As
infames aventuras de Mr. Welles na Era Vargas (Compiladas por
Mário Pacheco)
"Grande Othelo
é um dos maiores atores do mundo". (Orson Welles)
Orson
Welles, vindo do Rio (a caminho de Fortaleza) demorou-se uma
noite na velha zona de meretrício do Bairro do Recife,
em companhia do jornalista Caio de Souza Leão, do fotógrafo
Benício Dias e do poeta Tomás Seixas. Até
hoje, editores de jornais sem assunto costumam se lembrar disso
e mandar fazer uma reportagem sobre a "noite de farra"
perdida nos anos 50 (sic). A esbórnia noturna já
rendeu um curta-metragem local ("That's lero lero",
do jornalista Amim Steppe e parece que vai seguir sendo objeto
de admiração basbaque e retrospectiva nas redações
recifenses. Caio esteve uma noite toda com Welles?! E Seixas,
bebia tanto quanto o ilustre visitante? Eles apresentaram o
Cidadão Kane a "Alzira Batalhão"?
Tomás
- excelente poeta que o Brasil desconhece - lembrava que Benício
perguntou: "Mr. Welles, como se explica o seu caso (isto
é, a genialidade tão cedo reconhecida)?"
E Orson teria respondido: "Señor Dias, meu caso
só foi possível na América", o que
soa a propaganda - mas deve ser verdade. It's all true.
Consta que os
quatro teriam terminado a noite cantando a Marselhesa
(?) no meio de uma das pontes do Recife, o cineasta já
descontraído e "enturmado" na Cidade Invicta,
e todos contemplando o bateau da vida, visto da ponte
sobre o barco bêbado do Capibaribe... Welles meio sem
rumo sobre a visão dos jangadeiros que viera filmar in
loco - "loucamente", pelo menos para as cabeças
pensantes dos estúdios prontos a lhe fornecer jangadas
de papel machê, na confortável América.
Para um gênio
do cinema, atirador de pianos (de verdade) pelas janelas do
Copa, teria sido melhor filmar jangadas em Los Angles? Parece
que a "aventura brasileira" marcou o começo
do fim da sua carreria de gênio sem lugar em Hollywwood...
(Fernando Monteiro in República, fev. / 1999).
Maître do Copa discute com
o diretor Orson Wells
Durante 40 anos,
o tchecoslovaco Fery Wunsch trabalhou nno Copacabana Palace,
onde conviveu com reis, rainhas, príncipes, princesas,
políticos,a rtistas, cantores, milionários e a
alta sociedade do país.
Em 1983, aos 84 anos, ele publicou
o livro "Memórias de um maître-d'hôtel"
com histórias saborosas e picantes de um dos mairoes
hotéis do mundo.
Essa história começa
nos anos 30 quando o tcheco chegou ao Brasil a bordo do Navio
Conte Verdi e, graças a uma carta de recomendação,
conseguiu emprego no Copa.
É bem verade que ele tinha
experiência no ramo, pois trabalhara em vários
estabelecimentos, inclusive no Egito, onde morou antes de imigrar
para o nosso país.
— No Cairo - contou na entrevista
que fiz com ele -, o IBC abriu um bar para a venda do produto.
Achei gostoso o café brasileiro, melhor do que o turco
que não é coado.
Atraído por esse paladar,
ele passou a freqüentar o bar que ficava localizado próximo
ao Rio Nilo.
— Todas as vezes que levava
a xícara À boca, via pintada a bandeira do Brasil
no teto. Quis, então, conhecer esse país.
Fery relatou, em seu livro, como
funcionava a boate Meia-noite, a primeira privê
do Rio, e o Bife de ouro, o que me levou a lhe pedir:
— Conte uma história
de um dos artistas que passou pelo hotel.
— Orson Welles estava tomando
banho, quando acabou a água. Ele ligou para mim e eu
disse que a água tinha acabado por causa do racionamento.
No dia seguinte, o velho maître
continuou, caiu um temporal na cidade os telefones ficaram mudos.
— O diretor queria telefonar.
Eu expliquei que tinha entrado água na tubulação
e ele me perguntou:
— Qual de nós dois
é louco, pois quando peço água você
diz que não tem. E quando quero falar ao telefone, você
diz que tem água nos canos da telefônica?
Gilson
Rebello in Coletivo, 6 dez. / 2004.
Maria
do Rosário Caetano — Orson Welles viu Limite?
Joel
Pizzini — Tudo indica que sim. Quando visitou
o país, em 1942, Vinicius de Moraes, que vinha do Chaplin
Club e era crítico de cinema, teria mostrado "Limite"
a Welles. Mas parece que ele dormiu durante a projeção.
(Jornal de Brasília, 27 jan. / 1999).
