Nós que tanto amávamos Barrett

 

 

Nós que tanto amávamos Barrett

por Mário Pacheco


— Teria sido acelerada a loucura do “profeta de toda uma geração de músicos progressistas”?
— As drogas alucinógenas consumidas com paixão desde 1962?
— Ácido e fumo não dá luz a cego.

“Não, não foram só as drogas”, diz David Gilmour. “Sempre houve algo muito errado na mente de Syd.

Eu me lembro que tive medo dele quando fui ver o Floyd gravar See Emily Play: o olhar, sabe como é?

Estou convencido que foi sua situação familiar: desde a infância Syd era esquisito, sua mãe mimou-o demais”.

Gilmour não obstante: de fato Syd, o caçula temporão de oito irmãos, sentiu profundamente a morte súbita do pai, quando tinha 12 anos, e foi sufocado por uma mãe protetora.

Teria ele metido a cabeça numa poça d água e pintado uma natureza morta com seus miolos?

Depois de espalhado - teria ele saturado sua sombra com luz até amanhecer?

Cotidianamente  Barrett ainda no colégio num tempo saudoso preparava  sua sinfonia fugaz, adicionava pitadas de comportamento errático,   por ser  belo optou pelo  cabelo arrepiado e unhas pretas, roupas, botas e  desenhos e  reminiscências. Ruídos interferências, música das estrelas e onirismo próprio! Aquele mundo existia mas ninguém  o mostrara assim:

Colagem
Opel*
(Syd Barrett)

Numa praia distante a milhas da terra
se impõe o negro totem em areia escura
um sonho na neblina cinzenta
numa praia distante...
O cascalho que era só
e madeira ressecada enterrada pela metade
águas rasas e quentes lavavam conchas
até o brilho...
uma carcaça nua retorcida, absoluta
estremece com o rasgar da carne pelas moscas, num vazio...
lágrimas cristalizadas...
vimes ressecados chiam suas altas cânulas
faça um círculo acinzentado como no verão, envolta do totem
resistiu no chão

*Tradução: Aniviel Vicente

Jovialmente (in)experientes adotamos a poesia de Jim Morrison versando sobre o mesmo tema só que a visão de Barrett encontra a força na forma - a criação de Barrett vinha do ácido - mera nota promocional?

Para mim, um grande poeta aquém dos licores e absintos e vapores, ali   o sonho da infância. Suas canções eram tão boas e proféticas que ficariam empacotadas longe das prateleiras.

Preferiu-se tratar o artista desta forma "se um novo contrato valeira milhões" séquitos de músicos influentes procuram sua casa em Manchester.

Algum cineasta inglês genial vai desnudar seus últimos dias?

A viagem lisérgica é superfluidade química

Barrett foi um dos muitos mártires do processo cultural e do ritmo alucinado dos sixties imposto por empresários e contratos Se seu eventual distúrbio deve-se exclusivamente ao uso de drogas permanece um tópico (talvez inútil) de discussão apesar dele mesmo declarar abertamente ser o LSD, a fonte de inspiração para suas composições. David Gilmour, que talvez o conhecesse mais que ninguém defende que as raízes remontam a traumas de infância. De qualquer forma, LSD e Barrett seriam objetos perenes de associação. Não consta que o restante da banda tenha se entregue com o mesmo ardor. Relatos de membros do círculo underground dão conta de Barrett  como o único realmente “inteirado” apesar de confessadamente todos experimentarem mais de uma vez.

Mesmo ocupados com as múltiplas atividades que sua crescente reputação de “grupo sério” lhes trazia, os membros do Pink Floyd ainda encontravam tempo, em 1969, para se dedicar à evanescente figura de  Barrett. Durante todo o ano, trancado em longas sessões no estúdio de Abbey Road, Gilmour e Waters conseguiram extrair do ex-parceiro as penúltimas gotas de sua inventiva. Apresentadas no álbum-testamento "The Madcap Laughs" (O louco ri), com que desejam garantir o sustento de Barrett pelos direitos artísticos:

"The Madcap Laughs", o primeiro e melhor álbum solo de Syd Barrett levou quase dois anos para ser gravado. Apesar de oficialmente creditada a Gilmour e Waters a produção aqui é quase nenhuma. Acompanhado apenas de um violão Syd expôs a alma.

