JOHN LENNON 80 ANOS: A ÚLTIMA ENTREVISTA COM ELE, ENTREVISTA COM YOKO ONO, FOTOS RARAS E MUITO MAIS! (2010)
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John Lennon 80 anos: Edição Especial!
Tradução e adaptação de Antonio Celso Barbieri
Yoko Ono
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Eu passei a maior parte do ano passado escutando as músicas incríveis do John. Eu trabalhei com a grande ajuda de Allan Rouse do Abbey Road Studios juntamente com seu grupo de engenheiros brilhantes preparando uma série de lançamentos para a celebração deste outubro.
Às vezes, absorvida pelo poder das letras do John ou a força tão bonita da sua voz, descobri que estava dirigindo-me à ele, meu parceiro nesta vida, pedindo algum tipo de conselho, algum tipo de ajuda ou, simplesmente para dizer para ele que ele era uma criatura maravilhosa... e ele não estava lá. Mas, através do seu catálogo musical que eu realmente acredito é insuperável, John deixou uma marca definitiva em nossas vidas. Sua influência está por todo os lados e cresceu de estatura através das décadas. Suas músicas são parte de nós, nossas vidas moldadas e definidas por elas. Ele continua um artista essencial, um rebelde de Liverpool que mudou o mundo. Eu amo John! Seja bem-vindo à esta edição muito especial na qual eu contribui com minhas próprias memórias. No dia 9 de outubro, por favor, junte-se à mim relembrando John Lennon. Junte-se à mim com alegria nos seus corações pelo que ele nos deixou: A música, a atitude e o conhecimento de que juntos nós podemos mudar o mundo. Imagine a Paz Love Yoko Ono Mensagem de Yoko:
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John Lennon. A lenda!
John Lennon
A última entrevista
por Andy Peebles
No dia 6 de Dezembro de 1980, John Lennon deu uma entrevista amiga de 3 horas para Andy Peebles, repórter da BBC. Nesta entrevista, ele falou sobre Os Beatles, Yoko, drogas e seus planos para o futuro. 4 dias depois ele estava morto. Abaixo Peebles relembra seu tempo com John Lennon assim como alguns dos momentos mais memoráveis desta conversa...
Andy Peebles com John & Yoko em Nova Yor
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É Andy Peebles quem recorda:“Eu fui para Nova York entrevistar John Lennon no fim de semana do dia 6 de dezembro de 1980. Peguei este trabalho porque trabalhava exclusivamente com um produtor da BBC chamado Jeff Griffin. Jeff conhecia Bill Fowler que era o Chefe de Promoções da gravadora do John. Bill ligou e simplesmente perguntou ao Jeff se a BBC estaria interessada em fazer uma entrevista com John Lennon. Jeff tinha um senso de humor muito seco e ácido e disse: “Porque é que nós faríamos isto?”. Bill então respondeu: “Porque ele está lançando um álbum novo (Double Fantasy, lançado em Novembro de 1980). Então, peguei o serviço mas, se as circunstâncias tivessem sido diferentes, o trabalho poderia facilmente ter sido dado para “Kid” Jensen ou Peter Power (outros repórteres). Voamos para Nova York na quinta-feira, 4 de dezembro. O grupo era formando, além de mim, por Bill Fowler, nosso Produtor Paul Williams e nosso Produtor Executivo Doreen Davis. |
Na sexta-feira, na hora do almoço, tivemos um encontro com Yoko no Edifício Dakota. Ela foi bem durona e disse que tinha recebido muitas ofertas de outras estações de rádios. Recordo-me que perguntei se havia alguma chance de nós entrevistarmos John mais cedo e ela disse: “Não! Vocês encontrarão com ele amanhã.” Ela tinha aquele sorrisinho forçado parecendo mesmo com uma diretora de escola. O plano era fazer a entrevista no sábado ao meio dia, nos Estúdios The Hit Factory. Quando nós chegamos lá, havia uma mensagem pedindo desculpas e dizendo que eles tinham trabalhando até tarde, mixando o que acabaria sendo uma música da Yoko chamada Walking On Thin Ice (Caminhando Sobre Gelo Fino). Pediam que voltássemos mais tarde às 6 da noite. Sendo um pessimista, recordo-me que disse: “Pronto! É isto aí! Não vai acontecer!” Bom, passamos as próximas horas, fazendo compras e andando pelas ruas de Manhatan mas, sempre preocupados se a entrevista iria acontecer ou não. Nós retornamos para o The Hit Factory às 10 para as 6, tentando ser calmos e profissionais e lá estava ele. John estava usando uma calça jeans preta e uma blusa preta bem justa. Ele tinha estado fazendo uma dieta macrobiótica, tinha perdido peso e estava usando um corte de cabelo diferente. Me pareceu que ele estava em grande forma. Suas primeiras palavras foram: “Obrigado por virem... Eu estava querendo muito fazer isto. É uma coisa bem nostálgica porque eu realmente amo a BBC.” Naquela sexta-feira Yoko tinha dito que nossa entrevista seria de apenas 1 hora e que 50% deveria ser à respeito dele e 50% à respeito dela. Mas, quando a entrevista começou John Lennon deu partida como se estivesse num carro da Formula 1 e Yoko raramente teve chance de falar. Eu, sentado, e só pensando: "Isto vai ser interessante! Será que ela vai interrompe-lo?" Mas, ela ficou hipnotizada pelo que John estava dizendo e ficou ali sentadinha quietinha. Isto encorajou-me e também encorajou John. Eu não sei se John estava sendo controlado mas claramente ele tinha um enorme respeito pela Yoko. John era o artista mas, quem estava rodando o show, os negócios, era Yoko. Antes da entrevista Paul Williams e eu tínhamos tido uns bate-bocas amigos à respeito de como seria feita a entrevista. Paul queria fazer uma retrospectiva completa da carreira do John. Eu achava isto ridículo porque nós só tínhamos 1 hora. Depois de 1 hora e meia de entrevista eu perguntei ao John se ele queria parar: “Não! Eu estou amando isto e tenho muito mais coisas para dizer.” Foi sua resposta. Eles mandaram vir comida chinesa mas, a comida esfriou do lado da mesa porque ele não parava de falar. No final a entrevista durou 3 horas. Olhando para