Acauã cantou para Pezão (2003)

 

Revivendo as insolências de Pezão, nesta quarta-feira 6 dez. / 2023

 

PEZÃO NO ACAMPAMENTO REVOLUCIONÁRIO
Francisco K Saraiva

Pezão
mete
o pé
e às vezes
os pés
pelas
mãos
queixas do
quixote?
peripécias
do processo
arranhões da
revolução
temos
pressa:
de todos
os passos
de tomar
o céu
de assalto
do homem
da mulher
por inteiro
dos pés
à cabeça
em rein-
venção
(em homenagem a Francisco Morojó – Pezão, nos 20 anos de sua partida)

 

 

20 Anos sem Pezão! 

Acauã cantou para Pezão
(Mário Pazcheco*)

 FRANCISCO ROBERTO DE LIMA.
 O Poeta Pezão assinava suas obras como Francisco Morojó
 Patos/PB – 24 out. / 1959.
 Olhos D’Água – 6 dez. / 2003


 Véspera. Conic, sexta-feira, Pezão (Francisco Morojó) passa no “Bar do Eudes” e vai tomar “uma” com Zéantônio e “Galego” no “Bar do Enoque”...
Sábado. Cinco horas. Pezão segue de ônibus para Alexânia. Lá encontra carona com três amigos para Olhos D’Água, dois quilômetros depois o carro “bate/capota”. Pezão morre na estrada, vítima de traumatismo craniano. Partiu na perseguição do que gostava: abandonar o urbano e nos levar às procissões e incursões musicais, noturnas, sentimentais, ébrias, arraigadas em festas e manifestações populares.
 Domingo. 7 de dezembro de 2003. No Cemitério de Taguatinga, o Grupo de forró Paraibola, do qual Pezão foi um dos fundadores, conduz o cortejo tocando/cantando “Forró de Brasília”, uma das suas muitas músicas,

Quando você vier a Brasília
Traga pra mim um pedaço do mar
Quando você visitar essa ilha
Faça fazer eu parar de chorar
Traga o espinho do mandacaru
A areia da praia os veleiros do mar
A areia da praia os veleiros do mar
A areia da praia os veleiros do mar

Não suporto mais essa vida fingida
Essa dor mal parida
Essas coisas do bar
Esse amor sem partilha
A prisão dessa ilha
A prisão dessa ilha
E a saudade de lá

Na “UPI$”, o poeta Manoel Cordeiro de Lima me falou de Pezão, “poeta da Ceilândia...”.
Nos bons tempos, nas eleições de 1989, e não raro era excitante e perigoso andar com Pezão, de vez em quando um Leão de Chácara ou os “imbecis” o ameaçavam, “tô lembrando de você"! Pezão carregava a experiência angustiante de Maiakóvski; dos provocadores de embaraços. Não me lembro de nenhuma encrenca... Com ele o tempo nunca fechava e nunca faltava armamento. Era um guerrilheiro cotidiano.
Com esses predicados, eu o conheci no Conic, vendendo sua apostila “Paraíso dos Frágil/gelados”. Na capa, um desenho do Senado transformava seus anexos numa Serpente-Cérbero armando o bote pra cima dos fragelados no gramado da Esplanada. Apesar de seus folhetos não priorizarem a elegância de edição da Geração Mimeógrafo e da Geração Coca-Cola. Pezão tinha verdadeiro repúdio e ojeriza pelo rótulo-predicado “maldito” e considerava como babacas aqueles que o chamaram de “poeta marginal”. Nisso ele era bem Oswald de Andrade. Seus versos audaciosamente cândidos falavam de Zumbi de Quilombos de poetas negros eliminados e urgentemente um outro artigo sobre a sua negritude será oportuno...
Nos idos de 1993, Pezão vinha carregado de polêmica, tinha saído sua foto no jornal. Havia aprontado uma insolência com Grande Othelo ou fora Grande Othelo que aprontara uma insolência com Pezão? Havia uma Pillar na estória...
De sacanagem ou não, me chamava de, — O maior cineasta da América Latina!
Gostava particularmente do filme “Chuvas de Verão”, de Cacá Diegues, com aquela cena de amor entre Jofre Soares e Miriam Pires.
No vídeo “Conicções”. Em frente ao Cine Ritz, depois de recitar o poema “Rainha do Maracatu” esculhambou o Sindicato da categoria o qual era filiado e perguntou: — Ficou pesado? Abriu o largo sorriso de satisfação, passou os dedos alisando os bigodes pretos. Pezão era um vigoroso ator vaidoso sempre um latino-americano à procura de uma “príncipa”...
No último festival de cinema, onde fomos barrados. Me disse, — O Zéantônio acreditou que você é louco... Ele Pezão não entrou em solidariedade a nós...
— Eu me neguei a fazer uma ponta nesse filme. O cachê era de mil e quinhentos reais. Eu acredito em você!
Outra de suas divergências: considerava Lúcio Costa e Niemayer como os definitivos poetas concretistas e Brasília seu mais belo poema.
Pezão foi aceito agraciado e levado a sério pela “intelligentsia”. Tornando-se melhor como o vinho.
Seu último livro se chama “A SERENATA DE ACAUÃ – O voo DO PÁSSARO DE CHUMBO”, trata-se de uma antologia mimeografada com os seus melhores poemas, que conseguem revelar que a sua obra nasceu despida da preocupação de atualização ou posterior correção e que desde o princípio fardava ao estigma do definitivo.
Pezão me explicou que Acauã, a ave do título que o povo considerava seu canto de mau agouro e prenunciador de chuvas e males. Fatídico!
Semana passada no CONIC, ficou contente vendeu dois livros, o primeiro para um estudante angolano e o outro para Luís Paulo Pieri, o autor do livro “Oh! My God!”.
Francisco Morojó, autodidata, costureiro, cartazista, músico, bonequeiro, paraibano, torcedor do Fluminense andava feliz nos dizendo que o senador Eurípedes Camargo iria fazer o seu novo livro... Que esse último desejo se realize com nossa ajuda.

Patos/PB! Taguatinga/DF! CONIC! Paraíbola! Pacotão! Brasília!

 Pezão no Conic

 Perdem as insolências de Pezão nunca os seus versos que não eram insolentes e sim oportunos em revelar e criticar a desumanização imposta pela sociedade reificada.

 "Mi camarada é sempre assim acontece uma vez em cada vida as teias que a gente tece abrem novas feridas no bico do peito ou no fundo da alma" (Francisco Morojó).


*Seu criado!
**FONTE: Paraíso dos Frágil/gelados – 1990 (Francisco Morojó) Edição do autor
A serenata da acauã – o voo do pássaro de chumbo – 2003 (Francisco Morojó) Edição do autor
Dicionário de escritores de Brasília – 1994 (Napoleão Valadares) André Quicé - Editor

 

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