1989: ARNALDO BAPTISTA REVISITADO: SANGUINHO NOVO (PARTE 9)

1989

 

05

FEVEREIRO
Domingo

O Elo Perdido do Rock

Miguel de Almeida O Globo

 

"Mas, de todos, Arnaldo Baptista era quem possuía a estética mais bem-acabada. Sempre foi mestre em fazer canções, além de ser um esmerado letrista: 'Eu sei que o mundo está superpopulado, mas não tem ninguém no meu quintal' (em 'Sunshine'). Ou: 'Não sei se tenho um rei na barriga, mas um frango não faz mal... eu sei que tudo isso não faz mal' (em 'Sunshine'). Ou, ainda: 'Você está mais sexy que a Brigitte Bardot', em 'Sexy Sua'. Outro exemplo de seu humor: 'Como é que vai ficar, cortar jaca na cidade, não é mole não', em 'Corta Jaca'. Em outra faixa: 'Meu Deus, você está agora como um rio que transbordou... *se você me largar, eu posso me suicidar até o sol raiar'.

Interessante como esse disco mantém uma incrível modernidade. Em instante algum as canções soam como coisas datadas, como simples anotações de um tempo passado. Nada disso.

A fórmula amor/humor de Baptista capta a poesia cotidiana, faz colagens de pensamentos e observações diversas, joga com os desejos e signos, e muitas vezes brinca com a meta-música.

A estética do rock, usada por Arnaldo, mistura ritmos. Existem baladas, canções que sugerem melodias de cabaré, um xaxado elétrico. A tarja de rockeiro é pequena para definir seu trabalho musical. Ele é mais do que isso: uma dezena de influências — o jazz, por exemplo — e acaba sendo uma verdadeira usina de sons. E de poesia. 'Estou tão cansado, onde é meu lar?', ele pergunta. Sua pousada é nos corações sensíveis, nada com yuppies de plantão ou gente que se veste como um carro de Fórmula 1. Arnaldo tem a ver com a poesia beat, com os delírios de Jack Kerouac, com a alucinação da prosa de Nabokov e John Fante. Ele é um raio de sol. Só isso."

* O verso "se você me largar / eu posso me suicidar até o sol raiar" reflete uma dor emocional profunda e se torna ainda mais trágico ao ser associado à tentativa real de suicídio de Arnaldo Baptista. A infelicidade do verso está em sua conexão com a realidade dolorosa, e, embora a intenção de Arnaldo fosse expressar sua angústia, ele pode ser mal interpretado. A tentativa de suicídio fracassada e superada por Arnaldo destaca como a dor mental se reflete na música, trazendo um peso emocional difícil de ser compreendido por todos. (Do responsável por este trabalho)

 

1989

LP-tributo

Sanguinho Novo, o tributo, poderia ser interpretado como uma ode dadaísta à obra de Arnaldo, vista sob a ótica dos artífices do pós-punk paulista? 

Em Sanguinho Novo, 33,33% do repertório do álbum é composto por músicas da Patrulha do Espaço. Como um gesto genuíno de fã, é possível imaginar as cinco faixas — "O Sol", "Bomba H Sobre São Paulo", “I Fell in Love One Day”, "Sanguinho Novo" e "Sitting on the Road Side" — formando um lado de um LP.

 

LADO A:

1 . O Sol

2. Dia 36

3. Bomba H Sobre São Paulo

4. A Hora e a Vez do Cabelo Nascer
5. I Fell in Love One Day

6. Superfície do Planeta


LADO B:

1. Sanguinho Novo

2. Jardim Elétrico

3. Cê Tá Pensando que Eu Sou Lóki?
4. Sitting on the Road Side

5. É Fácil

6. Te Amo, Podes Crer


Sexo Explícito

3 Hombres

 Vzyadoq Moe

 Sepultura

 O Último Número

 Paulo Miklos


Akira S. e as Garotas que Erraram
Ratos de Porão

Fellini

Atahualpa I Us Panquis

Skowa

Maria Angélica 


Enquanto isso na K7: Devido a restrições de tempo, um cover de "Cyborg" do Black Future não foi incluído na versão em vinil, mas apareceu como faixa bônus na edição em cassete .

