1971: MIL NOVECENTOS E SENTENTA E UM
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Mil novecentos e setenta e um
compilado por Mário Pazcheco)
O ano de 1971 é marcado pelo sufoco e pelas propostas nem sempre bem recebidas ou compreendidas pelo sistema. Algumas ainda não compreendidas.
Como forma de oposição meramente no campo comportamental, os jovens deixam os cabelos do corpo aflorarem com toda a sua violência natural e os corpos escondidos por batas indianas, usavam sandálias e bolsas feitas de couro e camisetas coloridas. A geração brasileira da paz e do amor que exalavam patchouli, expressando-se através de símbolos ou gírias, em contraste com a linguagem dos discursos do Estado. A contestação de andar de maneira errante, saindo por aí, caindo na estrada sem querer saber de trabalhar.
A imprensa tupiniquim alternativa dava os “1.ºs toques”, através do Pasquim, O Bondinho, Flor do Mal com as anotações pessoais do visionário Luís Carlos Maciel; a revista/jornal Rolling Stone introduzindo o rock como um fenômeno cultural e alguns anos mais tarde os toques seriam continuados pelas revistas Geração Pop e Rock, a história e a glória, além das breves O Circo e Arranjo, que refletiam em suas páginas uma intimidade entre leitores ávidos por informações e os editores preocupados em alertar e esclarecer os fatos.
Boa parte dos jovens sufocados passaram sua juventude fazendo artesanato, acendendo incenso, provando LSD ou Mandrix, mascando sementes ou comendo arroz com casca. Os adeptos brasileiros da contracultura que, depois de freqüentarem as feiras hippies dos grandes centros, deixavam suas casas e só tinham uma direção: Arembepe para viver em comunidade a cerca de 40 km de Salvador. Na época apenas uma vila de pescadores que concentrava uma grande massa humana nua e de flores nos cabelos. Reunidos infantilmente sem maldades, apenas pelo “barato de curtir” ou dividir sem essas de drogas pesadas e overdoses ou excessos e promiscuidade sexual que são divulgados pela mídia atual.
Com a crescente tribo de seguidores e o princípio hippie de romper com o estabelecido, no início de 1971. Os irmãos Dias Baptista resolvem abandonar o bairro da Pompéia e partem para a construção de casas comunitárias em um imenso lote em meio a serra e a mata, no bairro da Cantareira. Todos morando juntos.
• Sérgio Sacco ingressa na IBM como Instrutor de Manutenção de Hardware de Mainframes e Teleprocessamento.
Janeiro
• O ex-deputado Rubens Paiva, que desapareceu em 1971, após ser preso, torturado e assassinado por militares do Exército, no Rio.
• Glauber Rocha apresenta, na Universidade de Columbia, em Nova York, a tese Eztetyka do sonho (“Estética do sonho)”, ele define a revolução como “a ‘anti-razão’ que comunica as tensões do mais irracional de todos os fenômenos, a pobreza”.
• Jann Wenner — Durante quanto tempo você tomou LSD?
John — Durante anos. Eu devo ter feito umas mil viagens .
— Literalmente mil ou umas duzentas?
— Muitas. Eu tomava um ácido atrás do outro.
— Durante quais álbuns?
— Não sei. No estúdio eu nunca tomava. Uma vez tomei, pensei que estava tomando um excitante. Não estava em condições de segurar uma viagem. Não me lembro que disco era. Mas tomei e percebi... de repente me senti superamedrontado diante do microfone. Disse, que é isso?, me senti doente (...) Disse: preciso tomar um pouco de ar. Eles me levaram para a cobertura e George Martin ficou olhando pra mim de um jeito estranho. Aí eu saquei que deveria ter tomado ácido
(•••) — Os outros Beatles tomaram tanto LSD como você?
— George acho que sim. (...) Acho que George também era ‘jogo duro’. Fomos provavelmente os que mais tomaram.
(George Harrison renunciou ao uso do LSD quando reparou no mágico efeito do sitar e descobriu nele "um caminho espiritual até Deus". "Deus no som".
(...) Acho que o LSD chocava profundamente Paul e Ringo.
— Você teve muitas bad-trips?
— Sim. Muitas, Jesus Cristo, eu parei de tomar por causa disso, sabe? Eu simplesmente não aguentava. (...).
John - Então parei não sei por quanto tempo. Recomecei a tomar um pouco antes de conhecer Yoko. (...) Li um negócio de que o ácido poderia destruir o seu ego. (...) Estávamos entrando num jogo em que todo mundo entrava e me destruí. (...) Destruí o meu ego. Não acreditava que eu pudesse fazer qualquer coisa, deixava as pessoas fazerem o que queriam. (...) Eu não era nada, eu era uma bosta. (...) E então fiz uma viagem com Derek Taylor (...) e ele disse coisas do tipo ‘você está bem’, e ele me mostrava as canções que eu tinha escrito e dizia: ‘você escreveu isso, e você disse isso, e você é inteligente, não fique com medo’. E na semana seguinte eu saí com Yoko e a gente tomou outro ácido e ela me fez realizar completamente que eu era eu e que estava tudo bem. E foi isso, e eu comecei a lutar novamente e a falar alto de novo, dizendo ‘posso fazer isso’ e ‘fodam-se’, ‘é isso que eu quero’ e ‘eu quero e não me encha o saco’. E fiz isso. É assim que estou agora ”. (Rolling Stone, dez. / 1970 - jan. / 1971).
"It was as if we suddenly found ourselves in the middle of a horror film," Cynthia Lennon said. "The room seemed to get bigger and bigger." The Beatles and their wives fled Riley's home in Harrison's Mini Cooper. (According to Bury, John and George had earlier indicated a willingness to take LSD if they didn't know beforehand that it was being administered.) The Lennons and Harrisons went to Leicester Square's Ad Lib club. In the elevator, they succumbed momentarily to panic. "We all thought there was a fire in the lift," Lennon told Rolling Stone in 1971. "It was just a little red light, and we were all screaming, all hot and hysterical." Once inside at a table, something like reverie began to take hold instead. As Harrison told Rolling Stone, "I had such an overwhelming feeling of well-being, that there was a God, and I could see him in every blade of grass. It was like gaining hundreds of years of experience in 12 hours."
Lennon: Beatles viviam ´Roma´ de sexo, drogas e dinheiro
BBC/Brasil
Londres. O músico John Lennon comparou a vida dos Beatles à decadência da Roma antiga em uma entrevista dada à revista musical Rolling Stone em 1970, que será transmitida na Grã-Bretanha pela primeira vez neste sábado.
Segundo Lennon, assassinado há 25 anos, o circo em volta da banda era uma "Roma portátil" de dinheiro, sexo e drogas. "Todo mundo queria fazer parte", disse.
Na entrevista, ele fala sobre a imagem "de limpeza" dos quatro Beatles. "Todo mundo em volta queria que a imagem continuasse", disse ele. "Por isso que alguns estão se agarrando a ela."
"(Eles dizem) Não tire nossa Roma portátil, onde todos podemos ter nossas casas, nossos carros, nossas amantes e nossas esposas, nossas meninas no escritório e festas, bebidas e drogas."