o passado, hoje vejo que a coisa poderia ter sido melhor mas, no geral, sou orgulhoso do resultado final. John foi incrivelmente honesto e falou de tudo: Da sua infância, da sua atitude para com as mulheres (A Yoko gostou da frase que ele usou dizendo “Viajem de Macho”), do Paul McCartney, dos abortos naturais da Yoko e como ele foi “cold turkey” com as drogas. Nota do Barbieri: Cold Turkey (Peru Frio) é uma gíria que é usada para definir a pessoa que consegue deixar um vício, de imediato. Interrompe e pronto. A pessoa deixa o vício não gradualmente, de uma só vez e, sem a ajuda de medicamentos. Teve duas coisas que eu deveria ter perguntado mas, não perguntei: A primeira foi sobre sua primeira esposa Cynthia. Mas, como é que você vai perguntar sobre a primeira mulher quando a atual está sentada do lado da pessoa? A outra pergunta foi sobre a May Pang, a assistente pessoal da Yoko e do John. Lennon teve um caso que começou em 1973 e durou vários meses. Mas naquela época esta história era apenas um rumor e ainda não era de domínio público. Depois da entrevista nós fomos para um restaurante chinês chamado Mr Chow. Eu não me lembro o que foi que o John comeu, somente que ele foi muito cuidadoso com a sua escolha. Lá, nós continuamos conversando. Durante o jantar, ele nos perguntou quem eram os grandes produtores de shows na Inglaterra. Respondi à sua pergunta e ele olhou direto na minha cara com uma expressão séria e disse: “Você acha que algum deles estaria interessado em nos produzir?” Eu respondi: “Você está louco?” John, então explicou: “Você tem que entender que eu estou uma década longe da Grã-Bretanha. Eu não tenho idéia do que está acontecendo lá!” Nós nos despedimos do lado de fora do restaurante. Eram lá pelas 2 e meia da manhã. Nós tomamos o avião às 7 horas da noite da segunda no Aeroporto JFK. Eu acho que nós já estávamos no meio do caminho, sobrevoando o Oceano Atlântico quando Mark Chapman puxou o gatilho. Nós chegamos em Londres, no Aeroporto de Heatrow lá pelas 6 da manhã e eu liguei para minha mãe. O rádio relógio dela tinha o alarme sempre acertado para a Rádio BBC 4 e foi enquanto eu falava com ela que ela ouviu a notícia anunciando que John tinha recebido vários tiros. Ao mesmo tempo, Paul Williams estava no outro telefone público conversando com sua esposa. Eu vi de repente ele deixar cair o telefone. Ele disse: “Atiram no John!” Eu perguntei: “John quem? E, ele respondeu: “John Lennon!” Sempre penso que, na sexta-feira, quando fomos lá no Dakota, Mark Chapman possivelmente estaria lá fora. Eu percebi que John tinha guardas armados como segurança. No restaurante eu percebi que um deles tinha uma arma na jaqueta. Muita gente em Nova York carrega armas. Então eu perguntei sobre isto: “Você sabe o que é sentir que eu posso caminhar para fora daqui agora, caminhar pela rua e ouvir as pessoas dizerem: Oi John, tudo bem?” Foi sua resposta Ele nunca poderia imaginar!” |
John Lennon
Leia abaixo a última estrevista dada por John Lennon
Sobre David Bowie...
Lennon: “Eu não posso pensar em ninguém, inglês ou norte americano que eu prefira realmente andar junto. Nos envolvemos desde que nos conhecemos e nós somos totalmente auto controlados. Quando Elton John, David Bowie ou Mick Jagger estão por perto e com vontade de se mixar, nós nos encontramos com eles. Eu quero dizer, somente Bowie está na cidade. Eu vou ver Elephant Man. Eu considero ele um amigo e um confidente”
A peça Elephant Man (Homem Elefante) estreou na Broadway no Booth Theatre, em setembro de 1980 com David Bowie no papel principal fazendo o papel de John Merrick. Mark Chapman assistiu a peça dois dias antes de assassinar John Lennon. A polícia achou o programa do teatro no meio das suas coisas pessoais.
Sobre a música Cold Turkey...
Lennon: “Cold Turkey foi proibida. Eles pensaram que foi uma música à favor das drogas. Mas, eu sempre falei do que estou sentindo e pensando num dado momento. Então, eu somente estava falando da experiência que eu tive quando estava largando da heroína. Para mim, é uma versão rock’n’roll do filme The Man With The Golden Arm (O Homem Com o Braço de Ouro) porque mostrava Frank Sinatra sofrendo quando deixava a droga.”
A música Cold Turkey foi lançada em outubro de 1969 como compacto simples pela Plastic Ono Band. A música foi banida pela BBC no Reino Unido em 1969 e também nas rádios Norte Americanas. The Man With The Golden Arm foi um filme lançado em 1955 estrelando Frank Sinatra como um viciado em heroína lutando para ficar “limpo” depois de ter passado um tempo na prisão.
Sobre problemas com a polícia por causa de drogas...
Lennon: “Agora, eu estou fichado para sempre por causa deste policial que pegou eu e a Yoko. Ele também pegou o Brian Jones e os Rolling Stones. Ele era um caçador de cabeças procurando ficar famoso. Foi tudo uma armação! Os jornais Daily Mail e Daily Express chegaram lá antes da polícia. Foi ele que chamou a imprensa. Na verdade, Don Short, 3 semanas antes, nos tinha avisado que eles iam nos pegar. Então, acredite-me que, eu “limpei” a casa toda porque, Jimi Hendrix tinha vivido neste apartamento antes da gente e, eu não sou estúpido. Eu chequei inteirinha a maldita casa!”
O Sargento Detetive Norman “Nobby” Pilcher foi o oficial que comandou a “batida” no apartamento alugado no número 38 da Praça Montagu em Londres onde moravam John e Yoko. Lennon foi autuado em flagrante por posse de maconha e recebeu uma multa no valor de 150 libras. Em 2005, um documento confidencial da Scotland Yard veio à público e revelou que o então Home Secretary tinha feito críticas aos métodos usados por Pilcher. Pilcher foi preso em 1973 e sentenciado à 4 anos de prisão por perjúrio. Don Short foi um jornalista do jornal Daily Mail. Don Short foi o inventor da palavra “Beatlemania”.
Sobre ele ter influenciado o Punk...
