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Confira seção perfil com Arnaldo Baptista

Responsável por revoluções e quebras de paradigmas na música brasileira, Arnaldo Baptista deixa traumas e mágoas no passado, ressurge com uma emocionante cinebiografia e, após ver a morte de perto, quer ser eterno

Bruno Mateus - Ragga
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Bruno Senna
Arnaldo Dias Baptista é, seguramente, um dos artistas mais criativos da história deste país tropical, embora não se dê por aqui o devido valor.

Nascido nos anos pós-guerra, em julho de 1948, deu início ao sonho musical em 1962, com o grupo ‘The Thunders’. Em 1967, Arnaldo, com Rita Lee e o irmão Sérgio Dias, surge com os Mutantes, banda que trouxe a psicodelia e o humor escrachado para a terra do samba e da bossa nova.

Depois de brigas, divergências musicais e muitas pirações de LSD, Arnaldo deixa a banda em 1973. No ano anterior, o casamento com Rita Lee acaba, causando traumas em sua vida. Em 1974, lança ‘Loki?’, primeiro álbum solo, considerado por muitos sua obra-prima.

Os anos seguintes foram difíceis para o fundador e cabeça dos Mutantes. Internações em clínicas psiquiátricas e problemas pessoais rondavam os dias de Arnaldo.

Tudo parecia apenas uma grande viagem quando, em 1982, na noite de réeveillon, Arnaldo se jogou do quarto andar de um hospital psiquiátrico. Uma séria fratura no crânio que deixaria sequelas foi o saldo. Depois de dois meses em coma, acorda e lá estava Lucinha Barbosa – eles se conheceram em 1973. Sua mulher e anjo da guarda até hoje, foi ela quem o ajudou a renascer depois de anos de melancolia, angústias e feridas internas.

Arnaldo parece carregar nos ombros a tênue margem entre loucura e genialidade. Os altos e baixos em sua vida não conseguiram tirar o lado lúdico de seu mundo.

Há 24 anos o casal vive em um sítio em Juiz de Fora. De lá pra cá, Arnaldo, incompreendido e martirizado tal qual um Syd Barret ou um Arthur Rimbaud tupiniquim, vem exorcizando seus medos e fantasmas através da arte. Arte que se transformou em função e sentido de vida, assim como o fascínio por amplificadores valvulados e instrumentos Gibson.

Na noite anterior ao nosso encontro, liguei para Lucinha para confirmar o horário da entrevista, acertar os últimos detalhes. No dia seguinte, naquela tarde nublada de céu de cimento, Arnaldo e Lucinha me receberam no apartamento em Belo Horizonte.

“Aceita café?”, pergunta Lucinha. No sofá, ao meu lado, um Arnaldo sereno e brincalhão. Após o primeiro gole e o rec no gravador, pude confirmar o que muitos ainda não sabem: Arnaldo Baptista está mais vivo (e genial) do que nunca.

Sean Lennon, filho de John, diz que você tem alma de criança. Como foi sua infância?

O papai era secretário particular do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Então, tinha carro, chofer, mas ele mesmo não sabia guiar. Aconteciam coisas incríveis. A mamãe deu um concerto para piano e orquestra em Viena, ela foi a primeira pessoa que compôs um concerto para piano e orquestra no mundo. O papai também escreveu quatro livros, embora ele tenha estudado até o quarto ano primário. Era uma infância de altos e baixos, mas ia levando a vida, estudei. Foi gostoso.

E a música sempre presente na sua casa.

Foi uma coisa interessante. Com uma mãe que toca o dia inteirinho, a gente passa a ter uma cultura um pouco diferente. A gente tinha uma conexão com o lado artístico importante.

O que significa e o que mudou na sua vida ter sido um dos fundadores dos Mutantes?

Foi, como eu acabei de dizer, uma vida de altos e baixos. Trabalhava de vigia da companhia telefônica e tinha uma vida de labuta diária até que, de repente, apareceu um conjunto que começou a dar mais dinheiro do que eu ganhava no trabalho. Então, abandonei o trabalho e entrei nos Mutantes. Para mim, foi uma maravilha, porque colocou o meu sonho em execução.

Como foi voltar a tocar com os Mutantes 33 anos depois da sua saída?

