Dado Nunes: Um Novo Olhar sobre o Rock Nacional dos Anos 70 e a Face Íntima dos Mutantes (2025)

DADO NUNES: REVELANDO UM LADO INÉDITO E ÍNTIMO DOS MUTANTES

Todas as fotos são de Leila Lisboa Sznelwar, Márcio Linhais ou fazem parte do arquivo de Dado Nunes.

Ele é uma pessoa simples demais para se ver como uma biblioteca musical. Como contrabaixista, é focado nas ondas do rock progressivo. Entre as bandas internacionais, não sei qual é sua favorita – talvez o Yes.

Dado Nunes é um amigo dez anos mais novo que surgiu no FINAL DOS ANOS 90, em meio a uma geração de jovens músicos e rockeiros que começaram a frequentar minha casa. Ninguém imaginava que ele se tornaria um dos maiores conhecedores da trajetória dos Mutantes, desde os PRIMEIROS PASSOS EM 1966 ATÉ O FIM EM 1973. E de 1974 em diante – passando por 1975, 1976, 1977, 1978 e chegando ao retorno da banda em 2006 – ele acompanhou tudo de perto, se envolvendo na história dos Mutantes.

Dado Nunes teria espaço garantido em qualquer revista especializada em bandas underground e até mesmo em publicações renomadas como a Ugly Things.

Foi em 2000 que você viu pela primeira vez um vídeo dos Mutantes lá em casa?

Dado Nunes – A primeira vez que vi um vídeo dos Mutantes foi na tua casa, no documentário Maldito Popular Brasileiro, da Patrícia Moran. Também joguei sinuca, mas com uma regra que nunca entendi...

“Lembro que fui até aí deixar um CD com uma gravação dos Mutantes no Tereza Rachel, em 1975. Comentei contigo sobre um vídeo que vi na MTV quando estavam para lançar TECNICOLOR – mostraram um trecho dos Mutantes, com o Serginho bem cabeludo ao lado da Rita, e um áudio bem chiado. Nunca achei esse vídeo no YouTube, teria que pesquisar no acervo da MTV. Era um jornal da MTV apresentado pela Chris Couto, mas nem sei se foi originalmente um programa de TV...

“Também lembro de um vídeo do O Terço com Jorge Amiden num FIC de 1971. Era um trecho pequeno que chegou a estar no YouTube, mas tiraram. Esse dos Mutantes ficou marcado na memória – Rita soltando um grito e o Sérgio mandando aquele som fuzzy. Um dia ele reaparece.”

– Como foi o processo de pesquisa para A Hora e a Vez?

– Dado Nunes: Entramos em contato com  a Leila Lisboa em 2011. Junto com a Simone Bampi – uma grande fã dos Mutantes –, a encorajamos a lançar um financiamento coletivo para viabilizar o livro. Começou tudo meio na cara e na coragem. Mas havia um desafio: a Leila tinha pouca memória sobre os registros. Os negativos não tinham data, nenhuma anotação detalhada, e ela não se lembrava exatamente do que era cada coisa. Muitas vezes aparecia apenas "Mutantes" nas fichinhas dos negativos.

Então eu ia ajudando a identificar: “Ah, isso aqui é em tal lugar.” Teve uma imagem, por exemplo, feita em Cambé (PR), e ela não fazia ideia de onde era. O processo de seleção das fotos que entrariam no livro levou cerca de um mês. Algumas imagens ela já tinha em mente – aquelas mais fortes, mais impactantes –, mas outras a gente foi descobrindo que precisavam estar ali, como aquela em que a Rita Lee aparece passando o som com a Lúcia Turnbull.

Infelizmente, muitas fotos importantes se perderam. Leila contou que as imagens do show em Guararema (SP), em 1972 – quando ela fotografou os Mutantes em cima de um ônibus – desapareceram porque a máquina foi roubada na cachoeira.

A segunda fase do projeto foi mais demorada. Levou uns dois, três meses. O editor, José Luiz Tahan, cobrava bastante – principalmente porque ainda faltavam identificações de instrumentos e outros detalhes técnicos. Na reedição do livro, minha participação foi mais discreta: corrigi um erro no nome da bateria do Dinho Leme, que eu tinha colocado invertido. Meu crédito saiu como “pesquisador” – e ainda veio acompanhado de um baita elogio da Leila, o que me emocionou muito.

