“...bootleg records, nome derivado da prática
do bootlegging a fabricação e venda clandestina
de bebidas durante a Lei Seca”. (Roberto Muggiati in,
‘Rock O Grito e o Mito’)
Já relatei
anteriormente aqui sobre as Beatlegs – me pediram para
ser sucinto quanto ao assunto: como explicar que as 14 músicas
que aparecem divididas nos lados A e B, na verdade não
foram gravadas naquela sequência? Que as tomadas ou takes
de uma canção podem exigir mais de uma centena?
Que os 40 minutos de um revolucionário LP foram frutos
de 129 dias de gravações? Essas são as
fontes, atrás do hábito em colecionar gravações
não realizadas dos Beatles.
As fontes deste material incluem:
Outtakes de gravações
que trazem variações. Material ao vivo, entrevistas,
ensaios, fitas demonstrativas caseiras e a intenção
é consegui-los na melhor qualidade...
A maior fonte continua sendo as 500/550
fitas-de-rolo “D’as sessões do álbum/filme/concerto
Get Back”, gravadas no nagra, um gravador monural para
set de filmagens ligado às câmaras A e
B, com rolos de no máximo 16 minutos.
Entre os dias 1º e 31 de
janeiro de 1969, em dois estúdio Twickenham e Apple,
estes gravadores registraram quase 150 horas contendo saudações
de feliz ano novo, discussões, fragmentos e mais 3 mil
canções, claro muitos instantâneos curtos,
passagens de temas, até ditados musicais e a evolução
de clássicos como Let it Be e Get Back,
muita coisa vinda dos jornais, se John Lennon chega com Don't
Let me Down já pronta, McCartney revida com I’ve
Got A Feelin’; a privacidade dos Beatles é
invadida capturando até comentários sobre a timidez
da cantora Mary Hopkin
frente à sua primeira sessão de fotos.
O auge da orgia fica por conta de uma Jam session gutural entre
Yoko e os Beatles.
A COR
DA GALINHA DOS OVOS DOURADOS É PÚRPURA E A TARTARUGA
É ENGRAÇADA!
Desde os anos 70, existem fãs
que criam seus álbuns bootlegs até mesmo no Brasil
como "The Beatles Were Born" e "Shout!".
Nos anos 80, Leon Throf, um fã da Nova Zelândia,
realizava seus bootlegs incorporando o legítimo selo
Apple; no álbum-duplo “Grave Posts” ele inseriu
takes da gravação de I’m Greatest
(Lennon para Ringo), dando a idéia de como seria um novo
álbum dos Beatles. O legal é que novos takes
de I’m Greatest com variações em
tamanho e nos versos conheceriam a luz do dia em outros lançamentos
ou antologias, um take engraçado captura John
Lennon limpando a garganta antes da gravação prosseguir.
Nos anos 90, com a realização
do Projeto Anthology dos Beatles, surgiram as primeiras versões
bootlegs do álbum “Abbey Road” incorporando
as faixas Free As Bird e Real Love! Os fãs
nunca deixaram de levar à sério mesmo hipoteticamente
uma reunião de Lennon, McCartney, Harrison e Starr.
A Purple Chick é muito
mais do que um petisco, trata-se de um projeto criado por fãs
englobando todas as possíveis e conhecidas gravações
alternativas que existem dos Beatles dispostas em centenas de
CDs.
O melhor de tudo: este projeto
é integralmente grátis! E nunca foi comercializado,
caso o fã pague por ele está sendo passado para
trás. Além de agrupar todas as versões
de músicas disponíveis, a Purple Chick ainda corrige
a velocidade de algumas faixas e editam e compilam os diálogos
tornando tudo mais dinâmico.
Outro projeto semelhante é
a série Lazy Tortoise companheira da Purple Chick, só
que dedicada a itens extra estúdio como: entrevistas,
material ao vivo e fitas caseiras; esboços de gravações.
No Orkut, nas comunidades dos
Beatles, passei a pescar estes links que me levaram ao paraíso
para qualquer audiófilo independente de ser beatlemaníaco:
octaner blog!
Para não se perder e coordenar
o seu acervo de gravações, no próprio Octaner
existem links que permitem ‘baixar’ os catálogos
completos destas fontes: DJole’s Guide To Purple Chick,
Djole’s Guide To Lazy Tortoise, ‘A Beginner’s
Guide to Beatle Bootlegs’ da autoria do expert
Doug Sulpy e 'The Guide To Beatles Recording Variations' compilado
por Joseph Breman.
Depois que você baixou os
arquivos, é necessário também ‘baixar’
um programa que descompacte os arquivos sonoros em rar, no momento,
eu uso o (EXTRACTOR); uma vez transformados em mp3, na sequência
os mesmos adquirem o formato AUDIO CD através do Nero.
Estes mesmos arquivos trazem as capinhas de frente e verso e
algumas vezes o selo do próprio CD!
Agora mesmo,
eu estou curtindo as jams da Rockestra supergrupo idealizado
por Paul McCartney em 1979, cuja fileiras comportavam John Bonham
e John Paul Jones, também ouço o “The Lost
McCartney II Album”, álbum solo de 1980, quando
Paul McCartney executou todos os instrumentos, a experiência
sonora é como ouvir de novo o velho álbum. Quanto
às “Get Back Sessions” estou queimando o
40º CD(!)...