Fotografias comprometedoras
Para o jornalista Jann Wenner, fundador da Rolling Stone e autor da entrevista concedida oito meses depois do fim dos Beatles, Lennon foi extremamente honesto.
"Não há uma palavra que não seja valiosa ou interessante", disse ele.
Lennon também revelou o lado mais obscuro da banda quando estava em turnê.
"Se não conseguíssemos pegar tietes, tínhamos prostitutas", revelou Lennon. "O que viesse. Havia fotos minhas de joelho, me arrastando para fora de bordéis em Amsterdã com as pessoas dizendo: ´Bom dia, John´."
Segundo John Lennon, as fotos e outras revelações não vieram a público porque ninguém queria "um grande escândalo".
"Banda de Paul"
Na entrevista, o cantor também ataca seu ex-parceiro musical Paul McCartney.
"Nós ficamos de saco cheio de ser os outros integrantes da banda de Paul McCartney depois que Brian Epstein (empresário da banda) morreu", disse ele. "Paul assumiu o comando e, supostamente, nos liderou. Mas quem lidera quando estamos andando em círculos?"
Lennon disse ainda que a parceria musical dos dois terminou "por volta de 1962, ou algo assim".
"Todo o nosso melhor trabalho, tirando os do início como I Want To Hold Your Hand, foram escritos separadamente."
Em meio à raiva, Lennon ainda demonstrou algum respeito por McCartney. "Ele é capaz de um grande trabalho e vai fazê-lo", disse Lennon sobre o ex-companheiro de banda.
Sofrimento e heroína
O músico disse ainda que foi levado a consumir heroína por causa do tratamento que ele e sua mulher, Yoko Ono, receberam dos "Beatles e de seus amigos". "Nós sofremos muito", disse ele.
Nem mesmo o guitarrista dos Beatles, George Harrison, escapou da ira de Lennon.
"Ele estava trabalhando com dois compositores brilhantes e aprendeu muito com a gente", disse Lennon, que criticou o álbum de estréia de Harrison em carreira solo.
O rival Mick Jagger, dos Rolling Stones, também foi criticado por Lennon, que o chamou de "piada".
"Eu gostaria de listar o que fizemos e o que os Stones fizeram dois meses depois em todos os discos", disse ele. "O Mick imita a gente."
Genialidade e tortura
John Lennon ainda reclamou do lado negativo de seu talento. "Não é divertido ser um gênio", disse ele, "é uma tortura".
Em um comentário mais positivo, Lennon falou sobre o contentamento que ele encontrou com Yoko Ono comparado a outros tipos de prazeres.
"Eu passei por tudo isso, e nada funciona melhor do que ter alguém que você ama para abraçá-lo." (2 dez. / 2005)
21 jan.
"Eu sempre tive opiniões políticas e, você sabe, contra o status quo, principalmente por ter nascido onde nasci. É uma coisa básica da classe operária que começa a se gastar na medida que você vai ficando mais velho, arranja uma família e é engolido pelo sistema. No meu caso, eu nunca deixei de ser político, embora o misticismo tendesse a obscurecer a política nos tempos das minhas viagens de ácido, em 1965, 1966. E o misticismo foi um resultado de toda aquela porcaria de ser um superastro. Misticismo era uma válvula de escape para minha repressão. Mas de certa maneira, eu sempre fui político. Nos dois livros que escrevi, embora feitos numa espécie de truque ‘joyceano’, há muitos golpes na religião e há uma peça sobre um operário e um capitalista. Venho satirizando o sistema desde a minha infância. Costumava escrever revistas no colégio e distribuir para todo mundo. Tinha muita consciência de classe - como diriam com um tapinha nas minhas costas - porque sabia o que acontecia comigo e sabia da repressão de classe que caía sobre nós. Foi uma droga que com os Beatles isso fosse abandonado. Eu me afastei da realidade por um tempo".
(John Lennon em entrevista a Tarik Ali, Ramparts).
• A pintura Electric Cord de Roy Lichtenstein mostra um fio elétrico preto, enrolado, sobre um fundo branco, ela desapareceu depois que o marchand Leo Castelli, de Nova York, a mandou para uma limpeza: "Ele se lembrava dela e não sabia aonde tinha ido parar". Castelli enviou a obra para o restaurador Daniel Goldreyer em janeiro de 1971, e que um empregado aparentemente guardou a pintura em seu armário, onde ela permaneceu até 2009, quando Goldreyer morreu, disse o procurador dos Estados Unidos, Preet Bharara.
22 jan.
Fevereiro
Várias publicações americanas procuraram relacionar a suposta decadência do rock à última excursão dos Stones pelos Estados Unidos, quando a apresentação final e gratuita do grupo em Altamont, terminou em pancadaria e com a morte de quatro pessoas.
A revista Time, barômetro das relações entre o establishment e a contracultura, logo registrava o clima em duas reportagens de capa sucessivas. A primeira, The Cooling of America - O Resfriamento da América, depois de constatar que “a cultura do rock cresceu de tal maneira que é hoje o estilo de vida predominante entre os 40 milhões de americanos na faixa dos 15 aos 25 anos”, Timothy Tyler, no capítulo Desafinado e Perdido na Contracultura afirmava: “A contracultura, o primeiro (e talvez o último) movimento sócio-político nascido da força da música eletronicamente amplificada, chegou a uma trégua relutante e melancólica com o mundo ‘careta’ que ela se dispusera a salvar. Cercado, enjaulado por um sistema econômico industrializado, o movimento se tornou fragmentado, se tornou confuso. Aquela imaculada energia pacífica com que ele começou se transmutou numa vasta e bocejante sensação de futilidade - e parece não haver saída”.
A outra reportagem de capa da Time focalizava mais especificamente a “descompressão” do rock e endossava o idioma dos anos 70: o country-rock de James Taylor e Carole King, bitter sweet, “cuja música oferece uma espécie de Americana, celebrando coisas como o conforto do campo, o luar da Carolina, as geadas nos Berkshires”. E sua ideologia: “O que a todos eles parecem querer é uma mistura íntima de beleza e expressão pessoal - as reflexões muitas vezes líricas e melódicas de um eu privado”. Fazendo eco à Time, o semanário Newsweek, em sua reportagem de capa O Futuro do Rock, dizia que “o rock de amanhã bem poderá assumir um tom mais religioso e pastoral, um estilo mais intricado e ambicioso”.
Março
"Quando saí do Brasil, deixei nas mãos do Tarso e do Maciel um artigo pra Já, onde anunciava que em 1974 baixava uma luz e as sete cabeças da besta se desintegrariam: depois, em outras ilhas, Marcos berrou no meio da viagem: Petróleo! E sabíamos que não era nosso na matéria mas Idéia; quem me encontrounestes anos em vários continentes se lembra do que estava anunciando". (Glauber Rocha).
Em Nu York, Fabiano Canosa encontra, por acaso, o recém-mudado Glauber Rocha, que o convida para viver com ele e com o músico Nana Vasconcelos.
