VIOLETA DE OUTONO: FIEL À PSICODELIA E AO PROGRESSIVO (2009)

VIOLETA

Entrevista: “Violeta de Outono: Mantendo-se fiel à psicodelia e ao progressivo”

publicado em
26/06/2009

Por Eduardo Guimarães

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Foto: Divulgação
vio
Não é novidade que a década de 80 foi muito importante para a música brasileira, principalmente porque dali saíram as maiores bandas do cenário rock e pop nacional. A lista é grande: Titãs, Legião Urbana, RPM, Paralamas, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, IRA!, e muitos outros. Mas quantas daquelas bandas conseguiram se manter na ativa através dos anos e - principalmente - sem perder sua essência?

Uma das poucas bandas que conseguiram passar pelas modas sem deixar se contaminar foi o Violeta de Outono. Mesmo tendo passado por mudanças na formação e ter ficado por um período inativo, o grupo mantém sua sonoridade clássica, baseada principalmente em artistas do final da década de 60 e início de 70.

Fabio Golfetti ( voz, guitarra), Fernando Cardoso (teclado), Gabriel Costa (baixo) e Cláudio Souza ( bateria) atenderam ao Território da Música antes de uma apresentação realizada no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista, para a entrevista que você confere a seguir.

O álbum mais recente de vocês, o “Volume 7”, foi gravado ao vivo no estúdio, todo mundo tocando junto. Levando em consideração que o som do Violeta é cheio de nuances, detalhes, por que vocês decidiram fazer o álbum assim, nesse esquema de gravação?

Fabio Golfetti: A idéia de fazer isso foi retomar o que tínhamos feito no início da banda, que foi feito assim também. Quando o Violeta começou, de 1984 pra 1985, a gente ensaiou durante um ano até fazer o primeiro show. Então quando fomos para o estúdio, a gente tocou o que já tínhamos ensaiado, o que estávamos fazendo ao vivo.

Isso para uma banda de rock acho que funciona muito melhor porque... assim, você pode produzir um disco, gravar em partes, refaz uma coisa e outra, mas aí é uma coisa que vai para o lado do produto da música pop. No nosso caso, que é uma banda de rock, a gente gosta da idéia que as coisas podem ter ocorrências mais aleatórias no estúdio, improvisações ou mesmo coisas que não saem em uma execução e saem em outra.

Então a gente acha que é importante para o tipo de música que fazemos, que é uma coisa mais orgânica. Essa foi a idéia de retomar o esquema de gravar em estúdio ao vivo. Não é gravar ao vivo como se fosse em um show, mas é a banda ao vivo se olhando, fazendo as passagens juntos, com erros e acertos. Porque se você vai fazer uma música de dez minutos, às vezes você erra uma ou outra coisa, mas fica legal dentro do contexto.

Essa foi a idéia. O que tem acontecido é que os estúdios têm diminuído pra esse tipo de coisa. A maioria dos estúdios começou a ficar mais focado na área técnica do que na sala de gravação propriamente. Por isso fomos pro estúdio Mosh que é um dos poucos estúdios em São Paulo que ainda se permite fazer isso.

O “Volume 7” traz algumas músicas com uma sonoridade muito parecida com bandas dos anos 70. Isso foi proposital, a busca dessa sonoridade, ou aconteceu normalmente?

Fabio: Com essa idéia de tocar ao vivo e fazer um som com timbres clássicos, isso a gente foi buscar com a guitarra com distorção, e quando o Fernando pegou o Hammond, piano elétrico e piano acústico, já formou uma sonoridade característica que está no rock desde os anos 60.

Na verdade não sei se é uma sonoridade anos 70, talvez por algumas composições que tenham passagens mais progressivas, mas é um som mais ‘pré-progressivo’. Uma coisa da passagem dos 60 para os 70. Onde esses eram os instrumentos que a maioria das bandas de rock, jazz e blues usavam.

Acho que por isso tem essa sensação. E nos discos anteriores do Violeta não tinha teclado, então essa sonoridade fica bem diferente mesmo.

Como foi isso, quando vocês começaram a usar teclados? Quando o Fábio Ribeiro fez umas participações?

Fabio: Isso foi em 1995. Já era uma época que estávamos procurando achar um novo caminho para esse lado, não sei se progressivo é bem a palavra, mas usar o teclado para poder dar maior liberdade nos arranjos da banda. Por que o trio é uma coisa frágil em alguns aspectos.

E por falar em teclado já faz quatro anos que você está na banda, é isso, Fernando?

Fernando Cardoso: Vai fazer quatro anos agora em 2009.

Como foi pra você trabalhar as músicas antigas, que originalmente não tinham teclados e trazer seu ‘background’ musical para as composições do “Volume 7” e nas músicas novas que vocês estão trabalhando?

Fernando: Para o “Volume 7” foi bem mais fácil porque estávamos compondo juntos, estávamos encontrando a sonoridade desse quarteto, com a minha entrada e a do Gabriel (Costa, baixista), que também tem idéias mais jazzísticas e progressivas. Então a gente conseguiu fazer o casamento dessas coisas e resultou na nossa colaboração no “Volume 7”.

