'Valerá': Quando a Mitologia Encontra a Ideologia, o Hino das Seis Cordas ou a Trombeta do Apocalipse do Rock'n'Roll (2024)
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O tempo
O toque
O momento de saber
Que a vida existe
E que é tão bom viver
Viver...
Valerá viver, valerá
Valerá viver, valerá
Valerá viver, valerá...
Ei pare e perceba
É preciso meditar
Sintam a presença
Da luz que vem do ar
Do ar...
Valerá viver, valerá
Valerá viver, valerá
Valerá viver, valerá...
("Valerá" letra de Magu Cartabranca)
Constrastes
por mário pazcheco
A letra de "Valerá" transmite uma mensagem de apreciação pela vida, instigando o ouvinte a estar presente no momento presente, refletir sobre sua existência e encontrar valor na própria jornada.
O Vampiro de Curitiba" é um personagem fictício criado pelo escritor brasileiro Dalton Trevisan.
No filme "M, o Vampiro de Düsseldorf" (M, 1931), dirigido por Fritz Lang, o ator Peter Lorre interpreta um assassino de crianças.
Transformação
Magu Cartabranca, vocalista e letrista das bandas 'Sepultura' (de Brasília) e agora 'Os Candangos', transita com seu personagem entre os palcos, passarelas e vias da cidade de Brasília. Nos bastidores, seu disfarce se desfaz como o de um telejornalista, mas ao cair da tarde, assim como Dr. Jekyll ao tomar sua dose, Magu Cartabranca assume uma persona misteriosa e obscura. Solitário e enigmático, ele encarna características que remetem à figura do vampiro tradicional, com sua predileção pela noite, aura de sedução e perigo, e, claro, muito rock'n'roll.
O músico Deodoro Tchaikovski questionou a validade de minha resenha, apontando que, inevitavelmente, eu apareço como observador e redator. Outro músico mais antenado sugeriu que se tratava de gonzo journalism. Marcelo Rubens Paiva é um autor gonzo; seus relatos frequentemente incorporam suas próprias experiências e emoções de uma maneira que desafia as convenções do jornalismo tradicional.
Abandonei o álcool, as drogas e até mesmo os sequestros pelos extraterrestres. Me aposentei com uma modesta pensão. Deixei para trás tudo o que estava pelos cantos e passei por mudanças existenciais, ganhando uma indesejável gordura na barriga. No entanto, meu olhar continua afiado e minhas mãos continuam habilidosas para tecer parágrafos de puro gonzo journalism, capazes de provocar tanto risadas quanto indignação. A boa cabeça não apodrece, continua comandando!
Então, estava imerso na atmosfera vibrante do rock'n'roll, atraindo todos os olhares imaginativos e possíveis naquela quarta-feira, dia 27 de março, marcado pela promulgação do rock brasiliense. No dia seguinte, quinta-feira, fui ao show "É Preciso Estar Atento e Forte", na sexta-feira, ao lado do artista Hamilton Zen, grafitamos um painel para um videoclipe e, no sábado, prestigiamos o show da cantora e amiga Mariana Camelo no Festival do Guará. Assim, a locomotiva parecia desenfreada pelos trilhos, rugindo em direção ao domingo 31, vindouro, quando as filmagens do clipe da música "Valerá" aconteceriam em nossa própria casa.
Dois temas recorrentes nos meus escritos são a loucura e o rock'n'roll, embora não sejam desenvolvidos na totalidade de serem acolhedores e organizados, mas sim transcorram em um abismo calmo e servil. A banda "Candangos" estava fadada a essa descrição. Nas duas guitarras, na primeira vinha a experiência de Balaio San, um músico intuitivo que magicamente deslizava seus dedos em parafrases de guitarra, enquanto na outra guitarra Miguel, com sua energia jovial, esbanjava talento. No contrabaixo, o acrobático Vítor - e quem é Vítor? Boa pergunta. Ele mesmo respondia, introjetando adrenalina junto ao jeito despojado do rock'n'roll. Soprando a gaita, vinha do sul, Apolos. Na bateria, o ritmo stoniano seguro de Márcio, enquanto no centro do caos, comandando a tempestade, Magu Cartabranca segurava o microfone. E para surpresa geral da galera, "Os Candangos" trouxeram para dirigir o clipe de "Valerá" o renomado cineasta Válerio Paganelli!
Puxa, Válerio Paganelli! Eu sou fã dele desde os primeiros clipes que ele fez das famosas bandas do sul do país na era dos anos 80, apogeu do rock'n'acional. Depois, ele só cresceu na direção dos reis do rock nacional. E ele estava aqui comigo, conversando sobre bandas como Taranatiriça, Bebeco Garcia, Nei Lisboa, Nenhum de Nós - era muita variedade e currículo. A conversa longa foi frenética e assim delineamos o que seriam as imagens do clipe de "Valerá"!
O cenário era uma avenida de cabos, com máquinas de filmar ávidas por baterias carregadas e farta iluminação. Dos atores, emanava determinação, volúpia e um desejo insaciável por cerveja, imersos no ritmo tonitruante do rock'n'roll. Há 60 anos, o Brasil sofreu o golpe de estado que obscureceu o futuro da Pátria. Em meio à política suja e ambivalente dos dois lados no Brasil de hoje, mesmo tendo prestado adesão ao comparecer ao show "É Preciso Estar Atento e Forte", neste domingo de Páscoa eu queria me identificar com uma mensagem que resgatasse o ativismo rockeiro dos anos 70. "Valerá", de maneira futurística, nos alertava para viver e não repetir a obra mortal dos ditadores que mandaram marchar para aniquilar, dentro do plano de destruição da humanidade perpetrado por tantos políticos do mundo atual. Este era o meu pensamento naquele domingo, e garanto que boa parte dele serviu de inspiração recorrente à dualidade do ativismo existencial, disfarçado pelo culto dos pôsteres das bandas pesadas dos anos 70, presentes no set.
O que foi feito, foi feito. E se repetirá interminavelmente pelas telas dos computadores, das TVs e entrará em suas casas via streaming. Para nós, foi um ato de reconhecer a nossa amizade e resistência. Um capítulo a mais em nossa saga, agraciada com absoluta justiça e a presença de Deus em nossos atos, mesmo que eles não mereçam se tornar cartilhas. Assim vejo "Valerá" e seu significado, de que valeu mesmo lutar pelo rock, pela cultura, pela liberdade.
Ficha técnica
"Valerá"
Os Candangos
Direção geral
Valério Paganelli
Direção artística
Mário Pazcheco
Ator convidado
Lorenzo Paz
Cenografia
Hamilton Zen
Áudio
?
Making of
Marizan Fontinele