Às vezes penso que as pessoas mudam com o tempo, tipo o Sérgio [Dias], meu irmão mais novo. Eu tinha esperança, então fui lá, fiz show no mundo inteiro, Estados Unidos, Europa, mas sempre, o Sérgio, que é o da guitarra, faz complicado demais. Ele escolhe as guitarras que eu menos gosto, nunca uma Gibson igual a do Jimmy Page, por exemplo. Nesse sentido, o show foi meio frustrante. Pensei que ele iria mudar. Os amplificadores eram sempre digitais. Foi meio supérfluo para mim, mas passou. Estou com esperança de agora em diante fazer diferente.

De onde vem esse fascínio por instrumentos Gibson e amplificadores valvulados?

Desde a época em que entrava nos festivais com os Mutantes. Colocava o contrabaixo, porque usava o instrumento CCDB do meu irmão, e nunca tinha saída, não tinha volume Ligava um instrumento Fender ou um CCDB, punha volume e saía “péémm” [imita o volume baixinho]. Se puser um Gibson, o volume sai “PÉÉMM” [imita bem mais forte], então, nos festivais com [Gilberto] Gil, Mutantes, eu também punha o volume no máximo e nunca dava volume. Até que agora tenho Gibson e vejo que se tivesse Gibson na época dos Mutantes, ficaria muito melhor. E é por isso que faço esse inferno nesse sentido de Gibson.

Vocês tinham noção da revolução que estavam fazendo?

Nunca consegui ter consciência do grau de importância que os Mutantes possuem. A gente fazia festival e todo mundo gritava “bicha, bicha” [risos]. O público não gostava de botar guitarra na música. Aí a gente colocou contrabaixo, que é aquele som aterrador que move montanhas. Antigamente era muito bossa nova, jazz, não que eu seja contrário ao contrabaixo de pau, mas é bom isso, a gente colocou o contrabaixo.

Como foi trazer a psicodelia dos rocks inglês e norte-americano para a música brasileira, especialmente numa época em que não se usava guitarra elétrica?

Eu sentia uma disparidade, uma diferença muito grande entre o que se fazia na bossa nova e MPB e a gente, que estava curtindo conjuntos do exterior. A gente se sentia, muitas vezes, ilhado. A filosofia deles ia num sentido de política, poderes, polícia, rebeldia, França, e a gente ficava em um lado onde a rebeldia ia para ‘The mamas and the papas’, então a gente dividia a rebeldia deles com a nossa, que também existia.

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Numa entrevista você disse que tem um lado circense muito forte, de fazer palhaçada. Como é isso?

Às vezes penso comigo: “Não sou um palhaço!” [risos]. Mas depois vejo as crianças... Adoro crianças, animais. Sinto-me muito bem na presença delas, elas têm um lado mais direto do sentimento e gosto disso. Num sentido de dar graça à vida, acho que é importante, senão a gente fica com pena de si próprio, fica muito triste. Prefiro ser engraçado.

A loucura está bem presente na sua obra.

Ah, de uma certa forma, obrigado.

É um assunto que te inspira?

Tem a ver com, talvez, um lado de, por exemplo, Raul Seixas. É uma pessoa marcante tal qual Elvis Presley. O Elton John, por exemplo, se internou porque queria saber quem lavava as cuecas dele e chegava ao ponto de tocar até sangrar os dedos. Então, num sentido comparativo, eu penso que o Elton John podia botar um amplificador mais forte, o Raul Seixas podia enveredar para um lado mais de explicação psicodélica ou divina, num sentido de se aprofundar mais no som, no sentido de teoria e prazer, que é uma redundância da perfeição.

Você concorda com Caetano Veloso que diz que de perto ninguém é normal?

Puxa, bonito isso. Concordo. Não sabia dessa poesia dele. Ele é uma pessoa tão profunda que às vezes o coloco em paralelo a Bob Dylan.

Como você vê o cenário atual da música no Brasil e no mundo?

Uma fase de renovação, sem que possua uma consciência total de onde renovar, senão a pessoa se perde, tipo Michael Jackson, essas coisas, que ficam estudando uma coisa quando poderiam ter sido outra.

Você comentou sobre psicodelia e toda essa onda. De que maneira o psicodelismo e a droga lisérgica influenciaram o seu trabalho?

Dou graças a Deus por ter conseguido fazer uma coisa aqui no Brasil que fosse psicodélica. Aqui eles acatam o lado proibitivo, mas de uma certa forma, triste, como se fosse uma espécie de máfia. Com todos os altos e baixos da minha vida, vou tentando fazer o melhor que posso.

Você acha realmente que o ácido abre as portas da percepção?

