CONHEÇA HELOÍSA DUTRA (2021)

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QUER ME CONHECER????

por Heloísa Dutra, de Brasíla

Eu sou mais crônica que poesia, mais audaciosa ao escrever do que ao falar, aliás sou muito mais ouvir que falar. Sou mais descrição, menos discrição. Eu sou cabelo quase liso, quase escuro, quase longo. Às vezes sou salto médio, às vezes chinelo, sempre blusinha preta e jeans. Eu sou alguém que ama apressado, anda apressado, fala apressado. Eu sou unhas roídas e pernas inquietas. Eu sou romances clássicos e crônicas modernas. Eu sou isso que você vê. Eu sou aquilo tudo que você e não vê. Eu sou meu prato favorito. Eu sou cerveja, sou guaraná, sou suco de pêssego. Sou nada light. Eu sou um paradoxo. Sou café e pó de guaraná de dia, à noite sou rivotril. Eu sou muitas certezas e uma dúvida: minhas certezas estão certas? Sou um CD com o melhor do Pink Floyd, dos Engenheiros, Nando Reis, Elvis Presley, Capital, Deep Purple. Sou pop rock nacional, rock progressivo, sou música caipira também. Sou o primeiro livro que li, sou um pouco de todos os outros que vieram depois.

Eu sou o caderno cultural dos jornais. Eu sou filha e irmã desatenta, sou amiga leal, sou funcionária exemplar. Sou mãe amorosa. Sou mais inverso. Sou banho frio até no inverno. Eu sou sono à noite e disposição pela manhã. Sou quarto bagunçado, almofadas pelo chão, roupas pela cama, anotações por aí. Eu sou de solidão, não de multidão. Eu sou truco, sou sinuca, sou cigarros, sou bebida, sou quase um mal exemplo. Sou contraditória. Sou coração do tamanho do mundo, sou paciência do tamanho de um grão de areia. Sou memória longa. Sou agendas, cadernos, livros, bolsas, fotos e canetas. Sou mais cama que sofá. Sou mais as pessoas do que eu. Sou mais emoção que razão (há quem discorde).Sou mais perguntas que respostas. Mais música que dança. Sou uma pessoa egoísta, eu sou um pouco do que não gostaria de ser, e um outro tanto do que eu exatamente gostaria de ser. Eu sou mais sincera do que suportam e mais observadora que deveria. Eu sou assim, um texto todo, sem parágrafos. Eu sou burra quando sou apaixonada, confesso. Eu sou aliás, um monte de confissões não feitas. Sou um fim trágico de relacionamento, depois disso sou também tentativas frustradas de começos de relacionamentos, sou amor que declarei cedo demais e mais, sou amor incondicional por quem não me merece. Sou várias saudades que doem. Sou despedida. Sou mais desencontros que encontros. Eu sou uma ligação não feita, a carta escrita e não enviada, um e-mail lindo na caixa de rascunho. Eu sou uma pessoa incerta, louca e compreensiva, só não compreendo a mim mesma, só não suporto a incerteza alheia, só me permito a loucura contida. Eu sou um monte de regras que inventei: chorar é para os fracos, desistir é para os fracos, não se controlar é para os fracos, amar é para os fracos. Eu sou um monte de regras que não cumpro. Sou fraca, sou frágil. Sou os amores que não tive, sou os amores que me tiveram, sou o amor que tenho. Sou os nãos que já disse, os nãos que já ouvi. Sou a minha verdade. Sou personagem de várias histórias. Sou devaneios. Eu sou incompleta na minha completude. Eu sou. Eu me permito ser nada do que meus pais esperavam, menos do que meus amigos queriam, melhor do que o mundo merece. Eu me permito ser exatamente como sou. Eu sou uma permissão, uma concessão, uma chance. Eu sou algumas tentativas, um sucesso, um fracasso. Eu sou concreta, embora abstrata, eu sou confusa embora saiba me explicar. Eu sou mais reticências que ponto final. Eu sou mais aspas que travessão. Eu não canso de me descobrir. Eu sempre tenho algo a mais pra dizer, pra sentir, pra fazer, pra ser. Eu sou mudanças de ideias/pensamentos/cidades/amores. Eu sou meu assunto favorito. Eu sou tudo isso HOJE. Amanhã já não sei mais...

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