Vinil: Sinfonia de Reencontros e Memórias (2024)

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VINIL: SINFONIA DE REENCONTROS E MEMÓRIAS

Escrito enquanto ouvia e pensava em Rolando Castello Júnior e Francisco Bellard. (mário pazcheco)

A inteligência artificial, antes aliada, tornou-se um fantasma devorador de espontaneidade. Minhas ideias, outrora fluidas como um solo de guitarra, agora se prendiam em algoritmos rígidos. Escrever, antes um ato livre e inspirador, se transformou em uma batalha contra a própria mente.

Em meio a essa luta interna, um refúgio surgiu: os vinis. Relançamentos dos anos 60, revestidos em 180 gramas de nostalgia, me convidavam a uma viagem no tempo. Colecionadores abastados, antes figuras distantes, se tornaram amigos, compartilhando relíquias sonoras através de telas frias.

Um desses amigos me enviou seis LPs, cada um um portal para um passado vibrante. "Roger the Engineer", com sua capa psicodélica e o engenheiro estampado, me transportava para 1966. O solo de guitarra de Pete Townshend em "The Who Sell Out" me lembrava de um empréstimo de 1980, um disco que nunca mais retornou. "A Quick One" e "Town and Country" preenchiam lacunas em minha coleção, enquanto "Free" me fazia reviver a frustração de ter perdido a compra on-line.

Com cada disco, a melodia da minha alma se completava. A dor das perdas se dissolvia em acordes nostálgicos, e a alegria de reencontros preenchia meu ser. Era como se cada capa fosse um espelho, refletindo fragmentos da minha história e me reconectando com a paixão pela música.

Sou excêntrico, sim. Coleciono discos, frequento feiras de vinil e vivo à margem das tendências. Mas minha excentricidade não é definida por ostentação ou vaidade. É a expressão autêntica de quem sou, um amante da música que encontra nos vinis um refúgio para a alma e um portal para o passado.

Em um mundo cada vez mais digital, o vinil me oferece algo que a inteligência artificial jamais poderá replicar: a experiência sensorial única de tocar um disco, sentir a textura da capa e ouvir a música fluir pelos alto-falantes. É um ritual, uma celebração da arte e da memória, um lembrete de que, mesmo na era digital, a alma humana ainda vibra com a melodia dos tempos.

Enquanto a agulha dança sobre os vinis, as palavras se tornam melodia, e a história se transforma em música. A vida, com seus altos e baixos, é como um disco antigo: cheia de imperfeições, mas também de beleza e nostalgia. E, assim como um colecionador valoriza cada disco em sua coleção, eu também aprendi a apreciar cada momento da minha vida, cada nota da minha melodia pessoal.

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