Joelho de Porco: a banda que mudou o rock nacional... (2010)

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Prato do dia: Joelho de Porco no "Almoço com as estrelas"

Joelho de Porco: a banda que mudou o rock nacional...

(Rodolfo Braga) 

No período em que toquei — de junho de 1972 a julho de 1973 — aconteceram muitos shows e viagens para o sul do país e o interior de São Paulo. As coisas aconteciam muito rápido naquela época. Existe muita desinformação a respeito do Joelho de Porco, culpa tanto do desconhecimento quanto do próprio Carlos (Tico) Alberto Terpins.

Comecei a tocar (violão e guitarra) nos anos 60, mais precisamente em 1964. Nunca havia um baixista disponível, então eu era obrigado a usar a guitarra como baixo... Tocava em muitos conjuntos de bairro. Minha primeira dupla chamava-se The Beethovens, que logo se transformou no conjunto Trouble Makers.

Em 1966, tive um grupo — a primeira vez em que toquei com um baixo de verdade. Tocamos em um grande show em São Paulo, ao lado de luminares da época como Beatniks, Lunáticos, Deni & Dino, e até do falecido comediante Renato Corte Real, no evento chamado "Noite da Primavera no Círculo Militar".

O nome do conjunto onde toquei baixo chamava-se Os Febris, formado pelo meu então professor, o multi-instrumentista Enio (guitarra solo), eu no baixo, Daniel Haar (guitarra base) e Joaquim Cunha Bueno (bateria). Lembro que tocamos Pobre Menina, e, tomado pela timidez diante do público, coloquei um óculos caravelle, na tentativa de disfarçar o nervosismo.

O nome Os Febris foi sugerido pelo pai do guitarrista Daniel Haar, que era filho do fotógrafo Sigmund Haar, da revista Manchete. Uma curiosidade: o baterista Joaquim Cunha Bueno (primo do político Cunha Bueno) depois tornou-se fotógrafo. O guitarrista solo, Enio, foi quem me emprestou um baixo — uma cópia de um Mosrite, fabricado pela "Snake" —, além de ser meu professor e mentor entre 1966 e 1968, nos meus primórdios no jazz.

Foi a primeira vez que toquei com um baixo de verdade — e foi um sucesso! No final, dei vários autógrafos, naqueles famosos diários que as meninas carregavam na época.

Tocamos nesse grande show ao lado de Beatniks, Lunáticos, Deni & Dino e Renato Corte Real. Foi meu primeiro show profissional, ao lado de grandes nomes da época. Também toquei, em 1967, no Fase 77 (Dez anos à frente).


Curiosidade (nada é por acaso...)

Entre 1965 e 1967, minha atual esposa, Kika, teve um trio chamado Tony, Kika & Ulla, mencionado no livro dos Mutantes, Divina Comédia. Em 1966, esse trio foi acompanhado por Arnaldo Baptista (dos Mutantes) no contrabaixo acústico, em uma apresentação no auditório da Folha de S. Paulo. Curiosamente, eu estava presente nesse show e lembro que ela me chamou muito a atenção... Só viemos a nos conhecer muitos anos depois.


Em 1969, ingressei no conjunto Islander's, onde toquei até o final de 1971. Curiosamente, alguns dos integrantes — tecladista, cantor e baterista — formariam depois o Terreno Baldio, que nasceu oficialmente em 1974. Com a saída do baixista João Ascenção (ex-Trio Fush), eu entrei e fiquei até o final de 1978, quando saí junto com Mozart, que mais tarde integraria uma formação do Joelho de Porco, entre 1978 e 1979.


Na década de 70, começa efetivamente a história do Joelho de Porco. Pra você ter uma ideia da "loucura" da época: toquei, em 1972, no U.S. Mail (banda onde cantava o Percy, que anos depois integraria o Made in Brazil, e também com Duda Neves, baterista).

Toquei também no Hot Rock (em um show no TUCA), junto com Próspero (bateria e vocal), Carlos Bogossian (Bogô) (guitarra, ex-Beatniks, Sic Sunt Res), Thomas Gruetzmacher (meu colega do colégio Porto Seguro, vocal — soltando palavrões em inglês que ninguém entendia... ou será que entendiam?), e eu, Rodolfo Braga, no baixo.