Nos encontramos duas vezes em AGOSTO DE 2013 e, depois, a última vez foi em OUTUBRO DE 2015. Mas a gente se falava quase todos os dias. Pense numa pessoa incrível. Quando a doença voltou, ela foi morar com a filha, Pedrita. Pouco antes de falecer, fez um pedido ao Lineu Vitale: que eu ficasse oficialmente como o responsável pelas fotos. Ele cuidou de toda a documentação, me passou o direito legal sobre as imagens, mas até então eu só tinha o material digitalizado.

A filha dela não conseguia encontrar os originais. Aí, no início do ano passado (2024), ela simplesmente me mandou uma mensagem: “Me passa teu endereço, que tenho uma coisa pra você.” Quando chegou... eram as fotos, os negativos, os slides – tudo.

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"O Lineu Vitale está aí na foto. A Suely Chagas (ela está ao lado do Arnaldo), o Reginaldo Leme também. À direita, está o Paulo Sri; no canto esquerdo, a Lúcia Turnbull."  

(DADO NUNES)

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1973, Janeiro

– Lineu Vitale era um grande amigo da turma e acompanhou Arnaldo Baptista na viagem aos Estados Unidos em 1972. Eles chegaram por Miami, alugaram um carro e seguiram rumo a Nova York. Lá, tentaram assistir a um show da banda Yes, mas os ingressos estavam esgotados e os preços altíssimos no mercado paralelo...

– Mesmo assim, Arnaldo conseguiu entrar – pagou uma fortuna na mão de um cambista. Mais tarde, pesquisei e confirmei: o show realmente aconteceu naquela data em que eles estavam por lá. Lineu relatou essa história na segunda edição do livro A Hora e a Vez...

– Quando Rita Lee e Liminha partem para a Inglaterra, Arnaldo Baptista segue para os Estados Unidos em busca de novos equipamentos – incluindo a lendária guitarra Stratocaster de Sérgio Dias. Antes disso, Sérgio havia vendido sua primeira guitarra Regulus para Bartsch....

– Na foto, vemos Arnaldo ao lado de uma amiga de Lineu, em JULHO DE 1972. Lineu, um empresário bem-sucedido, conta um episódio curioso: Arnaldo levou consigo uma guitarra Tonante, arrancou a placa com o número de série e a deixou escondida debaixo da cama no hotel.

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– Fico curioso para saber quando, exatamente, a Stratocaster do Sérgio foi roubada. O que se sabe é que, em 1977, ele aparece usando um outro par de guitarras: uma Les Paul da Giannini e, depois, uma Stratocaster com braço escuro. Isso levanta a suspeita de que a guitarra original, trazida por Arnaldo dos Estados Unidos em 1972, possa ter sido perdida ou furtada nesse período.

Depois, ele passou a usar uma terceira guitarra, inicialmente com escudo preto – que mais tarde foi substituído por um escudo claro. Na capa de seu primeiro álbum solo, lançado em 1979, já aparece com uma nova guitarra, equipada com escudo claro e CCDB electronics.

(DADO NUNES)

Nova York e a grande coincidência

por Lineu Vitale

“Inacreditáveis essas coincidências na vida. Como é possível três pessoas se encontrarem por acaso, no mesmo dia e hora, no local mais estranho possível, e os três terem os mesmos planos? Era tempo de ditadura no país. Não se achavam no mercado produtos importados, muito menos instrumentos musicais. Sim, tinha um jeitinho caso conhecesse alguém influente, e muita gente conhecia. Veja esta incrível coincidência contada por Lineu Vitale quando, dois dias antes da viagem do Arnaldo aos Estados Unidos para comprar instrumentos novos, se encontram num showroom em São Paulo.”

