Jaguar no Conic: steinhaeger, fio de cabelo e um autógrafo no Correio (2025)
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Jaguar sentado no boteco do Conic, taça de chope na mão e um copo de Steinhaeger na outra. Na parede, um cartaz escrito “Proibido Fio de Cabelo na Pizza”. Ao fundo, um garçom com cara de general Geisel serve um pratinho de azeitona. Balão de fala do Jaguar:
— “Aqui até a ditadura vinha com rodízio.”
Jaguar no Conic: steinhaeger, fio de cabelo e um autógrafo no Correio
O novo morador de Brasília chegou botando bronca. Testou nossos botecos, invadiu o däs Kapital e em pouco tempo já era disputado a tapa pelos jornais da capital. Encontro com político? Só depois das CPIs, meu chapa.
Foi assim que o velho Jaguar, cartunista de fôlego e copo cheio, desembarcou por aqui em 2004, saudado pelo não menos lendário Wanderley Lopes. E se Brasília nunca foi para amadores, também não era para bebedores fracos. Jaguar gostava de Steinhaeger — a tal cachaça alemã de boteco que faz qualquer chope parecer suco de laranja.
Bebemos com ele. Algumas vezes no Conic, até o dia em que achou um fio de cabelo na pizza e levantou a sobrancelha como quem flagra uma conspiração contra o Pasquim. “Aqui não, meus caros.”
De 2001 a 2006, era fácil: bastava passar na Presença, do Ivan, que o chope vinha por conta da casa e a prosa por conta do Jaguar. O homem era generoso no traço e no papo. Já os donos de boteco chique — esses, uns avaros de primeira, incapazes de liberar um copo sequer, esquecidos de que foram os cartunistas que ajudaram a botar suas pocilgas no mapa da boemia.
Na despedida, levei meu exemplar do Correio Braziliense. Queria o autógrafo da última coluna. Ele assinou. E sabia meu nome. Sorry, periferia.
Nunca esqueço: Klebinho e Ivan abriram caminhos literários que eu mesmo não teria inventado. Jaguar, bissexto de nascimento, comemorava aniversário quando dava. O resto do tempo, bebia.
E para quem ainda acredita que o Pasquim brigou com Glauber, vale lembrar: não brigou nada. O que houve foi veto a um artigo em que Glauber jurava que Geisel era o maior estadista dos tempos modernos. Glauber não perdoou, ligou furioso:
— Vou te dar um tiro, Jaguar!
E Jaguar riu. Ria sempre.
Porque quem bebe Steinhaeger no Conic não tem medo de Glauber, nem de Geisel, nem de fio de cabelo em pizza.