O MOVIMENTO FLUXUS! (1998)
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(Nahima Maciel*)
Fluxus foi e continua sendo um movimento artístico de difícil definição. Cronologicamente, aconteceu um pouco antes da pop-art e foi interpretado como um movimento de ruptura com os conceitos artísticos vigentes na época. Precedido e influenciado pela música experimental e poesia concreta, o Fluxus acabou originando a arte conceitual e o minimalismo.
O Fluxus nasceu em Nova York, em 1961, quando o lituano George Maciunas organizou concertos e idealizou a revista que levaria o nome do movimento. Maciunas foi o responsável pelo planejamento das apresentações e performances. Dos Estados Unidos, o Fluxus foi para a Alemanha. Também chegou a atingir alguns grupos artísticos orientais, no Japão e na Coréia.
Mas o movimento nunca teve uma definição clara. Os críticos apenas sabiam que não carregava nada de tradicional e que não podia ser classificado e caracterizado como um movimento artístico no sentido completo. O Fluxus nada construía e mais parecia destruir conceitos para criar outros, como a posterior arte conceitual. Alguns estudiosos o rotularam de "aestético" e dele participavam desde músicos e atores até artistas plásticos. O que mais caracterizava as apresentações era a diversidade de linguagens e a interação com o público.
Não havia, por exemplo, a preocupação de registro ou codificação das obras de ate. Nem, em alguns casos, a própria obra de arte. Uma performance, como a realizada pelo músico John Cage que, em uma apresentação, sentou-se ao piano, ficou alguns minutos em silêncio e foi embora, era uma manifestação Fluxus. Somente agora, 30 anos depois, o movimento começa a ser definido. O crítico Robert Watts ironizava: "A coisa mais importante sobre Fluxus é que ninguém sabe o que ele é".
*TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO 'CORREIO BRAZILIENSE' - 30 ago. / 1998.
Yoko Ono e seu ex marido Tony Cox em uma performance artística inspirada no Fluxus. Foto: We Love The Beatles Forever
Fluxus abriu novas perspectivas
(Joseana Paganini*)
Movimento surgido durante a década de 60, que teve Yoko Ono como uma das fundadoras, influenciou a vanguarda artística por mais de 30 anos.
O movimento Fluxus, do qual Yoko Ono foi uma das fundadoras, surgiu em Nova York, na década de 60, e em seguida conquistou adeptos também na Europa e no Japão. A série de performances organizadas por George Maciunas em sua AG Gallery de Madison Avenue, em Manhattan (1961), é considerada o marco inicial desse movimento que viria a influenciar o desenvolvimento da vanguarda artística por mais de 30 anos.
Ainda sob os influxos do modernismo, seguindo o caminho aberto por Marcel Duchamp e seu 'ready-made', os integrantes do Fluxus se inserem na linhagem da arte conceitual, ao propor que a arte supere as meras formulações estéticas, assumindo também o seu papel ético. Para isso, é necessário que artista e principalmente a obra estabeleçam um diálogo com espectador, deixando de lado a exigência do tradicional distanciamento entre os participantes da experiência artística.
A arte deveria, então, se aproximar do público e da vida cotidiana, extraindo conceitos da filosofia, da sociologia, das ciências ou de qualquer outra matéria extra-artística, para expressar uma crítica social e política.
No plano da linguagem, essa inspiração conceitual se manifesta na incorporação de todos os meios de expressão, artísticos e não-artísticos, em uma concepção multimídia. Música, vídeo, película, poesia, objetos, quadros, fotografias, publicidade, tudo se mistura em um jogo permanente de combinação e fusão, no qual o mais importante não é o resultado estético, mas a ideia e o gesto engajado que resultou dela. Daí, a defesa dos integrantes do Fluxo do ato performático, que presentifica e dá vida a um conceito, obrigando o espectador a se envolver com a situação.
Como Duchamp, os integrantes do Fluxus batem de frente com o princípio de arte como instituição, imortalizada e petrificada em museus. Para eles, a arte não é apenas um processo e uma técnica que desvincula um objeto da realidade cotidiana, alçando-o, pela criação estética, a um plano quase sagrado. O que buscam, na verdade, é a "antiarte", uma "atitude", mesmo que a manifestação estética dessa atitude seja efêmera. Desmistificando a sacralidade da arte, os artistas do Fluxus pretendiam desmistificar a sociedade.
Com isso, mais do que um movimento, o Fluxus marcou uma sensibilidade, um posicionamento diante do mundo, um modo de fundir posturas sociais e políticas radicais com a criação artística.
*TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO 'JORNAL DE BRASÍLIA' - 21 out. / 1998.