A Cura pelo Rock - 2025
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10 de janeiro de 2025
Ontem foi 'A Cura do Rock'
Quem sou eu para estabelecer qualquer dogma sobre rock? Já não sou mais o careta purista. Misturo rock com outras palhetadas, atravessando ritmos de Raul Seixas a Michael Jackson, entre tantas batidas.
Ontem, o salão foi palco de uma celebração singular. Nós, um coletivo de rock formado por bandas como Deus Preto, Roriz, Banda Mais Lama, Walter Muganga, nos reunimos em um espetáculo que parecia uma jaca madura, aberta e devorada em gomos intensos, direto na goela. Na bateria, Titi Rabelo e Mateus, nas guitarras, Bleyvs e Muganga, no contrabaixo, Dudu Lama e Souves, com sua indefectível camaleonice sonora.
Durante quatro horas, o que se viu foi uma ginástica épica de guitarras no limite, entrecortada pelo rufar delicado de Mateus e pela pegada veterana de Titi. Tudo isso sem estrelismos — apenas arte crua, honesta e visceral.
Logo na passagem de som, aqueles acordes e batidas me transportaram ao passado, aos primeiros dias, quando correr atrás de trens e atirar pedras fazia parte da diversão. O som nostálgico remetia aos cabeludos de outrora, àqueles hippies que, décadas atrás, pisaram por aqui para fazer balançar tudo.
Nossa missão? Transformar o karaokê acústico em um pocket rock. Nesse formato, tudo é mais intimista: um show menor, com estrutura simplificada, onde o elétrico e o acústico convivem em harmonia, com baixa amplificação. No espaço fechado, o volume restrito cria uma experiência mais próxima, uma conexão direta com o público.
A bateria não amplificada exige controle e técnica do baterista, enquanto amplificadores em volumes reduzidos permitem que as guitarras dialoguem de maneira natural, criando uma sonoridade potente na essência, mas suave nos ouvidos. É música sem aparato exagerado, mas com uma carga mortal de emoção.
E que emoção! Foi o rock doido do expresso da meia-noite, uma sessão de musicoterapia coletiva. Meus ouvidos surtaram, e minha mente revisitou dias gloriosos. Estiveram presentes, em espírito, todos aqueles que um dia vieram aqui tocar. Me emocionei, porque ali estava um revival, um retorno, um reencontro com a essência.
Era como estar em uma clínica para loucos, tratados pelo poder da música que ecoava dos amplificadores valvulados da marca Palmer, feitos pelas mãos de Sossego. Entre risos e histórias ressuscitadas, ficou claro: o rock de Brasília é um paciente do SUS, na fila, esperando pela cura.
E, sem dúvida, a cura é a musicoterapia. (mário ex-magro pazcheco)