A segunda tentativa com Barrett, já no ano de 1970, apesar de uma maior produção e um espaço menor de tempo gasto nas gravações mostrou aos músicos do Floyd que seu antigo companheiro já não tinha nenhuma condição de expressar suas angústias pela música. Com infinita paciência, Gilmour e Wright, assessorados pelo baterista Jerry Shirley, do Humble Pie, tentam vários esquemas para tocarem junto com Barrett. “A primeira possibilidade que tínhamos era tocar junto com ele, no estúdio, diz Gilmour, “mas vimos logo que isso era impossível, porque ele não tinha nenhuma noção de conjunto. Acabamos gravando ele sozinho e trabalhando em cima com nossas idéias. Eu sentava perto dele e dizia: Então, Syd, o que você tem para nós? Ele ficava um longo tempo tocando coisas e eventualmente produzia algo bom”. O resultado sonoro de Barrett, é uma malha de rock’n’roll envolvendo Baby Lemonade e Gigolo Aunt escolhidas para abertura dos dois lados. “Syd prosseguia em seus processo de desintegração, tornando as canções objetos confessionais cada vez mais impenetráveis. A capa do disco feita pelo próprio Barrett trás o inventário das possibilidades contidas no disco sob a nada racional crítica do exemplo “de um compositor brilhante alijado de seu talento”.

Reconhece assim lampejos de genialidade captados aqui em Dominoes e principalmente Rats que com suas múltiplas conotações mais confunde do que explica o real estado de Syd.

Remetendo a Bike do primeiro álbum do Floyd, Rats envolve o ouvinte num jogo claustrofóbico com sua batida constante e sincopada: Got it hit down/ spot knock inside a spider/ Say, that’s love.

Gilmour e Wright reconhecem ser “muito ruim” mas decidem lançar assim mesmo como um tributo ao esforço de Syd”, o que não ajudou nas magras vendagens.


Loucuras?

Eu estou quase caindo/ eu sou só uma pessoa/ será que você sente a minha falta? / será que você sente mesmo a minha falta?

No início de 1968 durante sete semanas Gilmour e Barrett tocam juntos, a intenção inicial era manter Barrett como letrista assim como Brian Wilson dos Beach Boys.

Mas a situação de Barrett se agrava e ele tem mesmo de ser afastado. 

A 2 de março de 1968. “Depois de uma reunião cheia de demonstração de pudor espúrio e compaixão hipócrita, os músicos e seus agentes decidiram (sem a presença de Barrett) que Syd estava fora. (...) Continuaram a gravação do segundo LP, enquanto Barrett aparecia no estúdio, todos os dias, e levava a guitarra com a infrutífera esperança de que iriam chamá-lo para tocar também”. (Valdir Montanari).

Mesmo tendo deixado o Pink Floyd, vítima de seu estado psicótico, a lenda continuou viva.

Tão viva que motivava especulações até sua morte. Tempo suficiente para os versos de Arnold Layne serem incluídos no "The Oxford Book of Verse" como exemplo da mais autêntica poesia contida nas letras da música popular contemporânea.
   
Em 1974. David Bowie regrava See Emily Play para o álbum "Pinups", Syd Barrett costumava frequentar as butiques da Kings Road para experimentar calças de número maior, ele sempre dizia que todas estavam perfeitas e logo em seguida, ia embora sem comprar nenhuma.

Outra mania,  comprava guitarras e nas entrevistas declarava: “Estou desaparecendo. Estou cheio de poeira e guitarras”.

Syd passava o dia inteiro no porão de sua casa, tocando uma estranha guitarra cheia de espelhos e folheada a ouro ou vivia pirado num eterno vai e vem das clínicas de Londres para o seu sítio em Stonehenge, um lugar mágico e cheio de mistérios como suas canções. Ao invés de lançar novas canções, Syd optou por ser jardineiro.

Os últimos tapes de Syd gravados em estúdio em 1974;  foram preservados... Barrett chegava ao estúdio com a guitarra sem cordas e, não chegou a finalizar as gravações pois nunca colocou  a voz, fugiu para sempre como entre outras vezes.

São conhecidos 11 takes rápidos: (12 de agosto de 1974, EMI Studios): Boogie #1 Boogie #2 Boogie #3, If You Go #1, Ballad (Unfinished), Chooka-Chooka Chug Chug, If You Go #2, Untitled, Slow Boogie, John Lee Hooker e Fast Boogie. É Barrett solitariamente no  melhor desempenho do seu estilo genial! Nome do disco? You Got It Now!

Outro disco fantástico se chama "What Syd Wants!" um disco composto pelas preciosas fitas, tapes e memorabilia de Bernard White um cara que todos os fãs do Pink Floyd sentem a falta assim como a de Barrett. 

Tudo  despareceu da Internet não adianta digitar os nomes dos discos no google!

