Brian Jones: o berro da cabra em Jajouka



Uma introdução aos mestres músicos de Jajouka
(Robert Palmer)

 

Jajouka é uma pequena vila nos sopés das montanhas Rif, no norte do Marrocos, onde Great Pan ainda é honrado. Atravessando tempo, espaço e religião, e viajando do Antigo Egito através de numerosas culturas usando vários nomes, ele sobrevive em Jajouka não apenas como um mito, mas como realidade -– nos mestres músicos das Pipes of Pan.

Com as mudanças do mundo como estão uma porção de aventureiros do Oeste têm se aproveitado da energia primal que é a música e ritual de Jajouka. Brion Gysin, pintor, escritor metafísico e o primeiro estrangeiro contemporâneo a ser associado com a vila, por sua vez trouxe William Burroughs e mais tarde Timothy Leary e Brian Jones. As notas seguintes são de Jajouka up the mountain por Robert Palmer, publicada em Rolling Stone, 14 de outubro de 1971. Robert um jornalista e músico, toca clarineta com Ornette Coleman num álbum recentemente gravado com os mestres músicos em Jajouka. A legenda de Boujeloud foi recontada por Hamri, uma marroquina pintora e nativa da Vila. 

Os restos de Saint Sidi Sherk, quem introduziu o Islamismo na região por volta do ano 800, deu a Jajouka uma inquestionada autoridade moral, até recentemente, pelos povos das vilas vizinhas. Esta autoridade é expressada e sustentada pelos mestres músicos de Jajouka, os filhos dos filhos dos músicos que tocam para exorcizar as doenças dos peregrinos para reafirmar a identidade da população e visitantes durante os festivais, e para entreter e instruir seus ouvintes e a si próprios, espalhando sua velhas melodias e ritmos herdados ao Jebel em nuvens de fumaças de Kif, (tipo de cachimbo árabe).

Um som gigantesco toma conta do ar. Alinhados contra uma parede de pedras que corre através dos topos dos montes estavam 15 músicos – rhaita é uma espécie de oboé, uma corneta de duas varas terminando em boca de sino tocando uma animada fanfarra de melodia estranha. Num ângulo reto para o tocador de rhaita mais distante, uma fila de cinco tamboristas batiam num contratempo encantador. O som da mistura... fazia uma imensa presença, mais alto que qualquer amplificador, enchendo o topo do monte como um anfiteatro. As rhaitas chiavam simultaneamente num vibrante falseto que pareciam embrenhar nas freqüências de Dog-Whistle e soava como mil mulheres árabes gritando “yuyuyuyuyu”. Os músicos chamam esta peça de abertura de Kaimonos. Ela começa com uma lenta marcha de procissão, com as cornetas fraseando livremente sobre um ritmo quase quizzical, e então aceleram, as rhaitas construindo frases quinéticas para um agudo de histeria que assinala a chegada de Boujeloud. Boujeloud quer dizer “Pai do Medo”; ele não é outro senão a continuação da sobrevivência do Honored God da Antiguidade, o Goat-God, Pan.

Quando Marc Antony, se vestiu em pele de animais, e fez a corrida de Lupercal em Roma, César pediu para ele chicotear sua estéril esposa Calpurnia enquanto corria. Joujeloud ainda dança em Jajouka hoje, vestido numa pele de cabra morta a pouco, com um enorme chapéu de palha amarrado sobre suas orelhas, suas mãos, rosto e pés pretos de carvão. É sabido que a mulher que ele açoitar com seus chicotes ficam grávidas dentro de um ano.

Boujeland está de pé, de frente para uma fila de tocadores de rhaitas, seu corpo inteiro vibrando com energia da sua música, saciando-se na força concentrada do velho pandemônio e liberando numa intensidade piramidal que quer mandar o topo do monte girando no espaço. Os músicos respondem com uma nova e propulsiva frase que o atira através do gramado e a fogueira, atacando homem, mulher e crianças ao sacudir seus braços. A multidão se esparrama fugindo dos seus ataques, gritando seus próprios contrapontos ao antifonal interplay de tambores e gritos. O principal corneteiro toma a liderança numa introdução de Aisha Hamouka, Crazy Aisha, uma personagem tão poderosa, que deve ser dançada por uma turma de garotinhos vestidos de mulher.

O pessoal da vila diz que Boujeland foi atraído para Jajouka por promessas de sexo prolífico, mas Crazy Aisha estava sempre lá, dançando nas árvores. Os músicos já estavam berrando sem parar há uma hora e meia sob controle, o que levanta questão sobre o limite da força do fôlego humano. A qualquer momento, dois dos corneteiros estão descansando, tragando seus sebsis. Quando terminam, cospem o carvão no chão e estrondam de volta na confusão, dando chance para outros dois saírem para fumar. Eles fraseiam juntos, trocam devorteios em sessões, e levantam juntos num agudo uníssono, batendo dedos pra cima e pra baixo nas cornetas mais rápido que um piscar de olhos... De repente, os corneteiros descem para um tom único pausam e os tambores rufam para um clímax, e então param. 

