GEORGE HARRISON RELANÇA 'ALL THINGS MUST PASS' (2001)

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Ex-beatle Harrison relança sua obra-prima

MARCELO VALLETTA, da Folha de S.Paulo

20 fev. / 2001 - Em entrevista ao Pasquim, no início dos anos 70, Milton Nascimento afirmou que um ponto positivo da separação dos Beatles foi o desaguar de canções compostas por George Harrison, o guitarrista eclipsado por Lennon e McCartney, apresentadas em All Things Must Pass, vinil triplo (!) com 23 faixas lançado no final de 1970, poucos meses após o fim do supergrupo.

Agora, a obra-prima de Harrison faz 30 anos e é relançada em CD duplo, com novo projeto gráfico (a capa, originalmente em sépia, ressurge colorida, um sacrilégio) e cinco faixas inéditas.

O disco não será lançado no Brasil. A subsidiária brasileira da EMI limitou-se a importar e distribuir por aqui apenas 500 cópias do álbum.

Compositor subestimado

Harrison, compositor talentoso, mas subestimado, foi o beatle que primeiro saiu em carreira solo.

Em novembro de 68, inaugurou o selo Apple - criado em sociedade pelos Beatles - com o LP Wonderwall Music (sim, foi aqui que Noel Gallagher, do Oasis, buscou inspiração para o hit "Wonderwall", além de batizar um dos álbuns de sua banda, "Be Here Now", com o nome de uma música de Harrison lançada em 1973, no disco Living in the Material World). Em maio de 69, Harrison lançaria Electronic Sound, disco com apenas uma música de cada lado, executadas com um sintetizador moog.

O guitarrista também foi o primeiro dos "fab four" a emplacar um compacto solo em primeiro lugar nas paradas -superando seus ex-companheiros Paul McCartney e John Lennon, que lançaram discos sozinhos no mesmo ano-, com "My Sweet Lord", canção-síntese da era hippie que é o carro-chefe de All Things Must Pass e foi regravada até por Julio Iglesias.

O próprio Harrison a regrava aqui, fechando o primeiro dos dois CDs, em versão desnecessária, bem semelhante à original, mas que adultera justamente sua característica mais indefectível: o solo de guitarra que acompanha o violão. A voz também causa certa estranheza, mas não é de surpreender: o músico não lança um disco de inéditas desde o longínquo 1987 -ele promete um novo para este ano.

Dentre as outras faixas novas, é também desnecessária a versão karaokê de "What Is Life", belíssima canção que merece ser lembrada. Mas as outras três são valiosas: além das versões demo acústicas de "Beware of Darkness" e de "Let It Down" -esta mais impressionante, pois despe a versão final, superproduzida-, é revelada "I Live For You", balada country que ficou de fora do All Things Must Pass original.

Outra novidade trazida pelo disco é o primeiro site oficial de George Harrison, www.allthings mustpass.com. Para o lançamento do site, o velho George participou pela primeira vez, neste mês, de um bate-papo na rede.

Superprodução

Em texto escrito especialmente para a edição comemorativa de 30 anos de All Things Must Pass, Harrison conta que a produção excessiva - há faixas com três percussionistas, dois bateristas, dois tecladistas, dois baixistas e até cinco guitarristas tocando ao mesmo tempo - pareceu apropriada na época, mas que ele gostaria de ter limpado excessos das canções. Isso não aconteceu, e o que ouvimos aqui são as faixas originais, produzidas por Harrison e Phil Spector -o mesmo de Let It Be, dos Beatles-, remasterizadas.

Outra característica do álbum é a participação de estrelas como Ringo Starr e Eric Clapton -até um jovem e desconhecido Phil Collins esteve nas gravações do disco. Chama a atenção a presença virtual de Bob Dylan, com a composição "If Not For You" e uma então inédita parceria com Harrison em "I'd Have You Anytime", que abre a obra.

Os temas do disco se dividem basicamente em baladas românticas - destaque para o sublime country "Behind That Locked Door" - e em canções de louvor religioso, repletas de lições de moral - vale a pena escutar "Hear Me Lord" e, principalmente, a empolgante "Awaiting on You All" e a pesada "Art of Dying".

"Apple Scruffs" é a responsável pelo momento despojado do álbum, apenas com gaita e violão. "Wah-Wah" e "Let It Down", do lado oposto, trazem arranjos complicados, mas muito bem executados.

"Run of the Mill", a primeira versão de "Isn't It a Pity" - regravada pelo trio Galaxie 500, recém-lançado por aqui - e a faixa-título, todas escolhidas para fechar os lados dos velhos discos em vinil, são simplesmente lindas.

O álbum traz também o curioso EP Apple Jam - trocadilho com "Jam do selo Apple" e "geleia de maçã"-, que aparece pela primeira vez com a ordem original de suas cinco faixas, graças ao maior espaço proporcionado pelo formato em CD. O que mostra que muitas coisas passam, mas a música continua.

All Things Must Pass
Artista: George Harrison
Lançamento: EMI (importado)
Quanto: R$ 70, em média
Onde encomendar: Bizarre (tel. 0/xx/ 11/220-7933), Indie (tel. 0/xx/11/816-1220), London Calling (tel. 0/xx/11/ 223-5300)

 

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