Os Magrelos Vão à Rampa Acústica do Parque de Brasília (1982)

Magrelos na Estrada

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Mas o verdadeiro marco visual e emocional está naquela fotografia tirada no coração da Estrada Parque Taguatinga (DF-085), quando a EPTG ainda era emoldurada por fileiras de eucaliptos que balançavam como testemunhas silenciosas de um tempo em trânsito. Foi ali, no meio do canteiro central, que os Magrelos do Guará 1 marcharam lado a lado rumo a um show na Rampa da Cidade — e para a história. A imagem, hoje desbotada como se o tempo tivesse tentado apagá-la em vão, capturou os cinco em formação quase cerimonial, como se estivessem atravessando uma fronteira invisível entre o anonimato e a lenda.

Meio hippies retardatários, filhos do hard rock, mas com o coração pulsando em sintonia com a rebeldia punk — ainda que mais por atitude do que por estética —, eles se diziam punks com a convicção de quem não precisava de rótulo. No centro do grupo, o mais jovem, cabelo longo ao vento, foi quem cravou a sentença que selaria o destino da imagem: “Essa foto é para a posteridade.” E foi. Não apenas porque três deles já partiram, mas porque a cena inteira parece ter sido esculpida para durar. Como se o tempo, por um segundo, tivesse parado para prestar atenção.

Daquele instante capturado, três já não estão mais entre nós. Restam lembranças, registros — e a música.

A faixa “Viciado”, gravada por eles mesmos, soa crua e urgente. Uma canção feita para ser ouvida com os pés sujos de terra e o peito suado de revolta. A guitarra estala, cortante, quase áspera, mas verdadeira. A bateria pulsa como um coração de concreto rachado. O vocal não é técnico, mas é sincero — como um desabafo na madrugada depois de um dia inteiro sobrevivendo ao tédio, ao sistema, e ao vazio urbano. A canção não pede licença: ela cospe na calçada. É rock de garagem, é punk de barranco. E é Brasília até o último acorde.

“Viciado” não fala só de uma dependência literal. É um grito de quem é viciado em viver fora da regra, em criar com o que tem, em desafiar a inércia. Um reflexo direto daqueles Magrelos que atravessavam avenidas de asfalto quente para cantar numa rampa sem holofotes.

A história deles não virou hit nas rádios. Não saiu em revista. Mas ficou cravada na memória das cidades-satélites, nos cadernos de letra rabiscada, nas guitarras enferrujadas que ainda dormem em armários de fundo.

E na posteridade, como previu o garoto de cabelo comprido, eles ficaram — como símbolo de uma geração que não pediu nada, mas fez tudo.

Por Ultima Hora em 02/05/2025

Essa fotografia colorida é um documento riquíssimo da juventude roqueira brasiliense do início dos anos 1980. Ela captura um grupo andando em direção à câmera com atitude, camaradagem e estilo característicos de uma geração que começava a ocupar as ruas, os palcos e a história do rock brasileiro.

📝 Análise visual e contextual da imagem
Local e época:
Local: Estrada Parque Taguatinga, saindo do Guará I, antes da duplicação e urbanização intensiva. À esquerda, uma larga área gramada e ao fundo, a famosa vegetação de eucaliptos (hoje praticamente desaparecida).
Destino: Concha Acústica, no Parque da Cidade — espaço importante para apresentações alternativas e encontros musicais em Brasília.

Ano: 1982.

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Personagens (da esquerda para a direita):
Renato – veste jeans claro com colete e camiseta branca. Postura relaxada, cabelo liso.
Luiz Punk – jaqueta jeans, bolsa transversal, rosto sério, parece o mais "mod" do grupo.
Ricardo Lima – cabelo longo, camisa listrada de manga comprida, mãos no bolso.
Cécé – jaqueta jeans com camiseta rasgada e óculos escuros. Figura carismática e roqueira.
Clevinho – ponta direita, usa a camiseta do Rock Cerrado 1981, festival seminal da cena alternativa do DF.

🎸 Importância histórica:
Essa imagem é quase um fotograma da gênese do Extremo, trio de hard rock que uniria Tuca (baixo e voz), Cécé (guitarra) e Ricardo Lima (bateria).
O clima visual antecipa o espírito do-it-yourself e rebelde que influenciaria a cena musical do Guará, do Plano Piloto e arredores.
O fato de estarem indo à Concha Acústica marca o elo com a ocupação dos espaços públicos por bandas independentes — e também com eventos como o Rock Cerrado, do qual Clevinho orgulhosamente ostenta a camiseta (com símbolo gráfico visível, mesmo desbotado).