Lennon: (Enquanto falava sobre seu concerto feito para a UNICEF no Natal de 1969 realizado no Lyceum em Londres) “Este foi um show bem pesado, muita gente do público foi embora. Mas, aqueles que ficaram pareciam que estavam em transe. E, eu sempre penso que alguns daqueles garotos formaram algumas destas banda loucas mais tarde porque, tinham uns 200 garotos entre 13, 14, 15 que estavam olhando para a Yoko e do jeito que nós estávamos tocando Don’t Worry, Kyoto. Eu escuto muito toques do nosso som em um monte de Punk e New Wave por aí. Eu adoraria saber: Será que eles estavam na audiência? E, será que alguém foi para Londres e montou uma banda lá porque eu estou certo como o inferno que soa exatamente como isto.”
Don’t Worry, Kyoto - Mummy’s Only Looking For A Hand In The Snow (Não Se Preocupe, Kyoto – Mamãe Somente está Buscando Por Uma Mão Na Neve) foi uma música de 1971 pertencente ao álbum da Yoko chamado Fly. Ela foi dedicada a Kyoko Cox, filha do Yoko com o artista Anthony Cox.
Sobre Power to the People (Poder para o Povo)...
Lennon: “Tarik Ali ficou vindo e pedindo dinheiro para a revista Red Mole e outras. Eu fiquei pensando: Bem, eu sou da classe trabalhadora e eu não sou “um deles” mas, eu sou rico e portanto eu tenho que colaborar. Então, toda vez que alguém dizia alguma coisa assim, eu metia a mão no bolso. Ele estava me extorquindo e, então eu escrevi Power to the People como um tipo de música com sentimento de culpa. Foi como uma canção manchete de jornal onde você escreve sobre o que está acontecendo agora, no momento. São as manchetes com as faltas e tudo o mais.”
Tarik Ali foi ativista e escritor Paquistanês com nacionalidade britânica que entrevistou Lennon para a revista Red Mole em 1971. O compacto do John Lennon com a música Power to the People esteve entre as 10 mais das paradas de sucessos em 1971.
Sobre Paul McCartney...
Lennon: “Eu usei o meu ressentimento contra o Paul, um tipo de rivalidade, um ressentimento tipo de irmão da juventude para escrever uma música. Era uma rivalidade criativa... não era uma vingança viciosa... mas, eu senti ressentimento. Então eu usei esta situação do mesmo jeito que eu fiz quando estava deixando a heroína para escrever Cold Turkey. Eu usei meu ressentimento e o fato de estar deixando o Paul e Os Beatles para escrever How Do You Sleep? (Como é que você dorme?)”
A música How Do You Sleep? Apareceu no álbum Imagine lançado em 1971 e inclui algumas cotuveladas no seu antigo companheiro: “A única coisa que você fez foi yesterday (ontem)” e “O som que você faz é muzak para os meus ouvidos”. Na semana depois da morte do Lennon, Andy Peebles foi contatado pelo produtor dos Beatles, George Martin:
“Eu recebi uma chamada telefônica do George, pessoa que eu nunca tinha conversado antes, pedindo para que eu fizesse uma visita ao Air Studios em Londres onde o Paul, McCartney queria conversar comigo”. Lembra-se Andy Peebles que continua:
“Desculpe-me Paul mas, se eu não me engano, o que você queria dizer pra mim é que o John ainda gostava de você”.
Sobre a Plastic Ono Band...
Lennon: “A banda Plastic Ono Band foi uma concepção da Yoko e era uma banda imaginária. Foi supostamente uma festa para comemorar a gravação do Give a Peace a Chance que foi a primeira gravação. Mas, nós tivemos um acidente com o carro e não pudemos comparecer. Então, no salão, no lugar onde eles fizeram a festa para a Plastic Ono Band, toda a imprensa veio para encontrar-se com a banda mas, o que encontraram foi uma câmera apontando para a imprensa e, projetando eles mesmos no palco.”
Música Give a Peace a Chance chegou ao topo das paradas em julho de 1969. A música foi gravada por John, Yoko e vários convidados célebres em um quarto do Hotel Queen Elizabeth em Montreal no Canadá onde eles estava fazendo a “instalação” Na Cama Pela Paz. O acidente de carro aconteceu em julho de 1969 na Escócia (Highlands). Lennon bateu com seu carro, um Austin Maxi, machucando-se e ainda ferindo Yoko e sua filha Kyoto. Seu filho Julian teve que ser tratado por “shock”.
Sobre violência...
Lennon: “A primeira cobertura nacional dos Beatles aconteceu quando eu bati no Bob Wooler na festa de 21 anos do Paul porque ele andou dizendo que eu era homossexual. Eu devia ter algum medo de que talvez fosse homosexual para ter atacado o cara desta forma. Mas, eu estava muito bêbado e bati mesmo. Poderia mesmo ter matado alguém e isto assustou-me. Isto apareceu no Daily Mirror, foi na última página.”
Bob Wooler foi o DJ de Liverpool que apresentou Os Beatles para aquele que viria a ser o empresário da banda, Brian Epstein. Lennon tinha ido recentemente de férias para a Espanha com Epstein que era homossexual. Wooler fez uma brincadeira dizendo que aquelas férias tinha sido uma “Lua de Mel”.
Sobre o “The Lost Weekend” (Fim de Semana Perdido)...
Lennon: “Eu poderia ter lidado com a separação (da Yoko em 1973) de qualquer outra forma. Eu simplesmente fiquei partido e a única coisa que eu soube fazer foi ir juntamente com Harry Nilsson, o pobre Keith Moon e outros para o bar e encher a cara. Olhando para trás, parece engraçado mas, foi uma coisa muito miserável. Eu nem bebo mais porque isto me assusta. Hoje, até um copo de vinho me derruba.”
Durante os 18 meses que duraram a separação do John com a Yoko, Harry Nilson foi um dos parceiros regulares do John na bebida. Neste período os dois homens moraram na Califórnia. John produziu para Harry Nilson o álbum chamado Pussy Cats lançado em 1974. Foi neste álbum que Nilson famosamente rompeu uma das suas cordas vocais.
Sobre a sua volta ao vivo com Elton John e o reencontro com Yoko...