Muito dos melhores jovens músicos de Jajouka saíram para trabalharem na indústria nas cidades. Os músicos sempre foram um grupo aristocrático – de fala árabe ao invés do bérbere, e separados da maioria do pessoal das vilas. Eles tem o mesmo sobrenome Attar, que quer dizer “o fabricante de perfume”. O nome pertenceu a um bem conhecido poeta persa do século XIIV, é palavra chave no Sufism e que dizer também “divina essência”. De acordo com o Gysin, “que em certos momentos de experiência mística induzido pela música, ao invés de ouvir, você cheira esse divino perfume”.

Apenas o filho de um mestre músico pode se tornar um mestre músico, e uma considerável sabedoria esotérica sem dúvida passa adiante, juntamente com segredos musicais, mas mestres místicos raramente são ganha-pão no American Century... Lá pelas montanhas que circulam Tanger do litoral até a baía, os mestres músicos de Jajouka tocam suas rhaitas, flautas e tambores, fumam seus kifs, guardam suas correntes secretas de sabedoria inquebrantável desde os tempos pagães, e pensam sobre sua sorte no futuro. Sente-se um ar de mudanças, a medida que mais forasteiros entram no seu espaço e chegam às suas portas e suas legendas crescem, mas seus amigos duvidam, enquanto eles pensam e falam e trabalham para alcançarem a sobrevivência, ou talvez um choque cultural paralisará a força da música e crescimento com certeza como a fome que parece a outra única alternativa.

A música permeia seus corpos e em cada sinapse de suas mentes, esparramando suas ondas através das mais insignificantes partículas da matéria, e cada onda vibra a forma da nave mãe que aportou na montanha tempo atrás, desengasgando Boujeloud e o primeiro dos mestres músicos, desligando seus motores e esperando, ser tomada por folhagens e árvores e camadas de excrementos e terra, e mudando de forma para um gentil ovalado como os morros. Quando o último dos mestres músicos morrer e o último filho de músico mudar a procura de trabalho nas novas indústrias ou sair para as ruas das novas selvas de pedras, que a nave mãe ganhará vida através de um baixo, quase que imperceptível ronco, aumentando de volume e força até flutuar no vazio com Crazy Aisha dançando como louco em seu deck e Boujeloud aos controles.

O povo de Jajouka fala de um ancestral chamado Attar, que pastoreava cabras e que viveu em sua vila há muito tempo atrás. Nas montanhas que circunda Jajouka, havia naquela época uma caverna numa floresta muito distante na qual eles temiam entrar. Um dia, e por curiosidade, Attar vagueava distante com sua manada de cabras e entrou no lugar proibido. Dentro, para sua surpresa, ele encontrou uma deliciosa e verdejante vegetação bem regada de lagoas e minas de pedras. Quando suas cabras começaram a saltitar e se alimentarem, Attar sentiu que um grande cansaço tomou conta do seu corpo, e contente com o seu trabalho, ele adormeceu. Em seus sonhos, ele começou a ouvir um som misterioso. O qual fazia lembrar estranhamente de vento passando por árvores e água pingando ritmicamente entre pedras, mas que era ainda mais lindo do que qualquer coisa que ele já havia ouvido. Aquilo foi a primeira experiência de Attar com música. À noitinha, Attar relutantemente deixou o lugar encantado e retornou à Jajouka com sua manada de cabras. Bem cedo no dia seguinte, ele voltou e ficou lá, sonhando o dia todo. Dia após dia, durante várias semanas, ele não fez nada diferente. A face de Attar começou a brilhar com uma luz misteriosa, e suas cabras se tornaram as mais serelepes de Jajouka. Os outros moradores aplaudiram abertamente a Attar e lhe faziam perguntas admirados. Finalmente, Attar contou-lhes que havia entrado no lugar espantoso da floresta. Então ele contou das maravilhas que encontrou lá: das águas límpidas, das belas flores silvestres, da grama doce, e, acima de tudo, do estranho som que ouviu em seus sonhos, um som mais lindo que qualquer outro. Numa tarde na caverna, Attar acordou dos seus sonhos e deu de cara com uma criatura de rosto resplandecente, meio homem, meio cabra. Attar pulou de pé e tentou correr, mas a criatura não deixou e se identificou. Ele era Boujeloud, Master Skins. Ele fez Attar jurar segredo e o deixou tocar na sua flauta mágica. Mas quando ele viu que Attar não sabia tocar nada, ele se sentiu feliz em segredo. À noite, Boujeloud fez Attar jurar novamente e o permitiu voltar para Jajouka. Depois disto, ele voltou a caverna secreta muitas vezes até que aos poucos ele conseguiu aprender a tocar na flauta mágica de Boujeloud. Finalmente um dia, Boujeloud fez uma barganha com Attar: em troca, Attar prometia encontrar uma esposa para ele, Boujeloud deu sua flauta mágica para Attar. Quando Attar voltou para Jajouka à noite e tocou sua flauta, os outros moradores ficaram fascinados. Attar ficou tão contente com a alegria do povo, que ele concedeu que eles fizessem cópias da misteriosa flauta. Daquele dia em diante, o povo tocou suas flautas juntos nas noites quando chegavam em casa pra descansar. A música era tão forte que Boujeloud lá na caverna ficou inquieto e excitado. Ele estava também com muita raiva por Attar ter quebrado seu juramento de segredo, fazendo cópias da flauta.

