Márcia Tauil, Vânia Bastos e Ronaldo Rayol – a pureza da música em casa (2025)
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Fotos de Marizan Fontinele
9 de agosto de 2025
A experiência do show intimista Carlos Jansen Recebe Vânia Bastos, Márcia Tauil e Ronaldo Rayol foi, para mim, de um conforto raro. Fomos acolhidos com a mesma atenção e carinho dedicados aos artistas. Carlos e Josi Jansen, junto com sua casa repleta de charme, exalam simpatia. Logo após a nossa chegada, já estávamos acomodados à mesa, diante de pratos cheios de delícias. Mais do que saciar a fome, aquele momento aqueceu o coração.
Bem, algo que precisa ser levado em alta consideração é que o show Carlos Jansen Recebe Vânia Bastos, Márcia Tauil e Ronaldo Rayol foi, na verdade, uma releitura do mesmo espetáculo apresentado na casa Fino da Bossa, em São Paulo. A diferença aqui é que eles estavam em casa, cercados por fãs de longa data aqueles que os acompanham tanto em São Paulo quanto no Rio –, além de admiradores em início de carreira artística como intérpretes. A maior parte da plateia era composta por pessoas ligadas às artes e por fãs que adquiriram os vinis e CDs lançados por Vânia Bastos no começo dos anos 90.
Na noite de ontem, o público foi presenteado com um show acústico intimista e cheio de emoção, reunindo três grandes artistas da música brasileira: as cantoras Márcia Tauil e Vânia Bastos, acompanhadas pelo mestre do violão Ronaldo Rayol. O repertório, cuidadosamente escolhido, passeou por clássicos da MPB, sambas envolventes e canções eternas, criando uma atmosfera de delicadeza e afeto. Foram interpretações personalíssimas e arranjos sem igual, que tocaram à flor da pele e do ouvido. Foram ouvidas pérolas como Resposta ao Tempo, Até Quem Sabe, Sambou, Sambou, Meu Amor Ideal, Dindi, Trem das Cores, entre outras, cada uma recebida com participação calorosa e olhares de verdadeira emoção, conjugados entre o palco (cenário de Josy) e a plateia – muito mais próximos do que se estivéssemos no Fino da Bossa.
Márcia Tauil e Ronaldo Rayol mostraram “Paralelas”, de Belchior, em ritmo de bossa nova, além de outra composição do cantor cearense, também em bossa nova. Presenciávamos uma experiência verdadeiramente nova. Vânia Bastos, rainha coroada e legitimada, entrou com carisma e nos deu a profunda alegria de reouvir, em sua forma mais pura, “Dona Canô” (Daniela Mercury). Uma canção de Caetano Veloso interpretada foi “Trem das Cores”. Cantaram ainda “Lua de Mel”, de Carlos Jansen, e mais uma composição sua, na qual se fizeram protagonistas.
Deu para perceber que Ronaldo Rayol é grande admirador do refinamento harmônico e melódico de Tom Jobim. Para o leigo, o violinista parecia livre para improvisar nas texturas, sem errar nota alguma.
Aplaudidos de pé, o notável trio encerrou com “É com Esse Que Eu Vou” e “No Miudinho”, uma mistura dos talentos de João Donato e dos grandes compositores da música brasileira. Sem esquecer o momento marcante em que Vânia Bastos e Márcia Tauil interpretaram “Paulista”. Um show e um público refinados, com o melhor do melhor. (mário pazcheco)
Meu momento de fã
Nesta foto estamos eu, Ronaldo Rayol e junto de Carlos – e do ausente Carlos Jansen, nosso anfitrião. As preferências futebolísticas estavam bem distribuídas: eu, são-paulino; Rayol, palmeirense; Carlos, corinthiano; e Jansen, botafoguense. A conversa esportiva foi equilibrada, no melhor sentido, e por isso mesmo divertida.
O violonista Ronaldo Rayol é daquele tipo de pessoa que, só de estar ao lado, já começa a espalhar pérolas sobre a música popular brasileira. Ele fala com riqueza sobre sua experiência como produtor nos tempos em que discos eram gravados em cinco fitas de rolo pesadas. Com o mesmo entusiasmo, discorre até sobre Mário Reis, cantor precursor da Bossa nova.
Como pessoa, Rayol é de convivência fácil – um dos grandes caras da música, sem extremismo nem esnobismo. Isso se sente tanto nele quanto na sua música. Além da atenção generosa que sempre me dedica, ele costuma oferecer para mim a canção O Rouxinol, de Gilberto Gil, um tributo àqueles dias difíceis em que a música ainda conseguia falar mais alto.