Lennon: “Elton estava na cidade eu estava fazendo a música Whatever Gets You Thru The Nigth (Qualquer Coisa Que Ajude a Passar a Noite). Eu precisava de ajuda com uma harmonia. Ele veio, fez a harmonia para mim e ficou falando em tom de brincadeira que iria fazer este concerto no Madison Square Garden e disse:
“Você faria o show comigo se esta gravação chegasse à número 1?” Eu aceitei porque pensei que esta música não tinha chance nem no inferno. Mas, 1 ano depois ele veio para mim e disse:
“Ok! Agora é a sua vez de pagar as suas contas!” Bom, eu fui lá e cumpri minha parte. Eu fiquei surpreendido de ver como o público foi tão gentil para comigo. Eu não sabia que ela (Yoko) estava na platéia. Eu não teria coragem de me apresentar se soubesse que ela estava lá. Eu fui para o camarim e lá estava ela. Nós voltamos juntos naquela noite.”
A música Whatever Gets You Thru The Nigth foi a única música solo do John que chegou à número 1 em toda sua carreira. Ela foi lançada em outubro de 1974. Foi no dia 28 de novembro de 1974 que John, juntamente com Elton John, fez a sua última maior apresentação ao vivo.
Sobre o seu segundo filho Sean...
Lennon: “Mick (Jagger) fez todo este falatório no jornal The Observer que eu li em Tokyo, porque eu passei a metade dos primeiros 3 anos do Sean no Japão. Ele disse:
“Vamos lá John! Cai fora daí”. Ele estava me atacando mas seu ataque não “cortava” nada. Ele disse:
“Eu gosto muito do John mas, ele está escondendo-se atrás do Sean. Porque é que ele não coloca nem o dedo para fora de casa. A Yoko deve manter ele trancafiado.””
Sean Lennon nasceu no dia 9 de outubro de 1975, o dia do nascimento do John. Ele fez a sua estréia musical 1 ano depois da morte do seu pai, tocando no álbum da sua mãe Yoko chamado Season of Glass, lançado em 1981.
Sobre feminismo...
Lennon: “Eu aprendi a fazer pão. Eu estava fornecendo o pão para Yoko e o bebe. Isto aconteceu por mais ou menos 9 meses. Sempre teve um lado de mim que sempre foi servido pelas mulheres. Foi minha Tia Mimi ou outras mulheres e namoradas. Foi uma grande experiência. Eu aprecio o que as mulheres fizeram por mim em toda a minha vida.”
Tia Mimi cujo nome era Mimi Smith foi a tia maternal e guardiã do Lennon.
Sobre o seu primeiro filho Julian...
Lennon: “Com Julian, meu primeiro filho, eu voltei para casa e tinha este menino com 12 anos que eu nunca tive nenhuma amizade. Agora ele está com 17 e nós estamos desenvolvendo uma amizade porque eu posso falar de música e de qualquer coisa que ele estiver interessado.”
Julian é o primeiro filho do Lennon. Ele nasceu em 1963 do seu casamento com sua primeira esposa Cynthia Powell.
Sobre John Cleese...
Lennon: “O seriado da TV Fawlty Towers é um dos maiores programas que eu assisto em muito anos. Que cara! Ele é grande! Eu o vi explicando como ele tem só meia hora para fazer o programa e que faz um por semana. Mas, que obra de arte, uma coisa muito bonita.”
Os episódios da série Fawlty Tower foram ao ar de 1975 a 1979. Tratava-se de uma comédia estrelada por John Cleese que também era o produtor. A história girava em torno de um hotel e seu dono muito louco. John Cleese também escreveu e estrelou no filme Monty Python chamado Life of Brian (Vida do Brian) produzido pela Hand Made Films, uma companhia formada por, entre outros, nada mais nada menos do que, George Harrison.
Sobre sua composições...
Lennon: “Eu comecei desde o álbum Mother em diante tentando cortar fora todas as imagens, pretensões de poeta e ilusões de grandiosidade. Simplesmente digo o que é, uso um inglês simples, coloco uma rima e uma pulsação nela. O povo lá do norte da Inglaterra é mais direto, “na lata” então, eu estava só tentando escrever do jeito que eu sou.”
Mother é a música do álbum John Lennon/Plastic Ono Band lançado em 1970 em que Lennon acusa os seus pais de o terem abandonado. Sua mãe morreu atropelada quando ele tinha 17 anos.
Sobre música moderna...
Lennon: “Quando eu estava em Bermudas um cara que trabalhava para mim chamado Fred Seamen mostrou-me o som da banda B-52. Ele colocou numa fita cassete mais eu não escutava. Acabei apagando tudo. Mas, ainda lá em Bermudas falei:
“Fred onde está todo aquele material que você me deu? Vai lá e trás tudo de novo!”
Então ele me trouxe Madness, B-52, Pretenders e eu achei ótimo. Eu não queria ouvi-los antes mas agora eu quero saber tudo que está acontecendo!”
Fred Seamen foi assistente pessoal do John e da Yoko. Depois da morte do John ele foi condenado por roubar coisas do casal, incluindo os diários do John. Quanto à banda B-52, Fred Seamen levou John Lennon para ver a banda num clube em Nova York. Lennon dizia que a música do B-52 chamada Rock Lobster lembrava-o da música feita pela Yoko. Lennon disse na entrevista ao Andy Peebles:
“Eles estudaram a música da Yoko! Eles admitiram!”
Sobre gravarem outro álbum depois do Double Fantasy...
Lennon: “Temos várias idéias e planos na nossa cabeça no momento. Nós já temos a metade do próximo álbum e provavelmente, depois do natal, nós iremos gravá-lo.”
O próximo álbum, póstumo, chamou-se Milk and Honey (Leite e Mel) e finalmente foi lançado em 1984 contendo as últimas gravações de John Lennon junto com Yoko Ono.
Sobre viver em Nova York...
Lennon: “No princípio quando nós mudamos para cá, nós moramos em Greenwish Village. Eu andava pela área todo tenso, esperando que alguém me dissesse alguma coisa ou pulasse em cima de mim. Levou dois anos para que eu relaxasse! Eu quero dizer, o povo vem e pede um autógrafo ou diz oi mas não me perturba.”
Antes de mudarem para o Edifício Dakota em maio de 1973, John e Yoko viveram por quase dois anos num apartamento no número 105 da Bank Street no bairro Greenwish Village em Nova York.
