MÚSICA NA RUA (2022)

A MÚSICA NA RUA...
(Heloísa Dutra)

som 5

Setor Comercial Sul — Foto: Dênio Simões/Agência Brasília

Dia desse saí mais cedo do trabalho e fui bater perna no Setor Comercial Sul que há muito não ia. E se tinha maconha não vi. Vi outras coisas bem legais. Vi diversos artistas de rua, unidos para uma causa nem nobre, nem pobre, apenas necessária em tempos estranhos. Tempos em que o ódio e a ganância são exalados por todos os poros, tempos de guerra como sempre e tempos em que a polícia militar precisa de nove carros e trinta homens fortemente armados preparados para prender o pior bandido da história dessa cidade. No caso, esse bandido se chama Música de Rua, e quem sabe mais uma meia dúzia de inofensivos maconheiros.
Sim, os músicos de rua, tem sofrido uma repressão desmedida apenas por estarem tocando na rua, como sempre fizeram. E não estou falando de mega shows pirotécnicos e clandestinos, em algum bairro residencial e em plena madrugada. Esses músicos têm sido abordados somente por estarem tocando um jazz-rock-groove, ou seja lá como queira chamar, em pleno centro de Brasília, às 17 horas de uma quarta-feira. Uma pequena multidão parou para vê-los e também contribuir para que continuem fazendo isso, colaborando com algum trocado.
E foi um dia de protesto, um protesto artístico sem cartazes de ódio, sem a presença de engravatados pedindo impeachment, nem panelas, nem camisas de futebol, nem megafones ou carros de som insuportavelmente chatos. Apenas música! Bem, talvez o principal fosse a música devido às últimas histórias bizarras envolvendo esses caras, mas também teve outras formas de arte, teve um palhaço de rua, venezuelano andando em um monociclo de proporções girafais, teve uma estátua humana, teve poesia e teatro misturadas à música, e teve uma porção de fotógrafos com seus celulares registrando tudinho.
Pararam famílias, trabalhadores em fim de expediente, desempregados, lojistas, estudantes, turistas, outros artistas e mais um ou dois bêbados típicos de qualquer rua de cidade grande. Houveram outros transeuntes que não chegaram a parar, mas mexeram seus corpinhos em sinal de aprovação, ou como se estivessem alimentando brevemente suas almas carentes. Afinal, as ondas sonoras também cumprem esse papel.
No fim do dia, a sensação era de paz e de dever cumprido, ao menos pelos organizadores. E que venham novos atos de conscientização como esses últimos, cheios de amor e arte: dois lances que costumam andar lado a lado, se fundindo na maior parte do tempo e fazendo a gente perceber que a verdadeira transformação será sempre de dentro pra fora, ou seja, discursos inflamados e piquetes jamais serão suficientes, especialmente quando o espírito está fraco ou contaminado pelo ego que obstrui, aleija e faz a gente esquecer que o verdadeiro irmão não está no sangue ou na amizade, mas na sua frente.
Viva a música! Seja na rua, seja nos palcos, seja onde estiver...

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