"Eu só precisava de um amplificador para o meu baixo e queria também uma Nikon-F, o top das câmeras na época. Em Nova York tinha tudo e então decidi que iria pra lá de qualquer jeito. Um ou dois dias antes da viagem, fui a um showroom de amplificadores que havia em São Paulo e encontro o Arnaldo, que também precisava comprar instrumentos novos para a banda. Tremenda coincidência. Abraços, papos e tal. Nesse showroom tinha um cara que, pelo sotaque e pelo jeito, só poderia ser americano. Puxei papo.

– Você é americano, não é?

– Sou.

– É músico também?

– Sim, sou cantor clássico formado na Juilliard School, em Nova York.

– Muito prazer. Meu nome é Lineu, toco contrabaixo e vou lá pra tua terra amanhã.

Ele responde: muito prazer, meu nome é Scott e eu também vou.

E o Arnaldo: eu também vou.

Bom, só aí, uma tremenda coincidência. Mas a coisa fica mais incrível ainda. Eu digo: vou num voo fretado pra Miami, fico uns dois dias lá e depois sigo pra Nova York.

Os dois respondem quase em uníssono: eu também, eu também.

Pra encurtar a história, estávamos os três no mesmo voo, sentados perto um do outro, e íamos para o mesmo destino. Em Miami, visitamos várias lojas de instrumentos e à noite Playboy Club, famoso na época. Não me lembro quem sugeriu: por que a gente não aluga um carro e vai dirigindo até Nova York? A gasolina era extremamente barata. E lá fomos nós, revezando na direção. Quando saímos de Miami, Arnaldo não tinha mais a guitarra que trazia do Brasil. Achei mais estranho ainda quando ele a deixou embaixo da cama do hotel, mas retirou os decais com marca, número de série, entre outras coisas. Será por quê? E lá fomos, dois mil quilômetros pra bater papo. Scott diz: eu tenho um amigo no Brooklyn e acho que vocês podem ficar lá na casa dele. Fomos recebidos muito bem por Herb Gibson e Candy, sua esposa, que nos convidaram para um coquetel celebrando a união de duas garotas, amigas da família. Casamento gay era coisa raríssima na época. Arnaldo sentou-se ao piano e os convidados pediram música brasileira. Bossa Nova estava no auge. Nos dias seguintes, cada um pro seu lado, Arnaldo fez suas compras e comprei minha Nikon-F. Voltamos para Miami pra pegar o voo de volta ao Brasil. Na chegada, como um passe de mágica, todos os instrumentos passaram pela alfândega sem problemas. Comecei a entender o milagre dos adesivos com marca e número de série.

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Arnaldo e a Diretora do teatro em Brooklyn, Candy

Nasce daí uma sólida amizade com Scott Johnson que perdura até hoje, e para reforçar os laços de amizade que tinha com Arnaldo, o qual prezo muito e com quem continuo tendo contatos esparsos. Tudo graças a essa tremenda coincidência.

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"Olha o Lineu Vitale na foto, pilotando um tratorzinho! Cena rara e divertida." (DADO NUNES)

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Momentos de descontração longe dos ensaios e shows

"Liminha passa um final de semana na chácara e vinícola do amigo Chico, entre degustações, caminhadas e aprontadas. Chico, que vivia com o grupo e cujo pai era dono desta chácara produtora de vinho, tornou-se mais tarde um excelente médico geriatra."

No sítio em Eleutério, bairro rural do município de Itapira, interior do estado de São Paulo, Lineu Vitale, Liminha e Leila Lisboa costumavam ir com frequência. Na época em que o tecladista Manito fazia parte do grupo, eles até preparavam café por lá.

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"Antes do Scaladácida, Barto fazia parte de uma banda chamada Mescla.

– O que você sabe sobre Bartô? Ele era realmente considerado o maior tecladista da cena? E essa história dele colocar ácido até nos olhos, é real?

Dado Nunes –  Leila Lisboa disse que Bartô era o maior tecladista da cena. No livro Divina Comédia, ele é mencionado como o cara que colocava os papéis de ácido até nos olhos. Achei que fosse exagero, mas Leila Lisboa já o viu fazer isso em gotas.

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 – O que você sabe sobre a banda Scaladácida?

Dado Nunes – Azael, Ritchie, Kaffa e Fábio Gasparini só tenho as fotos deles. Além disso, tem o Bartô, que também participou.