Os rapazes do Led Zeppelin resolvem empreender uma volta às raízes, apresentando-se nos clubes ingleses onde começaram a carreira. Os contratos, no entanto, eram feitos da seguinte maneira: o grupo cobrava o mesmo cachê de anos atrás, mas os ingressos, igualmente, tinham que ser vendidos ao preço original.
1 março
Mutantes lançam o LP Jardim Elétrico.
Os Mutantes lançam o quarto elepê "Jardim Elétrico". A nova formação inspirada pelo jardim da Cantareira, onde, rodeados, inundados de aromas mágicos e perdidos, confeccionam as novas músicas, colorindo um disco ecológico, que não poderia ter recebido melhor título; “Jardim elétrico”. Na capa, um desenho do artista Alan Voss, ramos floridos, e cores lisérgicas diretamente iluminadas pelo sol. Nos sulcos do disco novas loucuras como o primeiro solo de bateria com phaser musicando a pronofonia possível dos rígidos anos 70. Na contracapa, a certeza de que a formação de quinteto era definitiva com os integrantes posando ao lado de seus instrumentos.
"As plantas elétricas do jardim eram minhas... O efeito da bateria não foi phaser; sim, flanger, mui superior". (CCDB©).
No LP estão algumas faixas, anteriormente gravadas na França, que fariam parte de um outro LP que seria lançado lá, o que nunca aconteceu, pois o produtor francês, mais interessado em ritmos latinos, não gostou do produto final. O grupo também registrou um compacto com os baianos em Londres, que segundo Arnaldo também não chegou a conhecer a luz do dia.
• Em Brasília, na inauguração da Concha Acústica em 1971, durante o show dos Mutantes, Rita Lee liberou a maconha ficariau proscrita da capital por uma década.
• Durante as sessões de gravação do LP Carlos, Erasmo..., o maestro Duprat participa fazendo o arranjo de duas músicas. Serginho, Liminha e Dinho, participam dando uma força e acompanhando o “Tremendão” em algumas faixas desse disco impossível de ser encontrado hoje, o destaque fica por conta das faixas: "Não te quero santa" e "É preciso dar um jeito meu amigo". Chiquinho de Moraes também assina alguns arranjos e Manoel Barenbein é o responsável pela co-direção da produção.
"Por falar em Erasmo Carlos, este me encomendou, e realizei para o seu contrabaixista Raul, no tempo da Venâncio Ayres, um contrabaixo sólido de minha concepção, que, se a Fender lançasse hoje, superaria de longe todos os instrumentos que essa fábrica ilustre produziu. Tenho fotografias desse contrabaixo". (CCDB©).
7 mar.
Estranhas fotos: Syd Barrett como protótipo do filme Bird, Asas da Liberdade
Foto-montagem da última entrevista coerente que Barrett concedeu a Melody Maker em 1971
14 mar.
The Rolling Stones faz um concerto de despedida no Roundhouse, London, antes de se mudaram para a França, com o intuito de escapar dos pesados impostos ingleses.
29 mar.
Em 29 de março de 1971, Leslie van Houten (Família Mansn) foi declarada culpada e sentenciada à morte. A subsequente proibição da pena de morte na Califórnia por uns meses fez com que a sentença fosse comutada automaticamente por prisão perpétua.
6 abril
The Rolling Stones unveiled their new record label, Rolling Stones Records. The label featured the bands new logo, the tongue-and-lips "pop art" drawing created by London graphic artist John Pasche.
Maio
Stuart Edgar Angel Jones é assassinado aos 26 anos, em maio de 1971.
17 maio
Paul McCartney lança o LP Ram.
27-28 mai.
Nova York. Haroldo de Campos grava entrevista com Hélio Oiticica que nenhum editor no Brasil na época demonstrou interesse em publicar...
Héliotapes 1 e 2 com o nome dado por Haroldo de Campos, são entrevistas extensas que registram local, data e hora tanto no começo como no final. Haroldo de Campos é indagado por Hélio Oiticica para falar a respeito de alguns temas: 1) a diferença entre Tropicália e Tropicalismo; 2) a importância de Souzândrade; 3) o programa de televisão do Chacrinha; 4) a experiência de Haroldo como professor-visitante na Universidade de Texas; 5) a situação da literatura de língua espanhola e portuguesa e os problemas de tradução para o inglês; 6) a prosa modernista brasileira; 7) o cinema de autor de Júlio Bressane (comparações com Godard).
Foto: BEATLES MAGAZINE
Junho
No festival Celebration of Life, comparecem 50 mil pessoas em McCrea, na tentativa de verem John Sebastian, Chuck Berry, War. O oposto de Woodstock: nada de música, nada de paz, nada de amor. O máximo em termos de consumo de drogas, com centenas de casos de overdose.
• Bill Graham fecha os dois maiores templos da música pop, onde muitos nomes ficaram famosos e muitas apresentações históricas foram feitas: o Fillmore West (San Francisco) e o Fillmore East (Nova York). Disse Graham ao anunciar o fechamento: “Quando começamos em 1965, eu lidava com ‘músicos’ sindicalizados. Agora só lido com ‘executivos’ e ‘acionistas’ de grandes corporações - com a única diferença de que usam cabelos compridos e tocam guitarra. O rock estava se tornando uma General Eletric, uma Pacific Gas & Eletric”. Alegando que sua motivação principal nunca foi o dinheiro, Graham acrescentava: “A inflação irracional e quase destrutiva dos concertos ao vivo foi por mim denunciada. Dois anos atrás, adverti que a síndrome do Festival de Woodstock seria o começo do fim. Eu estava com a razão... Continuo a deplorar a exploração das gigantescas salas de concerto, muitas delas cobrando ingressos altíssimos. Quando um grupo me pede US$ 5.000 por um concerto, eu posso cobrar US$ 3 ou US$ 4 por ingresso. Mas se me pedem US$ 30.000, US$ 40.000 ou US$ 50.000, não tenho outra saída senão aumentar o preço dos ingressos. Então o público fica chateado comigo! Fui até chamado de ‘porco capitalista’. Ora, meus preços se baseiam nas exigências dos artistas. Acontece que para os jovens é sempre mais fácil me atacar do que atacar seus ídolos”.
1º jul.
John Lennon grava "Imagine", em um estúdio em Tittenhurst; o título da canção foi inspirado em um trecho do livro Grapefruit, de Yoko Ono.
