ENTREVISTA: SINDICATO DO REGGAE DE BRASÍLIA DISPOSIÇÃO E DEDICAÇÃO NA DIVULGAÇÃO DO REGGAE
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Acreditavamos que mudaríamos o mundo...
Sindicato do Reggae de Brasília disposição e dedicação na divulgação do Reggae
Mário Pazcheco entrevista Nardelli Gifone Gomes presidente-fundador do Sindicato do Reggae de Brasília
Transcrição de áudio: Ana Luíza Meneses & Virgílio Stefanin
É admirável a confiança e a espiritualidade dos "Rastas da QE 32".
O Sindicato do Reggae de Brasília é uma célula de maior encanto radical nas passeatas e praças culturais de Brasília e do Brasil.
Falar com estes moços é retomar ao espírito de jornalista "pé na estrada".
Lennon & Marley: comunhão contestatória.
Acreditávamos que mudaríamos o mundo...
Sindicato do Reggae de Brasília: disposição e dedicação na divulgação do Reggae
Entrevista: Nardelli Gifone Gomes
Transcrição de áudio: Ana Luíza Meneses e Virgílio Stefanin
Qual foi o disco que você teve que lutar mais para conseguir?
No início, eram todos raríssimos mesmo, difíceis mesmo. Entendeu? Tratando-se de reggae, um ritmo daquela época, dos anos 70, que até então o Brasil conhecia pouco...
Aquele disco que você teve que nadar num mar de piranhas e andar no deserto para conseguir? Que foi mais longe para tê-lo, que deu mais trabalho?
Babylon by Bus deu muito trabalho na época para conseguir. Tive que sair daqui de Brasília para ir ao Rio, uma loja especializada em discos importados.
Pode dizer o nome da loja?
Modern Sound, famosa.
Qual foi o momento em que você se sentiu mais próximo de Bob Marley?
Bom, ele veio aqui no Brasil, né? O jatinho dele veio da Jamaica. Em Manaus, o jatinho abasteceu; também receberam o visto no passaporte do Bob Marley, porque ele não tinha visto para trabalhar como músico, para cantar no Brasil, e também abasteceu aqui em Brasília, e seguiu então para o Rio de Janeiro.
Neste espaço estiveram várias estrelas do reggae, qual foi a que mais brilhou no Sindicado do Reggae, pela simpatia?
Em minha opinião, foi o Andrew Tosh, os The Gladiators e o Junior Marvin – Zuzu ajuda a lembrar! –, que foi guitarrista oficial do Bob Marley. Esses foram os mais simpáticos.
Historicamente, qual figura veio aqui?
Junior Marvin também!
Quem é essa pessoa?
Junior Marvin foi guitarrista do Bob Marley.
Os filhos de Bob Marley já pisaram aqui, no Sindicato?
Já! Dois filhos do Bob Marley. Um foi o Julian Marley, foi o primeiro músico jamaicano a pisar no solo do Sindicato.
Sabemos que o movimento original do Reggae em Brasília começou no conjunto B da QE 32. Você poderia nos falar como foi que esse movimento começou, e na pessoa de quem?
Na época do movimento, eu ouvia muito rock, soul, esse tipo de música. Até então, o Reggae era pouco falado, muito pouco conhecido. Eu só conheci o reggae em 1977, através de um programa que passava nos dias de sábado, Rock Concert. Ví Bob Marley pela primeira vez cantando No woman, no cry,e a música, o seu jeito, o visual, a roupa, até então desconhecidos, me fascinaram.
Você foi rastafári?
Fui o primeiro rasta a usar dreadlocks em Brasília, nos anos 70.
Você foi discriminado pelos cabelos grandes?
Muito. Muito. Éramos perseguidos não só pela aparência, mas pelo próprio Reggae.
O Reggae tem a sua hóstia, que é a Cannabis Sativa, a "maconha". Eu posso dar o testemunho que vocês jamais estiveram ligados à folha; podem comentar essa diferença no movimento do Reggae de vocês? Como você explica?
O Reggae é um só! As pessoas é que deturpam as coisas. Quando falam de Reggae e Bob Marley, elas ligam o Reggae à maconha, mas Bob Marley é muito mais que isso! É mais musical, ele foi um músico que lutou muito para levar sua música adiante, e sua filosofia de vida, seu ponto de vista: a paz e a união. É isto que o Bob Marley pregava. Poucas pessoas sabem da força política, social e religiosa de Bob Marley!
