Ligação Direta: 30 anos de óleo e cerveja
(Mário Pacheco)

O toque do blues direto do útero do dragão, cordas marcando as pontas dos dedos, caminhos abertos floreios e meneios e ‘solitude’.

Geralmente, discos brasileiros de blues rock seguem um padrão, oscilam entre o blues glitter, aquele com toques de hammond vocais claramente guturais e arranques zeppelianos,  e reflexões absurdas sobre o existencialismo como se ainda vivêssemos nos anos 70, numa outra ponta, bandas  profissionais e impecáveis porém sem alma e, guitarristas com o rei na barriga se perdendo a cada disco. Cenário aterrador,  sou exigente? O que você espera de um show de mágica? Que no mínimo o truque lhe intrigue.

Evolução

6 jun. / 2009 - O Ligação Direta está completando 30 anos de estrada tocando em todos os eventos na estrada.      Finalmente, eles conseguem reproduzir no estúdio, a performance incendiária de suas apresentações ao vivo, é necessária absoluta calma e segurança para mandar tudo pro inferno.
Neste segundo CD “De volta às estradas” a ideia não é contestar o sistema; é uma celebração de excessos com muitos acertos e erros, a vida valeu, eles são sobreviventes e fazem um inventário do que realizaram.
O blues nunca perde a atualidade mesmo remotamente  sempre há aquele posto de gasolina e aquele bar americano com as ‘belas’ dançando na barra.
A faixa-título,  De volta às estradas já abre com um riff de baião e o trabalho ‘correndinho’ de guitarra redonda. O verso, “Eu sinto a vida no meu rosto” é a cara do Keith Richards, pense nos nossos vincos e a trilogia: estrada guitarra garota – a garota ora sinuosa, ora estridente.

Hinos
Estradeiro é o primeiro hino “Eu sou como as águias – minha moto devora a estrada – Eu sou estradeiro, estradeiro”, se os músicos de heavy-metal pegaram a energia do roquenrou e a vitaminaram, os três músicos do Ligação Direta fazem o inverso, emprestam a energia heavy sem deixar o corpo marombado. A sacada é a guitarra resolvendo tudo, lógico que com cerveja gelada e uma variedade impressionante de timbres.
O duro diário da estrada,  Rabo duro “é assim que eu vou vazando óleo, apertando o parafuso”;    vai mapeando as circunstâncias necessárias para fazer o autêntico  roquenrou e ótimas intervenções e um wha-wha.
Na malha sonora do Ligação Direta eu me lembro dos barbudos do ZZ Top, dos discos clássicos do Ten Years After, dos músicos argentinos de blues, do sabor irlandês do blues. A parada pode ser feita em cima do Creedence Clearwater Revival  mas quem decide o formato pode ser um toque de Gary Moore ou texano.
Tio Leo e sua velha guitarra Gibson   e sua voz  fazendo refrões que ouvimos a vida toda, Marquinhos explora todos os graves e a condução impecável da bateria de Luiz Coelho. Esse intercâmbio da estrada e da sala de aula e a adição de músicos de nível fazendo participações na guitarra, violino e saxofone ajudaram “De volta às estradas” soar como se fosse gravado numa oficina com uma mecânica de fórmula 1 – tudo vintage e a parede forrada de deliciosas pin-ups.
É preferível um disco sujo liricamente caótico e egocêntrico e com alma e história ao contrário de muitos que parecem falsificados. Podem beber Ligação Direta bate direto no estômago.

Curti especialmente o rockão Homem alinhado um improvável cruzamento de guitarra stoniana com vocal de Roger Daltrey e a guitarra rompendo todos giros e a letra in (moderna)

CD gentilmente cedido pela Berlin Discos (61) 32263106
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