Livro conta história das bandas pioneiras do rock no Brasil
Grupos foram ignorados pelo mercado e intimidados pela repressão nos anos 1960 e 1970
Por Carlos Albuquerque
O Globo 01/06/2014 - 1972
RIO — O II Festival Audiovisual de Cataguases, em julho de 1971, deu um clima de Woodstock à pequena e pacata cidade mineira. “Nos hotéis, não havia mais vagas. Pelas ruas, jovens cabeludos com roupas coloridas e garotas com saias curtas atraíam a atenção dos moradores. À noite, os bares ficavam cheios até a madrugada. Uma pequena revolução na rotina local. (...) Na noite de sábado, 18 de julho, a Equipe Mercado surgiu no palco do Cine Teatro Edgar. Entraram todos em cena esfarrapados, rasgados, sujos, seminus. Enquanto faziam soar as primeiras notas, os agregados da banda despejavam no palco todo o lixo recolhido pela cidade. À medida que a música evoluía, vários casais protagonizavam cenas libidinosas. Um homem vestido apenas de sunga, todo banhado em azeite e lixo, simulava atos sexuais com duas mulheres. Completando o quadro, várias meninas sentadas na beira do palco mastigavam carne crua, misturada em suco de groselha, que deixam escorrer pela boca como se fosse sangue. Depois, cuspiam de volta nos baldes que carregavam. Foram vinte minutos de som e loucura.”
A descrição da cena — envolvendo o desafiador e teatral grupo Equipe Mercado, que culminou com a sua expulsão da cidade — é de Nelio Rodrigues e uma das “Histórias secretas do rock brasileiro”, livro que o escritor e ex-professor de Biologia acaba de lançar pela editora 5W. Diferentemente do que o título jamesbondiano sugere, suas 351 páginas trazem, na verdade, histórias desconhecidas dos primórdios do rock brasileiro, estreladas por pioneiros que — entre os anos 1960 e 1970, desprezados pelo mercado, desprovidos de qualquer infraestrutura e intimidados pelo ambiente repressor da ditadura militar — abriram clareiras para que as gerações seguintes conquistassem seus espaços.
Os capítulos do livro revelam, enfim, a trajetória, até então pouco conhecida, de bandas como Som Beat, Os Abutres, Soma, Módulo 1000, A Bolha, Os Selvagens, O Terço e a própria Equipe Mercado, na transição entre a ingenuidade do “iê iê iê”, influenciada pelos Beatles, até o desbunde psicodélico e as sonoridades experimentais dos avôs do rock alternativo.
— É uma cena importantíssima, que sedimentou os caminhos do rock no Brasil, mas que foi praticamente esquecida pela nossa memória musical, que nunca foi estudada com o devido reconhecimento — explica o autor, que dedicou quase uma década de pesquisas para concluir o livro. — É uma turma que era desprezada pelas gravadoras, naturalmente mais interessadas em samba, bossa nova e MPB, e que era rejeitada tanto pela direita, que os tomava como subversivos, como pela esquerda, que os tachava de alienados e imperialistas.
Entre a tropicália e o dops
Um dos destaques dessa turma de “operários do rock”, como chama Léo Jaime no pósfácio do livro, o Módulo 1000 — que começou com o inocente nome de The Brazilian Monkes — chegou a gravar um álbum, o psicodélico Não fale com paredes, pela Top Tape, em 1970, já sob a influência da Tropicália. Apesar de rejeitado pela companhia na época, o vinil (de capa tripla) se tornou, posteriormente, um valioso objeto de culto no Brasil e no exterior. Ele foi relançado, em CD, já nos anos 2000, pelo selo local Zaher Zein e, depois, pelo britânico RPM International.
— Foi um sufoco gravar esse disco, o técnico de som não entendia nada do que a gente queria fazer, como colocar ecos nos vocais ou criar ambiências espalhando microfones pelo estúdio — lembra Daniel Cardona, guitarrista e um dos fundadores do grupo (que prepara sua volta, com um disco de inéditas, previamente intitulado “Four walls”, previsto para 2015). — E uma vez, quando fomos tocar em Divinópolis, tivemos nosso som desligado por agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), que nos levaram para uma sala, querendo saber o que significava a letra de “Turpe est sine crine caput”, faixa que abre o disco. Foi duro explicar para o líder dos agentes, ironicamente um baixinho careca, que a tradução era “É horrível uma cabeça sem cabelos”. Ficamos morrendo de medo, mas felizmente acabamos sendo liberados.
Discos fora de catálogo
Já a Equipe Mercado só conseguiu registrar seu trabalho em uma faixa na compilação Posições e em dois compactos, todos lançados pela gravadora Odeon e há muito fora de catálogo. Um deles, com as músicas “Campos de arroz” e “Side B Rock”, foi produzido por Nelson Motta e, curiosamente, trazia a participação especial de Reinaldo Figueiredo (cartunista, integrante do Casseta e do grupo Companhia Estadual de Jazz) nos vocais e na guitarra (“Era uma música piada, um antirrock, uma coisa metalinguística”, lembra ele, fã do grupo).
— Éramos universitários, vivendo a utopia em meio aos anos de chumbo. Nossa transgressão era uma resposta a todo aquele ambiente repressor — lembra Diana Dasha, cantora do grupo e viúva do violonista Nélson Jacobina (com o qual cantou em alguns shows da Orquestra Imperial). — Frustra um pouco não termos deixado registros melhores, mas acho que nossa semente, de alguma forma, vingou.
Leia trechos do livro
Os selvagens na TV
“Quando o nome da banda soou nas caixas de som, ficaram absolutamente trêmulos, apavorados. Pensaram nos instrumentos de segunda categoria que empunhavam e nos amplificadores que mal faziam o som chegar às primeiras filas. Só conseguiram controlar a tremedeira e relaxar lá pelo meio do número. Quando perceberam o público acompanhando a canção, tocaram com garra, concluindo o número sob aplausos. José Messias também gostou. Gostou tanto que pediu aos rapazes para emendar outro número. Para Os Selvagens, que nunca tinham se apresentado em público, estrear diante de mais de três mil pessoas foi a glória.”
Equipe mercado expulsa
“Ao final, sob aplausos delirantes de alguns e desmedida hostilidade de outros, a Equipe Mercado e seu bando correram para os bastidores, onde se estabeleceu um enorme bate-boca entre integrantes do grupo, policiais e representantes do festival de Cataguases. O delegado decidiu que a banda não poderia mais participar do festival (...) Com os documentos aprendidos, foram conduzidos para a delegacia e, de lá, alojados em uma escola pública onde passaram a noite (...) Na manhã seguinte, foram encaminhados para duas kombis, com ordens de conduzi-los de volta ao Rio de Janeiro.”
Os primórdios do terço
“O ano de 1969 estava bem adiantado. O que se iniciava era uma longa aventura rodoviária que partia do Rio com destino a Corumbá (MS). Amontoados na Kombi de Sérgio Hinds, com este ao volante, Vinícius Cantuária e Jorge Amiden dividiam o espaço limitado do veículo com guitarras, baixo, violões, bateria e amplificadores. Eles se autoproclamavam Os Libertos, não como um acinte ao governo militar. A intenção era outra, mais ingênua. Mesmo assim, acabaram presos em Bauru (SP). Naqueles tempos, cabeludos não eram bem-vistos pelas autoridades. Se não eram drogados, talvez fossem subversivos. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.”
Módulo 1000 X gravadora
“Apesar dos problemas, a banda se sentiu orgulhosa. “Não fale com paredes” era ousado, diferente de tudo que as gravadoras despejavam no mercado. Vinha em uma embalagem luxosa, cuja capa se abria em três partes, expondo em sua parte interna uma pintura psicodélica dos rapazes (...) Zezinho, o dono da Top Tape, não gostou de nada. Julgou a capa dispendiosa e exagerada. O que saía dos sulcos do disco lhe deixou bufando de raiva. Furioso, reuniu os músicos e vociferou em alto e bom som: ‘Este disco é uma merda e não dá pra explicar uma merda dessas!’”
