TRUMAN CAPOTE POR ANDY WARHOL (1973)
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Truman Capote por Andy Warhol
12 de abril de 1973
Em 1972, a revista Rolling Stone pediu a Truman Capote para cobrir a turnê Exile on Main Street, dos Rolling Stones. Mas, meses depois, Capote não foi capaz de produzir uma história. A revista pediu a Andy Warhol para entrevistar Capote, e a história resultante foi chamada de “um áudio-documentário”, de poucas conversas e números do contador do gravador inclusos.
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(Deixando o quarto Ok. Lado de fora – Central Park South)
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TRUMAN: Por que não saímos para uma volta no parque? A gente pode visitar o iaque. Em Bonequinha de Luxo, era isso o que Holly Golightly costumava fazer, todas as vezes que ela fazia o que costumava chamar de “os significados vermelhos”. Ela costumava ir visitar o iaque no zoológico...
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(Eles passam pelas carruagens de cavalos alinhadas à periferia do parque.)
TRUMAN: De alguma forma, eu nunca poderia andar numa dessas porque me identifico com o cavalo... Você se identifica com animais, Andy? Eu sei que você se identifica com gatos, porque você costumava ter uns vinte...
(Truman vê um jornal.)
Tim Leary vai para Vacaville. Vacaville possui segurança máxima, mas é a melhor prisão e o melhor...
ANDY: Você sabe que eu o acabei de ver em St. Moritz? O zoológico é por ali. Eu vi Leary na véspera de Natal. Não é louco isso?... O zoológico é logo ali. Não é o zoológuico ali?
TRUMAN: Não, não.
ANDY: Não, não. O zoológico é ali... Mas foi tão estranho ir à casa de alguém e lá estar Timothy Leary.
TRUMAN: Eu pensei que ele estivesse a caminho doa Afeganistão.
ANDY: Não. Ele estava com uma moça muito bonita que parece estar apaixonada por ele.
TRUMAN: Ele era como Meyer Lansky sem dinheiro. O cara realmente escapou da prisão na Califórnia, certo ou errado, por qualquer que tenha sido seu crime. Mas a questão é: ele realmente fugiu de maneira maravilhosa com o dinheiro. Foi para a Argélia, se mandou com Eldridge Cleaver... Eldridge Cleaver não o colocou na cadeia? Vai ser realmente interessante ver oq eu acontece quando finalmente eles pegarem Eldridge Cleaver. Ele vai ter de voltar porque a Argélia já está de saco cheio dele. Para onde ele pode ir?
BOB (Colacello, editor da Interview): Ele pode ir para qualquer país-africano, ou qualquer país comunista. Cuba ficaria encantado de recebê-lo.
ANDY: Bem, então por que Cuba não pegaria Tim Leary?
TRUMAN: Bem, ele tentou lá. O governo argelino quer muito Cleaver fora de lá, eu compreendo. Eles o consideram uma encrenca danada. Além disso... você sabe aquele avião que eles seqüestraram e enviaram para a Algéria, e eles conseguiram os U$ 750.000,00 de resgate. Foi tudo feito por Eldridge Cleaver.
ANDY: Oh.
ANDY: Você vai ver o gorila? Oh, nós vamos para os veados.
TRUMAN: O iaque é bem aqui – em algum lugar...
ANDY: O estilo hippie realmente já era. Todo mundo se voltou para as roupas bonitas. Não é ótimo?... você alguma vez quis alguém para te chamar de papai?
TRUMAN: Me chamar de papai?
ANDY: Sim.
TRUMAN: Não. Nem o contrário, também.
ANDY: Mas “papai” não é legal? “Papai”... “Pai”... soa legal...
TRUMAN: Eu sempre fui uma pessoa muito independente. Estritamente sozinho.
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TRUMAN: Você disse uma coisa pra mim que realmente me espantou quando fui à sua hoje.
ANDY: O quê?