Como falei, depende muito. O cérebro é a coisa mais difícil que existe em todo o universo, então não chego a dizer que ele [o ácido] seja para todos um fator sine qua non de inspiração. É uma coisa que depende da pessoa em si e o que isso vai influenciar.

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Vamos falar do ‘Loki’. O documentário está participando de vários festivais no mundo todo e ganhando prêmios. Tem algo de surpresa nisso ou você já esperava essa repercussão?

Eu não tinha a menor ideia de que isso ia dar certo. Na hora que começaram o filme, pensei: “Eles estão apostando em mim, vou apostar neles com toda força que tiver”. Mas fui numa de “voo cego”. Não tinha a menor ideia do resultado [risos]. Está sendo uma coisa maravilhosa. Alcanço a ousadia de falar o seguinte: “Se falo muito em amplificador valvulado, uns 95% das pessoas não têm isso em casa. Lá nos States tem uma fábrica que se chama Audio Research, em português quer dizer “pesquisa de áudio”, que fabrica amplificadores valvulados, 0 km, com parafuso de ouro para não dar mau contato. Então, talvez, eu me aventure a dizer: “Por que no Brasil uma fábrica, pode ser Gradiente ou o que for, não fabrica um amplificador valvulado para a pessoa poder ouvir a respeito do que falo?” Esse filme me deixou com ousadia suficiente para falar.

A Rita Lee se recusou a participar do ‘Loki’. Ela disse que é um assunto sobre o qual não gostaria de falar. Isso te magoou?

Não, ficou muito mais fácil para mim, porque ela envolve tanta coisa que eu não entendo, tipo a pilha em bruxaria, falsidade, verdade. Foi muito bom poder falar do jeito que eu quero, independente de observações que podem ser mal- entendidas.

Ano passado foi lançado o ‘Rebelde entre os rebeldes’, livro que você escreveu há 20 anos. A obra conta a história de um casal que foge da Terra e vaga pelo espaço em busca de paz. Há um “q” de autobiográfico nisso?

É uma coisa muito boa para falar a respeito. Às vezes, numa pintura, eu faço um quadro e alguém acha que parece comigo e na literatura acontece muitas vezes de eu falar a respeito de uma pessoa que seria um deus, uma pessoa que tinha entidade, possibilidade e conhecimento suficientes para fazer coisas que eu dedicava. Pode ser que se pareça comigo o lado dos personagens e da estória. Espero que a pessoa leia para poder fazer uma comparação sem julgamento meu.

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Onde acha que é possível encontrar a paz?

No sentido em que a consciência atinge o lado químico, então os órgãos sensoriais são todos envolvidos por química e eletrônica que comandam os neurônios. Existir uma comunicação total entre os nervos e a tecnologia seria a perfeição. Não que eu tenha isso tudo hoje em dia, tento entender o meu equipamento total, mas a gente vai fazendo o possível. Isso é interessante e é um tipo de vida que gosto de levar, de experimentar motivação, poesia, literatura, artes plásticas, musicais...

Você é mesmo um rebelde entre os rebeldes?

Quando escrevi isso, estava morando em uma cidade do interior de São Paulo, Ibirá, a uns 400 quilômetros da capital. E lá, no meio de todo aquele mundo de gente, me senti identificado com eles numa parte de levar a vida, curtir a natureza. Senti que eles eram rebeldes, mas eu era rebelde entre eles, com amplificadores, psicodelismo, alimentação, então era rebelde entre os rebeldes. Isso que me deu inspiração para o nome do livro.

O Kurt Cobain gostava de Mutantes e quando veio ao Brasil, em 1993, quis conhecê-lo e até chegou a escrever uma carta para você. O Sean Lennon te admira muito, assim como Beck e o pessoal do Radiohead. Você se considera uma lenda, ícone, mito?

É bom a gente falar uma coisa que às vezes comentam aqui em casa: “Sou o único ícone pobre” [risos]. Acho que, às vezes, não é bom ser famoso sem ter dinheiro, né? Money, como os Beatles falam na música. Eles falam que ele [o dinheiro] não pode comprar tudo, mas o que ele compra eu quero. [risos]

Como é o seu dia a dia?

É interessante falar. Um pintor, por exemplo, pode parar por três meses e começar igualzinho, mas um pianista não, senão ele perde a técnica, tem que ter uma musculatura, como um tenista, um corredor que precisa manter uma técnica. Estudo com a técnica anatômica que a minha mãe, que era pianista, me explicava. Estudo teclado, guitarra, violão. Faço alguns exercícios físicos, faço cooper diário. A gente fica vendo a arte de uma maneira em que pode ir a exposições, shows, e fazer comparações entre o nosso trabalho e o dos outros.