Foto: Módulo 1000. O álbum que o grupo gravou em 1970, o psicodélico Não fale com paredes, foi rejeitado pela gravadora na época, mas tornou-se, posteriormente, objeto no culto no exterior - Osmar Gallo
Confira vídeos no site: http://oglobo.globo.com/cultura/livro-conta-historia-das-bandas-pioneiras-do-rock-no-brasil-12670802#ixzz33Q7cGsGt
• Luiz Paulo Simas, era dono de uma das maiores novidades tecnológicas no Brasil em 1971: um sintetizador. Foi o segundo no Brasil e primeiro no Rio. Um e.m.s inglês ainda com matrix, o que impressionava muito nesse tempo.
1º ago.
Woodstock Film Festival to screen legendary music film The Concert for Bangladesh
2 ago.
Saiu nos Estados Unidos o álbum Who's Next do The Who.
27 ago.
O Living Theater no Brasil
Decreto, expulsa de Judith Malina, a fundadora do Living Theater, do território nacional.
Setembro
Ocorre o VI Festival Internacional da Canção da Rede Globo, com a participação de 25 músicas inscritas havia 36 inscritas, mas a Censura Federal vetou onze delas. Em sinal de protesto Chico Buarque, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Vinícius de Moraes retiram suas inscrições.
N'A Era dos Festivais – Uma parábola (2003), livro do musicólogo Zuza Homem de Mello, relata este episódio ainda controverso.
Já na matéria Ferida aberta na MPB, ‘O Globo’ 15 jun. / 2003. O jornalista Hugo Sukman aponta os vértices da controvérsia: Gutemberg Guarabira, “o idealizador” do manifesto dos artistas contra a ditadura – disfarçado numa carta em que se retiravam do festival que os patrulhava e usava suas imagens como propaganda positiva da Ditadura Médici no exterior. Texto que chegou às agências estrangeiras...
No outro ponto da reta o compositor César Costa Filho, que declara-se vítima de uma conspiração dos próprios colegas do ‘MAU – Movimento Artístico Universitário’ que queria que todas as portas se fechassem para ele. Acusando-o de ser o autor da denúncia de que Gonzaguinha estava passando o abaixo-assinado...
• Paul McCartney cria o grupo Wings.
• Lennon e o ativista Jerry Rubin reuniram 15 mil manifestantes numa passeata na Univeridade de Michigan. Não totalmente por acaso, a caça real a Lennon começa em 1972, ano do arrombamento e a invasão do escritório do Partido Democrata no Edifício Watergate.
Setembro
A penitenciária de Attica, construída ao noroeste do estado de Nova Iorque, a 570 quilômetros da capital, entre as cidades de Buffalo e Rochester, ficou famosa por uma rebelião sangrenta, em setembro de 1971.
Outubro
Adiado o concerto pirata*
Culpa (mais uma) da situação de extrema bagunça em que se encontram (até quando?) as transas de direito autoral no Brasil. A história é a seguinte: estava tudo OK até que começaram a aparecer os fiscais das quatro sociedades existentes. Nem os meninos da Bolha nem os do Liverpool Sound, que só tocam música deles mesmos, pertencem a essas quatro organizações cobradoras. O Terço é associado à Sicam, que não fez a menor questão de criar caso e liberou o espetáculo., Mas o resto não fez outra coisa além de criar problemas para a Aquarius, produtora da jogada. E agora? Agora, avisa Glauco Timóteo, só na semana que vem, depois que a transa ficar de esclarecida para melhor: liberada.
As sociedades a que os meninos não pertencem estão querendo o pagamento de dez salários mínimos, e adiantados, para que o primeiro Concerto Pirata possa acontecer, embora não haja seleções do repertório dessas sociedades programadas para o espetáculo. Isso pode? Pode, ainda, mas um dia esse papo fica esclarecido. Por enquanto só isso mesmo: se as sociedades arrecadadoras de direitos autorais e Aquarius chegarem a um acordo, semana que vem, possivelmente sexta-feira, às nove da noite, no Monte Líbano, os primeiros discos CBD da série Pirata começarão a ser gravados. Vamos ver. E tomara.
*Jornal Última Hora; Coluna Geléia Geral - Torquato Neto, quinta-feira, 28 out. / 1971, págs 282-283 / "Torquato Neto Torquatália (Geléia Geral) organizado por Paulo Roberto Pires - Editora Rocco - 2003)
31 out.
Pink Floyd lança Meddle.
Novembro
Atrações internacionais serão anunciadas, breve, e está na cara que a Globo vai transar esses videotapes. A Philips vai gravar e a etiqueta será a nova Pirata, já bastante anunciada. Perfeito, amizade.
*Jornal Última Hora; Coluna Geléia Geral - Torquato Neto, quarta-feira, 10 de nov. / 1971, págs 298 / "Torquato Neto Torquatália (Geléia Geral) organizado por Paulo Roberto Pires - Editora Rocco - 2003)
Novembro
Número zero do Rolling Stone nacional, 1971
Uma Gal Costa hippie e sorridente ilustrava a capa do número zero do jornal Rolling Stone nacional, distribuído como divulgação há exatos 40 anos. Em 1972, a linha dura havia tomado o poder, a ditadura continuava barra pesada, e paradoxalmente importava-se para o Brasil o libertário, anárquico, contracultural jornal americano, fundado em 1967, em San Francisco, na Califórnia, por um jovem de 21 anos, Jan Wenner, com US7. 500. Desde o primeiro número, que trazia John Lennon na capa, o Rolling Stone foi adotado pela geração que pretendia mudar o mundo, e disseminar suas idéias pelo planeta.
• Entre 1971 e 1973, o jornal americano, contracultural, Rolling Stone, circulou em edição nacional. Há anos fora de catálogo, exemplares trocando de mãos por preços altíssismos, o RS está agora na Internet para consulta e leitura gratuita. o carioca Cristiano Grimaldi, pesquisador e colecionador, disponibilizou todas as edições do Rolling Stone no blog Pedra Rolante (https://www.pedrarolante.com.br/#edicao).
30 dezembro
Rita e Arnaldo se casam. Um presente para os pais deles.
Filmes
“Voltei para Londres com Ruth Pante-rete em inícios de 1971, e foi aí que começamos a rodar o filme”. Jorge Mautner, sobre seu filme O Demiurgo.
• Corrida contra o destino (Vanishing Point).
