróleo? Tem! A Inglaterra e a França tem interesse econômico neste petróleo? Tem! Há então está explicado! Quer dizer, vamos parar com esta hipocresia!

Matthew Parris admite de forma tímida que os Estados Unidos não estão cumprindo com seus acordos e boicotando tudo que não é de seu interesse econômico. Nossa que novidade!

Dentro da sua nova política de ataque preventivo e tortura de prisioneiros, porque respeitar a convenção de Genebra? Se seus soldados cometerem crimes em outros países porque permitirem que eles sejam julgados, condenados e sirvam suas penas no país onde cometeram os crimes? Agora se alguém, em algum país, cometer um crime contra os Estados Unidos eles querem que o alegado infrator seja deportado imediatamente para solo Norte Americano. Julian Assange fundador do Wikileaks que se cuide!

Qualquer organizacão mundial que não inclua os Estados Unidos não será bem vista por Washington. Reparem que o autor desta matéria nem citou o Cone Sul!

Bom, acho que já faz um bom tempo que ficou claro para o mundo todo que os Estados Unidos funcionam com dois pesos e duas medidas e que, estas organizações mundiais foram criadas unicamente para servir os interesses econômicos e estratégicos dos Norte Americanos. Daí, obviamente, o descrédito total.

O mais patético foi perceber que, com o surgimento da Internet e, profeticamente, como previu Marshall McLuhan, nosso planeta virando uma "aldeia global", este novo fenômeno tecnológico fez com que a política mundial rapidamente adapta-se e vestisse a máscara da hipocrisia, agora, sem nenhuma moralidade ou vergonha na cara. Você pode chegar na cara do Bush ou Blair e chama-los de mentirosos. Você pode, como foi já foi feito, provar que a justificativa da existência de armas de destruição em massa no Iraque foi apenas uma farsa criminosa para uma guerra por petróleo onde milhares e milhares de inocentes morreram e, infelizmente ainda hoje continuam morrendo. Bush ou Blair retornarão um sorriso amarelo, mudarão de assunto e pronto. Não serão julgados contra crimes contra a humanidade e, infelizmente, viverão como se nada tivesse acontecido, tranquilos, contado os seus milhões!

Não é difícil de "racionalizar" que os árabes depois de centenas de anos de colonização ocidental descobriram com a revolução fundamentalista do Iran como usar a fé muçulmana como arma extremista de liberação. Vamos ser francos, partindo desta premissa, lhes pergunto, quem foi que criou o extremismo árabe? Os Árabes ou os Norte Americanos e Ingleses?

Bom, para terminar quero dizer que, preocupa-me que em um país de primeiro mundo como o Reino Unido publique uma matéria tão tendenciosa.

Antonio Celso Barbieri

Articles View Hits
11365858

We have 2987 guests and no members online

Download Full Premium themes - Chech Here

София Дървен материал цени

Online bookmaker Romenia bet365.ro