“Quando Uma Luz Surge Para Mim” — A Floresta, a Música e a Resistência de Adelson Santos (2025)

“Quando Uma Luz Surge Para Mim” — Uma Missa Cabocla Pela Vida

Clube do Choro - 29 de Maio de 2005

Show "Não Mate A Mata"

por Mário Pazcheco

Realização: Instituto Amazônia no Cerrado
Guia Musical de Brasília
Clube do Choro

Apoio:
CIEAM
CB.DOOH

Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas
Sindicato dos Bancários

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Adelson Santos - guitarra, voz e composições

Cantoras convidadas:
Lilian Oliveira - soprano
Rebeca Leitão- soprano

Com:

Cairo Vitor - violão
Alex Raichenok - teclado
Sérgio Moraes - flauta
Paulo Dantas - contrabaixo
Leander Mota - percussão

Fotos: Marizan Fontinele

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Um show chamado “Não Mate a Mata” carrega um nome mais do que necessário — é quase um grito urgente, um alerta que ecoa forte num país onde a natureza virou alvo constante. E não poderia ser mais simbólico, especialmente diante dos ataques grosseiros e violentos que a ministra e ativista ambiental Marina Silva tem sofrido dos representantes do agronegócio travestidos de parlamentares.

Fui ao show movido pela curiosidade e pela esperança. E o que encontrei foi mais que música: foi ritual, foi celebração, foi resistência. As canções, aparentemente simples, são na verdade extremamente complexas. Não apenas na técnica, mas no que exigem: alma, conexão, elementos que vão além da partitura — vento, água, cheiro de terra molhada, sons de igarapés, memórias ancestrais.

No palco, o maestro Adelson Santos, esse homem que carrega nos olhos a serenidade da floresta e nas mãos a força dos rios. Pode parecer tímido, introspectivo até, mas representa seis décadas de inspiração que brotam da mata, da fauna, do saber indígena, das águas doces do Amazonas.

Adelson estava rodeado de músicos que não formam apenas uma banda, mas uma aldeia sonora: contrabaixo, violão, flauta, teclado, percussões que soam como folhas, galhos e chuva, além de duas vozes femininas — sopranos que pareciam vir diretamente do vento que sopra entre as copas das árvores.

A guitarra do maestro? Do ângulo em que eu estava, quase não se via, mas se ouvia — e como! Cada acorde parecia uma pedra lançada no rio, criando ondas que se espalhavam por toda a banda. A cada variação de tom, grau por grau, os músicos respondiam com precisão e reverência, como se seguissem não um maestro, mas um pajé da música.

Das músicas, destaco duas que me atravessaram profundamente: “Baião Fluvial”, que mistura o balanço nordestino com os fluxos dos rios amazônicos, e, claro, “Não Mate a Mata”, que completou 50 anos. Mais do que uma canção, é um hino ecológico, uma oração de resistência que me fez lembrar imediatamente de Chico Mendes, dos tempos em que os igarapés de Manaus eram lugares de encontro, lazer e vida — antes da degradação, da poluição e da ganância.

Ao longo do show, ficou claro que aquilo era mais que um espetáculo. Era o Canto da Floresta, uma missa indígena, uma ópera cabocla. E ali, vestido com minha jaqueta jeans, cachecol e camiseta do Pink Floyd, percebi que, na verdade, estava exatamente no tipo de celebração que o próprio Pink Floyd teria reverenciado — uma fusão entre arte, natureza, som e espiritualidade.

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Saí de lá com a certeza de que, sim, quando uma luz surge para mim, ela vem da mata. E ela não pode, não deve, ser apagada.

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