 1989

 Sem dúvida, Sanguinho Novo se tornaria uma fonte de inspiração para uma onda de tributos a Arnaldo Baptista e aos Mutantes, consolidando sua importância no cenário musical.

No momento minimalista, o Sexo Explícito reinterpreta "O Sol":

“Som íntimo, de penumbra, com uma guitarra completamente forte. Interessante. Minha versão no Singin’ Alone foi mais artesanal, enquanto esta releitura soube explorar melhor os efeitos. Gosto da guitarra saturada, que só deve ser utilizada com moderação. A percussão foi um elemento que me prendeu. Parece que usaram um limitador compressor na caixa e no chimbal, suavizando parcialmente os ataques da bateria. O timbre está mais voltado para os agudos. A guitarra alcança notas altas, como as de um violino ou flauta”. (Arnaldo Baptista).

O Último Número imprime uma eletricidade emocional à balada “I Fell in Love One Day”:

 “Minha versão é mais poética e supera a do Último Número. O meu arranjo acústico é tão bonito e sonoro que teria até pedido para incluir um grupo de cordas. Acredito que o arranjo não deveria ter sido eletrificado dessa forma”. (Arnaldo Baptista).

Akira S e as Garotas que Erraram registram pela primeira vez a versão em português de “Sanguinho Novo”. Ao ouvir essa versão, Arnaldo não hesitou:

“Eu gosto muito deste tecladista”. O piano da nova versão é tocado pelo próprio Arnaldo, acompanhado pela Patrulha do Espaço. Um trecho da gravação original foi transferido para a fita-mestre do LP Sanguinho Novo, por Akira S. O trabalho foi feito com sintetizador e sampler.

“Outra das que eu mais adorei. Toca forte o coração. Não consigo traçar nenhum paralelo, não se parece com isso ou aquilo. É um estilo bem próprio (risos com o verso ‘Batom neles!’). Esta música foi feita quando comecei a trabalhar com a Patrulha do Espaço e percebi que era muito mais velho que eles, então coloquei isso na letra. Tem a ver com o punk e com as meninas. Gostei de certas coisas que o pianista fez no estúdio, gostei do estilo dele. Quando ouvi a gravação, fiquei surpreso e assustado. Parecia que era eu tocando. Achei impossível que um músico conseguisse inserir um piano tão semelhante ao meu dentro de uma banda. Nesta música, há uma frase que estudei por meses para conseguir executar. É uma frase em oitavas com semicolcheias quase fusas. Aliás, são as fusas confusas (risos). Achei terno o uso do sampler do piano. Só percebi isso quando li o release do disco”. (Arnaldo Baptista).

Akira S seria o “japonês” que, enquanto trabalhava em um estúdio de gravação, retirou secretamente uma fita com gravações de Arnaldo Baptista?

Os gaúchos do Atahualpa I Us Panquis nos apresentam sua versão de rock’n’roll com “Sitting on the Road Side”.

“Foi a faixa do disco que menos me atraiu. Ficou flutuante e sem razão de ser. Não sinto a voz, e o acompanhamento ruge nos médios. Sem maiores detalhes. Eu fiz uma ‘lenha’ mais inteligível e menos ultra. Essa música eu fiz indo de carona para o Sul. Estava andando pela estrada, com um caderno na mão e um violão, e me inspirei. Falo que costumava ter um bom coração, mas mudei, porque ficava pedindo carona e ninguém me dava. Fiquei com raiva e pensei: ‘Vou ter um mau coração também...’. Quando digo ‘As montanhas costumavam ser boas’, é porque estava caminhando centenas de quilômetros, olhando para uma montanha que ficava a dez ou cinco quilômetros à frente e pensando: ‘Ah! Eu vou até lá! Depois tomo uma Crush ou uma Fanta’. Isso me ajudava, me incentivava”. (Arnaldo Baptista).

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