Estados Unidos, 1971. Direção de Richard C. Sarafian, com Barry Newman, Cleavon Little e Dean Jagger. Que Robert Altman, que nada - o maior diretor americano por volta de 1970 foi Sarafian, que fez dois grandes filmes. Um é este "Corrida contra o destino" e o outro, o western "Fúria selavagem", com Richard Harris, que antecipa "Fitzcarraldo" com aquele grupo que carrega um barco pelo terreno seco, através do Velho Oeste. Barry Newman radicaliza a vertente de "Sem destino" e cria um certo Kowalski, que cai na estrada perseguido por policiais. UM DJ negro (e cego), Super Soul, encarrega-se de fazer dele um símbolo da revolta americana, na era da contracultura. O talento de Sarafian era tão poderoro. Ele reinventa Albert Camus (O Estrangeiro) nas estradas americanas. Algo houve com o diretor durante a rodagem de "Amor feito de ódio", de 1973, um western quase onírico com Burt Reynolds e Sarah Miles. Houve um assassinato no set, envolvendo uma história obscura de sexo, e a carreira de Sarafian nunca mais foi a mesma. Colorido - 99 min. Luiz Carlos Merten in O Estado de S. Paulo, 10 abr. / 2004.
• THE OMEGA MAN
De 1971, dirigido por Boris Sagal. No Brasil, A Última Esperança Da Terra - Charlton Heston, no mundo pós-apocalipse entra num cinema de uma deserta Nova York para assistir Woodstock e comenta consigo mesmo, “não se fazem mais filmes bons como esse”...
• RAINBOW BRIDGE – (1971)
Documentário – Colorido – 108 minutos. Direção: Chuck Wein. Os vinte minutos finais deste filme apresentam Jimi Hendrix num concerto na ilha de Mauí (Havaí). O resto é sobre os hippies de uma comunidade ocultista visitada por extraterrestres de Vênus (!). Jimi Hendrix executa Dolly Dagger, Roomful of Mirrors e Star Spangled Banner.
• A 300 km por hora. Última parte da trilogia comandada por Roberto Farias. Com o trio Wanderléa, Erasmo e Roberto Carlos.
• Decameron (Pier Paolo Pasolini).
Filmado por Pasolini em 1970, narra livremente o 10º conto do "Decameron" de Giovanni Bocaccio, sobre os costumes italianos do século 14.
• Definição/Estrela do sol (Glauber Rocha).
16mm, colorido com fotografia de Serginho Sanz.
Em junho de 1970, com 10.000 dólares de adiantamento, Glauber Rocha viaja para Santiago no Chile, onde encontra-se com Norma Benguell. Numa co-produção da TV Nacional do Chile com Renzo Rosselini, Glauber Rocha começa o filme sobre os exilados brasileiros. Com 20 minutos rodados a produção é suspensa e o negativo retido em laboratório italiano devido a problemas econômicos dos produtores é extraviado.
O foco da câmera aproxima-se e em off, Glauber Rocha assobia o Hino Nacional.
Norma Bengell nua junto às folhas de outono, seria filmada correndo ao lado de exilados nus; mas os guerrilheiros brasileiros não quiseram fazer a cena na Cordilheira dos Andes. — Caretas! Isso é liberdade total, esbraveja o diretor.
Em Santiago, no quarto 736 do Hotel Sheraton, centro do contrabando de dólares e de agentes da CIA, Glauber descobre um microfone plantado na parede e não perde tempo: — Aqui é Glauber Rocha, eu sei que a CIA está gravando, e a KGB também!
Glauber Rocha chama a imprensa e anuncia que vai para Cuba, onde:
— Há liberdade para filmar.
"Depois de Antônio das Mortes compreendi que era impossível continuar nessa rota. Para mim estava terminada a época onde eu representava o cavaleiro da esperança, o profeta de uma revolução fracassada, a bandeira de uma geração em revolta. Em 1971, o cinema político se transformou em comércio e no interior desse comércio eu estava me convertendo num artigo de luxo. A moda do cinema político é hoje a posição mais cômoda para um autor cinematográfico. Eu decidi acabar com isso, a fim de continuar a ser livre para fazer meus filmes políticos longe dessa moda internacional". (Glauber Rocha).
Rock'n'Roll Circus. As trinta e oito latas de filme estavam perdidas desde 1971, quando os Rolling Stones, se mudaram de Londres para Paris, para fugir do Imposto de Renda. No pequeno escritório inglês da banda não houve espaço para acomodar as latas do filme. “Tudo foi parar na garagem do tecladista e manager dos Stones, Ian Stewart, e só foi descoberto depois da morte dele, em 1985”, conta o diretor, Michael Lindsay-Hogg.
• Milos Forman’s Taking Off (1971)
• Jane Fonda vence o Oscar pela atuação no filme Klute (1971).
• A Casa Assassinada
• As Confissões de Frei Abóbora
• Capitão Bandeira contra o Doutor Moura Brasi
• O filme Mangue-Bangue (1971), do brasileiro Neville d’Almeida (“A Dama do Lotação”), será exibido pela primeira vez no Brasil. Considerado um clássico da contracultura, o longa esteve perdido por 40 anos, e sua redescoberta ganhará projetação numa retrospectiva dedicada ao cineasta, promovida pelo Sesc em São Paulo. (20 mai. / 2012)
Altair Lima, em uma cena de 'Hair'
Em 1971, com outras duas montagens do repertório da companhia, Pequenos Burgueses e Galileu Galilei, a peça O Rei da Vela circula na viagem Utopia dos Trópicos por 19 cidades brasileiras em dez meses: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Salvador, Recife, Fazenda Nova (Nova Jerusalém), Mandassaia, Santa Cruz, Brejo da Madre de Deus, Garanhuns, Caruaru, Natal, Fortaleza, Crato, Juazeiro, São Luís, Belém e Manaus.
• "Em 1971, voltamos para São Paulo. E fomos para a África em 1972. Fiquei com medo da polícia, nossa casa no Pacaembu ficou sujeira. Estavam procurando drogas, mas não acharam nada. Fomos para Dakar..."
A batida da polícia na casa de José Agrippino de Paula, em 1971, teria detonado sua esquizofrenia - dizem que ele nunca mais foi o mesmo depois, e começou a ficar paranoico. Mas hoje, o ouvindo, ele trata essa história com frieza.
Artes
Franz Weismann participa da XI Bienal de Escultura ao Ar Livre de Antuérpia, Bélgica.
• O crítico Mário Pedrosa, que organiza o ‘Museu da Solidariedade’, no Chile, a pedido do presidente Salvador Allende, é enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O governo brasileiro proíbe que obras nacionais cheguem ao Chile. Artistas residentes em Paris, como Franz Krajberg, Lygia Clark e Sérgio Camargo, furam o bloqueio.
• O crítico Frederico Morais dá início, no MAM carioca, ao projeto ‘Domingos da Criação’, que propõe a liberação da criatividade do público através de oficinas realizadas na área externa do Museu.
• O escultor Franz Weissman, participa da XI Bienal de Escultura ao Ar Livre de Antuérpia, Bélgica.
• Rubens Gerchman convida o espectador a conhecer mais de perto as formas, as cores e as texturas que as letras podem ter — caso de Black White.
Junho
• Em Nova York, Rubens Gerchman vai morar no apartamento 250 da rua Bowery, esquina da Spring Street e vê nascer o Soho, ponto de encontro artístico.