Finalmente, uma noite a festança o fez tão nervoso, que ele veio a Jajouka à procura de sua esposa. Mas os animais da vila zurravam e berravam e latiram tão alto quando ele se aproximava, que ele desistiu de entrar no meio deles. A frustração o deixou mais louco de raiva, e em sua fúria ele destruiu os currais das cabras e matou um terço delas. Não satisfeito, ele saiu correndo furioso à procura de Attar. A vila ficou numa total bagunça e em pânico e Attar estava tentando esconder-se quando Boujeloud o agarrou. Então Attar muito esperto enganou Boujeloud dizendo que a música era para o seu casamento já no dia seguinte. Boujeloud acreditou em Attar, e quando o povo tocou na noite seguinte, ele desceu os morros dançando num excitamento frenético e entrou em Jajouka pela Segunda vez. Ele dançou entre eles furiosamente por muito tempo, chicoteando todo mundo até que eles tocaram fora de série a mais inspirada música.



O berro da cabra em Jajouka
(Alberto Carlos de Carvalho*)

Essa é a história do encontro de Brian Jones com os Maalmin, do Marrocos, e de sua incrível identificação com uma cabritinha sexy no vilarejo de Jajouka. Já faz muito tempo. A expedição foi realizada em 1968, na segunda visita de Brian Jones ao Marrocos.

Ele estava louco para conhecer os Maalmin de Jajouka - uma família considerada “mestres dos músicos”, nomeada por patente real. Possuem dahirs, ordens do Conselho Real, dando-lhes o direito de fazer som para ninar sultões e acordá-los na manhã seguinte.

Também são os músicos do santo padroeiro Sidi Hamid Shekh, o primeiro missionário islâmico que peregrinou por lá (?!!). Diante de seu busto, em Ahl Serif, fazem com suas flautas uma espécie de terapia musical exclusivamente para doentes mentais.

O sobrenome Maalmin é muito conhecido através da história do misticismo Sufi. São ligações existentes há mais de 800 anos através de relações sociais e musicais de suas famílias. Mas o ponto é que todo ano eles realizam um festival em Jajouka, vilarejo antiquíssimo aos pés da Montanha Rif, no norte do Marrocos. Esse festival, cujo clímax é um cerimonial de uma hora de duração, foi o que interessou a Brian Jones.

Contam as lendas que existia uma Deusa chamada Crazy Aisha, fonte inspiradora dos músicos. Bou Jeloud, o “Pai das Peles”, depois de encontrá-la num de seus momentos mais excitantes, a deflora para que, a partir daí, pudesse haver uma generosa procriação de músicos. Neste ritual, que se repete a cada ano por séculos e séculos. Bou Jeloud é representado por um garoto vestido de peles de cabra que, possuído também por uma, corre, pula e dança pelo vilarejo afora, dando chicotadas em todas as mulheres que encontra em sua frente. As mulheres chicoteadas darão luz a um músico, não 9, mas 12 meses depois. Tudo isso fascinou Brian Jones e ele estava alucinado para conhecer, principalmente, a família Maalmin. Depois de ouvir uma fita deles, sentiu vontade de gravar todo o cerimonial porque considerou os “mestres dos músicos” os únicos remanescentes de uma banda de rock’n’roll de 4 mil anos de existência. Os tapes originais foram todos gravados em Jajouka e remixados no Olympic Studios, em Londres. E como Brian Jones gravou cerca de 92 horas da transação, o que saiu editado no disco JAJOUKA (RS/COC 49100), lançado em 1971, é uma interpretação pessoal e muito reduzida de tudo que ele sentiu durante o acontecimento. Brian Jones chegou em Jajouka uma hora antes do pôr-do-sol, acompanhado pelo engenheiro de som, George Chkiantz, e pelo amigo Brian Gusin. Infelizmente não era a época certa do festival, mas 10 dos 25 músicos habituais organizaram uma cerimônia especial para eles. Já no meio da noite, quando ninguém sequer havia pensado em comer qualquer coisa e sem noção das horas, Brian começou a pular enlouquecido de um lado pro outro enquanto comandava o engenheiro de som, esbravejando. De repente, começou a cambalear, foi caindo pra trás e deu um agarrão em George berrando assustadoramente: “Aquela cabra cor de neve! É uma visão minha ou você também tá vendo? Por favor, me diga o que é que eles vão fazer com a cabra?”. Os músicos rodopiavam suas cabeças em transe arrastando uma gorda e branca cabra pelos chifres. Brian estrava horrorizado. Urrava. Pedia que parassem com aquilo. Mas a música continuava tão alta e todo mundo tão louco que ninguém podia entender qual era a dele. Até que, num momento, todos ouviram Brian, em prantos, berrar: “Vocês não estão vendo?... Mas será que vocês realmente não estão vendo? Eu sou a cabra!”.

*Rock, a história e a glória nº

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