Sei que você acorda às 3h da manhã para pintar, compor...

Isso é antigo em mim, não sei se sou parente de morcego ou de coruja, mas desde criança acordo cedo. Antigamente era mais monótono, porque ficava esperando o despertador na hora de ir para escola. Hoje é melhor, porque posso pintar, escrever, então é nisso que me apoio. Sempre fui de acordar de madrugada, sinto-me bem nessa hora do dia, porque acho que o índice de comunicação impera nessa hora, não tem tanta balbúrdia, trânsito.

A repercussão do documentário alterou sua rotina?

Alterou no sentido de eu possuir uma visão mais grande angular do meu ser Arnaldo. Eu que era um contra-baixista de um conjunto de esquina, passo a ser uma pessoa que está no cinema em Nova York. Lembro que uma vez estava passeando em Nova York, fui a um dos teatros da Broadway e vi as fotos das pessoas que já haviam estado lá e pensei: “Será que algum dia eu alcanço essa coisa maravilhosa?”. É uma coisa bonita me colocar entre os grandes. Vai saber até onde eu posso.

Como é essa enxurrada de arte na sua vida? Música, artes plásticas, literatura... Há uma interseção de um Arnaldo entre essas três facetas?

No lado de música, tenho a impressão de que sou um pouco diferente do resto, eu toco todos os instrumentos. Então não posso, por exemplo, deixar de tocar guitarra e pensar o que faria na bateria naquele momento e dar uma ênfase àquela parte. Já nas artes plásticas, tenho a impressão de que sou um pouco, pode-se dizer, comum. Uso as mesmas coisas que Salvador Dalí usou, que Rafael, Leonardo da Vinci usavam, então sou um pouco mais comparável a todos. Tudo é possível em função do quanto você tem fé e autocontrole.

No começo dos anos 1980, você teve um período de depressão. Teve a tentativa de suicídio no hospital, problemas financeiros e com drogas...

Isso foi um lado da minha vida no qual eu fui botado de lado pela Rita Lee, então trouxe as consequências que muita gente pensa e é difícil explicar. Cada pessoa fala uma coisa. Boatos correm por aí, mas o principal é que eu estou tentando compor uma coisa que é comum a todos, que é uma música gostosa, com um senão que seja peculiar a mim. É nisso que eu vou botar o melhor que consigo fazer.

Qual foi o papel da arte nesse momento?

Foi tão importante. Por exemplo, conheci o Sean Lennon e fiquei com um certo empecilho de entrar em contato com ele, comunicar-me, até o momento em que peguei o violão, parece que, de repente, abriu tudo. Então, para mim, a música, neste sentido de recuperação, foi uma bengala, uma coisa que me auxiliava bastante na comunicação.

Nesse período tão complicado você pensou em jogar tudo para o alto?

Isso são coisas que acontecem várias vezes na vida da gente, mas nunca cheguei a levar isso seriamente. Acho que a gente deve levar em conta a resistência que a gente possui no cérebro, tanto no fator de composição como de inércia, movimentos.

Você tem medo da morte?

Tenho uma expectativa de viver eternamente, porque existe uma coisa localizada em San Francisco que se chama criogenização. O Timothy Leary parece que fez. Estou com uma esperança vaga de entrar nessa. Não tem nada patente, mas estou me correspondendo com eles. Existem pessoas que acordaram da criogenização.

A arte te ajuda a transcender, visitar outros mundos?

Completamente. Tenho agora em casa um alto-falante que chega na área subsônica. É interessante ver como a humanidade pode pensar a respeito de uma coisa tão reles para a maioria, mas fazer um falante que tem a bobina móvel, que é aquela parte que faz a eletricidade virar movimento cinético, acho que é daí que vem a palavra cinema, né? Mas esse alto-falante chega nessa parte e usa o material, a liga de metal, que a NASA usava para cobrir Apollo, resistente a todos os calores. É maravilhoso a gente entrar em contato com esse grau de evolução da humanidade.

Você acredita em disco voador?

Já vi um. Lembro que a mamãe viu há uns 30 ou 40 anos e não consegui acreditar. Ela falou que estava na Marginal do Tietê, viu um disco voador e ele desapareceu. Não entendi, né? Até que eu vi e é isso que me motiva a falar a respeito de campos magnéticos, de Gauss e grávitons, mas a gente tem muito que evoluir.