OCTANER
= RENATO
Simplesmente este blog
mantido pelo brasileiro, Renato; conseguiu agrupar quase que
completamente o catálogo da Purple Chick e da Lazy Tortoise
e outras delícias!
OCTANER
DESAFIOU "OS DONOS DOS BEATLES" SUA SOBERBA E CONHECIMENTOS
ILIMITADOS
Renato pode parecer
um personagem extraído das memórias tolas de algum
beatlemaníaco saudosista, mas este ‘senhor’
conseguiu disponibilizar num único blog a maior quantidade
de faixas alternativas dos Beatles, atraindo não só
a devoção dos fãs como o olhar atravessado
de outros. Chego a pensar que os maiores sites de referência
em Beatles do planeta congelaram suas atividades depois que
Octaner disponibilizou estes arquivos na íntegra –
também cogito que ele arruinou muitos piratas que vendiam
downloads dos Beatles!
Renato, é
de 1964 - Beatles For Sale, portanto 44 anos.
Lá pelos idos de 1976 através
de um amigo recém mudado de São Paulo para a pacata
Poços de Caldas, ele conheceu os Beatles além
da versão brasileira de Yellow Submarine. Ficou
(quem não fica) impactado. Seu irmão mais velho
ouvia tudo aquilo com os amigos, e algo ecoava no seu subconsciente,
até que foi formalmente apresentado ao trabalho dos FabFour.
Coincidiu da Odeon brasileira
estar relançando toda a discografia oficial, que ele
imediatamente "pediu de natal" ao pai. Só que
o presente veio incompleto, faltavam "Rubber Soul",
"Sgt. Pepper's", "Abbey Road" e "Let
It Be", o que o deixou mais a fim de comprar tudo.
Em 1977 já morando em Brasília,
ele ouviu rumores do relançamento/lançamento brasileiro
do LP “Magical Mystery Tour”. —
Brasilia e o mundo estavam explodindo ao som de Frampton Comes
Alive! e I'm In You...rs
E ele foi comprando os cinco LPs
que faltavam com o restante das mesadas...
Também comprou o livro
do Roy Carr e Tony Tyler, as Beatles Book, e foi traduzindo
tudo para aprender mais..
Montaram um arquivo de fotos,
pôsteres e revistas, que durou pouco, e a sua parte foi
doada recentemente ao mesmo amigo que ainda em 1976, lhe emprestara
para ouvir o duplo "Rock and Roll Music".
Renato aprendeu os acordes em violão,
leu muito, ouviu muito mais... Com o advento do CD, ele entrou
numa loja que importava os primeiros bootlegs que ele teve contato:
“Ultra Rare Trax” e “Unsurpassed Masters”.
Fantástica a qualidade do som daquelas raridades (estamos
falando de 1989 / 1990).
Depois, ele sabiamente desistiu
de comprar tudo, tarefa impossível..: - (Mas os ânimos
se renovaram quando surgiu o Napster, e ele poderia buscar mais
alguma coisa, ciente de que jamais teria condição
de ter toda a coleção de bootlegs que ele gostaria.
Ele acha que ninguém possui.
A"caçada" de
Renato começou ‘baixando’ muito lixo, muita
coisa ‘arrumada’, até conhecer as comunidades
de listas e os "Donos dos Beatles com sua soberba e conhecimentos
ilimitados"...
Mas foi numa destas listas que
ele teve acesso ao programa P2P Soulseek, onde encontrou e conheceu
muito material de primeira e foi juntando tudo, checando fontes
e livros. E os beatlemaníacos brasileiros se irando com
o seu compartilhamento destes tesouros. Uns
por achar uma violação ao santuário secreto
do mundo dos bootlegs, outros por puro puxa-saquismo desvairado,
crendo que só eram bons os produtos oficialmente lançados
pela gravadora, o resto era lixo (mas que eles vendiam amiúde
aos incautos).
Permaneceu nestas listas o tempo
suficiente para se enojar e criar o Octaner's
(Renato ao contrário, com um "C" no meio
para formar uma palavra que existe...) e divulgar tudo o que
ele tinha em MP3.
Longe dos tribunais,
sua tese: —
Beatles já tem mais de 30 anos, já é "domínio
público", ainda mais no quesito BOOTLEGS, né?
A coisa começou a fluir
e ele recebeu várias colaborações do mundo
inteiro. O blog
já teve picos de 1000 page views / dia.
Atualmente, Renato acabou de dar
um "tempo" nisso tudo, e voltou a dividir boa parte
do seu tempo com os internautas, e outras prioridades... Ainda
recebe vários e-mails de pessoas gentis e educadas agradecendo,
às quais ele sente que deve-lhes uma "gratidão".
Brevemente! Ele prepara três CDs-duplos
com material da Purple Chick. Assim como fez com o seu arquivo
e os de outro rapaz lá... That's it.
ESCREVA P/ ELE (bitousdvd@gmail.com)
Pirataria Made in Brazil
Beatlegs
O
Empresário que roubava as gravações
De
volta para casa ou Caso
encerrado! O fim do rolo das fitas-de-rolo