Futuro do Sindicato?
O futuro – risos!! – é sempre adiante!! Levar adiante a música de Bob Marley, isso é universal, e não acaba nunca!!
Jimmy Cliff veio a Brasília?
Não, não, não. Anunciou, mas ele não veio... – (Risos...)
Descreva para nós o acervo do Sindicato do Reggae...
O acervo é desde 1977 que nós viemos angariando e correndo atrás, não só de materiais aqui em Brasília ou no Brasil, mas fora também. Eu e a Zuzu viajamos sempre atrás de material: Jamaica, Panamá, Chile, Argentina, entre outros locais.
Lá existe mais material de reggae do que no Brasil?
Lá fora tem muita coisa de Reggae, mas no Brasil e na América do Sul o Sindicato é o maior acervo de Bob Marley; isso é fato!
Maior até que aquele navio-museu que está atracado em Miami?
Não, eu falei da América do Sul.
Você sabe aquele navio que eu tô falando...
Sim, sim, eu sei. O chinês milionário comprou esse acervo.
Gravações inéditas de Bob Marley, que você conhece?
Hoje em dia, tem uma infinidade, com essa onda da internet. Tem tanta coisa, que até então o mundo desconhecia. A partir da internet, abriram-se vários leques para acesso ao trabalho de Bob Marley, muito que até então era inédito.
Você é repleto de histórias engraçadas, qual é a que vem a sua mente... agora?
Na época, no início dos anos 80, para ouvir Reggae, em lazer, ou em alguma festinha, tínhamos que impor à força bruta, mesmo. Chegávamos pro DJ com o vinil, ou com a fita cassete, e falávamos: ‘Toca essa fita aí!’ Se eles se recusassem, a gente acabava com a festa. Tinha que utilizar da força bruta mesmo. Anos e anos depois, a gente veio a saber que os músicos jamaicanos faziam as mesmas coisas com os DJ’s de rádio, mas isso foi uma coincidência. Até então, a gente não sabia.
A atual direção do Sindicato do Reggae está nas mãos de Edson (Mergulhão), Nardelli, fundador e presidente, Cryoulo (Fábio) e Bastos, pioneiros do movimento Reggae em Brasília!
Foto: Ana Luíza Meneses
Quem te ajudou na construção do Acervo do Sindicato?
Primeiramente, Bastos, Cryoulo e "Mergulhão", os pilares, e com o tempo veio a Dona Zuzu, que dá a maior força, e sustenta também.
Você pode me falar do rapaz, do Sérgio, da loja Johnny B. Good?
Johnny B. Good era um divulgador, comerciante do reggae. Ele era fanático pelos Blues e Rock, conheceu o Reggae e ficou fascinado pelo ritmo. Então abriu a loja Johnny B. Good em São Paulo, e virou referência, não só no Brasil, mas no exterior também. Infelizmente, Johnny B. Good não está mais entre nós.
Você tinha uma ligação emocional com ele? Como você sentiu a morte dele?
Muito, ‘muuuito’... Ele era um amigo...
Ficou órfão o movimento?
Sim, ficou até que, agora, depois de sua morte, a loja não teve mais aquela essência do Reggae; ficou uma loja muito comercial.
O que está escondido é importante?
Eu acho que não tem mais nada escondido, no mundo, sobre quem é Bob Marley, as suas lutas, derrotas e vitórias. Então, Bob Maley foi um cara que trabalhou muito. As pessoas pensam que ele era um cara que "só tocava violão em cima de um banquinho e fumava maconha"... Não... Bob Marley lutou muito: pela sua música, sua filosofia, seu trabalho e sua arte, para adiante. Ele pagou muito caro por isso. Sofreu muito, atentado na sua casa, foi perseguido politicamente. A CIA estava por trás disso, e ele nunca se esqueceu de seus ideais, do seu passado pobre e operário. Sempre chamou o povo para dar um passo adiante, para lutar pelos seus direitos: Paz, União e Igualdade.
‘’Bob Marley conquistou a vida através da morte. Para nós, ele é tudo, uma referência da vida, da música, e de igualdade.’. (Acrescentam "Mergulhão", Cryoulo e Zuzu!)
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Os 32 anos de lutas do Sindicato do Reggae de Brasília!