Já para os outros trabalhos do Violeta, é algo bem mais complexo que a gente espera finalmente alcançar uma maturidade em breve. Estamos fazendo arranjos com todo o cuidado para que a sonoridade do órgão não eclipse a sonoridade original da banda. Que complemente, mas que não tape o som.

O primeiro show que eu vi do Violeta foi em uma balada gótica em Paranapiacaba, em Santo André. A banda ficou um tempo inativa e aí você resolveu voltar. Na época acho que foram uns três eventos desse tipo com shows do Violeta de Outono. Para uma banda considerada de rock progressivo brasileiro, como foi tocar nesses eventos góticos?

Fabio: O que aconteceu foi que naquela época eu remontei a banda porque tinha saído o disco “Mulher na Montanha”. Paralelamente começou a surgir esses eventos góticos e acho que o Violeta era a única banda dos anos 80 que tinha sobrevivido até aqui. A gente fazia um som psicodélico nos anos 80, mas não era um psicodélico muito ‘alegre’. Era um psicodélico que misturava...

Gabriel Costa: ... misturava com as tendências da época, Echo & the Bunnymen, Joy Division, então costumo dizer que o Violeta conseguiu a façanha de angariar fãs de sons dos anos 80, dark, gótico, pós-punk, e do pessoal fã de progressivo psicodélico que enxergavam coisas que talvez o público gótico não enxergava, que tinha um Syd Barrett ali por trás. Para eles era uma banda gótica, para outros era totalmente psicodélico. É uma façanha você conseguir reunir fãs de características diferentes no mesmo show, cada um enxergando uma faceta da banda.

Fabio: O que eu acho que foi legal nesses eventos góticos é que a gente podia tocar, e tocava música psicodélica, podia estar vestido de preto e tudo bem (risos). O Gabriel está gótico olha lá... [aponta para o baixista, todo vestido de preto] (risos).

Isso é legal o que o Gabriel falou porque nós nunca nos preocupamos muito com isso. Pode ser psicodélico, progressivo, gótico, anos 80, pós-punk, jazz... sei lá, na verdade a gente faz rock. É que as pessoas têm que rotular de alguma forma para poderem se identificar com o som. Mas graças a esse pessoal o Violeta voltou a aparecer, a existir. Foi uma coisa que deu força para a banda.

Já faz quatro anos que o Violeta está com essa formação. Vocês já têm material novo? O que vem no próximo disco?

Fabio: A última música do disco [“Volume 7”], se chama “Fronteira”, que é o que estamos pensando em fazer no disco novo. Com o “Volume 7” conseguimos achar uma sonoridade pro Violeta que está funcionando bem, está todo mundo satisfeito. Uma banda precisa ter isso, todo mundo curtindo o som, todo mundo na mesma sintonia do que quer fazer. Então para o próximo disco vamos continuar o que fizemos no “Volume 7”, certamente. Já temos algumas faixas compostas nessa linha.

Quantas músicas já estão prontas?

Fabio: Temos cinco músicas, sendo que uma delas é uma espécie de suíte com várias partes. Essa música é a base deste novo trabalho.

E para quando é a previsão de vocês voltarem ao estúdio e registrar essas novas composições?

Fabio: Possivelmente ainda este ano para lançamento em 2010. O “Volume 7” ainda está sendo divulgado e agora em junho temos mais um lançamento, um DVD tributo ao Syd Barrett que está saindo na Inglaterra. Neste segundo semestre pretendemos tocar este tributo que foi gravado em 2006.

Pretendem gravar o novo álbum no mesmo esquema que o “Volume 7”, ao vivo no estúdio?

Fabio:
A idéia de gravar ao vivo com certeza vai funcionar mais um vez, funcionou no primeiro disco e também no último. Não tenho dúvidas que é a melhor maneira de registrar uma banda de rock. Talvez desta vez optemos por um estúdio menor, mas ainda não decidimos.

E o lançamento, tem ideia para quando será?

Fabio: Acho que uma boa data será maio ou junho de 2010.

O rock progressivo (psicodélico ou similares) parece que nunca conseguiu atrair muitos fãs no Brasil, se comparado a outros estilos como Heavy Rock, Hard, Metal, Punk, etc. Na sua opinião, por que acontece isso?

Fabio: Talvez o fato da psicodelia e do progressivo terem surgidos no final dos anos 60/70 numa época de contracultura, o que dificilmente era divulgado no Brasil e mesmo no exterior. Já os movimentos que você citou fazem parte de uma época onde as grandes gravadoras estavam a todo vapor, divulgando e fazendo muito dinheiro. Havia um interesse muito grande.

Você ouve bandas de progressivo nacionais? Indicaria alguma para os fãs do Violeta?

Fabio: Claro, nos anos 70 eu assisti vários shows que me marcaram, como por exemplo o show de lançamento do álbum “Criaturas da Noite”, do Terço, no Teatro Bandeirantes, ou os Mutantes na fase “Tudo Foi Feito Pelo Sol”, o Som Nosso de Cada Dia com “Snegs”, entre várias outras bandas.

Pessoal e isso aí. Muito obrigado pela entrevista e deixe um recado aos fãs do Violeta de Outono.

Fabio:
Gostaria de agradecer mais uma vez pela oportunidade de estar no Território da Música que, junto com nossos fãs, nos motiva a continuar trilhando esse nosso tortuoso caminho musical. Abraços a todos!
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