Uma prosaica terça-feira de Carnaval: a manhã arrastando-se lenta, sem televisão, sem o alarido dos foliões nas ruas. Apenas o silêncio cortado pelo latido insistente do cachorro no quintal vizinho, como se denunciasse um perigo invisível ou apenas protestasse contra o vazio da tarde.

Nessa hora, sou um homem às vésperas do aniversário de uma ação cultural independente que remonta a 10 de abril de 1982. São 43 anos de acompanhamento contínuo das manchetes musicais em revistas que já não existem mais, enquanto sigo, pelos obituários, os últimos dias de meus ídolos. Joey Molland, guitarrista, compositor, cantor e último remanescente da formação original do Badfinger, e David Johansen, o último sobrevivente do New York Dolls, agora se vão. E na literatura brasileira, nos despedimos de Affonso Romano de Sant'Anna, escritor e poeta.

Tenho receio dos produtores culturais do quadradinho, desconfio dos músicos, e quanto mais conheço as engrenagens do meio musical, mais me convenço de que vale a pena acreditar em poucos talentos. Ainda assim, me percebo indiferente à minha própria ação.

Minha criação é um Frankenstein, inofensivo como um veneno que não mata formigas. É mais seguro ler à distância as manchetes sobre a violência do que provocar uma arte que se devora, mestre e criatura.

Sou do ateliê de um famoso costureiro, vestindo manequins. Sou um universo encantado de caixas de papelão decoradas com colagens de triângulos e outras formas geométricas. Sou pastas de plástico azul, recheadas de diferentes artes de várias eras, repousando sobre a estante dos livros de cinema. Sou fardos de revistas amarradas por cordões, com o título Caros Amigos. Sou dezenas de quilos de cadernos culturais à espera de serem encadernados. Sou várias estantes de literatura nacional e marginal.

Estou muito empolgado em liberar 13 minutos de filme Super 8 de um dos melhores shows do Led Zeppelin pós-1973 e seu último show na Dinamarca! Foi um grande dia quando meu amigo Mark Donahue, do podcast The Heart of Markness, encontrou um comentário de Lennart Ström dizendo que ele filmou esse show. O resto é história!

Agradecimentos especiais a Mark e Lennart por tornar isso possível, assim como a Quazza, da Reel Revival Film, pelo excelente escaneamento e a Nuff, do ‪@ThePFRG‬, pela impressionante correção de cores.

Se você tiver filmes, fotografias ou gravações de áudio inéditas do Led Zeppelin, por favor, entre em contato comigo pelo e-mail This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it..

AFFONSO
4 de março de 2025
Por João Orozimbo Negrão