Você acha que o Homem está evoluindo ou regredindo?

Tenho a impressão que o ser humano tem uma vontade de queimar tudo. Piromaníaco. Em vez de combustíveis solares, que são grátis, ficam queimando, queimando e acabando com nosso oxigênio. Para isso, existe a evolução de carros elétricos. Na Austrália, há corridas de carros elétricos. Tem gente que voa de bibicleta, vi num filme na Inglaterra [risos].

Qual a sua ligação com BH, Juiz de Fora e Minas?

É a Lúcia, Maria Lúcia Barbosa, a Lucinha [a mãe de Lucinha é de Juiz de Fora]. Ela que me salvou do coma e me levou para morar em Pinheiros, bairro de São Paulo, mas lá era um lugar onde eu ligava um amplificador de 40 watts, fraquinho, e o porteiro do prédio já telefonava: “Tá muito alto”. Então fomos para Juiz de Fora, onde o irmão dela tem sítio. Belo Horizonte é perto de Juiz de Fora, então fico entre lá e aqui.

Na história da música no Brasil, você e sua obra são o marginalizados e subestimados?

Acho que são incompreendidos. Não gosto de falar isso, mas quero que uma fábrica, seja Gradiente ou CCDB, fabrique amplificadores valvulados para eu ser compreendido.

Em 1990, você fez a sua primeira exposição de desenhos e pinturas na UFMG. De que forma a pintura entrou na sua vida e qual a importância dela no seu dia a dia, na sua arte, no seu processo de criação?

Ela [a pintura] é recente. Estou usando o mesmo pincel e tinta que Rafael e Leonardo da Vinci usaram há mil anos [século XVI]. Então, fico livre no sentido de instrumentos, porque tenho pincel, tela e tintas iguais às deles. Na música é diferente. Por exemplo, aqui em BH não posso gravar bateria porque faz muito barulho. A arte plástica fica muito mais na frente neste sentido. É até interessante você perguntar a respeito, porque alguns repórteres falam para mim: “Ultimamente a sua vida não está mais direcionada para a música, só para as artes plásticas”. Me aventuro a dizer que não é tão fácil fazer música sem estar com estúdio, com tudo em cima.

O que a sua arte reflete, o que você quer mostrar com ela?

A primazia da energia pura, onde pode existir energia sem fogo. E tudo isso que eu falo a respeito de amplificadores, frequencia, máquinas e instrumentos Gibson é com um sentido de a gente achar gostoso o que está acontecendo, ser um som bom.

Depois de quase 20 anos sem lançar material inédito, você voltou com o ‘Let it Bed’, em 2004. O último havia sido lançado em 1987, que é o ‘Disco Voador’. Pode-se dizer que você superou a barreira de compor ou nesse tempo a criação foi uma constante?

É tão relativo isso, que eu posso compor uma canção apoiada na bateria, outra apoiada na guitarra. Esse lado de criatividade é uma coisa que sempre senti no fundo do coração. Tenho a impressão que é impossível você dizer se vai ser criativo. Muitas vezes, penso como consegui compor a ‘Balada do Louco’ e tento repetir, mas é impossível chegar na mesma situação que eu enfrentei naquela época. Então, a gente vai levando, assim, uma de altos e baixos. Eu tenho até uma música que vai sair no próximo LP que se chama ‘Colcha de retalhos’, que de certa forma retrata o trabalho da música.

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Arnaldo fazendo graça. Ao fundo, algumas de suas obras


Mesmo com todas as novas tecnologias, você ainda compra CDs?

Às vezes me perco em procurar coisas antigas que ninguém tem. Fico pesquisando algumas coisas que me influenciam, tipo Jethro Tull, gosto muito de ouvir. Então a gente tenta se expandir sem muita direção, sem destino, mas com 100 sentidos, não com 99 sentidos.

Qual é o seu grande sonho?

Meu sonho é um dia fazer um show que eu grave ao mesmo tempo em que estou tocando. Alcançar um grau de compreensão em que eu consiga fazer um show com amplificadores valvulados. Isso seria um sonho, mas vai passar algum tempo.

Se você fosse definir Arnaldo Baptista...

Eu me autodefinir? Seria quem pesquisa a utopia. Espero conseguir fazer todo mundo ficar feliz com o que eu faço.
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