Eu seria o capitão da nave espacial do Arnaldo!
(Mário Pacheco)
     


 

 


     
À esquerda:
       Roger Moreira, Antônio Peticov e Tony Babalú

      
 Foto: Grace Lagôa©
       Festa de 30 anos do Made in Brazil - SP
       22 jul. / 1997

     

Pioneiro lisérgico. Antônio Peticov, 50 anos, paulista com sobrenome de origem russa, é um dos artistas plásticos brasileiros mais internacionais de nossa época. O arco-íris é o símbolo de seu realismo mágico e, ao definir um famoso quadro seu como sendo da autoria de Deus, Peticov lembrava a aliança entre o Senhor e Noé, para que a Terra não sofresse novos dilúvios. Em meio aos preparativos de seu primeiro vernissage em Brasília, Antônio Peticov, que conviveu com os Mutantes durantes seus "anos de ouro" (e os "apresentou" às viagens lisérgicas), concedeu esta entrevista:


    DoPróprioBol$o: O senhor foi um dos divulgadores da política do êxtase no Brasil. A história de jogar ácidos na mão da rapaziada procede? Houve problemas com a ditadura?
     Antônio Peticov: Não! Isso é um gancho sensacionalista que não procede. A história é modificada e Paris é outra história. No mundo inteiro sempre existiu falta de liberdade, e épocas e locais tolerantes. A ditadura é cana e isso é chato, e há a situação do status quo.
     DoPróprioBol$o: Qual seria a sua palavra definitiva em relação aos ácidos?
     Antônio Peticov: Quem estiver curioso procure um especialista. Não me pergunte sobre o especialista. Ninguém faz nada... Ninguém é responsável... Ninguém é obrigado pelo outro. Você pode levar o cavalo à fonte, mas beber a água é com ele...
     DoPróprioBol$o: Como aconteceu do senhor se tornar empresário do O´Seis?
     Antônio Peticov: Eu conhecia o Túlio, um músico excepcional que ganhara um prêmio em dinheiro e um contrato para gravar um disco, e ele me pediu que arranjasse uma banda. O Sérgio Dias eu já conhecia e o Raphael Villardi, outro guitarrista, também tocava com o Arnaldo Baptista, foi assim que surgiu O´Seis, completado pela Rita Lee, a Sueli e o Luis Pastura. Grupo que após a morte prematura de Túlio gravaria o compacto O suicida/Apocalipse, um disco mau gravado, com agudos que estouravam os alto-falantes das vitrolas. A foto da capa do compacto é minha e eu não a possuo, eu queria rever a foto... Eu morava na Mooca, e conhecia o Arnaldo de sala de aula, ele era muito arrogante. O maior ídolo do Arnaldo era Adolf Hitler. "O cara que inventa uma bomba de ar, não pode ser um mau sujeito", dizia o Arnaldo. No final dos anos 60, o Arnaldo não falava comigo, ele me machucou muito, mas eu nunca o maltratei. Nos anos 70, depois que o Arnaldo gravou o Lóki. Eu morava numa comunidade em Firenze, na Itália, e ele me ligou dizendo que estava vindo me encontrar, e insistiu para que eu voltasse ao Brasil, para ser o capitão de uma espaçonave que estava sendo construída por ele e que nos levaria para outra galáxia. O Arnaldo sempre dizia que não ficaria velho que quando chegasse aos 30 anos, se mataria. E se matou. Ele morreu, não é esse cara que está aí...
     DoPróprioBol$o: Vinte anos depois de gravado O A E O Z, dos Mutantes, finalmente foi editado; a concepção da capa seria de sua autoria, o que aconteceu?
     Antônio Peticov: Olha, isso é tão antigo. Eu já fiz 22 capas de discos de músicos amigos e amigos músicos. Geralmente, acontece uma cessão temporária de uma imagem existente, já pronta, e eu cobro numa faixa de US$ 2.000. A capa do A E O Z sumiu no tempo, seria o fruto de uma relação não comercial, uma união do meu trabalho e o deles. A origem de nosso trabalho é a mesma história, eu, Arnaldo e Rita atravessamos juntos os anos 60.
     DoPróprioBol$o: Ainda falando dos Mutantes, poderia esclarecer como surgiu a fita que pode significar o lançamento do álbum do grupo gravado em Paris?
     Antônio Peticov: A fita vem comigo desde aquela época, eu a ganhei na Inglaterra e quem me deu foi um inglês, Carlos Holmes, produtor do disco. Usaram a fita sem a minha autorização e fizeram a masterização, mas o trabalho é deles.

     



Eu, Mutantes e os Peticovs 68 – 2008

Duas Telas
© Toninho Peticov

Antonio Peticov, o pintor do arco-íris...
(Zé BRasil)