Foto rara do John com seu filho Sean nas Bahamas em junho de 1980
John é julgado por posse de maconha em 1968 | A controversial foto para o álbum Two Virgins |
Lennon gravando Instant Karma! no Abbey Road Stúdios em janeiro de 1970 |
Lennon em casa msotra uma arte feita por Salvador Dali |
Plastic Ono Band apresenta-se em Londres no Lyceum em dezembro de 1969 A Yoko está dentro do saco! |
John e Yoko numa foto caseira |
Lennon numa pose à la Picasso | John e Yoko em 1971 |
yoko Ono. Foto: Matthias Clamer
Yoko Ono
A entrevista
por Tom Doyle
Imagine, você caminhando pelos portões do Edifício Dakota na esquina da 72 Street com a Central Park West, no mesmo lugar onde 30 anos atrás John Lennon foi assassinado e, onde fãs e espíritos do mal rondam dia e noite tirando fotos uns dos outros. Você então vira à direita na recepção onde o ex-beatle deu, na noite de 8 de dezembro de 1980, seus passos finais e então pega o elevador, todo revestido por dentro em madeira escura e, vai até o sétimo andar. Já no sétimo andar você toca a campainha do número 72.
Segundos depois Yoko Ono abre a porta e o convida para entrar. Você então tira seus sapatos porque o lugar é todo acarpetado na cor branca e, deixa Yoko conduzi-lo pela sala que ela chama de “quarto branco” onde pode-se ver o piano preto tipo armário que era do John e levá-lo finalmente até sua cozinha que, é até bem modesta em termos de tamanho. Houve um tempo que esta cozinha era a parte favorita do apartamento...
O apartamento número 72 foi por algum tempo um dos lugares mais exclusivos e difíceis do mundo de ser visitado. Entretanto, neste últimos anos Yoko tem relaxado a sua relutância, aliás justificável, em permitir visitas de estranhos.
Neste sábado de manhã, da primeira semana de agosto de 2010, não posso deixar de sentir-me orgulhoso e honrado em aceitar este convite para uma visita.
Sentamos em cadeiras com encostos almofadados junto à uma mesa com o topo coberto de mosaicos. As paredes à sua volta estão adornados com uma foto branco e preto do casal John e Yoko tirada por volta de 1969 e, de certa forma surpreendente, por um calendário do John Lennon de 2010. Yoko esta vestida toda de preto, usa uma calça bem à vontade e uma blusa justa. Bebendo seu café com gengibre de uma xícara de porcelana, ela mostra que está bem em forma para os seus 77 anos.
Durante 1 hora, ela mostrou-se afiada, engraçada, surpreendentemente honesta e que, manteve-se uma verdadeira avart-guarde artista na sua alma, inabalável. Entretanto, freqüentemente quando relembrando os vários rumores e falatórios que jogaram nuvens negras sobre a sua relação, ela quase pegava fogo de tanta indignação.
Para marcar o aniversário de 70 (em 2010) anos John Lennon, Yoko supervisionou a remasterização e relançamento dos seus álbuns solos, incluindo uma versão do seu último álbum lançado enquanto estava vivo e que, agora, sem os excessos que foram utilizados na produção inicial foi re-entitulado Double Fantasy Stripped Down. "Foi este trabalho uma experiência emocional? Pergunto.
“Sim foi muito emocional.” Yoko confirma, me olhando por cima dos seus óculos escuros que insistem em escorregar para a ponta do seu nariz bem pequeno e, acrescenta:
“... e, eu não pensei que seria assim tão emocional porque, tenho lidado com a música do John pelos últimos 30 anos. Mas o que me surpreendeu foi perceber que ele era um incrível cantor. Ele colocava sua alma sempre para frente. Nos anos 70 e 80 o povo realmente enterrava a voz e, John fazia o mesmo. Ele não gostava do som da sua própria voz, não é mesmo? Ele não achava que sua voz era boa.” Ela fala com um sorriso e continua:
“Então eu sempre empurrava a voz dele para cima e ele sempre empurrava ela para baixo novamente. Eu não conseguia nunca ganhar esta briga. Isto só serve para mostrar como ele era. Ele era uma pessoa muito complexa.”
Pergunta: “Vamos voltar para 1966, quando você e John encontraram-se. Vocês dois vinham obviamente de ambientes totalmente diferentes. O que é que vocês tinham em comum?”
Yoko Ono: “Bem, você sabe, nós dois éramos duas pessoas bem rebeldes. Eu era rebelde contra as minhas origens burguesas japonesas e John estava, provavelmente, rebelando-se contra o mundo.”
Pergunta: “A história conta que John não era uma pessoa muito feliz antes de encontrar você...
Yoko Ono: “É, ele era um tipo nervoso e estourado. Ele carregava aquele ódio por dentro.”
Pergunta: “Dizem que você não ficou muito impressionada pelo fato de ele ser um Beatle ou até nem sabia...”
Yoko Ono: “Não, eu não sabia desta história. Eu já sabia sobre Os Beatles. Provavelmente, não existia naquela época ninguém que já não tivesse ouvido falar deles. Eu estava no Japão e li este pequeno artigo que dizia mais ou menos assim: “Estes 4 jovens com corte de cabelo modelo tigela agora são muito populares”. Esta manchete não impressionou-me nem um pouco.”
Pergunta: “John mais tarde diria que você o liberou para que ele deixasse de ser o que ele chamou de um Elvis Beatle, cercado de psicopatas...”
Yoko Ono: “Bem, eu penso que foi bom que um novo tipo de força externa interferiu. Uma pessoa de fora que não sabia o que estava acontecendo. Foi bom porque aí John pode ver as coisas com olhos mais objetivos. Digo isto porque, todo mundo ao redor dele sabia sobre os Beatles, sua história e, não conseguiam deixar de ficar impressionados por eles e portanto tudo era irreal.”
Pergunta: “Vocês juntaram-se em 1968 e foram morar juntos no apartamento do Ringo Star que ficava em um subsolo na Praça Montagu em Londres. Foi lá que houve aquela batida policial e John foi preso por posse de maconha. O que você se lembra daquele incidente?”