👖 Estilo visual:
Jeans surrado, camisetas com mensagens ou customizações, cabelos soltos ou com cortes alternativos. Essa estética é toda calcada na mistura do punk, hard rock e da psicodelia tardia, bem como no ethos suburbano de Brasília.
A foto, embora desbotada pelo tempo, conserva muito da atmosfera "walking with purpose" — que ecoa capas de álbuns (como Let It Be dos Beatles ou Freewheelin’ Bob Dylan).

💬 Conclusão:
Esse clique é mais do que um registro casual. É uma cápsula de um tempo em que Brasília ainda estava forjando seu DNA cultural. Um grupo de jovens andando com propósito, amizade e estilo, no limiar entre a adolescência e a criação de uma identidade sonora local. A estrada, os eucaliptos e a roupa dizem tanto quanto os nomes mencionados. É um retrato de origem — dos Magrelos, do Extremo e da pulsante cena do Guará.

Faixa: "Víciado" (Extremo)


Mysterium

Ontem era só mais um dia comum, véspera de sábado. Não me lembro de ter feito nada muito diferente — rolei tela, comentei, postei textos, fotos... um verdadeiro frenesi digital. Atualizei meu arquivo de imagens, escrevi umas matérias para o site. E foi nesse turbilhão que deparei com uma foto antiga.
Um still, um clique congelado no tempo: eles estavam indo em direção à rampa. E ali mesmo, naquele instante, decidi — vou contar pro mundo quem foram os Magrelos.
E não é que virou matéria on-line no Última Hora?
A publicação atraiu uma enxurrada de comentários, gente querendo falar daqueles dias, relembrar, acrescentar. No meio do papo, soltei: Eles compuseram "Viciado". Aí a coisa explodiu. Comentário atrás de comentário. Eu nem dei conta de responder tudo.
Mas o que mais me pegou foi o relato do próprio Tuca sobre a origem da canção:
“Eu estava envolvido com uma garota encantadora chamada Mônica, de Uberlândia. Infelizmente, ela lidava com drogas e andava com pessoas problemáticas. Estávamos namorando. Na quinta decidi ir até lá, e me hospedei num hotel na sexta de manhã.
Naquela noite, percebi que ela estava usando substâncias. Só fomos nos aproximar de verdade ao amanhecer. Aquilo tudo era novo pra mim. No sábado, ela sumiu. Ligou de madrugada, estava numa festa numa fazenda, completamente alterada. Fiquei furioso, chamei ela de viciada ao telefone.
Voltei pro quarto sozinho, com uma garrafa de vinho. E naquela noite escrevi a letra de 'Viciado'. A inspiração vinha não só dela, mas também do filme Christiane F. que eu tinha visto há pouco. Foi em fevereiro de 1983 que essas duas coisas se fundiram e a música nasceu.”
A letra era direta, sem rodeios:
"Viciado"
Tem os olhos vermelhos de tanto fumar /
Tem os braços furados de tanto aplicar /
Um olhar assustado de quem vive a fugir /
De uma realidade que não quer admitir
Viciado! Viciado! Viciado! Viciado!
E então percebi: aquele rock-blues violento, que eu achava uma homenagem à Christiane F., era também uma carta pessoal para uma garota de Minas.
Voltando ao debate online, os comentários se aprofundaram. Não dá pra citar tudo. Mas o do baterista Tiago Rabelo chamava atenção:
“Definitivamente... a influência do uso do pedal de efeito flanger no rock mundial a partir de 1980 vem do Eddie Van Halen. Usar isso num blues é quase heresia... mas também é o retrato da pobreza de conhecimento do rock brasilis.
A letra é inocente pros padrões atuais, mas é um registro raro e válido.”
Uma coisa ou outra eu sei sobre Viciado: alguém próximo à banda me contou que, de certa forma, foi ali que tudo começou a desandar. Que a música, com seu peso e crueza, acabou afastando algumas pessoas. E ainda assim, para mim, ela vinha com os ecos sujos do Joe Perry Project. Vi sendo tocada ao vivo algumas vezes — sempre provocava um incômodo, uma indignação. Mas esse não era o papel do rock?
João Paulo Macha, que vive longe desse tempo todo, cravou nos comentários:
“Puro rock.”
Há ainda outros fragmentos, falas, memórias — que dariam uma tese.
Do que fui, do que sou.

 

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