Tocávamos as raízes do rock. O Bogô, veterano dos Hits e Beatniks, estava com sua guitarra Gretsch vermelha, camisa xadrez e sapatos brancos. Eu, com um baixo Fender emprestado do Gerson Tatini, que seria o primeiro guitarrista do Joelho de Porco.

Participaram desse show também o Mona (Pedro Infantozzi, Albino Infantozzi, Fábio Gasparini e Conrado Assis, que, meses depois, viria a formar comigo o Joelho), além de grupos que animavam as domingueiras no Clube Pinheiros, Banespa e Círculo Militar.

O Hot Rock chegou a ofuscar as outras duas bandas, tamanha a energia da apresentação, fato registrado em jornais da época e até na revista Rolling Stone. Era essa energia que continuava crescendo até a formação do Joelho.

O Bogô foi pra Europa. Quando voltou, já tínhamos montado o Joelho de Porco.

O Próspero me procurou dizendo que queria me apresentar um cara que escrevia umas letras engraçadas, e que a banda se chamaria Joelho de Porco. Lembro bem que adorei o nome na hora!

Desde o início, eu queria o Walter Baillot, que conhecia de longa data, mas ele estava em excursão no Nordeste com a dupla Don & Ravel. Foi cogitado, então, o nome de Mozart, que chegou a fazer um ensaio comigo e com o Próspero na casa do Bogô, mas não aceitou, pois na época estava com o trio Fush, acompanhando a dupla Charles & Ralf (que, curiosamente, cantava músicas do Jackson Five e que, anos depois, se transformaria na famosa dupla sertaneja Christian & Ralf).


Eu conhecia o Próspero desde os bailes do Círculo Militar, em 1970, onde tocavam conjuntos de "filhinhos de papai" com equipamentos importados, iguais aos dos grupos ingleses e americanos.

Entre críticas e observações, eu dizia que queria montar um grupo como o Cream (Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker). O Próspero, que adorava Beatles e Hollies, conhecia o Tico, que escrevia aquelas letras engraçadas. Eu, por minha vez, conhecia o Walter Baillot (das bandas Provos e Século XX) desde 1966, quando tocávamos em boliches e bailinhos — imagina! Eu sabia do potencial dele, que nem guitarra decente tinha na época, e o convidei para tocar conosco.

Diante da impossibilidade do Walter, chamei então o Mozart Martins de Mello (hoje pai dos meus sobrinhos), que chegou a ensaiar, mas preferiu acompanhar a dupla goiana Charles & Ralf. Anos mais tarde, Mozart ainda integraria o Joelho, em 1978, tocando em alguns shows ao lado de Billy Bond. Nessa época, eu já começava minha carreira como músico da noite.


O primeiro guitarrista do Joelho era... baixista!

Gerson Tatini (ex-Nexus/Eyes), então guitarrista das domingueiras do Círculo Militar e amigo do Próspero, queria passar a tocar baixo em vez de guitarra. Lembro que ele me disse:
— Você toca guitarra e eu, o baixo.

Ao que respondi:
— Não! Desculpe, mas eu assumo o baixo.

O Próspero me apoiou na decisão e disse que ele (Tatini) tinha que se decidir: ou tocava guitarra no Joelho, ou continuava nos bailinhos do Círculo, no conjunto Nexus/Eyes. (Na época, eu também tocava no U.S. Mail.)

Optei pela criação e escolhi ficar no Joelho de Porco.

Ensaiamos noite e dia durante meses — de agosto a novembro de 1972. Tocamos num show com Tony Osanah, acompanhado pelo trio vocal Arco-Íris, dos irmãos (e do próprio) Fábio Jr., que, aliás, era meu colega de classe na FAP-Art.

Na plateia, estavam Mutantes, Rita Lee, Alpha Centauri, e toda a turma do rock e da cena artística da época, no auditório da Rádio Eldorado, em São Paulo.

Tocamos também na Concha Acústica da Aclimação, ao lado de Tim Maia, Cinthia & Kapta e Memphis. Ainda em 1972, participamos de uma série de shows no TBC, comandada por Cacho Valdez (ex-guitarrista dos Beat Boys).