Yoko Ono: “Primeiro, o apartamento foi residência do Jimi Hendrix, depois o Ringo pegou de volta e nós fomos morar lá. Nós recebemos um aviso da Apple que este sargento irritante andava prendendo gente famosa e que nós deveríamos ter muito cuidado e ficar certos de que não tínhamos nada comprometedor na casa. Então John andou pela casa limpando e lavando tudo. De manhã, nós acordamos com um barulhão e olhamos pela janela. Percebemos que alguém estava pulando o muro para dentro da casa. Nós estávamos despidos e então nós nos enrolamos com as cobertas e fomos para o banheiro e ficamos só de olho. A campainha tocou e eu, estupidamente, abri a porta. Era uma mulher policial. Eu tentei fechar a porta imediatamente mas ela tinha colocado o pé. Então, de repente, eles descobriram este pedaço enorme de haxixe no outro quarto. Nós sabíamos que não era nosso, eu sei... Mas, pensando sobre isto, se eles viessem e não encontrassem nada nós poderíamos processá-los. Então eles deveriam estar preparados com alguma coisa.”
Pergunta: “Por este período John começou levar você junto para as sessões de gravações do The White Album. Você estava à par das reações dos outros Beatles, olhando uns para os outros, como que dizendo: Que diabos esta mulher está fazendo aqui?”
Yoko Ono: “Vamos colocar desta forma, eles tinham tanto respeito pelo John que, eles não foram tão duros comigo. Na verdade eles foram até que muito delicados (risos). Aconteceu uma cotuveladinha aqui e outra ali mas não foi nada muito grosseiro.”
Pergunta: “As atitudes deles para com você com relação à perspectiva de trabalho, também não foram inteiramente negativas. Não é verdade que Paul no princípio até perguntou para John se você não estaria interessada em dirigir o filme Let It Be?”
Yoko Ono: “Sim, sim. Bem, você sabe, Paul é um cara muito esperto e deve ter pensado: “Ok, você sabe, nós não queremos ela sentada aqui o tempo todo. Não seria bom se a gente desse para ela algum trabalho para fazer?” Brilhante, eu pensei.”
Pergunta: “Então, porque não aconteceu?”
Yoko Ono: “Porque eu não quis. Eu também sou uma garota espertinha (risos). Você pode imaginar se eu tivesse aceitado? Qual seria o resultado? Seria uma situação muito difícil, eu não conseguiria agradar ninguém, mesmo porque, John iria ficar muito chateado porque eu não teria ficado sentada do lado dele. Depois, eu estava interessada em fazer avant-guarde filmes e, Let It Be não era o tipo de filme que eu queria fazer naquela época.”
Pergunta: Vocês dois envolveram-se num acidente automobilístico enquanto estavam de férias na Escócia em 1969. Então, enquanto você se recuperava, John mandou instalar uma cama dentro do estúdio. Não foi estranho ficar deitada numa cama no meio do estúdio de gravação enquanto Os Beatles gravavam Abbey Road?”
Yoko Ono: “Bem, é claro! Mas, veja, eu sou uma artista. Arte performática e instalações, quase que foram criadas por mim então, achei ótimo. Uma enorme cama bem no meio do estúdio. É claro que, fiquei um pouco embaraçada mas, isto é o que John queria. Ele amou esta idéia. Neste período ele já entendia minha arte performática e, eu penso que existiu um lado artístico em tudo isto.”
Pergunta: “É verdade que ele lhe deu um microfone para que você pudesse fazer comentários sobre as músicas?”
Yoko Ono: “Bem, não só eu poderia fazer comentários como ele queria que eu os fizesse de forma sussurrada (risos).”
Pergunta: “Você sentiu que, de alguma forma, você teve que comprometer o seu trabalho artístico depois que vocês se juntaram.”
Yoko Ono: “Não, eu não tive que comprometer minha arte mas, depois da nossa relação ela ficou comprometida no mundo inteiro.”
Pergunta: “É porque você ficou reduzida aos olhos do mundo à Senhora Lennon?”
Yoko Ono: “Eu fui totalmente reduzida à um pequeno ponto (risos).”
Pergunta: “Os fãs foram horríveis para com você...”
Yoko Ono: “Eles foram, eles foram...”
Pergunta: “Vocês ficava muito chateada?”
Yoko Ono: “Bem, eu vou dar um exemplo, em Toronto (em 1969 com Plastic Ono Band no Rock And Rock Revival Show), tinha fãs que estavam realmente chateados comigo, na frente do palco, com aquela atitude tipo “quero que você caia morta”. Eu não percebi nada, só fiquei sabendo depois.”
Pergunta: “Essa negatividade em torno de você colocou muita pressão na sua relação com John?”
Yoko Ono: “Bem, algumas vezes foi muito duro mas, John e eu estávamos vivendo dentro de um tipo de vida pessoal protegida. Então, quando pegávamos o jornal de manhã e tinha alguma coisa horrível impressa, eu me sentia mal. De qualquer forma, este sussurros e gritos estavam longe da gente, nós vivíamos uma vida muito excitante e existia tanto amor entre nós. Eu nunca tinha estado nesta situação onde um homem tinha me dado uma atenção tão intensa. Talvez uma outra mulher tivesse sentido-se horrível à respeito. Eu pensava: “isto é muito bom!””
Pergunta: “A capa do álbum Two Virgins causou furor mas, dá para você entender que, Self Portrait (auto retrato) um filme de 20 minutos mostrando John Lennon tendo uma ereção em close up foi genuinamente chocante para muita gente?
Yoko Ono: “(risos) Bem, John depois que ele entendeu qual era a idéia atrás do movimento avant-garde, ele queria brincar com este conceito abertamente. Na verdade nós não mostramos este filme. Existiu um filme chamado Erection (Ereção) que mostrava um edifício sendo levantado e este outro que era o Self Portrait, certo? Então, os dois foram mandamos para US. No final, a censura passou Self Portrait e confiscou Erection (ela explode numa gargalhada). Não é incrível?”
Pergunta: “Em 1969 vocês mudaram para Tittenhurst Park perto da região de Ascot para ficarem mais escondidos. Mas, os fãs mais obsessivos assim mesmo conseguiram achar vocês..”
Yoko Ono: “Nem tanto. Acho que nós realmente percebemos apenas umas duas vezes. Eu estou certa que algumas pessoas vagaram pelos jardins. Na outra casa, em Kenwood apareceu esta garota no jardim e nós dissemos: “Porque é que você não vem aqui e nós lhe servimos um chá ou alguma coisa?”. Eu pensei que ela estava com fome então, lhe servi alguma coisa. Depois, ela foi na embaixada dela e reclamou que o John e eu não tínhamos sido amáveis com ela...”
