Laerte Braga é entrevistado!

 Laerte Braga
Laerte Braga


Vivemos desertos de concretos. No futuro, em dois mil anos, quando forem escavar as ruínas dos nossos tempos vão se impressionar com os nossos “templos”.
Entrevista 
-Um pouco de ti: Quem é Larte Braga? sou jornalista, filho de jornalista. Só isso. Viúvo, 60 anos, quatro filhos, cinco netos, uma namorada, moro em Juiz de Fora, MG, cidade, aliás, onde nasci.

-Quando "começou a pensar" sobre o Brasil? entrei para o Partidão em 1958, aos 13 anos de idade, indignado com a ocupação do Canal de Suez por forças militares da Grã Bretanha e da França. A partir dali a militância política foi uma constante. Minha primeira tarefa foi pichar muros da minha cidade com a inscrição: “fora de Suez ingleses e franceses porcos”. O Partidão foi uma história e uma lição de vida.

-Olhando para os famosos 500 ANOS, qual a idéia que você faz do país, que país é este Laerte? o modelo está falido. A democracia que temos é uma farsa. Quando o general Golbery falou em sístole e diástole estava dizendo apenas que nada muda, exceto os momentos políticos. Ora fecha, ora abre. E sempre dentro das conveniências das elites. Das classes dominantes. Isso vem, de fato, desde que o primeiro português trocou bugigangas por algumas índias e ouro.

-Como você avalia as ações de violência organizadas pelo PCC em São Paulo, o Estado acabou? o PCC é o resultado disso. O próprio governador de São Paulo declarou que a burguesia vai ter que “abrir as burras”. O Brasil é um País de poucos e poucos cretinos. Quando vi o principal robô da “GLOBO” William Bonner, no tal viaduto Roberto Marinho, prestando solidariedade ao povo paulista senti vontade de ressuscitar a personagem vomitadora de Jaguar. Gastão. De causar asco.

O modelo capitalista transformou a vida num show patético, dramático em que a questão existencial ganha importância impressionante. Estamos entrando numa nova Idade Média. Ao invés dos barões ocuparem os castelos e os trabalhadores os entornos dos castelos, a tecnologia é o novo desenho dos novos castelos.

As pessoas, cada vez mais são desumanizadas e treinadas para se extasiarem diante das máquinas. Não percebem que estão lhes tirando as almas. As vontades.

Numa certa medida o PCC mostra isso. O que a Polícia paulista fez? Sumiu nos momentos críticos e depois voltou matando da mesma forma que o PCC, indiscriminadamente.

Polícia no Brasil é para matar sem terra, sem teto, desempregado. É braço das elites. O PCC é apenas uma elite cruel e tirânica que morra em morros, mas guarda fortunas em bancos.

Atendimento vip.

Lula tem razão quando afirma que perdemos duas décadas, oito anos dos quais com tucanos, um viés udenista trágico. A UDN tinha Adauto Lúcio Cardoso, por exemplo. A de hoje nem isso.

-Porque a nossa imprensa é o que é? imagine uma agência de publicidade que distribua verbas de grandes anunciantes aceitando uma imprensa livre. Impensável. O controle da informação se acentuou depois da guerra do Vietnam. Os americanos perceberam que era necessário mentir e passaram a exercer o mais absoluto controle sobre os meios de comunicação.

A ditadura militar se encarregou de fazer isso no Brasil. A “Globo”, construída com capitais da CIA/TIME-LIFE, hoje WARNER, foi o primeiro instrumento dessa nova ordem dentre nós.

Em seguida, como o filão é rico, há ouro para todas as quadrilhas, apareceram “VEJA”. Jornais como a “FOLHA” viraram porta-vozes da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo), dos bancos, do braço político dessa gente, os tucanos principalmente.

A chamada grande mídia é isso. Seja a grande mídia nacional, seja a estadual, seja a municipal.

O prefeito da minha cidade não é um político corrupto. É um ladrão que virou prefeito (tem um irmão de Roberto Jéferson que cuida do orçamento). Responde a vários processos por corrupção, está loteando a cidade e daí? A mídia é dele, grossas verbas de publicidade, controle total.

E nem falo de jornalistas de esquerda. Falo de gente séria. Alberto Dines, Élio Gaspari, Villasboas Corrêa e outros.