Literatura
O Primeiro Terço (Neal Cassady). O menos literato dos beats escreveu um único livro, relato autobiográfico que ficou anos esquecido em gavetas. Encontrado em 1969 e publicado em 1971 pela City Lights Books de Lawrence Ferlinghetti.
• Richard Brautigan published a collection of short stories entitled Revenge of the Lawn: Stories 1962-1970 in 1971, and it was clear that he was not going to "continue" in the same vein as his earlier work, much less "sustain" it.
Setembro
Joel Macedo escreve o conto, Hot Summer.
• Presença: Jornal underground carioca, que circulou durante o ano de 1971. Editores: Rubinho Gomes, Antônio Henrique Nietzche e Joel Macedo.
14 outubro
A matéria, Jajouka up the mountain por Robert Palmer é publicada na Rolling Stone.
O livro Another Side Of Bob Dylan de Victor Maymudes é uma contribuição peculiar ao vasto catálogo literário sobre o músico. Além de sua amizade profunda e tempestuosa com Dylan, o texto também aborda outras aventuras de Victor, como sua participação na criação do clube Unicorn, frequentado por gente como Lenny Bruce e Marlon Brando nos anos 1950, ou sua viagem com Dennis Hopper às montanhas do Peru — em meio a uma montanha de cocaína — para a pré-produção de The Last Movie, de 1971.
Imprensa Alternativa
Em Fear and loathing in Las Vegas, o nono capítulo, Breakdown on Paradise Blvd., é a transcrição completa e sem edição de uma das muitas fitas que Thompson enviou à Rolling Stone para verificação, uma vez que o manuscrito original estava tão "fragmentado" (Thompson, 1971, p.161) que era impossível compreendê-lo. O livro, ainda que seja um de seus preferidos, é frequentemente citado pelo próprio autor como um experimento fracassado em Gonzo Journalism, uma vez que "sua ideia era, a princípio, preencher um caderno grosso com relatos dos fatos conforme eles fossem acontecendo durante sua viagem a Las Vegas e publicar o resultado, suas notas, sem edição" (Giannetti, 2002, p.30)
(...)
O mesmo acontece em Fear and loathing in Las Vegas (1998) onde Thompson interpretado por Johnny Depp aparece freqüentemente portando um grande gravador de rolo colado ao corpo. No livro homônimo, logo no segundo capítulo, Thompson aparece listando três itens essenciais para a sua viagem até Las Vegas, onde cobriria a Mint 400 - um carro, drogas e um gravador. "Conseguir as drogas não foi nenhum problema mas o carro e o gravador não eram coisas fáceis de se achar às 6:30 da tarde de uma sexta-feira em Hollywood." (Thompson, 1971, p.12)
• A revista Oz foi tirada de circulação após ser julgada por obscenidade. Felix Dennis, então, fundou sua própria editora e criou publicações como The Week, Your Spectrum e a Maxim.
• O jornal intitulado Flor do Mal foi fundado em 1971, por Luiz Carlos Maciel e pelos poetas Tite de Lemos, Torquato Mendonça e Rogério Duarte.
• Correspondência de Hélio Oiticica
"O grande filme, insuperável da carreira de Mario Montez, foi 'Harlot' de Warhol, em que ele faz uma loura (que seria uma fusão de Harlow e Marilyn; ‘harlot’ vem de Harlow) travestida, de luvas brancas, que come bananas todo o tempo, devagar, descascando-as de luvas brancas, num sofá claro que isso é uma descrição bem careta, que não é tudo; a última banana é enfiada no cu pela própria; Warhol fez 'harlot' em 1964, e se situa na sua obra como uma transição da fase de 'eat', 'sleep', 'Kiss', para a que culminaria com 'the chelsea girls'; vou lhe enviar um novo livro que saiu: Vida e sexo de Andy Warhol”. Trecho de carta de Hélio Oiticica para Torquato Neto, 18 jun. / 1971.
"Nosferato do Brasil ainda está sendo filmado. Semana passada vimos os três primeiros rolos e vários slides, tudo fantástico. Ivan Cardoso é outro cara que eu estou namorando agora: filmes de vampiro, transas por aí, você acha que eu ia perder uma maravilha dessas? Quando você puder ver essas coisas vai dar pulos. O filme está incrível e as caras que providenciei para mim são inacreditáveis. Tomei um susto quando vi. Fantástico! Quero fazer filmes com Ivan e mais alguns. O que você acha? Ivan me disse que ia mandar pra você alguns stills do filme, mandou? Gostou". Trecho de carta de Torquato para Hélio Oiticica, outubro de 1971.
George Harrison plays slide guitar on the Badfinger song "Day After Day".
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Discos
Julho
Desde 1968, a jovem Carolyn Mitchell uma das "applescruffys" que, em mau português, poderia simplesmente ser traduzido por as mal-vestidas, perseguia Paul McCartney. A toda parte a que ele ia, Carolyn surgia com seu rosto sardento, sorrindo, pedindo autógrafos, querendo beijá-lo. Até que três anos depois, Paul estourou. Ele estava com Linda, em sua fazenda na Escócia, quando, ao olhar para a cerca, viu Carolyn acenando para ele. O ex-beatle perdeu a calma, mandou a educação às favas e expulsou-a com palavrões. Desiludida, Carolyn retirou-se e deu queixa à polícia mais próxima, afirmando que fora agredida. O policial de plantão registrou a queixa.
• Compacto: Bill Eliot and The Elastic Oz Band: Side A God Save Us (Lennon-Ono) Elastic Oz Band: Side B Do the Oz (Lennon-Ono)
The A-side was produced by John, Yoko, Mal Evans and Phil Spector.
The B-side was produced by John, Yoko, and Phil Spector.
• Dois anos depois, porém, Hoffman conseguiu pelo menos arrancar um fuck you de Pete Townshend, quando interrompeu o concerto dos Who em Woodstock para protestar contra a prisão de John Sinclair, manager dos MC5 e líder do White Panther Party. A CIA, bastante ativa nesta época com o programa Cointelpro, desenhado para desmantelar grupos organizados como os Black Panthers ou para perseguir intelectuais "subversivos", como o escritor negro LeRoi Jones ou até mesmo Allen Ginsberg que escreveu que, enquanto tudo isto se passava, J. Edgar Hoover almoçava regular e tranquilamente com membros da Máfia em Nova Iorque., prendeu Sinclair por este ter passado dois "charros" de marijuana a agentes sob disfarce. Isto levou a enormes protestos na Chrisler Arena de Ann Arbor em 1971, onde figuras como John Lennon, Bob Seeger, Stevie Wonder e Archie Shepp se reuniram para exigir a libertação do homem que levou os MC5 a darem um concerto livre em frente ao local onde se realizou a Convenção Democrata de Chicago.
Foto: Yoko Ono and John Lennon (1971) - fonte: Vogue Fashion news/Paris-fr. - Templo Cultural Delfos
• John Lennon deliberately intended to write a substantial Christmas song that will forever be remembered. He succeeded with Happy Christmas (War Is Over), co-written with his wife, Yoko. The song reinforced the two-year peace campaign John and Yoko were waging especially against the war in Vietnam by putting up billboards in major capital cities in the world boldly declaring, "WAR IS OVER, IF YOU WANT IT."
