2009: DVD — LÓKI: ARNALDO BAPTISTA, DE PAULO HENRIQUE FONTENELLE (PARTE 13)
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2009
JUNHO
DVD — LÓKI: ARNALDO BAPTISTA, DE PAULO HENRIQUE FONTENELLE
Não posso abordar essa resenha do ponto de vista pessoal, mas lembro claramente de uma sessão especial em que assisti ao filme com Rolando Castello Jr. e mais um amigo, à cópia antecipada do lançamento que foi enviada ao baterista. O único comentário que me lembro foi o do meu amigo, que disse: “— Eu não vou assistir até o fim, porque já sei o final.” Isso me emocionou e me entristeceu, pois sempre tento considerar as emoções daqueles que não estão tão envolvidos com a história.
Também chamei a atenção de Barbieri para a manipulação de uma foto sua, tirada de Arnaldo em ação no Anhembi durante o Revival dos Mutantes, em maio de 1978, que foi usada na capa do DVD.
Com as memórias afetivas distantes, como um historiador, não vamos nos comportar como se estivéssemos em um tribunal, verificando e conferindo depoimentos. Afinal, os depoimentos podem ser editados a gosto (e certamente não veremos a íntegra dos depoimentos). No entanto, a escolha do documentarista não foi em busca de respostas mais profundas. Caso contrário, ele teria participado de forma mais efetiva. Por exemplo, Liminha cometeu um erro ao afirmar que o último show dos Mutantes com ele teria ocorrido no Teatro Tereza Rachel em março de 1973, quando, na verdade, o último show realizado com os Mutantes foi no Phono 73 — em maio, dois meses depois. A correção desse detalhe poderia mudar a visão dos fatos.
Gostaria também de corrigir a fala de Martha Mellinger no documentário: ela menciona que o término de seu relacionamento com Arnaldo aconteceu em dezembro de 1977, mas acredito que tenha sido em dezembro de 1978. Em abril de 1978, em uma entrevista para O Globo, Arnaldo afirmou que queria ficar com ela para sempre. A Patrulha do Espaço se desfez em maio de 1978, mas o casal ainda formou uma banda que se apresentou até novembro daquele ano. A correção dessa linha do tempo mudaria a interpretação dos eventos.
Há também uma questão com a ordem das datas no documentário, que me incomodou. O show Shining Alone é de fevereiro de 1981, mas aparece antes da peça de teatro Heliogábalo, o Anarquista Coroado, que foi encenada no Rio de Janeiro em 1980.
Devemos evitar o fatalismo, mas seria bom questionar os depoimentos que favorecem o lado dos envolvidos. Em relação ao depoimento sobre Shining Alone, poderia ser interessante trazer uma versão mais otimista de alguém envolvido na produção. E, sobre outro depoimento íntimo, poderia ser interessante apresentar a versão de outra pessoa próxima, embora, como sabemos, isso poderia resultar em uma avalanche de processos.
Cheguei a esse ponto para afirmar que o documentário Lóki: Arnaldo Baptista foi visceral e renovou o mito, trazendo Arnaldo de volta para a tela da televisão após tantos anos. É um ótimo e premiado documentário. Ele foi a faísca para a obsessão dos fãs em procurar imagens raras de arquivo. Graças a ele, podemos finalmente assistir à íntegra da entrevista dos Mutantes na TV Cultura de 1973 e, para toda uma geração, foi emocionante ver, pela primeira vez, ao vivo Arnaldo e a Patrulha do Espaço, como uma homenagem aos saudosos Dudu Chermont e Kokinho.