Em um desses shows, conhecemos Cláudio Coimbra, de Cambé (PR), que nos convidou a tocar no festival "Primeira Colher de Chá", um evento de rock ao ar livre.

Na época, fomos eu e Tony Osanah em seu Fusca azul. Dirigi a noite inteira, chegando ao amanhecer. Na volta para São Paulo, Tony não aguentou dirigir e, exaustos, dormimos num posto de gasolina antes de seguir viagem.

Em janeiro de 1973, já no Paraná, estivemos em tevês locais, rádios e jornais divulgando o show, onde tocamos ao lado dos Mutantes, do Tony Osanah Trio, dos Vultos de Astorga e do grupo A Chave, de Curitiba. O show foi assistido, estima-se, por mais de 6.000 pessoas. Existe um filme em super-8 desse show e dos ensaios, que está nas mãos do Próspero.

O sucesso foi tanto que fomos convidados, em julho de 1973, a tocar no ginásio Moringão, em Curitiba, ao lado de Tony Osanah (ex-Beat Boys) e do grupo Kapta (de rock fusion, da zona leste).

O show virou um verdadeiro happening, com todos os músicos encerrando o evento tocando Sunshine of Your Love até que desligaram as luzes — o que levou o Waltão, que já estava pra lá de Bagdá (e quem não estava...), a desferir um chute num dos refletores do palco.

Apesar disso, o show não teve a lotação esperada (cerca de 10.000 pessoas), pois era período de férias e grande parte do público jovem estava viajando. Estima-se que foram cerca de de 2 000 a 3 000 pessoas...


O Arnaldo Baptista (tecladista dos Mutantes), na época considerado “produtor” — na realidade, mais um amigo dando força —, tocou sintetizador no compacto simples, lançado pelo selo Sinter/Phonogram, na música Fly América (autoria de Terpins e Luiz Chaves). Já quem gravou todo o LP São Paulo 1554 - Hoje foi o músico cego Sergio Sá, um fantástico tecladista profissional. Não sei de onde veio essa ideia de que o Arnaldo participou!

O lançamento do compacto Se Você Vai de Xaxado, Eu Vou de Rock'n'Roll / Fly América aconteceu no programa Almoço com as Estrelas, da TV Tupi, canal 4, comandado pelo casal Ayrton e Lolita Rodriguez. Tocamos numa série de shows no Teatro 13 de Maio, ao lado do Grupo Capote, e também no MASP (Museu de Arte de São Paulo), onde, no nosso camarim, estava ninguém menos que Rita Lee, fã do Joelho.

Fizemos ainda apresentações em Bragança Paulista (no cinema local) e em Santos, no palco da Rádio Clube. Nesse show, apareceu Lulu Santos, que na época tocava no grupo Vímana, ao lado de Ritchie e Lobão (posteriormente, cantores e compositores consagrados). Lulu deu uma canja com meu baixo — e quase o quebrou, tropeçando no palco, de tão bêbado que estava.

C.O.M.E.N.T.Á.R.I.O

"O texto do Rodolfo está muito bom, rico em memórias maravilhosas. Posso tentar acrescentar alguma coisa e te mando depois.
Não me lembro de o Arnaldo ter caído do banco, mas lembro que ele demorou um tempão pra tirar aquele som de um sintetizador que mais parecia um painel telefônico, daqueles tipo patch bay. Mas foi um barato!
Abração, a gente vai se falando." (Conrado)

1973 — Terceira e última parte: brigas internas e minha partida para New Orleans... A volta e o Terreno Baldio

Walter Baillot (o gênio angustiado da guitarra — uma mistura de Jeff Beck, Eric Clapton e Duane Allman), Próspero Albanese (espelho meu: Paul ou eu?) e Conrado Assis Ruiz (Lennon & McCartney, Hollies... gosta de música, mas será médico), Carlos Alberto (Tico) Terpins (ironia, cinismo, loucura ou genialidade?) e eu, Rodolfo Braga — um cara que sempre tocou baixo, mesmo na época em que só tinha guitarra, e que adora os sons graves desse lindo instrumento!


Rodolfo Braga coloca suas vivas memórias em ordem... e divulga seu novo trabalho. O CD da banda REX-ROX — Último Disco de Rock'n'Roll.

 

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