JANIS JOPLIN, A BRANCA DE VOZ MAIS NEGRA (1983)

 

 Janis Joplin, a branca de voz mais negra 

 

(Mário Pazcheco)


“Eu estava completamente nua, com minha cuca dopada de heroína e a mulher que estava deitada entre minhas pernas, me chupando, era Janis Joplin”.  (Peggy Caserta).

É assim que começa o primeiro capítulo de uma das mais repulsivas biografias de Janis, escrita por uma de suas supostas amantes.


Existem mais livros sobre essa cantora incendiária e insubstituível. Um belíssimo e longo volume assinado pelo jornalista David Dalton, "Janis", e um outro, já publicado no Brasil pela ‘Civilização Brasileira’, "Enterrada viva" de autoria de Myra Friedman — espécie de Janet Clair americana. Lendo os três basta, pois o importante mesmo é ouvir os seus sete petardos e o disco póstumo Farewell Song.

Janis Lyn Joplin — nasceu a 19 de janeiro de 1943, sob o signo de Capricórnio em Port Arthur, uma cidade petrolífera no Texas. A maior parte de sua infância, Janis foi uma menina solitária e complexada por ser excessivamente robusta.

Aos 14 anos Janis Joplin assustava os moradores de sua cidade e revolucionava chocando as pessoas com suas roupas extravagantes e gosto por coisas diferentes, e tinha, como resultado, poucos amigos.

Janis Joplin era quieta, introspectiva, sozinha. E esperava que algo mudasse.

“Eles me marginalizaram na escola, na cidade e finalmente, em todo o Estado”.

Em 1960, Janis tornou-se uma admiradora dos ‘blues’ descobrindo Leadbelly e Bessie Smith, a qual foi responsável pela razão de Janis ter começado a apresentar-se em um barzinho regularmente, acabando por conquistar uma fama local. Ainda na Universidade, Janis descobriu que a vida universitária não lhe agradava e junto com um amigo Travis, decidiu voltar para San Francisco com ele. Em San Francisco durante os cinco anos em que lá esteve, Janis tornou-se uma figura extravagante, que gostava de muita loucura e não se importava com nada. Nesse tempo ela cantava e tocava harpa, apresentando-se em bares e clubes de música ‘folk’. Ainda neste mesmo 65, ela retornou para casa e recomeçou a estudar na Universidade. Chet Helms passou a organizar as primeiras festas hippies e tornara-se empresário do ‘Big Brother and Holding Company’, quando surgiu então uma vaga de vocalista e Chet convenceu-os de que Janis era a pessoa certa. A pedido de Chet Helms; Travis retorna ao Texas, visita Janis, convencendo-a fazer parte do Big Brother.

Em sua primeira aparição, em 1966, Janis conquistou o público com a sua voz excepcional, surpreendendo pela sua força, calor e sentimento.

No início de 1967, o ‘Big Brother’ figurava entre os melhores grupos da cidade ao lado de grupos como: Grateful Dead e Jefferson Airplane. Tudo isso devido à voz de Janis que estava mais selvagem, alta, áspera e gutural, Janis gritava, arranhava, seduzia e explodia junto com os amplificadores do Big Brother.

A Mainstream, uma pequena editora musical de Chicago fez uma oferta para que o Big Brother, gravasse. O nome do primeiro álbum foi "Big Brother and Holding Company", e o seu lançamento ocorreu depois de 1967, com a participação da banda no Festival Monterey Pop, um excelente golpe publicitário, a banda foi aclamada e aceita assim como o novato; um certo James Marshall Hendrix. E o disco vendeu uma quantidade fantástica de cópias.

O segundo disco Cheap Thrills será lançado pelo gravadora Columbia, e os caminhos estavam abertos para Janis. Cheap Thrills lançado em setembro de 1968, logo de saída vende mais de um milhão de cópias. Ao lado de clássicos como: Ball and chain, que consagrara a banda em Monterey Pop, o disco gravado parte em estúdio e ao vivo – trazia também o revolucionário arranjo eletrificado para o "Summertime", dos irmãos Gershwin. Na capa, desenhos do papa dos comix, Robert Crumb, refletias bem o tom underground da banda.