Pergunta: “Você quer dizer sexualmente?”
Yoko Ono: “(Balançando a cabeça negativamente) ...e eu pensei: “O que é isto?” Foi muito, muito, difícil porque, nós éramos tão abertos e nós tínhamos uma vida tão boa juntos que, queríamos ser amáveis com outras pessoas e no final o jeito que nós queríamos ser amáveis com ela não foi nunca do jeito que ela disse.”
Pergunta: “O que representou para vocês a mudança, em 1971, para Nova York? Vocês fugiram das vibrações negativas da Inglaterra?”
Yoko Ono: “Certamente para nós significou liberdade. Foi como se “os sogros” não estivessem mais por perto.”
Pergunta: “Você admitiu no passado que viver com John, às vezes foi muito difícil. Existe esta história bem pública do John sendo infiel naquela festa em 1972, quando o Presidente Richard Nixon foi re-eleito. John arrastou uma mulher para um outro quarto e começou fazer amor com ela de forma ruidosa. Deve ter sido muito horrível para você?”
Yoko Ono: “Foi muito embaraçoso. John e eu estávamos no estúdio e então nos contaram: “Nós Perdemos!” (a eleição).” E, John foi... Jesus Cristo, eu sei, ele foi simplesmente terrível. Então, quando John estava deste jeito, sempre tinha alguém para dar alguma “coisa” para ele. Ele já estava soltando farpas para todo lado, quando estávamos no carro, à caminho do estúdio. Ele já estava super nervoso. Eu dizia: “John, para com isto!”. Mas, ele estava completamente fora de si. Então, ele simplesmente pegou esta garota e levou para o quarto ao lado e começou fazer um barulhão e tudo mais. A maioria do povo presente era o “creme de la creme” da imprensa de Nova York. Dá para você imaginar? (ela arrepia-se toda) Meu Deus!”
Pergunta: “Isto levou você à separar-se e forçou John à passar 18 meses sozinho no que ficou conhecido como o fatídico “Fim de Semana Perdido”...”
Yoko Ono: “Bem, eu tive dois pensamentos. Eu pensei: “Ok, talvez porque nós ficamos juntos 24 horas por dia, nós precisamos de um pouco de espaço porque, como artistas, nós estamos acabados.” Não porque nós não conseguíamos criar, nós estávamos criando como loucos só que, ninguém queria saber da nossa arte. John tinha perdido seus fãs. John era odiado porque, você sabe, ele estava comigo. O outro pensamento que tive era de que John precisava de algum tipo de liberdade porque nós estávamos sempre juntos. Isto era justamente o tipo de coisa a que nós estávamos nos rebelando, nossos pais, avós e talvez estivéssemos presos juntos em razão de algum sentimento de posse e apavorados com a possibilidade de perder um ao outro. “Eu pensei: Se nós vamos ficar juntos porque estamos apavorados de medo de perder um ao outro então este não é o jeito que eu quero estar.”
Pergunta: “Então, você preferiu arriscar com a possibilidade de que sua relação com John acabasse para sempre?”
Yoko Ono: “Sim, talvez isto tivesse levado à uma situação de completa separação, você sabe... poderia ter sido o fim de John e Yoko mas, nós tínhamos que ter arriscado de qualquer forma. Ele iria para Los Angeles, ele iria divertir-se, porque voltar para mim...” (sorrisos)
Pergunta: “...mas ele voltou para você em 1975, seu filho Sean nasceu e vocês se assentaram no que ficou conhecido como os anos do John “dono de casa”. Ele foi descrito como sendo uma pessoa “ausente” mas, na verdade ele andava por todo lado. Ele andava muito pela cidade, não andava?”
Yoko Ono: “Certamente ele não era nenhum Howars Hughes. Eles (a imprensa) queriam que a coisa parecesse assim. Não! Você sabe, ele estava em ótima forma e levava uma vida muito saudável. Ele disse: “Nós simplesmente devemos esquecer este negócio de rock’n’roll, compor e tudo isto... Nós vamos começar uma coisa totalmente nova.” Então, nós entramos em outro estilo de vida que tinha mais à ver com meditação e tudo mais.”
Nota do Barbieri: Howars Hughes foi magnata que construiu o primeiro grande avião de transporte de passageiros e foi dono de uma das primeiras grandes companhias aéreas. Hughes foi um milionário excêntrico que sofria de problemas mentais e morreu sozinho, de forma triste e patética, no seu apartamento luxuoso.
Pergunta: “Neste período, no que consistia o dia-a-dia do John?”
Yoko Ono: “Na verdade, ele vivia muito ocupado. Não pense, você sabe, que a vida de dona de casa não é uma vida cheia! É uma vida muito ocupada. Primeiramente Sean estava sempre lá e John tinha que tomar conta dele e acredite-me ele fazia um serviço muito bom!”
Pergunta: “Então, foi no verão de 1980, numa viagem de barco para as Bermudas que John começou compor novamente...”
Yoko Ono: “Ele compôs duas músicas lindas e eu disse: “Vamos gravar um EP.” Sabe que isto fez muito bem para ele e, assim que nós decidimos, ele escreveu muitas músicas incríveis em Bermudas. Ele não estava desesperado. Eles (a imprensa) queriam até fazer parecer que ele tinha dado uma de “dono de casa” só como golpe de imprensa. Isto só serve para provar como o povo pode ser mesquinho, sempre tentando distorcer a verdade. Isto aconteceu porque eles não conseguiam aceitar a realidade.”
Pergunta: “Depois da morte do John em dezembro de 1980, você ficou aqui no Dakota enquanto o povo com velas fazia a vigília do lado de fora...”
Yoko Ono: “Sim, este foi o lugar que escolhemos para ser o nosso lar. A realidade é que, eu conheço tudo aqui e John diria: “Ha! Vamos colocar isto aqui ou alguma coisa semelhante.” Ele esteve aqui 100% do tempo até a hora que ele se foi. Porque é que eu iria sair da minha própria casa?
Pergunta: “Você foi criticada por ficar aqui?”
