Uma tarde com Anapolino, o guitarrista do Matuskela, também conhecido como Lino (2024)

Uma tarde na companhia de Anapolino, o guitarrista do Matuskela, carinhosamente conhecido como Lino

"No início dos anos 70, nosso repertório era quase todo baseado no Santana. Tocávamos 22 músicas deles." (ANAPOLINO)

por mário pazcheco

Em 1978, durante o auge dos anos 70, comecei a sair de casa para assistir aos shows na área local. Em um desses palcos, vi um guitarrista exalando vigor, sua cabeleira suada rebelde e encaracolada, vestindo uma camiseta marrom adornada com símbolos astecas nas mangas e na gola. A banda apresentava uma versão de "Black Coco" com uma pegada de Santana. É isso que me recordo de Anapolino naquela tarde memorável no Cave.

Quem são eles? "É o Matuskela", moradores do Guará 1.
Passamos o resto da semana nos chamando de Matuskela.

Foi necessário virar vários calendários para me reencontrar com o guitarrista Anapolino em um teatro da UnB/Ceilândia, onde ele estava sendo homenageado. Durante uma mesa redonda sobre as primeiras bandas de Brasília, Anapolino me interrompeu: "Em qual banda você tocava?" Foi um gancho inesperado. Meio sem jeito, respondi que naquela época, acompanhava Luiz Gonzaga. Ninguém captou o espírito "Raulseixista" da piada. Um sujeito falando sobre o início do rock em Brasília tocando forró? Era meio bizarro. Mas só ontem, o espírito da piada se fez presente e rimos juntos.

No Espaço Renato Russo, fui convidado para gravar um depoimento sobre o Matuskela. Minha reação foi de surpresa, considerando a natureza um tanto estranha do convite.

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Durante as gravações do documentário sobre o Matuskela, decidi aproveitar o clima de contracultura para tornar meu depoimento mais descontraído. Optei por gravar de maneira relaxada, usando Havaianas e sentado em uma rede de dormir

E ontem, para minha surpresa, a equipe de produção, composta por quatro membros, veio me visitar, e logo após o início dos trabalhos, apareceu o foco do documentário: o guitarrista Anapolino. Sua presença trouxe uma grande alegria, sendo ele uma referência tão importante na cena musical dos anos 60 em nosso espaço. Certamente, eu tinha vivido algumas dessas circunstâncias antes, mas sua presença reavivou em mim uma saudade de reencontrar não apenas um conhecido, mas também as estreitas vielas do Guará 1, onde o som ecoava de um dos cômodos do amanhecer ao anoitecer, cinco dias por semana.

Anapolino é um roqueiro de poucas palavras, que carrega consigo toda a trajetória de uma carreira que começou nos bailes, passou pelos palcos da televisão, percorreu os festivais e mergulhou na contracultura. Quando as coisas começavam a se acalmar em 1974, eles lançaram o primeiro e único álbum "Matuskela". Anapolino admite que, por um momento, chegou a odiar o disco, mas depois passou a amá-lo por ser uma obra atemporal. "Nós sabíamos que estávamos à frente do nosso tempo."

Durante a entrevista, surgiram histórias da época efervescente das discotecas em Brasília, onde o Matuskela animava festas da elite da cidade até altas horas, sob os pulsantes feixes de luz estroboscópica, enquanto os trajes brancos das mulheres dançavam freneticamente. Nessas festas, o coquetel Margarita, uma mistura mexicana de tequila, licor de laranja ou suco de limão, embalava o ambiente.

Anapolino confirmou algumas das impressões dos compositores dos anos 70 e elogiou o trabalho de composição de Augusto Pontes, um dos autores da música "Uma Sopa de Saudade". Pontes teve a audácia de homenagear Caetano Veloso em 1973, quando o genial compositor baiano foi desafiado a gravar um disco experimental quase instrumental, o álbum "Araçá Azul".

Anapolino revela pouco de si, revela que está em luto por 4 meses depois de perder a companheira que o acompanhou por 47 anos (quase bodas de ouro). Intimamente trocamos sentimento a respeito dessa experiência e ele disse que a música tinha voltado para ele para quebrar esse clima. 

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Foi uma tarde memorável, onde parecia que a presença espiritual de Rogério Duarte e Glauber Rocha pairava sobre nós. Eu podia quase ouvir Glauber sussurrando em meu ouvido: "O santo vai baixar...". E foi exatamente o que aconteceu; foi uma festa, assim como foram as festas nos shows do Matuskela. Todas as conversas foram calorosas e registradas.

Anapolino, esse músico experiente que assinou sua carteira profissional como "Músico", falou e concordou com os acontecimentos sobre o arrojo do país na era do milagre econômico.

Foi uma tarde para lembrar do vocalista Castelo dos Quadradões, do Núcleo Bandeirante, de Onildo, outro membro ativo do Matuskela, e do saudoso Machado, que também fez parte da banda.

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Sobre o fim da banda, Anapolino tem uma explicação simples que reflete o destino de muitas bandas: "Alguns queriam ficar em São Paulo, outros queriam voltar para casa em Brasília. Não foi assim que os Beatles terminaram?"

Produção:

Direção: Angelus Macarius

Câmera: Eliza Mendes

Áudio e Fotos: Werry Rodrigues

Roadie: Luciano 'GrandeLu'

 

 

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