A prova sempre estará na lixeira
(Mário Pacheco)

Sempre que entram nos apartamentos pelas lentes das tevês, os homens fuçam nos cestos, os quais nunca os desapontam.

Dispensados nas lixeiras: pontas de cigarro, filetes de cordas de guitarra, baganas, papel celofane, camisinhas, caroços de azeitonas, sementes da desconfiança, cinzas, envelopes, palitos de fósforos, de dentes, cascas de frutas, de ovos, enlatados e originais amassados.

Expostos nos cinzeiros: plásticos de carteira de cigarros e cinzas. O cinzeiro e a colher particular são de prata e estão vazios, os restolhos foram parar na privada.

Na privada há merda e sorrisos e o cartaz ameaçador avisando: a prova sempre está na lixeira...

Em cartaz aquele filme mudo em que os homens chafurdam como porcos e sempre encontram algo incriminador no conteúdo das lixeiras e dos vestígios.

Nos carpetes: fios de cabelos, pentelhos, sêmen, pó-de-sapato-de-couro e sangue, matérias-primas para DNAs, subsídios irrefutáveis no ato de incriminar.

Aquela entrevista sobre os restos remexidos de enlatados importados no contêner residencial da “Península dos Ministros” denunciou, por parte do nababo, o desperdício de farta munição contra a fome. O lixo exposto pela matéria “global” satisfez a gula jornalística e suscitou reprimendas típicas do regime das fardas.

Na hora do almoço na Esplanada dos Ministérios, apesar da qualidade inferior do lixo, os miseráveis caçadores de papéis, fiéis degustadores, amontoados em maior número “sentam à mesa” e banqueteiam-se com as fartas sobras em condição similar aos excluídos da rodoviária.

No lixo, nos encontramos, ele nos alimenta, o lixo da nossa lixeira nos pertence e incrimina consumidores e proprietários.

Conhece as falas: —  Dispensa! Joga fora?

Então, lembre-se nunca na lixeira, eles podem estar fuçando agora...