Yoko Ono: “Mas é claro! Foi uma mistura de racismo com sexismo: “Nós os brancos nunca faríamos uma coisa destas... ficar em um lugar onde algum familiar morreu. Deve ter sido algum tipo de “viagem” asiática, eles são mais bárbaros do que nós e não importam-se de ficar lá.” Eu quero dizer, isto é totalmente errado! Apenas pense desta forma: “E se tivesse sido ao contrário?” Imagine se eu tivesse morrido e o John tivesse ficado na casa morando junto com o Sean. Todo mundo teria dito: “Há! Que doce da parte dele!” “
Pergunta: Não gostaram daquela capa do álbum Season of Glass (Estação de Vidro – estação é referência à as estações do ano) que você lançou em 1981 onde você foi criticada por colocar uma foto dos óculos do John Lennon sujos de sangue. Porque você fez isto?
Yoko Ono: “Eu tinha que fazer isto... Isto é outra coisa, seu um homem lança um álbum logo depois da morte da sua esposa, ele falarão: “Nossa que coragem ele teve!” Mas, se eu lanço um álbum eles dizem: “Que é que ela está fazendo? Ela não deveria estar em casa chorando?” Eu não pude deixar de fazer algo porque senão eu ficaria louca...”
Pergunta: “...em sua defesa você disse que tinha visto muito mais sangue do que aquilo mostrado no óculos...”
Yoko Ono: “Oh! Foi tão sangrento! Eu quero dizer, por favor! Eu acho que tenho o direito de mostrar um pouquinho dele!
Pergunta: “Morar aqui no Dakota faz você sentir-se mais próxima do John?”
Yoko Ono: “Sim, claro! John ainda está aqui. As vibrações que ele colocou aqui, os lugares que ele tocou (ela toca no mosaico da mesa e o balcão da cozinha). Ok, busque pelo DNA ou coisa parecida... você sabe, ele ainda está aqui.”
Pergunta: “Como você acha que estaria John se ele tivesse com 70 anos?”
Yoko Ono: “Bem, eu penso que ele estaria exatamente como eu quando eu fiz 70. Eu de repente, percebi que estava agora vivendo em tempo “emprestado” e que eu era tinha muita sorte de estar viva e eu pensei: “Eu tenho que terminar muitas coisas que ainda quero fazer antes de partir.” Eu tenho certeza que John estaria sentindo a mesma coisa. Eu tenho trabalhado duro e eu tenho certeza que ele estaria trabalhando duro também.”
Pergunta: “Você acha que ele teria protestado contra as guerras do Iraque e Afeganistão?”.
Yoko Ono: “Oh! Meu Deus! Claro que sim! O povo diz: “Imagine Paz – mas, não está funcionando, não é verdade?” Mas está! Porque todas aquelas coisas ruins incríveis que foram feitas e que foram escondidas de nós agora estão vindo à tona. E você sabe uma coisa: Se nós não soubermos a verdade, nós nunca seremos capaz de construir um mundo verdadeiramente pacífico.”
Pergunta: “Aqui da janela do Dakota, você sempre vê o vai–e-vem dos fãs no Central Park em direção ao Memorial Strawberry Fields?
Yoko Ono: “Sim é claro! Um outra coisa que mostra a posição privilegiada em que John estava era, o fato de que John preocupava-se muito com seus fãs. Sempre que ele fazia alguma coisa nova ele dizia: “Temos que contar para os fãs”.
Pergunta: “Como você acha que John teria se sentido sabendo que ele tinha transformado-se neste ícone.”
Yoko Ono: “Bem, eu acho que ele já era um ícone naquela época como líder dos Beatles e isto não mudou ele nenhum pouco. Eu tenho certeza que teria sido a mesma coisa. Eu acho que ele não levaria muito à sério o fato de ele ser um ícone.”
Bom o tempo acabou e, Yoko conduziu-me pela sala de jantar onde uma foto John tirada em 1968 está pendurada na parede.
“John por Andy Warhol” Yoko aponta com o dedo toda orgulhosa.
De volta, na recepção do apartamento, perto da porta de entrada, pudemos ver uma foto grande com tratamento sépia mostrando Yoko tempos atras, como uma mulher jovem. Ela me conduz para junto da foto para dar uma olhadinha mais detalhada. Com a caligrafia do John está escrito: Para Yoko, do John, Natal 1978.
“Sabe, ele nunca gostou desta foto.” Ela fala enquanto abre a porta.
“Ele deixou-a no porão e eu só coloquei-a aqui depois que ele faleceu.. (faz um silêncio) ...que grande artista!” Ela encolhe-se toda num último sinal de incredulidade.
“Ele nunca confiou na sua própria arte e nem na sua voz.”
Paul McCartney
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Paul McCartney responde à algumas perguntasPergunta: “Quando foi que você teve conhecimento da existência do John Lennon?” Paul McCartney: “ Quando eu era adolescente e o vi no andar de cima do ônibus escolar da minha escola”. Pergunta: “Na sua opinião qual é a melhor composição do John?” Paul McCartney: “Eu gosto de Julia mas, I am the Walrus, Strawberry Fields e Imagine obrigatoriamente devem ser consideradas na mesma categoria, com pelo menos “meio milhão” de outras seguindo na cola destas.” Pergunta: “Sem John Lennon você estaria sem...” Paul McCartney: “Emprego!” Pergunta: “Quando é que John Lennon esteve no seu melhor momento?” Paul McCartney: “Quando estava dormindo!” Nota do Barbieri: Ele usou a palavra "asleep" que significa "dormindo" mas que, na literatura e poesia inglesa, é também uma forma sutil de dizer "morto". Portanto Paul insinuou que o melhor momento do John foi quando morreu. "Dormindo" ou "morto", não dá para ser mais grosseiro do que isto! É por isso que eu nunca gostei deste cara! Pergunta: “Resuma John Lennon eu apenas uma sentença...” Paul McCartney: “Um gênio selvagem e confuso com que eu tive o prazer de trabalhar, caminhar, conversar e ocasionalmente até dormir junto.” |
John Lennon, o ventriloquo. Foto tirada em novembro de 1973 para a revista Crawdaddy durante o seu período
de solidão que durou 18 meses e ficou conhecido como "Lost Weekend" (Fim de semana perdido)
que foram os meses em que ele ficou separado da Yoko.