Nos anos 80, A revista alemã "Musik Express" dedicou algumas páginas a Syd Barrett. De acordo com os repórteres Assayas e Johnson, um dos poucos jornalistas recebidos em sua casa em Cambridge, Syd vivia em completo isolamento desde a morte de sua mãe e grande parte de seu tempo ele não fazia nada mais do que ver tevê.

A  "Barrett Apreciation Society", mantinha um fanzine, denominado Terrapin, através do qual tentava manter o nome de Barrett fora do esquecimento.

Lançaram um single, cantado pelo grupo Tv Personalities, com a música I Know Where Syd Barrett Lives.

O filme "The Wall", do conjunto Pink Floyd, resgatou a tragédia de Syd Barrett, tão afetado pelo uso de drogas que, nem conseguia falar.

Biografias sobre Syd Barrett já haviam sido escritas na França e Itália quando o jornalista Peter Watkinson lançou "Crazy Diamonds" em 1991 na Inglaterra.

O livro trazia até a história de um fazendeiro de meia-idade chamado Syd Barrett que recebia telefonemas do mundo todo.

Na Internet circulou a informação de que Syd possuía um violão mas que ninguém da sua família nunca o viu tocando...

Algumas revistas escreveram a respeito da sua saúde... Syd Barrett possuía uma boa compleição física devido ao fato de andar de bicicleta mas estava  perdendo a visão!


Oh my girl sitting in the sun/ Go buy candy and a current bun/ Ice cream tastes good in the afternoon/ Ice cream tastes good if you eat it soon - "Candy and a current bun"

 
Terrapin
Eu realmente te amo, só você
A estrela sobre você, poço azul cristalino,
Oh! Querida, meus cabelos se arrepiam
Por você

Eu não te enxergaria como eu queria
Eu voo sobre você, sim voo
Bem, Oh! Querida, meus cabelos se arrepiam
Por você

Flutuando, resvalando narizes mordiscando
As nadadeiras uma luminosidade
Caninos rodeiam o palhaço
Escuridão sob o rochedo escondendo
Toda luminosidade melhor pra nós
Porque somos peixes e tudo que fazemos é
Nadar [e só o que fazemos bem,
Oh! Querida, meus cabelos se arrepiam
Por você

Roger Keith Barrett - Letra e som
Aniviel Vicente - docemente cedeu-me os direitos das traduções

 

Release de uma banda brasileira que também ama Barrett

O Violeta de Outono surgiu nos anos oitenta em meio a uma grande onda de rock brasileiro. Pela sua sonoridade que resgatava irretocavelmente a psicodelia dos anos sessenta em suas sensacionais composições, o Violeta foi se tornando uma cult band brasileira. Nos shows o grupo sempre inclui clássicos do rock psicodélico, e também canções do Pink Floyd (da fase Syd Barrett) que sempre foram pedidas pelos fãs que acompanham a banda.

Ao longo da sua trajetória o grupo passou a cogitar a idéia de realizar um tributo revisitando a obra de Syd Barrett. Foram então marcados vários shows durante o ano de 2006, com o Violeta de Outono tocando, entre vários clássicos, a viagem intergalática de 'Interstellar Overdrive', o mundo onírico de 'Matilda Mother' e 'Flaming', além das enigmáticas canções dos álbuns solo 'The Madcap Laughs' e 'Barrett'.

Syd Barrett foi o principal mentor do som espacial que o Pink Floyd produziu nos primeiros anos da sua carreira nos anos 60. Com Barrett a banda gravou alguns singles e também o álbum The Piper at the Gates of Down em 67, um clássico absoluto do psicodelismo inglês. Depois que deixou o Pink Floyd, ele ainda gravou dois discos solo ("The Madcap Laughs" e "Barrett"), posteriormente foi lançado "Opel" uma coletânea de sobras de estúdio.

Agora o selo inglês Voiceprint lança oficialmente em DVD uma das apresentações do Violeta de Outono prestando, de uma forma absolutamente competente e inspirada, sua homenagem à genialidade de Syd Barrett. A apresentação do DVD foi gravada em 17 de Julho de 2006 no SESI em São Paulo e coincidentemente durante a temporada de shows veio a noticia da morte de Syd, com isso, se deposita neste registro um valor histórico e emocional inigualável, tanto para os fãs do universo Barrettiano, quanto para os músicos do Violeta de Outono.

Em paralelo a este lançamento especial o Violeta de Outono retoma para 2009 esta apresentação tributo, mostrando um verdadeiro exercício de psicodelismo e também o quanto a obra de Syd permanece atual e influente.