Songfest, an on-line site, recounts John and Yoko wrote this in the evening of Oct. 28 and into the morning of Oct. 29 in their New York hotel room. They recorded it in November with Phil Spector who produced the single and suggested they employ the Harlem Community Choir for the chorus. In the US, the single came out on Dec. 1, 1971 but barely charted there. It met bigger success in the UK the following year, peaking at No. 4. John and Yoko can be heard whispering the name of Kyoko and Julian at the beginning of the song. Yoko's Listen The Snow Is Falling occupied the single's flipside.
• O grupo Jefferson Airplane lança a etiqueta Grunt com altos ideais, como um lugar onde os artistas teriam liberdade para desenvolverem seus trabalhos. Todos receberiam os mesmos royalties e o selo seria uma cooperativa com os lucros repartidos entre os seus filiados. Nada disso aconteceu. A Banda começava ganhando 51% dos lucros.
• A reunião do grupo Mamas and Papas dura pouco tempo.
• O adolescente Martin Lewis, inventa que as canções "Colliding Circles", "Left is right", escritas por John Lennon, "Pik Litmus Paper Shit", de George Harrison e "Deck Chair", de Paul McCartney. Foram títulos idealizados e incluidos no meio de uma lista de supostas canções inéditas do Beatles na British Magazine Disc.
• A RCA lança um LP intitulado Guitar Boogie, com as mesmas gravações da antologia Blues anytime, mais faixas de Jimmy Page e Jeff Beck com o suporte dos All Stars.
• Led Zeppelin lança IV (Ou 4 símbolos).
• Funkadelic - Maggot Brain.
• Stick Fingers dos Rolling Stones. A calça jeans cortada nas pélvis: indica que os temas do discos devem ser curtidos pelas vísceras e demais "membros"...
• Jajouka (RS/COC 49100). Os tapes originais foram todos gravados em Jajouka e remixados no Olympic Studios, em Londres. E como Brian Jones gravou cerca de 92 horas da transação, o que saiu editado no disco,é uma interpretação pessoal e muito reduzida de tudo que ele sentiu durante o acontecimento.
• Radha Krishna Temple LP Radha Krishna Temple
• John Taverner "Celtic Requiem"
• Mary Hopkin "Earth Song - Ocean Song"
• Yoko Ono "Fly"
• Badfinger Straight up
• Gil Scott-Heron lança seu album Peaces of a Men (Pedaçõs de um homem).
• Gong lança o álbum Camembert Electrique (1971)
• Hurricane Smith chega ao topo das paradas com o single "Don’t let it die", uma canção com preocupações ecológicas.
• Com o disco Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresente Sessão das Dez, Raulzito Seixas, então um bem-sucedido produtor da gravadora CBS, retoma a carreira de cantor parada desde o álbum Raulzito e os Panteras, que tinha sido um fracasso. A idéia central do novo trabalho é expressar o "caos bonitinho" da época, segundo Raul Seixas, Admirador de Frank Zappa, ele queria modificar a cena da música nacional. Empregado pela CBS, Raulzito decidiu recrutar seu grande amigo Edy, a quem chamava Bofélia, o "bicha mais macho" que conhecia, e com quem já tinha tocado em Salvador. "Ele me contratou na rua, em frente à prefeitura de Salvador", relembra Edy, o único sobrevivente do projeto. "Disse a Raul que estava sem grana para ir ao Rio de ele respondeu que não tinha problema, que pagava a passagem." Raul produziria seu compacto pela CBS, Aqui é Quente, Bicho. "O contrato com a gravadora previa um compacto e um LP, como era praxe na época", diz Edy. "Em função disso, Sessão das Dez acabou valendo como meu LP."
• A Continental reedita o LP Estúpido Cúpido de Celly Campello.
8 dezembro
É relançado, Various Artists Phil Spector's Christmas Album
Música
• É criado o Quinteto Violado.
• É criado o Som Nosso De Cada Dia.
• "Toquei no conjunto Islander's até o final de 1971”. (Rodolfo Braga).
• Zé Rodrix grava Casa no Campo.
• Neil Young aparece no Johnny Cash Show.
Obituário
O empresário, Henning Boilesen é morto a tiros.
Morre. Nikita Kruschev, o autor da célebre denúncia dos crimes de Stalin.
18 jun.
Libby Holzman, (23 mai. / 1904, Cincinnati, Ohio, Estados Unidos).
Alfred Chester (1928-1971).
Georg Lukács (1885-1971).
Alberto Magnelli (1888-1971).
3 jul.
Paris arde em calor, na banheira de seu apartamento o corpo de Jim Morrison, descansa inerte e com um sorriso sinistro na face barbeada. É o fim meu amigo e a entrada definitiva para a "Galeria dos Mártires do Rock".
Morte de Jim Morrison (James Douglas Morrison), na França, de ataque cardíaco em virtude do abuso de drogas; nasceu em 8 dez. / 1943, em Melbourne, Flórida; estudou cinema na Universidade da Califórnia, onde conheceu Ray Manzarek, com quem, em 1967, fundou The Doors, nome inspirado pelo livro de Aldous Huxley, As Portas da Percepção; durante sua curta carreira, menos de quatro anos, alcançou a parada musical várias vezes com sucessos como Light my fire, Love me two times, People are strange, The end e L.A.Woman; devido à bebida e às drogas, começou a ter problemas com as autoridades norte-americanas, mudando-se para Paris.
6 jul.
Morte de Louis Armstrong (Louis Daniel Armstrong), conhecido como "Satchmo", de infarto enquanto dormia, em Nova York, Estados Unidos; nasceu em 4 ago. / 1901, em Nova Orleans, Louisiana; durante toda vida Armstrong mentiu sobre seu nascimento, afirmando que fora em 04/07/1900, mas a data correta foi descoberta em 1988; um dos mais importantes trompetistas da história do jazz; foi o primeiro músico de Jazz a fazer solos, enquanto o resto da banda apenas fazia acompanhamento de seu som; foi criador do “scat”, canto apenas com vocalizações, sem letra; no final da carreira tornou-se apenas vocalista, uma vez que um ferimento crônico nos lábios o impedia de tocar o trompete, mas sua faze mais importante é a de trompetista; gravou “West End Blues”, “Struttin' With Some Barbecue”, “St. Louis Blues”, “Potato Head Blues”, “Muskrat Ramble”, “Mahogany Hall Stomp”, “Cornet Chop Suey”, “Basin Street Blues”, “Heebie Jeebies”, “St. James Infirmary”; foi casado com Lil Armstrong.
20 agosto
Iara Iavelberg morre, num dos períodos de maior repressão à luta armada no país, após a polícia invadir o apartamento em que ela estava, em Salvador (BA).
2 set.
Assalto à Casa de Saúde Dr Eiras. Três seguranças foram mortos.
16 novembro
Edie Sedgwick morre aos 28 anos. (1943 - 1971)