Contudo... Como geralmente acontece, juntamente com o sucesso começaram as complicações, nas apresentações ao vivo Janis balançava as plumas e pulseiras enquanto sua voz penetrava na mente de todos. Sedas e cetins delineavam seu busto enquanto ela gemia ao microfone. Gradualmente todo o conjunto ia apagando-se mais e mais atrás de Janis. O empresário Albert Grossman, que tinha assinado contrato com eles em janeiro de 68, e tendo trabalhado com nomes como: Bob Dylan, e Peter, Paul and Mary, fez a cabeça dela pra que abandonasse o conjunto, segundo ele bastante aquém do potencial da cantora, e partisse rumo à carreira solo.

O último concerto de Janis e o Big Brother foi com o Family Dog, de Chet Helms. Depois das dificuldades para formar uma nova banda; surgiu a Kosmic Blues Band, tendo Sam Andrew (do Big Brother) na guitarra-base; Bill King, órgão; Marcus Doubleday, trompete; Terry Clementes, sax alto (ambos anteriormente do Eletric Flag e Buddy Miles Express; Brad Campbell, contrabaixo e Ron Markowitz, bateria).

Excursionaram até dezembro de 1969, mas nunca passaram de uma banda de fundo de palco, sem conseguir recriar o clima mágico das apresentações de Janis com o Big Brother. Se os resultados artísticos dessa mudança não decepcionaram, no nível pessoal, Janis em momento algum se declarou satisfeita. Sem o apoio dos velhos parceiros – apenas o guitarrista Saw Andrews, a cantora passou a viver uma fase de total desestruturação, o que nem o sucesso do LP I Got Thel Ol’Kosmic Blues Again Mamma, conseguiu equilibrar. Os críticos diziam que Work me Lord e One good man tinham toda essência da rudeza e da súplica de Janis. Mas, por tudo isso, sua voz não tinha crescido, e os críticos começaram a perguntar se ela estava perdendo a voz.

No início de 1970, Janis visitou-nos, para curtir umas férias terapêuticas, no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, onde ela conheceu um americano barbudo que logo se tornou seu noivo. Janis adorou o desfile das escolas de samba, e ao mesmo tempo tentou esquecer as drogas e a preocupação de viver uma vida menos difícil. Muito pouca gente, aqui reconheceu a rainha dos ‘blues kósmicos’, e os comentários na imprensa se limitaram à sua “feiúra” e “roupas extravagantes”.

Em meados de abril, Janis reapareceu com Big Brother and Holding Company (e Nick Gravenites) no Filmore West, tocando todos os seus números antigos. Em maio, ela formou a sua ‘Full Tilt Boogie Band’, um conjunto que incluía John Till, guitarra-base; Brad Campbell, contrabaixo; Richard Bell, piano; Ken Pearson, órgão e Clark Pierson, bateria.

A primeira apresentação da banda foi no dia 12 de junho de 1970, no Freedom Hall, em Louisville. Ela cantou blues em sua forma mais crua e mais sentida, a sensualidade envolta em cetim brilhante, que cantaria até cair.

Em setembro, eles tinham voltado de uma excursão pelo Canadá e entraram no estúdio para gravar as faixas do LP Pearl, que Janis não chegou a ver editado. "Pearl" incluía duas faixas escritas por Janis: Mercedes Benz e Move over, a memorável Me and Bobby McGee de Kris Kristofferson, e uma que dizia tudo o que havia para ser dito sobre Janis, Get it while you can. Todos eram números mais vagarosos do que os anteriores.

Desde o início de sua carreira profissional – em parte por imposição de seu empresário Albert Grossman – Janis vinha tentando se libertar do seu antigo vicio: a heroína.

Na época da Full Tilt, ela era uma ex-viciada, recuperada por um tratamento a base de metadona. Mas Janis Joplin voltou ao vicio secretamente. E no dia 4 de outubro de 1970,  ela errou na dose. Alguns falaram em suicídio. Outros pensaram apenas acidente. 

Mas foi seu último incidente. Assim então a música-pop sofria um violento golpe, jamais refeita.

ORIGINALMENTE PUBLICADO NO FANZINE ‘JORNAL DO ROCK - Nº 4’ – 12 fev. / 1983.

 

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