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Arnaldo, Suely e Rita em uma fazenda de amigos em Eleutério, Itapira-SP

FOTO: LINEU

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A banda Scorpions ao lado dos Mutantes, com a formação de 1973: Liminha, Sérgio Dias, Manito e Dinho Leme.

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Registro feito na Fazenda dos Álvares, em Eleutério, interior de São Paulo.

Casamento de Sérgio Kafa e Leila Lisboa

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Na foto, em clima descontraído. A foto registra o casamento de Sérgio Kafa e Leila Lisboa, com Lucinha Turnbull foi a madrinha da cerimônia um momento raro e cheio de histórias.

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No alto da porta, à direita, o baterista Dinho Leme observa a cena com discrição. 

 0 DN 06FOTOLEILA LISBOA SZNELWAR

"Quem será essa menina bonita em destaque?"

 0 DN 05 FOTO:LEILA LISBOA SZNELWAR

A formação do álbum MUDANÇA DE TEMPO (1978) contou com Luiz Moreno, Cezar de Mercês, Sérgio Magrão, Sérgio Kaffa e Sérgio Hinds.

O que você sabe sobre a relação de Leila Lisboa e Sérgio Kaffa? Sua filha, Pedrita, tem lembranças carinhosas dele?

Dado Nunes – Quando Leila Lisboa e Liminha se separaram, ela começou a namorar Sérgio Kaffa, e os dois acabaram se casando. O talentoso multi-instrumentista, especialmente no contrabaixo, gravou LÓKI? com Arnaldo Baptista e também tocou com O Terço. Superamoroso, ele é lembrado com carinho por sua filha, Pedrita.

0 DN 04 FOTO: MÁRCIO LAMBAIS

 Esquerda: Oswaldo “Kokinho” Gennari (Patrulha do Espaço)

A imagem em preto e branco apresenta dois contrabaixistas emblemáticos do rock brasileiro em momentos distintos, lado a lado:

  • Instrumento: Fender Precision Bass (clássico, com corpo branco e escudo escuro, possivelmente preto).
  • Postura: Em ação, tocando com energia e concentração, o corpo levemente inclinado para frente.
  • Visual: Traja camiseta colada de manga três quartos e jeans, estilo típico do rock setentista, com botas.
  • Ambiente: Palco modesto, com amplificador ao fundo; o foco é o músico e seu som, remetendo ao espírito independente e direto da Patrulha do Espaço.

Direita: Fernando Gama (Mutantes)

  • Instrumento: Outro Fender Precision Bass, porém com corpo escuro e escudo branco – o inverso do de Kokinho.
  • Postura: Mais performática; braço aberto em gesto expressivo, como se falasse com o público ou contasse algo – um gesto teatral.
  • Visual: Camisa larga, de tecido leve e estampado, calça escura de veludo, tênis – visual mais psicodélico ou barroco, alinhado ao experimentalismo dos Mutantes.
  • Ambiente: Palco mais carregado, com caixas de som maiores ao fundo, talvez em festival ou show mais estruturado.

Análise Comparativa:

  • Estilo musical e visual: Kokinho representa o lado mais cru e direto do rock progressivo/space rock brasileiro dos anos 70, enquanto Gama traz a estética performática e inventiva dos Mutantes já em sua fase mais madura.
  • Presença de palco: Ambos possuem forte presença, mas enquanto Kokinho está totalmente imerso na execução do baixo, Gama combina música e comunicação cênica.
  • Equipamentos: Ambos usam o lendário Fender Precision Bass, mas em versões visuais diferentes, o que sugere diferentes momentos ou preferências estéticas

FOTOS: MÁRCIO LAMBAISShow da Anistia em 1978

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0 DN 21 FOTO: MÁRCIO LAMBAIS

Show da Anistia Internacional, em 1978: Luciano Alves nos teclados e Fernando Gama no baixo, acompanhando Pepeu Gomes, dos Novos Baianos

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Luciano Alves, Erasmo Carlos, Fernando Gama e Betina

0 DN 03 FOTO: MÁRCIO LAMBAIS

Betina Graziani e Fernando Gama continuam casados e vivem no Leblon

 

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