O papel da mídia é tornar a sociedade um espetáculo e levar as pessoas a imaginar que ”Big Brother” seja o passo mais curto para a realização.

O sujeito é levando a adorar a Nike, a Reebock e vai por aí afora.

-Eleições 2006. Muda alguma coisa? Eleições não vão mudar coisa alguma. São apenas um instrumento, um meio da luta popular. Só isso. Mas, isso não significa que devam ser desprezadas. É fundamental evitar que tucanos voltem ao governo. Do contrário passam a escritura do Brasil. 

-E as Utopias? Se não acreditarmos nos sonhos. Se não lutarmos pelos sonhos. Se assim o fizermos a vida não tem sentido. Nem razão de ser. A utopia é fundamental. É questão de sobrevivência. Imagine acordar e perceber que FHC está solto e falando besteiras o tempo todo depois de ter vendido o País. Que Serra pode ser governador de São Paulo. Que tem um cara chamado Alckmin, produto do acaso, que quer ser presidente da República. Que o neto de ACM vai para a CPI falar em honestidade. Utopia é a DASPU, o contraponto perfeito e íntegro a DASLU.

Os desertos são lições fantásticas de utopias. Guerreiros árabes costumam definir miragens (hoje não existem mais, os empreiteiros meteram asfalto até na bigorna do inferno) como sendo palavras de Alá. Lições de Alá. Você pode enxergar cabelos amarelos e olhos verdes. Pode pedir champanhe como fez Modesty Blaise ao se perceber seca.

Vivemos desertos de concretos. No futuro, em dois mil anos, quando forem escavar as ruínas dos nossos tempos vão se impressionar com os nossos “templos”. Bancos com sedes suntuosas e igrejas do Edir Macedo. Vão perder um tempo danado tentando decifrar quem foi o tal Garotinho, ou Rosinha, a que reclama o direito de ser igual a Jesus. “Vim ao mundo para ajudar os necessitados”

Diferente do que encontramos. Em “Roma de Fellini” o genial diretor mostra isso. A descoberta e a perda do passado, logo, do presente e do futuro.

Por isso a utopia é fundamental. 

-O modelo está falido. Lula errou ao desprezar os movimentos sociais e tentar governar com um Congresso de 500 corruptos, pelo menos. A luta hoje é de resistência e passa pela organização popular. Pela formação. Passa pelo MST, pelos sem teto. Pelos desempregados. O fundamental é começar a fazer com que a tal “sociedade civil organizada” se desorganize e ajude a virar a mesa. Deixe de acreditar que a verdade está no “Fantástico”, no “Jornal Nacional” e perceba que é possível um outro mundo como construiu Fidel, com todas as limitações. Como constrói Chávez e agora Evo Morales. A luta do povo Palestino oprimido e massacrado por Israel e pelos norte-americanos.

A luta é essa. Resistência. A história continua sendo a grande protagonista do processo. É preciso acreditar. A luta de classes é uma realidade, hoje disfarçada pela comunicação que faz com que o trabalhador acredite que se fizer tudo certinho pode ganhar a mega sena e freqüentar o mesmo restaurante que tucanos, banqueiros e pefelistas freqüentam. Num golpe de sorte virar um Ermírio de Moraes da vida. Dar entrevistas na “Globo”. Ou ganhar um carro mandando mensagem no celular para o Faustão.

Aí vira o robô que os caras querem que o trabalhador seja.

Resistir é fundamental. Como “navegar é preciso, viver não é preciso”.
Amauta
Nota do Redator: Esta entrevista foi publicada na edição online do Centro de Medios Independientes del Sudoeste Mexicano.
Amauta: Minhas pesquisas descobriram que "Amauta" foi um jornal Peruano publicado entre 1926 e 1930 em Lima por José Carlos Mariategui. Esta publicação foi considerada na época uma das mais completas em relação à arte, cultura, ciência e tecnologia. Amauta é uma palavra pertencente ao edioma Quechua e significa uma pessoa com grande sabedoria. Refere-se mais à um filósofo do que um doutor sendo mais uma pessoa pragmática do que clarividente. Amauta, em Quechua, também significa professor ou mestre. Não tenho elementos para confirmar que o autor do texto acima e José Carlos Mariategui sejam a mesma pessoa.
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