TRUMAN: Você disse que minha mãe te telefonou. Eu fiquei pasmo. Realmente pasmo.
ANDY: Você ficou? Por quê?
TRUMAN: Porque minha mãe era uma alcoólatra.
ANDY: Mas eu encontrei sua mãe.
TRUMAN: Eu sei que você encontrou minha mãe. Mas minha mãe era uma mulher muito doente, e uma alcoólatra.
ANDY: Sério Quando eu a encontrei, ela não era.
TRUMAN: Sim, ela era uma alcoólatra quando você a conheceu. Ela era uma alcoólatra desde que eu tinha 16 anos, então ela era uma alcoólatra quando você a conheceu...
ANDY: Eu nunca soube disso.
TRUMAN: Você não percebeu?
ANDY: Ela foi tão doce comigo.
TRUMAN: Bem, ela tinha essa coisa de ser doce e carinhosa, e de repente ela... bem, você sabe, ela cometeu suicídio.
ANDY: Mesmo? Oh, eu não sabia disso. Pensei que ela tivesse rficado doente.
TRUMAN: Não, não, não, não. Ela cometeu suicídio. Ela possuia essa qualidade de doçura extraordinária, mas era uma dessas epssoas que tomavam um drinque aqui outro ali...
ANDY: Eu acho que você tem de ser diferente para ser capaz de ser outra coisa.
TRUMAN: Vou te dizer uma coisa sobre Mick Jagger. Ele é fascinante no sentido de ser um dos artistas mais complexos que eu já vi. Ele possui essa notável qualidade de ser absolutamente capaz de ser totalmente extrovertido. Muito poucas pessoas podem ser inteiramente, absolutamente, completamente extrovertidas. É uma coisa rara, delicaada, estranha. Só puxar de você mesmo assim e whamm! Isto ele consegue fazer muito fácil. Mas o que faz disso algo mais incrível é que, no momento em que está feito, está acabado. E ele volta a ser essa pessoa privada, quieta, sensível e muito mais madura emocionalmente do que a maioria dos atores e intelectuais são capazes de ser. Ele é uma das poucas pessoas que consegue fazer isso; ser uma pessoa absolutamente extrovertida e depois reverter para uma introvertida. E então, nesse sentido, ele é um ator extraordinário. E é isso mesmo o que ele é, porque: a) ele não sabe cantar; b) não sabe dançar; C) não sabe porra nenhuma de música. Mas ele sabe subir lá e ser esse incrível showman. E fazer uma performance fantástica, cujo elemento vital é a energia. Você não acha?
Diga me o que acha. Você acha que ele sabe cantar?
BOB: De quem vocês estão falando?
TRUMAN: Mick Jagger. Bem, ele não sabe cantar se o compararmos a, digamos, Billie Holyday. Ele não sabe cantar se comparado a Lee Wiley. Não sabe cantar se comparado a...
ANDY: Al Green.
TRUMAN: Ele não sabe se comparado a Frank Sinatra. Eu sei que você pensa que estamos falando sobre coisas em categorias separadas, mas não estamos. Você sabe? Não é que seja... A amplificação do som - o rock - está levando a coisa à frente. A batida. Mas isso não tem nada a ver com a habilidade de o vocalista na verdade levar a coisa toda. Porque Mick não leva a coisa. Ele a conduz como um performer com sua energia, sua condução e confiança.
Eu ouço bastante os discos. De maneira nenhuma estou tentando denegri-lo como intérprete, porque acho que ele é um intérprete realmente extraordinário. Mas o que acho que é fantástico sobre ele é que não há nada a respeito das cosias que ele faz que não seja bom em fazer. Ele não - ele de fato não sabe dançar, e não sabe se mover. Ele se movimenta de maneira mais desengonçada, um tipo de paródia entre uma garota americana cheer leader... e Fred Astaire. É como se ele tivesse essas pessoas esquisitas combinadas conjuntamente. De um lado, é essa cheer leader, de outro é um negócio à la Astaire. Mas, de alguma forma, a combinação funciona. Ou, ao menos, funciona para a maioria das pessoas...