O Violeta de Outono é formado por: Fabio Golfetti - guitarra e vocal, Gabriel Costa - baixo, Fernando Cardoso - piano, órgão e vocal & Claudio Souza - bateria

Sandro Garcia
São Paulo, Janeiro 2009

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SYD BARRETT & THE PINK FLOYD

Ao longo dos anos a maioria das bandas muda seu som. Mudanças na formação, amadurecimento e a mudança de condições sociais, todas combinam para modificar e desenvolver a música, porém, mesmo hoje é possível traçar ecos dos primeiros dias de, digamos, Fleetwood Mac, Zappa ou The Jefferson Starship. Há uma grande exceção nisso tudo... Pink Floyd. Eles se transformaram totalmente desde suas primeiras gravações e viraram um outro grupo. Isso apesar de apenas uma mudança na formação. Mas ela foi grande.

Como voz principal, guitarrista solo e líder nas composições, Syd Barrett dominava o Pink Floyd. Mesmo quando os outros membros apresentavam suas composições, elas tinham a mesma qualidade das dele. Mas sua direção mudou radicalmente quando ele saiu.

Barrett foi responsável por maior parte de “The Piper At The Gates of Dawn” (1967), mas saiu ou foi despedido no começo de 1968, após seu comportamento excêntrico ter dificultado sua relação com o resto da banda (ele aparece em algumas faixas do segundo disco, “A Saucerful Of Secrets”, 1968).

Tudo isso contrastava diretamente com a mistura que Syd fazia de R&B americano com a excentricidade inglesa, o que captou o espírito da época: filhos das flores, canções sobre gnomos, sinos e lindas meninas saltitando pela floresta. Syd até tirou o nome do primeiro álbum do grupo, “The Piper At The Gates Of Dawn” de um capítulo do romance infantil de Kenneth Graham, “Wind In The Willows”.

Syd também consumia drogas - e muitas - e isso lhe conferiu uma perspectiva diferente dos outros membros que, ao que parece, nunca tomaram LSD (embora fossem conhecidos como a maior banda de acid-rock da época). As primeiras letras surgiram de um experiência direta. “Scarecrow” evocava perfeitamente os arredores dos campos pantanosos perto de Cambridge. “See Emily Play” era uma típica canção sobre crianças e flores. Syd explicou como a escreveu: “Eu dormia na floresta, após um show que fizemos no norte, quando vi uma garotinha passando entre as árvores, gritando e cantando. Essa era Emily”. Ele a compôs especificamente para o primeiro concerto da banda, que se realizaria no Queen Elizabeth Hall, em Londres, no dia 12 de maio de 1967. Essa música foi tocada pela primeira vez com o nome de “Games For May” (Jogos de Maio), e só foi mudada mais tarde, para o disco.

Sua gravadora, EMI, ergueu enormes alto-falantes no fundo do teatro, a fim de reproduzir o primeiro sistema quadrifônico da Inglaterra, controlado por um antecessor do famoso 'azimuth co-ordinator', que alguém afanou após o show. O promotor de show da banda, vestido de almirante, atirou buquês de narcisos para a platéia, a sala se encheu de milhares de bolhas, luzes líquidas e projeções de filmes de 35mm. Foi um concerto bem sucedido, mas os donos do teatro não ficaram contentes. Quando foram fazer a limpeza após o primeiro concerto no teatro, eles viram que as bolhas deixaram marcas de círculos nos assentos de couro e as flores foram todas pisoteadas sobre os carpetes. Eles baniram o Floyd de tocar lá novamente.

Após um período de sumiço, Barrett retornou em 1970 com dois álbuns, “The Madcap Laughs” e “Barrett”, com considerável apoio de seus ex-parceiros (em especial David Gilmour, seu substituto, que também produziu). Alguns membros do Soft Machine também colaboraram, o que deu um toque de música acústica inacabada. Seu excêntrico senso de humor, inventivo jogo de palavras e melodias cativantes vão do brilhante ao caótico. Suas canções podem não ter o vigor de seus tempos de Floyd, mas até hoje mantêm o fascínio e dão um vislumbre de uma mente criativa que tomou rumo errado após (teoricamente) ter experimentado muita fama e drogas tão cedo na carreira.

Com problemas psicológicos cada vez maiores, Barrett caiu numa reclusão quase que total após esses álbuns. Embora tenham chamado pouca atenção, seus trabalhos são admirados por fãs ardorosos e sua música e mística ainda influenciam muita gente após mais de trinta anos.

A admiração por Barrett era tão latente que em 1980 foi lançado um álbum completo, “Opel”, com músicas inéditas e versões alternativas, assim como sessões para a BBC.

From
Pink Floyd - Early Years by Miles
Maiores Informaçoes
http://www.violetadeoutono.com.br/agenda_details.php?id=94

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www.violetadeoutono.com.br

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