Sextou! 29 de outubro de 2021

Da morte que nos persegue, primeiro foi meu avô paterno era 1965. Depois, o meu tio. Depois, o amigo de infância, Moacyr, de hidrofobia, ele tinha 7 anos, foi no primeiro mês de 1974. De Lennon, não me preocupei com o bem-estar de sua família, queria a volta dos Beatles. Nos 80s, Zenas partiu em sua cama, em seu quarto mórbido nasanorte.

Minha mulher partiu em setembro de 1994. Alguns anos são de arrasar tipo este 1994. Dos ídolos, a morte também é sentida.  Aí, perdemos Bukowski, Kobain. No enterro do Messias Júnior, foi uma das despedidas mais tristes que vivi. Queria falar algo, porém em respeito aos familiares fui embora calado.   

Morte sentida foi da dona Marisa. Minha sogra morreu, meu cunhado morreu. Depois, Carlão. Depois, Guismarães todos despejados da vida. Também teve Rubão, Marcone, Retz... Aí, o ciclo da morte pegou a minha segunda mulher e um ano depois levou o meu pai. Eu fiquei, porque assim Deus quis. Hoje, irei ao cardiologista sei que sairei de lá com o coração batendo. A gente é valente até que a morte visite os vivos. Valente foi o Barbieri que lutou contra a morte e venceu!

Não quero mais falar sobre os mortos. Estou interessado em estabelecer novas amizades e comunicações. A vida é um rol de problemas que você vai resolvendo um por vez. E não pense que você vai resolver a todos. Pare de falar sobre as suas histórias para eles. Eles que leiam livros ou assistam as minisséries. Na televisão, a morte não é muito real, ela é emaranhada em mistério. Teve pastor que prometeu ressuscitar. Mas quem ressuscitou foram o Super-Homem e o Capitão América. Você só ouve o estampido da morte quando a bala acerta o cameraman. Em um certo Brasil, a morte foi banalizada pela bala, pelo voto e por fim pela fome.

Na 19, na República do Cordeiro  

Um homem sem amigos é um bosta, principalmente, quando eles moram longe. Ainda há gente louca por aí, suficientemente loucas para lhe acompanhar em uma cerveja. Afinal não é véspera de 30? O que é o memorialismo? É uma coisa que não se vende no atacado, é a matéria prima do livro e das conversas. Ontem, no ano de 1980 ou seria 1979? quando eu colocava vidro e comecei a frequentar a QE 19 à noite. Na sinuca, me tornaria um bom de taco até certo ponto, sem jamais passar daí. Foi na mesma QE 19, na casa de esquina, do Cordeiro que conheci Anísio Maia, ele me aplicou as revistas Rock, a Histótia e a Glória, mais revistas esotéricas como a  Transe e os poetas trôpegos e visionários da Beat generation. De quando eu nunca tinha ouvido jazz a não ser o LP do Queen.

Décadas passaram e nós sobreviviemos, mas não enterramos os sonhos. Eu sou um pessimista, ele um alquimista esperancista. Anísio ligou para falar sobre Ataíde, que no final anos 70, carregava um par de canetas e um bloco de anotações. Era ilustrador. Ataíde ficava na rede de dormir em altos papos. Não vou me enviesar pelo argumento. – Too much maryjuana? Ataíde realizou ilustrações para Anísio. Destes tempos, eles eram os outsiders, aqueles que por motivos próprios foram viver a própria experiência e a vivem até hoje. E, junto ao Anísio/Ataíde – Marcone Barros compunha a terceira ponta. Éramos intolerantes e mal explicados, fato que mudou drasticamente com o passar da vida. Hoje, o abençoado Cordeiro, proprietário da outrora casa amada e dividida como outras casas que frenquentamos no Guará. Ele ao lado de Marcone e de Ataíde estão no céu, longe daqui. Convém a mim, celebrar não a falta, e sim a continuação da saga. Da conversa de naúfragos sem âncora ou mais uma conversa pra boi dormir em pé ou ainda fantasmas que não largam do pé. Memorialistas de esquinas, memorialistas de plantão ou memorialistas da narrativa própria. Não esgotam incoerências.

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Lendas urbanas da QE 19 – na ponta, Marcone Barros, na outra extremidade, Anísio Vieira

Gente Beatle 

O geógrafo Carlos Arafatt, colecionador de gibis e rockeiro dos tempos da Colina. Em um tempo que era fácil pagar pelo aluguel em Brasília. Hoje, vive no centro do Rio, em um imenso sebo de maravalhas e maravilhas. Me promete a número zero, da revista do Thor, da Ebal, 1967! Arafatt de máscara e sem lenço poderá ser visto amanhã em Resende, no Halloween vendendo posteres e DVDs de terror.  Ele falou que foi amigo da beatlemaníaca, Lizzie Bravo. Via vídeo-conversa, mostrou-me algumas fotos da Lizzie com a sua etiqueta no verso das fotos de Paul McCartney, ao vivo e flagrantes dos Beatles, na Londres dos 60s. Falamos de metade da cidade de Brasília, ele ainda mantém uma paixão pelo Beirute.

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Sextou! Por vezes, tantas,  eu tenho vontade de enfiar a cabeça na privada ou em outras pergunto-me – Por que eu sou tão complicado? Nem tenho medo da ressaca do dia vindouro. Quero mais cerveja, quero cerveja a noite toda. Me toco de que não é legal mostrar com quem compartilhamos o calor da noite. Não houve som, só ouvi falas afobadas, disparatadas, viris, hinos e cantigas. Em homenagem a "Taíde" que nos recebeu tão bem em todas às vezes que fomos lhe tirar da paz. Que fomos lhe fazer companhia. Ataíde me deu um tríptico (com sorte, eu ainda tenho uma grande tela sua de valor, O Peixe).

Ataíde veio à nossa casa, olhou para as paredes e ficou cabreiro, ele era muito cabreiro.
– Pois é, Ataíde, olhe como o seu trabalho ficou em destaque aqui.
Ele sorriu. – Esse Mário é um sacana! As abas da janelas abertas escondiam um dos seus mais perfeitos trabalhos, dentro da série Pensando Oscarmente. Ataíde era capaz de falar horas sobre este tema. Depois mostrava as plantas de uma arena de som, que queria fazer.

Para nós, a arte é uma ponte de conhecimento, do reconhecimento e da amizade. Tenho dezenas de trabalhos de amigos. Fico feliz por manter este laço, além. É um protesto antecipado contra a ausência. Nesta noite de sexta, escolhemos escolher os melhores amigos de Ataíde, com certeza, Julimar foi um deles. Eu e Miguel pegamos na de parceiros. E, foram litros de chopp, menos lágrimas. Não houve tristeza, houve futuro, planos, revisões. Como as típicas conversas que tínhamos debaixo daquela árvore na grande mesa de madeira que enfrentava a chuva. Nem iríamos fazer fotos, mas como foi uma noite memorável que infelizmente tivemos que beber Ataíde com muita lábia e cerveja conforme o tipíco gosto goiano, de Mestre Ataíde que ri: 
– Vocês são fodas!

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Nossos mirabolantes planos de tirar um som na kombi

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