1969: IV Festival Internacional da Canção

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SETEMBRO, 1969

"Fui eu quem levou, em três dias e três noites insones, o equipamento dos Mutantes de São Paulo ao Maracanãzinho, instalou-o no palco para o ensaio, exigiu dos técnicos da Globo um único microfone de condensador (o melhor) para captar, no próprio palco, o som inteiro e equilibrado do conjunto de músicos na apresentação final, de modo que esses técnicos não pudessem desequilibrá-lo na "mixagem" (o que seria impossível com um só microfone), como ocorreria se usassem vários microfones e linhas – como aconteceu com todos os outros artistas. Depois, desmontei o equipamento, carreguei-o na Kombi, levei-a dirigindo até Santos (SP), instalei-o no palco de um clube, operei o som dos Mutantes – que lá chegaram por via mais agradável –, desinstalei-o, recarreguei-o na Kombi, voltei guiando até o Maracanãzinho, reinstalei-o no palco, posicionei e regulei para a Globo aquele microfone exigido, subi à cabine da emissora e ajustei, ensinando aos técnicos a equalização do canal único da mesa que continha o som dos Mutantes.

"Voltei ao palco, operei a mesa de som dos Mutantes ali instalada, estive sob as mesmas luzes do grupo e perante a plateia durante essa operação, desinstalei tudo após o término do festival, carreguei novamente na Kombi e fui, enfim, para casa dormir, em meio a espasmos musculares que não me permitiram descansar por horas a fio.

"Uso 'Kombi' em vez de 'perua' porque, embora não haja apenas da Volkswagen (existe, por exemplo, a da Borg & Ward), essa palavra estrangeira já sugere o modelo da "Volks". Durante esse festival, presenciei um civil sendo agredido nos bastidores por militares fardados. Nesse espetáculo, alguém disse ter cortado um dos cabos de áudio da Globo. Juro por GÉA que não fui eu – não é do meu feitio. Eu jamais faria e nunca fiz isso. Muitos anos mais tarde, meu irmão Sérgio me perguntou se eu fora o autor de tal crime e me disse que, pela suspeita, eu me tornara persona non grata – se não ingrata... – para a Rede Globo.

"Quero lembrar: fui ajudado por Leo Wolf (apenas ele) na montagem, desmontagem e transporte do equipamento dos Mutantes. Recordo também que o som da Globo, no Maracanãzinho, teve a contribuição de Adolfo Kitzinger, então proprietário da empresa Amplicord de sonorização, a qual ali trabalhou. Conheci Adolfo numa feira em São Paulo, onde o ajudei a vender seus amplificadores – valvulados! – aos vários compradores atraídos pela Guitarra de Ouro, que levei para seu estande, porque ele me convidara para sócio na empresa, dizendo que estava fabricando tais amplificadores.

"Entusiasmado, cheguei a alugar um apartamento em São José dos Campos, onde se instalava a empresa de Adolfo, antes mesmo de visitá-la. Para essa cidade, levei minha esposa de então e Oswaldino, o qual, ao chegarmos à fábrica ampla de Adolfo, estranhamente vazia, foi humilhado por ele com a verificação de dedo por suas mãos, para ver se lhe faltava algum – algo possível em marceneiros, mas inoportuno naquela hora das apresentações. A fábrica vazia não tinha os amplificadores para fornecer aos que os adquiriram de boa-fé naquela feira! E muito menos havia empregado algum: ninguém fora contratado ainda por Adolfo – segundo ele, professor de Administração de Empresas no ITA e casado com uma das Irmãs Meireles – que me desculpem, se a grafia de seu nome estiver errada!

Tive de passar um dia sozinho na fábrica de Adolfo, montando os amplificadores que pude; mas isso estava longe de atender aos pedidos que Adolfo (não eu) aceitara, em pessoa ou por intermédio de seu vendedor contratado, o qual o ajudou a exibir os equipamentos no estande. Precisei abandonar o apartamento, a “sociedade” (que não chegou a se formalizar), trazer a São Paulo minha esposa e Oswaldo, bem como fui solicitado como testemunha por aquele vendedor, num processo que ele abriu em São José dos Campos contra Adolfo, por falta de pagamento de seu serviço. Quanto ao meu, como sempre, foi grátis – afinal, era um futuro sócio...

"Felizmente, não precisei testemunhar, embora tenha comparecido ao tribunal, gentilmente conduzido e trazido de automóvel por aquele vendedor. Dessa história toda, você conclui o que quiser sobre o caso do cabo da Globo, sem esquecer Leo Wolf – mas sem preconceitos de ser ele filho de alemães, sendo o primeiro, alemão mesmo, da região da Westphalia.

"Devo contar também: naquela segunda apresentação de B. J. Thomas, onde, com o equipamento dos Mutantes, fiz o som de palco, alguém furtou um microfone de Adolfo, que cuidava do som da plateia. Nessa apresentação, além dos músicos estrangeiros e do empresário deles, esteve presente comigo no palco o mesmo Leo Wolf, que me ajudou na montagem e desmontagem do sistema dos Mutantes, alugado para o artista norte-americano, como já relatei noutra mensagem.

"Tenho fotos de Leo Wolf nos álbuns que o convidei – e reconvido – a contemplar, Mário, visitando-me. A última notícia que tenho desse eficiente colaborador, que transportava elefantes sem meu conhecimento até sob o botão da buzina da Kombi, no volante, é de que se tornou pescador de camarões em certa ilha do litoral paulista.

"Sobre esse festival, resta ainda informar que tenho o crachá, onde apareço como... guitarrista! E que, além da mácula daquela suspeita, o único pagamento que recebi por mais esse trabalho hercúleo foi a mancha roxa no calcanhar direito, que muito se inchou quando o torci, ao pisar num recorte de fibra de vidro, o qual cedeu com o meu peso e que, com muitos outros, formava uma rosácea multicolor iluminada por baixo, no piso do palco.

"Seria eu Héracles; a rosácea, a Hidra; e o recorte, Câncer, o Caranguejo? E quem seria Hera? Felizmente, sou protegido por deusa assaz mais poderosa do que aquela, e até mesmo do que Palas Atena, chamada Ky! Isso não me impede de também amar Afrodite..."

(CLÁUDIO CÉSAR DIAS BAPTISTA — CCDB)

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