O
êxtase se precipita em tragédia: um pescador, que
participava das filmagens, morre durante um acidente no mar.
Welles é boicotado e se vê impedido de terminar
as filmagens no Brasil: "O episódio do Rio foi o
desastre central da minha carreria". Orson Welles). Orson
Welles veio para o Brasil, em plena Segunda Guerra, para realizar
um filme em três episódios: "Carnaval",
rodado em tecnicolor no Rio de Janeiro; "My friend Bonito",
filmado no México; e "Quatro homens em uma jangada".
Este narrava a saga de quatros pescadores que viajaram de jangada
de Fortaleza ao Rio de Janeiro pra reivindicar o seu direito
à aposentadoria ao presidente Getúlio Vargas.
Mas a morte de Jacaré, um dos jangadeiros, durante a
reconstituição da chegada dos pescadores ao Rio,
bem em frente às câmeras de Welles, terminou amaldiçoando
de vez o projeto brasileiro.
"Orson Welles se divertiu muito, mas nunca deixou de trabalhar.
Sua pontualidade no rádio é um exemplo disso".
Rogério Sganzerla
desmente a versão de Hollywood ao sucesso: "Welles
seria um beberão que só veio ao Brasil para despediçar
dinheiro do estúdio".
Filmografia
indicação
"It's
all true". Foi considerado um filme perdido,
até que, em 1985, os negativos de 'Quatro homens e uma
jangada' foram descobertos num depósito da Paramount
e cuidadosamente recuperados graças à colaboração
de instituições de diversos países.
Com a ajuda de Richard Wilson,
remanescente da equipe original de Orson Welles, o filme foi
montado do modo mais próximo possível às
intenções do diretor.
O documenário inclui essa
versão praticamente integral de 'Quatro homens e uma
jangada' e trechos dos outros segmentos, filmados no Rio e no
México.
Além disso, traz depoimentos
do próprio Welles e de pessoas que participaram do projeto
- de jangadeiros ao ator Grande Othelo.
O valor das imagens captadas por
Welles no Brasil é inestimável.
Encomendado como mais um produto
da política de aproximação entre as Américas
durante a guerra, o filme se tornou uma das maiores obras-primas
inacabadas do cinema, ao lado de 'Que viva México!',
de Eisenstein, com o qual guarda semelhanças de estilo.
Suas filmagens foram conturbadas.
Além das acusações de despedício
que pesaram sobre o diretor, as imagens de favelas que ele rodou
no Rio não agradaram os produtores e o governo americano,
que queriam um filme pitoresco.
A situação se agravou
com morte acidental de um dos jangadeiros durante a reconstituição
de sua chegada ao Rio.
O diretor foi chamado de volta
aos Estados Unidos, mas conseguiu permissão para concluir
o segmento no Ceará, com uma equipe de cinco pessoas
e poucas latas de filme em preto-e-branco. (JGC, in F.
S. Paulo, 4 jun. 1994).
O único pecado deste
trabalho incompleto, que pretende avançar com a ajuda
da Embrafilme, é o irritante olhar turista de Welles
e, sobretudo, o tratamento paternalista que o documentário
de Wilson denuncia em diversas passagens. (Maurício
Stycer in O Est. S. Paulo, 25 nov. / 1986).
"Nem
tudo é verdade" (Arrigo Barnabé
é Orson Welles - 1986), "Linguagem Orson
Welles" e "Tudo é Brasil".
Por 21 anos, O saudoso cineasta Rogério Sganzerla trabalhou
em três documentários de sua grande paixão:
Orson Welles e as suas passagens pelo Brasil!
Indicação
de leitura
"Orson Welles
no Ceará". A respeito da passagem do lendário
diretor de Cidadão Kane no Brasil, foi lançado
em agosto de 2001 um livro que procura remontar os dois meses
que o cineasta ficou no Ceará, em 1942.
"Orson Welles no Ceará",
do critico cearense Firmino Holanda, relata a estada de Welles
quando veio aqui rodar um episódio sobre jangadeiros,
uma das partes do filme Tudo é Verdade. Lançado
pela editora Demócrito Rocha, o livro têm 205 páginas.
"Estou também,
finalmente, terminando a redação do livro 'O dia
em que Orson Welles veio ao Brasil', resultado da pesquisa que
fiz na vigência de minha bolsa Guggenheim. Uma pesquisa
extensa sobre os efeitos da politica de boa vizinhança
na América Latina, feita no Arquivo Nacional de Washington,
nas coleções de documentos sobre relações
internacionais da Universidade de Indiana, Bloomington, e nos
arquivos da RKO em Los Angeles". (Heloisa Buarque de Hollanda).
O
dia em que Welles batizou o rio Itabira