ANDY: Você gostava de viajar com eles?
TRUMAN: Oh, eu gostava. Eu só não queria escrever a respeito, porque nunca me instigou criativamente. Você sabe? Mas eu gostei como uma experiência. Acho que foi divertido... eu gosto dos Rolling Stones individualmente, um por um, mas o que eu não gostava é que eles tinham - e especialmente as pessoas ao redor deles -, tinham tal desrespeito pelo público.
Aquilo acostumava realmente me irritar. Era como se: "Bem, esses garotos ficaram na fila por apenas 27 horas, sabe?".
ANDY: Por que não vamos nos sentar em um bar? Tomar uma bebida?
TRUMAN: Eu achei as pessoas no backstage muito bacanas. As que estavam realmente fazendo o trabalho. São aqueles fingidos com agentes de imprensa. Existe um agentezinho de merda cujo nome... algo... que era um grande amigo de Charlei Manson, e que gravou três dos discos de Charlei Manson, e acreditava que Charlie Manson era Jesus Cristo - isto foi antes de Charlie Manson ir. Ele era uma gente de imprensa na turnê de rocka nd roll! Digo, eles tinham umas belezinhas lá... Marshall Chess...
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ANDY: Por que não vamos a um bar e então eu posso te perguntar as seis questões que a Rolling Stone quer que eu faça?
TRUMAN: Ok. Meus dedos estão congelando.
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(no bar Carlyle do Hotel)
TRUMAN: De quem são essas perguntas? De Jann Wenner?
ANDY: Sim. A primeira é.
TRUMAN: Espere. Quero pedir alguam coisa antes de você fazer isso.
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TRUMAN: Eu vou querer um J&B on the rocks com um copo de água, por favor.
ANDY: Eu quero um Grand Marnier.
TRUMAN: Bem, essa foi uma caminhada boa. Acho que a grande coisa de se andar no zoológico em Nova York seja... Eu costuamva ir pra escola aqui por dois anos. Eu fui par aum colégio particular aqui, e matava quase todas as aulas. Digo, literalmente, quese não as assistia. Ao menos quase todo dia. Não aguentava ir à escola. Eu tinha por volta de 12 anos. E costumava passar mais tempo vagando por aquele parque, junto ao zoológico, para usar meu tempo entre as nove da manhã, quando supostamente estaria em aula, e às duas da tarde, quando deveria estar saindo.
Finalmente, encontrei três coisas pra fazer. Uma era: eu ia dar um passeio no parque, se o dia estivesse bom. Dois: eu ia à Biblioteca da Sociedade de Nova York. Foi lá onde encontrei Willa Cather, e ela tornou-se essa grande amiga minha, quando eu era, você sabe... só um garoto. Ela ficou muito interessada em mim. E terceiro: acredite ou não, ir ao Radio City Music Hall e sentar-me durtante uma produção inteira, começando o filme às nove, e eu veria dois shows e um filme.
Mesmo assim, não consegui meu diploma.
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ANDY: A primeira pergunta era "problemas".
(Truman ri)
ANDY: Jann quer saber qual seu problema. Sobre escrever o artigo.
TRUMAN: Por que eu não escrevi o artigo?
ANDY: Sim.
TRUMAN: O motivo foi - duplo. Um: à medida que a coisa progredia, eu via mais e mais besteiras escritas sobre a turnê inteira, e, ordinariamente, esse tipo de coisa não me incomoda, digo, por exemplo, posso cobrir um julgamento que está sendo coberto por dezesseis ou dezessete jornais ao mesmo tempo, e isso não me irrita em um pouco porque sei que tem alguma coisa a ver com meu próprio conhecimento.
Mas meu problema com isso era que especialmente no jornalismo literário... au reportage... precisa haver um elemento de mistério para mim sobre isso. E o problema para mim a respeito daquele artigo em particular.